sexta-feira, 29 de junho de 2007

Suíte da briguinha entre jornais

Jornais do Rio e de São Paulo: briguinha besta
Helena Chagas
Briguinha besta essa da imprensa carioca com a paulista em torno do troféu de estado mais violento, né? O Globo faz hoje editorialzinho criticando Folha e Estadão por terem dado na véspera mais destaque em suas primeiras páginas à operação policial no Morro do Alemão, que matou 19 no Rio, do que ao assassinato dos pais, durante assalto, na frente do filho de sete anos em São Paulo. Tudo, no fundo, para mostrar que a imprensa paulista superdimensiona a violência no Rio e esconde a de São Paulo.

Ora, seleção de notícias e o jeito que vão, maiores ou menores, para a primeira página é um problema de cada jornal com seu leitor. E, embora o crime de São Paulo tenha sido chocante e brutal, uma operação nunca antes vista de cerco a uma favela pela Polícia e pela Força Nacional, com 19 mortos, talvez seja, de fato, mais notícia. Em qualquer lugar. E se o leitor da Folha e do Estadão não achar isso e considerar que o destaque deveria ter sido inverso, ou se sentiu falta de informação do caso paulista, vai reclamar. E é a eles que os jornais têm que prestar contas.

Mas a gente vê que a má-vontade é recíproca, e que a provinciana e antiga disputa entre paulistas e cariocas ainda tem certa influência, pela manchete de hoje da Folha: "Entidades acusam polícia de abusos em ação no Rio". Ok, as entidades de direitos humanos estão em seu papel, que nessas horas é o de questionar. Boa parte dos bandidos devem ter sido fuzilados mesmo pela polícia. E, pior ainda, boa parte da população vítima de traficantes e de todos os tipos de violência no Rio está feliz e contente com isso. Chegamos a um nível de banalização da violência que é mesmo um horror. Mas, vamos e venhamos, nem a Comissão de Direitos da OAB e nem a Anistia Internacional mereciam manchete, né??? Foi uma cutucada, um jeito de mostrar o lado negativo da operação que o governo fluminense e a população do Rio tanto aplaudiram. Aliás, aplaudiram mesmo. Um inspetor da patrulha avançada, por exemplo, teve hoje direito à foto da capa do Globo, fumando charuto e declarando que seu sonho é ir para o Iraque. Um herói. É, são esses os heróis de hoje em dia...

Voltando a vaca fria da briguinha besta. Algum leitor ou cidadão do Rio ou de São Paulo ganha alguma coisa com essa discussão? Acho que não. No máximo, engajam-se na briga besta e vão brigar com seus amigos de São Paulo. Ou do Rio. O melhor jeito de não perder mais tempo com isso é decretar que Rio e São Paulo são as mesmas merdas na questão da violência urbana, e que um é tão violento quanto o outro, ainda que essa violência assuma modalidades e características diferentes em cada lugar. Pronto. E daí?

Fonte: blog dos blogs

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