sábado, 29 de setembro de 2012

Capa da Placar com Neymar crucificado causa polêmica



Deu hoje na Folha.

Febeapá* vive: um assaltante bem trapalhão (versão século 21)


Os mais antigos lembram do filme "Um assaltante bem trapalhão", de Woody Allen. Lembrei disso ao ler essa notícia hoje na Folha. Vá ser burro assim lá na...

*Febeapá: Festival de Besteiras que assolam o país (Stanislaw Ponte Preta).

Comunicação Corporativa fatura muito e é bom mercado de trabalho para formandos em Comunicação

Deu hoje no caderno MERCADO da Folha. Recomendo a leitura e reflexão. Especial para estudantes de Comunicação.



Área de comunicação corporativa aumenta 300% em dez anos
Agências brasileiras diversificam atividade e faturam R$ 2 bi em 2011; verba de corporações sobe para R$ 8 bi
Setor assumiu o papel de o papel de decifrar ameaças e oportunidades para empresas, diz Aberje

MORRIS KACHANI

DE SÃO PAULO

Em um momento de redefinição do modelo de negócios dos veículos de mídia, outro segmento de comunicação tem crescido a um ritmo de 15% nos últimos cinco anos. As agências de comunicação corporativa faturaram R$ 2 bilhões em 2011. Em 2001, eram R$ 500 milhões, em valores atualizados.
FSB, CDN e Máquina da Notícia são algumas das principais empresas do mercado.

"Estamos passando por uma transformação radical. A comunicação se tornou peça fundamental para as corporações, com o papel de decifrar ameaças e oportunidades", afirma o presidente da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), Paulo Nassar.

A maior parte das agências começou como assessoria de imprensa, mas diversificou seus serviços. "É um trabalho de psicólogo, diplomata e bombeiro", resume João Rodarte, presidente da CDN.

Em 2007, dois dias depois da tragédia da cratera no canteiro de obras da linha 4 do metrô, a CDN foi chamada. Havia vítimas e o risco de executivos do consórcio empreendedor serem presos.

A agência participou de um comitê envolvendo profissionais de engenharia, direito, seguros e assistência social. Mobilizou 25 profissionais para atender a imprensa.

"Em um plano de comunicação, além dos jornalistas supostamente todos os envolvidos em uma operação -funcionários, fornecedores, investidores, clientes- devem ser impactados. A palavra-chave é integração", diz Maristela Mafei, da Máquina.

Outros exemplos de atuação dessas empresas são a fusão de gigantes como Telefônica e Vivo ou TAM e Lan Chile, ou a exportação do quadro de executivos da Ambev.

Há também casos clássicos apontados como antiexemplos. A Rhodia, que nos anos 90 era tida como modelo de comunicação, deixou um passivo ambiental em Cubatão, na Baixada Santista, que colocou em xeque a construção de uma imagem que não correspondia a sua atuação.

A Petrobras lançou na Bolívia uma campanha em espanhol, sem levar em conta o idioma local dos indígenas da região em que atua.

E os conflitos com operários no canteiro de obras em Jirau, em Rondônia, expressam uma certa incapacidade da Camargo Corrêa em comunicar-se com os funcionários.

"Por mais que as agências sejam competentes, é mais comum do que se imagina maquiarem os fatos, omitirem fontes, sonegarem informações. Quando proteger um cliente se torna mais importante que a verdade, temos um problema de ética e cidadania", diz Wilson Bueno, professor da Universidade Metodista do ABC.

As principais agências contam em seu staff com profissionais que ganharam experiência nas Redações dos principais veículos do país.

SALÁRIOS MAIS ALTOS
De acordo com Francisco Soares Brandão, sócio-fundador da FSB, ganha-se mais em comunicação corporativa.

"Aqui, o céu é o limite. Os resultados são medidos pela produtividade", afirma.

A Aberje acaba de finalizar um relatório mostrando que, nas corporações, um diretor de comunicação recebe em média R$ 51 mil. Uma secretária, R$ 5,8 mil.

A formação acadêmica em jornalismo oferecida pelas universidades contempla muito timidamente o mercado de comunicação empresarial. Há uns poucos MBAs, e mais nada.

"Mais da metade dos alunos graduados acabam indo para essa área, mas a formação que recebem ainda é focada no trabalho em veículos de comunicação", afirma Gisele Lorenzetti, presidente da Abracom, entidade que agrega as agências.

A percepção no mercado é de que falta mão de obra especializada -capacidade de interlocução com diferentes culturas, conhecimento sobre a regulação do Estado e direitos internacionais, entre outros, são requisitos.

LOBBY
Com presença cada vez maior nos contratos com governos (leia texto ao lado), uma antiga demanda do setor é pela regulamentação da atividade do lobby no Brasil, como ocorre nos Estados Unidos.

"É preciso desmistificar o termo. É legítimo que uma corporação busque um levantamento sobre a legislação vigente e o que está sendo discutido nos âmbitos do Executivo e do Legislativo, com vistas a influir nas tomadas de decisão em áreas de seu interesse", diz Andrew Greenlees, vice-presidente da CDN.
"Se uma montadora vai se instalar no Brasil, por exemplo, precisa saber como as coisas funcionam", exemplifica.

Para Maristela Mafei, "nos setores regulados pelo governo, isso se torna mais dramático, pois com frequência as agências mudam de ênfase".

A CDN é associada ao escritório Flecha de Lima, fundado pelo ex-embaixador Paulo Tarso. O foco são as relações governamentais.
A proposta é inserir e acompanhar o cliente no ambiente político, identificando decisões que possam afetar seus interesses e sugerindo formas de atuação.

Governo traz limite técnico, diz jornalista
DE SÃO PAULO

Trabalhar para o governo traz problemas técnicos e éticos, avalia o jornalista Ricardo Viveiros, 62.
Dono da empresa de comunicação que leva seu nome, ele completa, em 2012, 25 anos de atuação sem atender a esse segmento "por opção".

Tecnicamente, diz, há a dificuldade de construir imagem para um cliente que muda a cada eleição ou mandato. Outros problemas são a falta de acompanhamento de desempenho e de transparência nos objetivos, diz ele.

"Prefiro manter a postura de jornalista", diz Viveiros, que foi repórter de rádio, TV, jornais e revista.
A decisão, porém, limita o porte da empresa. A Ricardo Viveiros tem 30 clientes fixos e 50 funcionários (só a FSB tem 450).


Contas do setor público superam os R$ 10 milhões
DE SÃO PAULO

A abertura de licitações na área de comunicação em governos, ministérios e autarquias criou um mercado milionário que está sendo disputado palmo a palmo. Muitas contas ultrapassam os R$ 10 milhões anuais.
A grande reviravolta do segmento ocorreu em 2006, quando as licitações foram regularizadas. Antes, elas entravam em licitações de maior porte disputadas por agências de publicidade que terceirizavam o serviço de comunicação corporativa, e cobravam comissões que chegavam a 30% do faturado.

A FSB atende uma conta do Ministério da Saúde orçada em R$ 15 milhões anuais e tem em sua carteira de clientes o laboratório Glaxo.

Além do Banco Central, a CDN atende Itaú e Santander.

A FSB atende também o Ministério do Esporte e a Fifa. Para o órgão público, prestando assessoria de comunicação; para a entidade futebolística, fazendo monitoramento e análise de cenários políticos, como a tramitação da lei geral da Copa.

Nesta configuração há um potencial conflito de interesses. O profissional de comunicação inevitavelmente acaba tendo acesso a informações privilegiadas.

Nesses pacotes, além do atendimento à imprensa também pode estar incluído o treinamento de ministros para entrevistas.

Como não há regulamentação específica, o que acaba predominando é o código de ética das próprias agências, que consiste basicamente no sigilo (equipes trabalhando separadamente), e na transparência com os clientes.

"Até concordo que alguém de má-fé poderia se aproveitar de situações como essas", afirma Francisco Soares Brandão, da FSB. "Mas as equipes não se comunicam, e os clientes sabem disso."

A conta do Ministério da Saúde envolve uma equipe de 40 funcionários alocada dentro do próprio ministério. De acordo com Marcos Trindade, sócio-diretor da FSB, a agência hoje tem um lugar à mesa nas reuniões envolvendo todas as secretarias.

"Em momentos-chave, podemos fazer a interlocução com médicos, hospitais e quem mais for preciso."
Trindade diz que, ao terceirizar o serviço, o governo ganha em gestão e agilidade. "Isso é ótimo pois coloca os órgãos públicos em pé de igualdade com os veículos de imprensa. Não adianta ter uma mídia preparada e o lado de cá não", acrescenta.

Leia sobre as normas do setor nos Estados Unidos e no Reino Unido
folha.com/no1161125

A edição impressa mostra alguns gráficos bem interessantes.





sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A polêmica da genitália desnuda na capa da revista do Globo



Viram a capa? Estão acompanhando a polêmica? Leiam o artigo de Luiz Garcia no Globo de hoje.

Para ler é só passar a mãozinha. No artigo, pessoal, no artigo.

sábado, 15 de setembro de 2012

Operação wikipédia. Cuidado com o que vocês estão lendo e pesquisando

Deu hoje na Folha. Recomendo a leitura.


ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Operação Wikipédia
Polêmica com Philip Roth traz à enciclopédia on-line o que ela tanto buscou: ser levada a sério

É a glória. Depois de 11 anos buscando ser levada a sério, a Wikipedia, grande enciclopédia colaborativa da internet, consegue finalmente fincar pé no mundo da alta cultura. Esta semana, teve sua relevância admitida por ninguém menos que o americano Philip Roth, para muitos o maior romancista vivo.

Foi um reconhecimento um pouco torto, é verdade, mas legítimo mesmo assim. Roth reclamou em público da enciclopédia on-line. E ninguém, muito menos um escritor do porte dele, perde tempo chiando contra algo desimportante. Falou mal, mas falou da Wikipedia.

Em uma longa carta aberta, no site da revista "New Yorker" (is.gd/UBRpON), Roth atacou o verbete sobre seu romance "A Marca Humana". Segundo a Wikipedia, o protagonista, o professor universitário Coleman Silk, foi inspirado em um crítico de literatura chamado Anatole Broyard, figura manjada de Nova York.
Errado, bradou Roth. Coleman Silk é, na verdade, Melvin Tumin, um sociólogo que foi seu colega na Universidade Princeton.

Assim como Silk da ficção, Tumin caiu em desgraça por usar, em sala, uma palavra de duplo sentido que poderia ter conotação racista. Referindo-se a dois alunos que nunca tinham aparecido na aula, Tumin perguntou se eles existiam mesmo, ou eram "spooks".

"Spook" quer dizer "assombração", mas também pode ser um modo grosseiro de se referir a negros. Tumin não sabia, porque nunca tinha visto os estudantes folgados, mas calhou de ambos serem negros. A casa caiu, e recuperar a reputação foi um pesadelo de anos.

Diante da certeza sobre quem inspirou seu personagem, Roth usou um intermediário para pedir a correção. A resposta da Wikipedia foi engraçada: "Admitimos que o próprio autor é quem conhece melhor sua obra, mas requeremos fontes secundárias".

Daí a carta na "New Yorker", a repercussão etc.

Fico imaginando que tipo de pessoa incluiu a informação errada. Um espírito de porco que pretendia irritar Roth? Um desavisado que simplesmente copiou o dado incorreto de outro lugar? Ou um "supernerd" que juga conhecer a obra de Roth mais do que o próprio autor?

É chute puro, mas fico com a última opção. Porque não fazia ideia de quem colaborava com a Wikipedia, até ler, em uma edição recente da revista "Piauí", a reportagem "Cooperação Conturbada", de Bernardo Esteves.
O autor descreve um universo, digamos, peculiar. "É espantoso o tempo e o investimento emocional que centenas de usuários dedicam ao projeto'', afirma o texto.

Os "wikipedistas" brasileiros brigam, perseguem-se, recorrem a "tribunais" para decidir quem ganha a briga por determinado verbete. Enquadram-se na categoria de gente que o apresentador de TV Charlie Rose, numa entrevista com o fundador da Wikipedia, Jimmy Wales, disse "aspirar a um papel maior".

Assim, vemos que a Wikipedia transformou-se em meio de expressão para obcecados em geral. Eu, você, todo mundo conhece alguém que é uma enciclopédia ambulante. Que sabe tudo sobre as declinações da língua ucraniana, ou sobre as regras da pelota basca, ou domina a base teórica da ressonância magnética nuclear, ou recita de cor a lista de moluscos de água rasa em Okinawa (isso quando não entende de todos esses assuntos ao mesmo tempo).

Se antes esses geninhos guardavam o conhecimento só para si, ou para um círculo mais próximo de ouvidos pacientes, agora podem desfilar sua sabedoria para o mundo, na Wikipedia.

E aí entra uma crítica forte ao empreendimento de Jimmy Wales: não pagar nenhum centavo a seus dedicados colaboradores. Ele se defende lembrando que a Wikipedia não visa lucro e vive de doações. Diferente, por exemplo, do "Huffington Post", que não pagava ninguém, mas deu muito dinheiro a sua criadora, Arianna Huffington.

A outra crítica, claro, é a falta de confiabilidade da Wikipedia, por permitir que qualquer um seja colaborador. Em entrevista ao jornal inglês "Guardian", Wales deu uma resposta afiada.

Lembrou que, durante muito tempo, a data do aniversário estava errada no verbete sobre ele próprio. E explicou: "Alguém copiou a data que estava na 'Britannica', e a 'Britannica' estava errada".

Ou seja: não dá para confiar em informação de uma única fonte, ainda que seja a "Britannica". Ou que seja a poderosa Wikipedia, a enciclopédia contra a qual Philip Roth, o grande, decidiu que valia a pena brigar.

sábado, 1 de setembro de 2012

O diploma de jornalismo deve ser obrigatório para o exercício da profissão?

A Folha de S. Paulo publicou hoje em sua página de opinião o debate: 
O diploma de jornalismo deve ser obrigatório para o exercício da profissão? Clóvis Rossi, grande jornalista, quase como todos os bem pagos colunistas da Folha e de outros jornais, acha que não. Tem a mesma opinião do patrão. José Hamilton Ribeiro, lenda do Jornalismo, acha que sim. Fico com o Zé.



TENDÊNCIAS/DEBATES


O diploma de jornalismo deve ser obrigatório para o exercício da profissão?

NÃO
CLÓVIS ROSSI
Verbos que não se ensinam
Jornalismo é um exercício basicamente simples, que depende da boa execução de apenas quatro verbos: saber ler, ouvir, ver e contar. Se alguém acha que ao menos um desses verbos (o ideal seria que fossem todos) pode ser ensinado em uma faculdade de jornalismo, deve mesmo ser a favor do diploma específico. Quem, como eu, duvida dessa possibilidade só pode ser contra. Eu sou.

Pegue-se o verbo ler, em ambos os sentidos, o mais primário, de alfabetização para compreender palavras escritas, e o mais nobre, o de gosto pela leitura. No primeiro caso, ou se aprende a ler na escola primária ou nunca mais, salvo raros casos de autodidatas.

No segundo, tampouco a faculdade pode ensinar o gosto pela leitura. Ou vem do berço ou se adquire nos primeiros tempos pós-alfabetização.

Como não creio que se possa escrever bem sem ler bastante, depender da faculdade de jornalismo para desenvolver esse gosto só fará o profissional chegar ao mercado de trabalho com um deficit talvez irreparável.

Alguma faculdade pode ensinar a ver? Ou a ouvir? Duvido.

Pode, sim, desenvolver o talento, de todo modo natural, para contar histórias. Mas qualquer faculdade pode fazê-lo, acho.

Pulemos da teoria para os fatos concretos. Ricardo Kotscho não fez faculdade de jornalismo. Nem qualquer outra, a não ser depois que já estava solidamente instalado na profissão. Nada disso o impediu de se tornar um dos melhores repórteres de todos os tempos no jornalismo brasileiro.

Se, quando eu lhe dei o primeiro emprego na chamada grande imprensa (no "Estadão"), já vigorasse a exigência do diploma, o jornalismo brasileiro teria perdido um imenso talento.

Se a obrigatoriedade do diploma valesse nos anos 1960, o jornalismo brasileiro teria ficado sem o gênio de Cláudio Abramo (1923-1987), que foi corresponsável pelas reformas que tornaram o "Estadão", primeiro, e a Folha, depois, os grandes jornais que são.

Abramo não tinha diploma algum. Não obstante, foi convidado pela USP para ministrar curso de aperfeiçoamento para estudantes de pós-graduação. Irônico, não?

Desconfio que boa parte das equipes com as quais Cláudio trabalhou tampouco tinha diploma de jornalista, o que não impediu que fizessem grandes jornais.

Esclareço, antes que alguém suspeite que estou advogando em causa própria, que eu, ao contrário de Kotscho e Abramo, tenho, sim, diploma específico, aliás o único. Mas garanto que aprendi mais, na prática, com gente como Kotscho, Abramo e tantos outros sem diploma do que na faculdade.

Um segundo ponto que me leva a ser contra o diploma específico é a evidência de que nem a mais perfeita faculdade de jornalismo do mundo pode ter um currículo que ensine a seus alunos todos os temas que, um dia ou outro, podem lhes cair sobre a cabeça. Não dá para ensinar agricultura e transportes, tênis e política, legislação e teatro -e por aí vai. Não dá.

Quem pensa em entrar para o jornalismo com um objetivo definido (jornalismo econômico, digamos) deve fazer economia e não jornalismo. Se tiver desenvolvido os quatro verbos-pilares (ver, ouvir, ler e contar), estará mais pronto para a profissão, na área específica, do que se fizer jornalismo.

Último ponto: não entro na discussão sobre a diferença entre profissões (medicina, engenharia, por exemplo) que, mal exercidas, podem matar, e aquelas (jornalismo) que não podem e, portanto, não precisam de diploma específico. Jornalismo pode matar, sim, mesmo que seja moralmente. Mas é de uma presunção absurda supor que só faculdades de jornalismo ensinam ética.

CLÓVIS ROSSI, 69 anos, 49 de profissão, é colunista da Folha. Formado em jornalismo, trabalhou também nos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal do Brasil". É autor dos livros "O que É Jornalismo" (editora Brasiliense) e "Enviado Especial" (Senac)


SIM

JOSÉ HAMILTON RIBEIRO


Que jornalista é esse?
Dizem que o diploma é uma reserva de mercado. Não é. Jornalista vocacionado e com energia para enfrentar profissão tão estressante acaba achando emprego, seja qual for a forma de ingresso na profissão. Jornal sem jornalista nunca vai ter.

Assim, para o profissional, tanto faz ter lei de diploma ou não ter. Já para a nação...

É bom que jornalista tenha sólida formação -sim, com curso superior- tanto quanto é bom que, para toda profissão, de funileiro a dentista, haja a melhor qualificação possível. Um país se faz com bons profissionais em todas as áreas. Malandragem e jeitinho podem ser engraçados, mas não levam a nada.

Quase 70% da população adulta no Brasil não consegue entender um texto de dez linhas. A universidade brasileira, que devia estar entre as dez melhores do mundo -coerente com nossa posição de 6ª ou 7ª maior economia- não aparece nem entre as cem. Num país assim, tão atrasado e carente, ser contra escola de jornalismo, qualquer escola, é cinismo ou má intenção.

Argumento muito usado: o decreto que regulamentou a profissão é de 1969, no governo militar, sendo assim "entulho autoritário". Primeiro: a luta pela formação superior do jornalista vinha desde os anos 1930. 
Segundo: gato que nasce no forno é biscoito ou é gato? Seria o caso então de dinamitar Itaipu, a ponte Rio-Niterói e acabar com a fluoretação da água potável das cidades?

Existe um axioma no jornalismo: notícia deve ser feita com isenção, não envolve opinião de quem escreveu. Opinião o leitor encontra nos editoriais, nos colunistas, nos colaboradores (não jornalistas).

Em 2009, o STF acabou com o diploma -após 40 anos, com resultados tão bons que até mudaram a "paisagem" das redações, com a chegada (hoje hegêmonica) das mulheres, antes excluídas. A sentença foi tão inapropriada que, de certa forma, não "pegou": estudantes, professores, entidades, intelectuais e políticos iniciaram movimento para restabelecer a regulamentação pelo Congresso. Já passou pelo Senado, com mais de 90% dos votos dos presentes. Agora vai para a Câmara, onde deve também ser aprovada.

O STF confundiu liberdade de expressão com regras para exercício de uma profissão. Liberdade de expressão tem a ver com partidos políticos livres, as pessoas poderem se unir em sindicatos e associações, com a porta da Justiça aberta a todos. Nada a ver com requisitos para ingresso numa profissão, como de advogado, jornalista ou médico.

Antes do diploma, os integrantes de uma redação tinham origem em frustrados de outras profissões, estudantes sem rumo, boêmios, poetas (alguns finíssimos) e... braçais das empresas jornalísticas. O jovem entrava no jornal (ou TV) como faxineiro, boy, porteiro. Ia se enturmando, acabava jornalista -principalmente pela porta da fotografia, reportagem policial e esportiva.

Pesquisa de 1997 do Sindicato de São Paulo revelou a existência, a três anos do século 21, de 19 jornalistas sindicalizados -e analfabetos. Um contou sua história para um livro que escrevi: era "chapa" de caminhão, descarregava de madrugada pacotes de jornais. Tornou-se "colega" do motorista, aprendeu a fotografar, virou "jornalista". Dizia que nunca esteve numa escola.

É um perfil diferente do jornalista que veio com a escola de comunicações, com no mínimo 16 anos de estudo, sendo quatro na universidade (com todo aquele agito) e anos de inglês. Uma estrutura cultural e psicológica aparentemente mais forte do que a do ex-carregador de caminhão...
Qual jornalista é melhor para um país que quer um dia ser sério, desenvolvido?

JOSÉ HAMILTON RIBEIRO, 77 anos, 57 de profissão, é repórter do "Globo Rural" (TV Globo). Formado em jornalismo, trabalhou nas revistas "Realidade", "Quatro Rodas" e na Folha. É autor de "O Gosto da Guerra" (Objetiva) e "Jornalistas 37/97" (Imesp), entre outros.