terça-feira, 28 de agosto de 2007

34º Salão de Humor de Piracicaba, "Que belo traço!"


Adoro ilustrações. Já disse - e repito. Tenho várias frustrações na vida. Uma delas é não saber tocar piano, outra é não saber desenhar. O trabalho acima é de Lucas Leibholz, vencedor da categoria vanguarda.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Escrever é fácil: você começa com maiúscula e termina com ponto

Bela reflexão do Maurício Menezes sobre palavras e expressões da moda. E ele não falou naquele maldito "eu, enquanto alguma coisa...". "Eu enquanto alguma coisa" é a pinceleta, como diria meu saudoso pai. E os acadêmicos com a mania de escrever "com efeito? Com efeito pra mim são os chutes do Dodô. E, "a nível de...", tem coisas piores.


Modismo nas letras
Maurício Menezes

Poucas coisas são mais desagradáveis do que as palavras da moda. Agora a moda é falar em "agregar valores". Outro dia desses eu estive na Federação das Indústrias, para ouvir uma entrevista do secretário Nacional de Segurança e contei: ele falou 4 vezes no interesse do governo federal em "agregar valores". Como eu só estava ali para ouvir, resolvi não perguntar a ele o que quer dizer isso.

Há algum tempo o negócio da moda era "resgatar a cidadania". Faziam até congressos com temas "As eleições de outubro: resgatando a cidadania". Mas teve uma época também em que a moda era falar em "posicionar". O locutor gritava: "a bola entrou porque o goleiro estava mal posicionado!" No início da corrida: "os carros já estão posicionados..."

Mais recentemente, a coisa partiu para "disponibilizar". Estavam sempre falando em "disponibilizar isso ou aquilo. Ninguém mais pedia convite para o teatro. Pediam para "disponibilizar" os convites.

Escrever é a arte da simplicidade. Ruy Barbosa dizia que "escrever é cortar palavras". É sempre bom seguir os conselhos do baiano. Quanto menos palavras usarmos para expressar alguma coisa, melhor.

É sinal de que conseguimos nos comunicar bem. Escrever bem não é escrever difícil. Procurem uma frase de Castro Alves, em O Navio Negreiros, ou uma de Chico Buarque ou mesmo numa letra de alguma música de Zeca Pagodinho: "descobri que te amo demais... descobri em você minha paz".

São 10 palavras que exprimem de forma magistral o sentimento máximo que uma pessoa pode ter pela outra e o que esse sentimento provoca. Agora, imaginem vocês essa frase mais ou menos assim: "Descobri que disponibilizei o meu amor por você...Estou posicionado para te amar e com totais condições de agregar valores para encontrar a paz..."

O Jornalismo Gonzo de Hunter Thopmson


Salvo pelo gonzo
Os EUA alucinados e a rebordosa que solapou a utopia hippie
CARLOS MINUANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um fim de semana em Las Vegas com tudo pago para escrever uma reportagem sobre um off-road de motos é bacana, claro. Mas até aí nenhuma novidade, certo? Errado. Ao menos no caso do jornalista Hunter S. Thompson [1937-2005], o célebre criador do jornalismo gonzo -estilo alucinado de narrativa jornalística onde reportagem e repórter se misturam.
Ao lado de seu amigo, o infame advogado chicano Oscar Acosta, Thompson (sob o pseudônimo de Raoul Duke) parte a 180 km/h em um conversível alugado pelo deserto rumo a tal corrida. Detalhe: na bagagem, um estoque interminável com todos os tipos de drogas, compradas com o adiantamento pago pela matéria.
A reportagem acabou não saindo. Ao que consta, Thompson não ficou nem sabendo quem ganhou a competição. Preferiu fazer um mergulho chapado em busca do tal sonho (ou pesadelo) americano. O resultado da viagem bizarra e divertida está no clássico escrito em 1971, que acaba de ser relançado no Brasil, "Medo e Delírio em Las Vegas".
Publicado originalmente em capítulos na revista americana "Rolling Stone", a aventura lisérgica também foi parar no cinema, em 1998, sob a direção de Terry Gilliam, com Johnny Depp no papel do gonzo.
Semelhante ao que fizeram figuras como Robert Crumb (nos quadrinhos), Charles Bukowski e William Burroughs (na literatura), Thompson, ao inventar seu próprio método jornalístico, revelou outra América, intensa e vibrante.
Sua viagem começou em 1965, após uma temporada com a gangue de motoqueiros Hell's Angels -que resultou em um livro e numa grande surra.
Em 20 de fevereiro de 2005, já recluso e com problemas de saúde, Thompson suicidou-se com um tiro na cabeça, aos 67, em seu sitio em Aspen (EUA).
Seis meses depois, suas cinzas foram lançadas no céu a partir de um foguete, em uma homenagem bancada pelo amigo de baladas Johnny Depp. No som rolava "Mr. Tambourine Man", de Bob Dylan, uma das preferidas do gonzo.

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MEDO E DELÍRIO EM LAS VEGAS
Hunter Thompson
Editora Conrad
R$ 36 (224 págs.)

Fonte: Folhateen

Quem sabe, sabe; quem não sabe, bate palmas!

Que belo texto do Ruy Castro na Folha paulista de hoje! O que não é novidade. Ruy, que brilhou nas redações de jornais e revistas, antes de ser escritor, é um belo pesquisador. E trabalha o texto de uma forma leve e suave, sem frescuras, usando termos como "marmanjos", "gostosa", "gororoba" e "encharcando". Bela aula!

"Ronda" às três da manhã
RUY CASTRO
RIO DE JANEIRO - O Ministério da Saúde descobriu que 27% dos brasileiros do sexo masculino tomam mais de cinco doses de bebida alcoólica por dia. A média "normal" em outros países fica entre 10% e 15%. Por que essa diferença? Porque, massacrado pela propaganda na televisão, o brasileiro é estimulado a beber o dia inteiro.
Bebendo, você nunca está sozinho. Há sempre uma gostosa de olho no seu copo. O problema é que você tem de disputá-la com os outros 30 marmanjos bebendo na sua mesa. Todos, por sinal, vendendo saúde, disposição e, contrariando uma das "normas" do Conar, juventude -nenhum deles aparenta nem perto de 25 anos.
O máximo do escárnio aconteceu há pouco, quando um dos patrocinadores oficiais do Pan-Americano foi uma nova cerveja, de nome e apelo decididamente infanto-juvenis. Seria interessante saber se os atletas que eram vistos competindo atingiriam aquelas marcas se tomassem a gororoba com a assiduidade com que ela era apregoada no vídeo -várias vezes por hora.
Outra pesquisa recente revelou que os jovens brasileiros estão bebendo cada vez mais cedo -neste momento, aos 13 anos. Nada de surpreendente nisso, já que a publicidade de cerveja (que representa 61% do consumo de bebidas alcoólicas no país) é toda feita para eles. Nenhum comercial perde tempo mostrando uma roda de homens maduros e mulheres de olheiras se encharcando e engrolando "Ronda" num botequim às três da manhã, como acontece na vida real.
A juventude e a TV brasileiras ficarão mais saudáveis se o governo banir do vídeo, pelo menos das 8h às 20h, a mentira de que cervejas, vinhos, "ices" e "coolers", por conterem "pouco álcool", são inofensivos. A diminuição nos índices de acidentes de trânsito e de violência sexual e doméstica dirá melhor.

domingo, 26 de agosto de 2007

Secretaria Gráfica (Ilustrações)





Me amarro em ilustrações (charges, cartuns, caricaturas etc). Muito bom esse Baptistão, que faz ilustrações pro Estadão paulista. Quem quiser conhecer o trabalho do colega:
http://baptistao.zip.net/

A Invasão do Jornalismo, Janio de Freitas

JANIO DE FREITAS

A invasão do jornalismo

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Não há dúvida de que os diálogos seriam atos privados. Mas não significa que ocorressem em privacidade
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A RELAÇÃO entre jornalismo e invasão de privacidade é muito mais complexa do que aparenta na intensa discussão, desde quinta-feira, a partir do diálogo de e-mails publicado pelo "Globo", que os captou fotografando os computadores de dois ministros em sessão do Supremo Tribunal Federal.
Onde haja liberdade de imprensa, não consta que jamais se tenha ao menos esboçado solução satisfatória, em teoria ou na prática, para o conflito entre jornalismo/interesse público, de uma parte, e sigilo/interesse estrito, de outra. A dubiedade domina essa fronteira. Os casos de nitidez indiscutível de invasão, antes escassos, com a permissividade da internet às inserções mais levianas, ou criminosas mesmo, na "rede" tornaram-se tão vulgares quanto impunes.
As reações condenatórias referem-se, portanto, ao jornalismo impresso. E, no caso, nem elas guardam nitidez conceitual, jurídica ou intelectual. As fotografias dos computadores, feitas à distância dos dois ministros, e a publicação dos diálogos foram definidas por Nelson Jobim como "interceptação de comunicação" e "intromissão anticonstitucional a um Poder da República".
Interceptação não foi. Como a todo ministro da Defesa conviria saber, interceptar é interferir em um percurso pretendido, seja de um avião, de uma tropa, de uma mensagem, de carga, entre inúmeros possíveis. Houve constatação e documentação do constatado. Sem intervenção alguma na livre troca de mensagens entre os dois ministros.
Já a eloqüente "intromissão anticonstitucional a um Poder da República", lembra logo alguma coisa, antes de sujeitar-se ao reparo de que as fotos e a publicação, tanto não se "intrometeram" de forma alguma em Poder nenhum, que o próprio Supremo Tribunal Federal as considerou referentes a mensagens apenas pessoais, desprovidas de conotação oficial, e por isso dispensou-se de toda manifestação a respeito. A "intromissão anticonstitucional" de Nelson Jobim lembra logo que se trata do autor, valendo-se da tarefa de revisor gráfico, da intromissão no texto da atual Constituição de artigos não aprovados, e nem ao menos conhecidos, pela Constituinte de 1988. O que não impediu o autor da autêntica "intromissão anticonstitucional" de chegar a presidente o STF -fato que, se não o define, porque já se definira, pode definir o país.
Em nota, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (nome historicamente tomado como sinônimo de defesa da liberdade de informação) pôs o assunto sob uma comparação que não sei se mais surpreendente ou mais insultuosa para o jornalismo: "O Brasil não pode virar um "Big Brother'". Seja o daqui ou a matriz plagiada, o "Big Brother" faz parte do processo de imbecilização imposto pelo método de nivelamento por baixo, muito adotado em meios de comunicação, para mais faturar em publicidade com o maior número de telespectadores/ouvintes/leitores. É impossível que Cezar Britto não se tenha inquietado com a evidência, proporcionada pelas fotos e publicação dos diálogos, de que a aposentadoria precipitada do hoje ex-ministro Sepúlveda Pertence e a escolha de seu substituto têm, até agora, injunções políticas e partidárias que se sobrepõem aos critérios apropriados para o Supremo.
Estar próximo de quem fala ao telefone e, notado o interesse público do que é dito, noticiá-lo; ou ouvir, de fora de um gabinete, um diálogo de interesse público e noticiá-lo -são atos de invasão de privacidade ou de função do jornalismo? Essas e situações semelhantes ocorrem todos os dias, aqui e pelo mundo afora, desde que o jornalismo é jornalismo. E haverá diferença essencial, para a função do jornalismo e para o interesse público, entre o que é ouvido sem uso de interferência física e o que é lido em computadores de tela voltada para o público?
Em certa medida, não há dúvida de que os diálogos de tais situações seriam atos privados. Mas, embora a contribuição de uma palavra para a outra, por serem privados não significa que ocorressem em privacidade. Foram deixados por seus autores ao alcance de terceiros. E não importa quantos terceiros.
Os ministros Cármen Lúcia Rocha e Ricardo Lewandowski nada escreveram, nos diálogos fotografados e publicados, que os comprometesse, moralmente, como pessoas ou como magistrados. Se foram desavisados, o foram por conta própria. O que torna injusto atribuir ao repórter-fotográfico Roberto Stuckert e ao seu jornal menos do que a alta qualidade do jornalismo que praticaram. Ou seja, da função pública que têm e exerceram.

Fonte: Folha de S. Paulo

Carta sobre edição de fotos

Mais uma boa reflexão sobre a edição de fotos publicada na seção de Cartas da Folha paulista de hoje.

Fotos
"Tem razão o leitor André de Souza Vieira ("Painel do Leitor", 24/8) em seu comentário sobre as fotos publicadas pela Folha em sua Primeira Página em 22/8 e 23/8.
De fato, as palavras corretas para tal tipo de jornalismo são "deformação, insinuação, manipulação". Uma foto, da forma como a Folha a utiliza, é muito mais que uma ilustração: é uma reportagem inteira. Quando ocupa 25% da capa, é também um editorial.
É "engraçado" colocar autoridades em situações vexatórias, admito. Sendo fato relevante, a imprensa tem mesmo de mostrar. Mas apelar para uma imagem que é um fragmento de segundo só para insinuações grotescas, de fofoca, eu diria que se trata de jornalismo doentio. A quem, ou melhor, a quê serve esse tipo de jornalismo?"
VALTER LUIZ PELUQUE (São Paulo, SP)

sábado, 25 de agosto de 2007

Dica do blog: promoção de livros grátis. E sobre Jornalismo!


Participe da Promoção Contexto/JW
A Editora Contexto e o JW formaram uma parceria para oferecer a você uma promoção imperdível: oito leitores do JW ganharão exemplares do recém-lançado livro Os Jornais Podem Desaparecer?, de autoria do professor americano de jornalismo Philip Meyer. Quer saber mais?

http://www.jornalistasdaweb.com.br/index.php?pag=contexto

Blog nas escolas. Meus alunos já viram esse filme


Para os meus alunos, isso não é novidade. Já venho fazendo o mesmo há algum tempo. Sem modéstia! (rs) Hoje, o caderno Cotidiano da Folha paulista publica matéria.

Escolas adotam games e blogs nas aulas
Para melhorar a aprendizagem dos estudantes, colégios de SP aliam internet e jogos ao conhecimento dado em classe

A maioria das atividades e projetos interativos produzidos pelos alunos faz com que eles pesquisem e se interessem por novos temas

DANIELA TÓFOLI
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL


A batalha de professores e pais contra o videogame e a internet ganhou uma trégua: colégios particulares de São Paulo começam a adotar ferramentas como blogs e jogos de última geração para melhorar a aprendizagem dos alunos.
O colégio Santa Maria, que fica na zona sul da cidade, por exemplo, agora tem um laboratório para que os estudantes criem os seus próprios games.
A idéia é simples. Já que os jovens gostam tanto de videogame, nada melhor do que escolherem eles mesmos a história, os personagens e os desafios do jogo. O que não é simples é fazer o game funcionar.
"Para isso, eles precisam usar história, geografia, física, biologia, geometria e educação artística. Sem perceber, aplicam na prática o que aprenderam na aula", diz o coordenador do grupo de pesquisa e desenvolvimento de jogos eletrônicos da escola, Muriel Vieira Rubens.
Aluno do nono ano do fundamental, Yuri Rodrigues, 14, pensou que seu trabalho seria bem mais fácil.
Com dois colegas, está desenvolvendo um game sobre a questão nuclear do Irã. O objetivo dos jogadores será impedir a Terceira Guerra Mundial no mundo virtual.
Para começar, o trio teve de ler sobre a atual situação iraniana, desvendar os significados da energia nuclear, desenhar os personagens com conceitos de geometria e aplicar fórmulas de física, como a da velocidade, para que os personagens corram. "Tem hora que é complicado, mas estou gostando. Não vejo a hora de ficar pronto", diz o garoto.
O projeto começou neste ano e, por enquanto, só os alunos que tiram boas notas podem participar da atividade.

Notas e pesquisas
Já no colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida, na zona sul, os alunos dependem de uma ferramenta interativa para ter boas notas. Por meio de um sistema chamado webquest, os alunos fazem pesquisas em vídeos e materiais gráficos. E utilizam o programa para apresentar seus trabalhos.
Os alunos da oitava série, por exemplo, foram divididos em grupos de cinco, e cada conjunto tem a missão de apresentar a melhor fonte de energia (elétrica, eólica, nuclear, entre outras) para uma cidade fictícia.
No final, precisarão apresentar relatórios com fundamentos econômicos, ambientais e tecnológicos para a opção, além de um jornal, que informaria a população sobre o tema.
A atividade começou neste mês e vale metade da nota do trimestre dos alunos, em ciências. "Buscamos um ambiente confortável para eles. A idéia é acompanhar essa geração de blog, do YouTube", diz o coordenador de tecnologia educacional, Fabiano Gonçalves.
Pela ferramenta, os professores conseguem monitorar quanto tempo cada aluno pesquisou e o que fez no grupo.
No colégio Ítaca, na zona oeste, a intenção é utilizar a internet para melhorar a integração entre os alunos. Por meio de blogs, alunos do sexto ao nono ano trocam informações sobre as pesquisas feitas. Cada grupo deverá apresentar um trabalho sobre o Brasil entre guerras.
"A idéia da atividade começou no ano passado, mas vimos que a comunicação entre alunos de diferentes anos não foi tão boa. Por isso, neste ano, adotamos os blogs", relata o coordenador-pedagógico da escola, Flávio Cidade.
No Santo Américo, zona sul, os alunos têm o conteúdo dado pelos professores na intranet do colégio. Há também um tira-dúvidas online, exercícios de reforço pela internet que valem nota e por todo o colégio há rede wi-fi para que laptops e celulares com internet sejam usados de qualquer lugar.
Já no Pio XII, na zona oeste, o conteúdo passado nas lousas digitais pode ser revisto pelos alunos via internet. O sistema foi adotada neste ano na escola.

Para educadores, idéia é positiva, mas há ressalvas
DA REPORTAGEM LOCAL

Educadores consultados pela reportagem afirmam ser positiva a idéia das escolas de adotar novas tecnologias -como blogs e jogos de última geração- para o aprendizado dos alunos. Eles, porém, fazem algumas ressalvas a essa estratégia.
"Se não houver um bom acompanhamento do professor, o tempo utilizado nessas ferramentas poderá ser perdido", afirma a presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Maria Irene Maluf.
A pedagoga afirma que a principal característica que indica a qualidade da escola é a formação dos seus professores -e não as tecnologias adotadas para o ensino.
Já o professor da Faculdade de Educação da Unicamp Sergio Amaral afirma que as novas ferramentas só têm eficácia se estiverem bem integradas com a proposta didática da instituição.
"A tecnologia não pode ser reduzida à simples utilização instrumental. Senão, fica apenas uma atividade lúdica, sem relação com o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem", afirma.
Andréa Jotta Nolf, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP, destaca uma outra questão importante a ser considerada nessa discussão: o corretor ortográfico dos programas de computador.
"Quem faz texto no Word, por exemplo, tem tudo corrigido automaticamente." Dessa forma, diz ela, o estudante deixa de prestar atenção em regras básicas da ortografia. "A solução é que as escolas peçam alguns trabalhos escritos à mão, pelo menos nas séries iniciais", afirma Andréa.
Apesar dessa ressalva, a psicóloga é a favor da inclusão das novas tecnologias na sala de aula.
"Não dá mais para escapar do Google, do Orkut, dos games. O desafio é não estacionar e saber tirar proveito disso." (DT e FT)

O "furo" do Globo no Supremo (Artigo de Luiz Weis)

Invasão, sim e não
Luiz Weis (Observatório da Imprensa)

Em matéria de repercussão, o furo jornalístico do Globo, flagrando os e-mails trocados pelos ministros Ricardo Lewandowski e Carmen Lúcia numa sessão do Supremo, empatou até mesmo com a do fato em si – o exame da denúncia do procurador-geral da República contra 40 acusados de mensalismo.

O presidente Lula, o ex-ministro do STF Nelson Jobim, o presidente da OAB, Cezar Brito, condenaram o que o primeiro chamou “invasão de privacidade”, o segundo, “anticonstitucional”, o terceiro, “ilegal e chocante”.

A Folha, embora deva estar lambendo as feridas produzidas pelo concorrente, graças ao olho vivo do fotógrafo Roberto Stuckert Filho, fez o que manda o manual. Além de registrar as críticas ao jornalista, abriu espaço para três respeitáveis opiniões em sentido contrário. [Os autores também comentam a atitude dos ministros, assim como outros dois ouvidos pelo jornal, que não se manifestaram sobre o comportamento da imprensa.]

É o caso de transcrevê-las porque nenhum deles é jornalista e porque todos, advogados, não são exatamente conhecidos por raciocinar em bloco. Ei-las:

“Não tenho nenhum receio em dizer que quem fez a foto não invadiu nenhuma privacidade. A sessão era pública, os computadores eram públicos. Incogitável se tratar de privacidade invadida.” [José Paulo Cavalcanti Filho, ministro (interino) da Justiça no governo Sarney e estudioso da legislação sobre a imprensa.]

"Não me impressiona a revelação dos diálogos, isso é normal. O fotógrafo estava na função dele, não vejo nenhuma irregularidade.” [Ives Gandra Martins, volta e meia cotado para ministro do Supremo.]

"O fotógrafo estava trabalhando num ambiente público e poderia ter registrado qualquer comentário.” [Carlos Ari Sundfeld, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Público.]

O que eu, pessoalmente, penso a respeito, manifestei ontem em resposta à pergunta do leitor Marcelo Ramos [ver aqui, na área de comentários].

P.S. A opacidade do Supremo

Arguto registro do repórter Raymundo Costa, no Valor de hoje:

"O que se prevê, com a divulgação do diálogo, é um fechamento ainda maior do STF. Dos três Poderes, o Supremo é o menos exposto. Seus bastidores têm sido impenetráveis, apesar da relação quase sempre cordial dos ministros com a imprensa. Sabe-se da existência de grupos e da disputa intelectual entre seus integrantes, que muitas vezes se transforma numa disputa pessoal ferrenha."

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Secretaria Gráfica (Aula) e Documentação

Fotos
"A Folha tem dado demonstrações diárias de que não faz um jornalismo objetivo. As capas do jornal de ontem e de anteontem são o exemplo acabado disso: fotos do presidente em momentos singulares e completamente fora do contexto das notícias, com o intuito de constrangê-lo perante o público. Isso não é informação, é deformação, insinuação, manipulação. Coisa que jamais deveria ser feita por um jornal que se pretende imparcial e plural. Pobre e inconsistente é a opinião pública que se forma com esse tipo de jornalismo. Afinal, mesmo que o jornal se oponha ao governo, o que é do seu direito, há formas inteligentes e honestas de fazê-lo, sem precisar lançar mão de recursos que caracterizam manipulação da informação."
ANDRÉ DE SOUZA VIEIRA (Curitiba, PR)
Vocês lembram da aula passada, né? Vejam isso. Conversamos nas próximas aulas. Serve também para o trabalho dos alunos de Documentação.

Aula de Documentação: dica sobre o trabalho das Cartas


Vejam a seqüência de cartas publicadas com o titulo "Outra história". Tem uma carta "zangada" do Serjão, pai do governador Sérgio Cabral, e cartas bem escritas e bem-humoradas, citando até Stanislaw Ponte Preta.

Bastidores do "furo"


A coluna "Por dentro do Globo" publica hoje uma materinha com o Roberto Stuckert Filho que fez as fotos ontem sobre o bate-papo virtual dos juízes do STF).

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Furo do blog: Ajudem o Roberto Assaf a renovar a carteira de motorista e a pagar os IPVAs atrasados



Encontrei hoje com o nosso querido professor Roberto Assaf (flamenguista). Ele está lançando mais um livro, dessa vez independente. Dei uma olhada nos originais e no cartaz de divulgação. O prefácio é de outro amigo, João Luiz de Albuquerque (tricolor). Chama-se "Ipanema - Lado B". O lançamento é dia 13 de setembro, quinta-feira, na Letras e Expressões do Leblon. Eu vou! Não deixem de ir.

Apresentação
"Ipanema, Lado B" narra o cotidiano de quase 200 personagens, homens e mulheres, jovens e velhos, brancos e negros, ricos e pobres, que viveram entre as décadas de 60 e 80, quando o bairro passou a sofrer mudanças irreversíveis provocadas pela especulação imobiliária. São todos desconhecidos do grande público, que jamais tiveram seus nomes registrados por obras anteriores sobre o tema, daí o Lado B do título. O autor começou a notá-los ainda menino, quando Ipanema ainda tinha jeitão de cidade do interior. E decidiu resgatá-los para a posteridade. Afinal, todos deixaram muitas histórias, ora alegres, ora tristes, por vezes dramáticas, algumas quase inverossímeis, e que também contribuirão para que o bairro preserve a sua memória e identidade.

Resumo de um trecho do livro
"Tio Hélio era um doceiro de mão cheia e um pretenso feiticeiro. Trabalhava numa confeitaria badalada e morava num pequeno quarto alugado num velho centro comercial. Na realidade, só ia lá para dormir, pois quando o expediente terminava, ali pelas cinco da tarde, iniciava o giro pelos bares, angariando a cerveja que bebia quase sempre de graça, em troca dos casos que contava, a maioria falando de gente que havia recolocado "no bom trilho da vida".

Pois é. Tio Hélio dizia-se um pai de santo de mão cheia, capaz de recuperar amores perdidos, buscar empregos sonhados, encontrar remédio para desavenças familiares e arranjar solução imediata para dívidas aparentemente impagáveis. Apresentava-se enfim como pau para toda obra. O velho não era de beber muito. Jamais foi visto embriagado de cair. Nem cobrava qualquer centavo por seus serviços. Valia-lhe sobretudo sustentar a prosa.

A gatinha brigou com o namorado porque ele estava se engraçando com outra. Hélio sentava na cadeira, curvava o corpo e os óculos remendados com esparadrapo caíam-lhe sobre as bochechas. Pedia para trazer uma cerveja e ouvia o relato, compenetrado, balançando a cabeça. Depois, dava a receita para o caso e pedia paciência .

- O titio já rezou e encomendou a graça ao santo. Agora, prá completar, a moça vai fazer bem direitinho o trabalho que o titio mandou, pro moço largar logo esse galho maldito.

As consultas eram sempre em caráter particular. No começo, as pessoas se assustavam com os seus berros, invocando os orixás. Depois, já não ligavam mais. Havia ocasiões em que Hélio atendia dois, três clientes, gente que vinha só pedir informação para completar o serviço.

- O titio sabe onde é que eu arranjo aquela marca de cachaça indicada prá fazer o despacho? Não tô achando em lugar nenhum...

- Ora, aquilo foi um luxo do titio. É que o santo gosta do melhor, mas tá aceitando qualquer uma..."

O Direito de Saber (os mais antigos não devem confundir com nascer)


Passei o dia inteiro na rua e não pude registrar cedo o "furo" do Globo na matéria de capa sobre a "troca de e-mails dos juízes do mensalão". Belo trabalho do fotógrafo Roberto Stuckert Filho (conheci o pai dele). Mas, em compensação, reproduzo a crítica diária do ombudsman da Folha, Mário Magalhães, publicada hoje. Vale a pena ler. Mais uma aula de Jornalismo.

"23/08/2007
O direito de saber
MÁRIO MAGALHÃES
ombudsman@uol.com.br

Um profundo debate sobre direito à privacidade e direito público à informação se abre hoje com o furo do Globo, sintetizado na manchete "Ministros do STF combinam e antecipam voto por e-mail". Um repórter-fotográfico registrou a imagem da tela de computadores de ministros do Supremo Tribunal Federal na sessão que discutia a instauração de processo criminal contra os 40 acusados pelo mensalão. O jornal publicou o que os juízes escreviam e liam: mensagens tratando da denúncia e outros temas.

Relembro: ontem saiu na seção Painel, da Folha, uma nota intitulada "Online". Dizia: "De tédio os membros do STF não morrerão durante as longas horas de sustentação oral dos advogados de defesa no julgamento do mensalão, que começa hoje. Segundo um conhecedor dos hábitos do tribunal, vários ministros vão passar o tempo navegando na internet".

No domingo, ao informar a tendência de voto dos ministros em relação à denúncia contra o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, a Folha nomeou quatro a favor e quatro contra. Sobravam dois. O jornal escreveu: "A maior incerteza é em relação aos votos de Carmem Lúcia Rocha e Ricardo Lewandowski" --os personagens centrais da cobertura do Globo.

Hoje, na reportagem "Governo espera justiça sem paixão, diz Dilma" (pág. A6), a Folha contou: "Ontem, no primeiro dia do julgamento, ministros usaram a internet para consultas e para trocar mensagens. Durante as principais falas do ministro Joaquim Barbosa, relator, e do procurador-geral, autor da denúncia, ao menos dois ministros navegavam pela rede e conversavam virtualmente pelo sistema do STF. Depois de ler o relatório, Joaquim Barbosa dedicou-se a ler e escrever no laptop. E, já na fase da apresentação dos advogados, o próprio procurador também usava seu computador". (Considero a edição São Paulo concluída às 23h51.)

Trecho da reportagem do Globo "Voto combinado na rede": "A conversa [entre os ministros Carmem Lúcia e Lewandowski], que durou duas horas e foi captada pelas lentes dos fotógrafos que acompanhavam o julgamento [...]".

As imagens que vi hoje foram feitas apenas por um fotógrafo, Roberto Stuckert Filho, do jornal carioca. O relato introduz a hipótese de que outras publicações tenham tido acesso às conversas online, mas não quiseram veiculá-las.

Para concluir as, como diriam em juridiquês, preliminares, recordo que a primeira página e a pág. A4 da Folha de 27 de junho exibiram fotografias, feitas no plenário do Senado, de bilhete de Renan Calheiros para Arthur Virgílio. Aparentemente, sem autorização do remetente e do destinatário.

Aquela decisão editorial se assemelha à do Globo de revelar os "bilhetes eletrônicos" dos magistrados.

Primeiras impressões sobre o furo do dia: as fotografias foram feitas em prédio público, com acesso público e em sessão pública. Há interesse público em conhecer as inclinações da Suprema Corte no julgamento e bastidores de episódios não esclarecidos, como a aposentadoria do ministro Sepúlveda Pertence. O repórter-fotógrafico não interceptou ilegalmente correspondência eletrônica nem se beneficiou de interceptação ilícita de autoria alheia. Ele cobriu um evento público e registrou o que era possível apurar --no caso, as informações mais relevantes do dia, a tendência de voto de alguns ministros. Cumpriu seu legítimo dever jornalístico.

O furo impõe uma série de discussões: o STF deve se pronunciar conforme o sentimento da "comunidade" ou de acordo com a letra fria da lei?; a saída repentina de Sepúlveda Pertence foi uma operação política do governo, em tentativa de influir no eventual processo do mensalão?; como ocorrem as discussões sobre votos antes dos julgamentos?; quais são os grupos em um tribunal aparentemente dividido?; qual a influência dos assessores no voto dos ministros?

Os leitores ganharão se a Folha for transparente, publicando na edição de amanhã os fatos divulgados hoje pelo concorrente. Caso o jornal tenha optado por não publicar informações em seu poder (o Globo fala em "fotógrafos"), penso que é seu dever noticiar a decisão e seus motivos".

Dica de livro: entrando na do professor Tião Martins


Descobri por acaso. Acabou de sair. É escrito por um publicitário do balacobaco, mas vale também para o pessoal do Jornalismo. Belo texto! E fala bastante sobre o processo de criação.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Vivendo e aprendendo - sobre o Mundo


Sou fã, como já disse outras vezes, da coluna "Por dentro do Globo". Quem quiser aprender mais ainda sobre os caminhos da profissão, leia o que saiu hoje. Bela iniciativa da Sandra Cohen e da Nívia Carvalho (que foi entrevistada pelos alunos para o Jornal Laboratório da FACHA).

Aula (Título)


Bela sacada de título da Folha paulista na matéria sobre a bela Alessandra Negrini. Mas eu não vejo novela! Vocês sabem.

The Midia Revolution (Na língua do "de buqui is on de tabel")


O meu amigo Marcelo Bório, que, infelizmente, é tricolor, manda a bela reflexão. Em especial para Jornalistas, Professores e Estudantes de Comunicação.

Aula (Secretaria Gráfica): Cheiro de m?! Na semana do mensalão!


Bela foto de Bruno Miranda na capa da Folha paulista de hoje. O titulo é "sacana": "Sujando as mãos". Lula participou da inauguração de usina de biodiesel em Lins, São Paulo. Destaque também para a expressão da primeira dama, dona Marisa.

Aula - Documentação (Dica pra VA)

Alunas e alunos:
Eis um exemplo de carta, publicada na Folha de hoje, que pode ser avaliada no trabalho de VA que pedi ontem (22/08). O leitor, como vocês podem comprovar, não é fanático nem histérico contra governos ou pessoas. Faz, na minha opinião, uma análise isenta. Sugiro aos alunos da turma que passem a ficar atentos diariamente às seções de cartas, conforme conversamos ontem. Vou dar dicas aqui no blog e em sala de aula.

Resolver problemas
"A pesquisa Datafolha publicada em 5/8 mostrou que o governo Lula é considerado regular/bom por 84% dos brasileiros, revelando que a crise aérea e o acidente com o avião da TAM não afetaram a sua aprovação.
A explicação, para mim, é que o povo ainda é ignorante, mas não é mais bobo, e já percebeu que essas crises não são responsabilidade de um único governo. Se quisermos resolver problemas e acabar com crises, temos que fazer uma análise circunstancial dos fatos em vez de procurar culpados ou bodes expiatórios. (GRIFO MEU).
Na mesma edição, a Folha mostrou que cerca de 3.000 pessoas saíram às ruas em todo o país para protestar contra o governo. Essas pessoas têm o legítimo direito de se manifestar, mas, em lugar de pedir a saída de um presidente legitimamente eleito -que tem prestígio com o povo-, não seria melhor que levantassem propostas concretas para defender num movimento?
Vejo da mesma forma a campanha "Cansei". Melhor faria a OAB se, em vez de lançar tal campanha, analisasse a questão da legislação e da corrupção no Brasil e fizesse as propostas necessárias para diminuir tanto a corrupção como a impunidade.
Penso se não é chegada a hora de termos uma nova constituinte, mas fora do Congresso. Nela, os partidos teriam representantes, mas a sua maior força viria da sociedade -cidadãos, representantes de entidades, associações e sindicatos.
Essa constituinte poderia apenas tratar da reforma política e criar condições rigorosas para inibir a corrupção, para acabar com essa podridão que está aí e para dar esperança ao povo de ter um país melhor."
MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO (Campinas, SP)

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Medíocre é a... ou ele está certo?

De qualquer forma, jornalistas americanos não têm muito o que falar da nossa Imprensa. E a deles? E os jornalistas engajados? Mas este é um blog democrático e informativo.

"A imprensa brasileira navega num mar de mediocridade", diz Larry Rohter ao Estadão
Fonte: Portal IMPRENSA

No último domingo (19/08), o caderno "Aliás", do jornal O Estado de S.Paulo, publicou entrevista com o controverso jornalista Larry Rohter, ex-correspondente do jornal New York Times, responsável pela matéria que ganhou grande destaque na mídia nacional e internacional e que abalou o Palácio do Planalto por falar dos hábitos privados do presidente Lula, entre eles o suposto apreço pelos destilados.

Na entrevista, que ocupou as duas páginas centrais do caderno e teve chamada de capa, o jornalista respondeu perguntas como "Se um correspondente brasileiro assinasse a mesma matéria sobre o presidente americano, o que aconteceria?", "Como você vê as relações entre mídia e poder no Brasil" e "Hoje, se você estivesse com Lula numa entrevista, perguntaria o quê?".

Em tom quase que desafiador, Rother falou da relação da mídia internacional com o atual governo e chamou a imprensa brasileira de "medíocre".

Confira abaixo alguns trechos da entrevista:

"A relação com o PT sempre foi difícil para qualquer correspondente estrangeiro. Com o PFL, o PSDB, o PMDB não há a mesma veemência ao reagir às reportagens que saem no exterior. Mas, quando se trata do PT, a chiadeira é quase infantil".

"Durante a ditadura eu admirava a imprensa brasileira. Ali existia um jornalismo que era vocação, não só carreira. A morte de Vladimir Herzog foi algo que me marcou. O próprio Estado, ao publicar trechos de Os Lusíadas, para resistir à censura, foi algo tocante. Ali vi imprensa de qualidade. Jornalistas e empresas de comunicação até pagaram um preço alto por isso. Hoje em dia, as coisas são diferentes. Há jornalistas de gabarito, mas a imprensa brasileira navega num mar de mediocridade, com algumas ilhas de excelência".

"Governar é fazer coisas. E fazer jornalismo é criticar. A crítica é um elemento-chave na profissão. Não vou ao extremo do "si hay gobierno soy contra", mas é papel da imprensa olhar os governos e dizer "aqui está errado". Agora mesmo, o grave acidente aéreo de SP virou símbolo de uma crise maior. Quais as razões que levaram ao desastre em Congonhas? Não sabemos. Mas há uma crise maior, crise nos serviços, afinal, somos usuários, não há como negar. Então, por que dizer que a cobertura está exagerada? Quem não lembra das críticas ao apagão de energia, feitas pelo PT, no final do governo do FHC? Falta de planejamento, falta disso, falta daquilo. Era uma crítica perfeitamente compreensível. Lembremos de como Bush apanhou da imprensa americana depois do furacão Katrina. E mereceu apanhar! Ver aqueles velhos morrendo em frente do estádio foi terrível. Pois ver os corpos carbonizados em Congonhas produz o mesmo sentimento. O povo sabe julgar. E nós, na mídia, somos instrumentos dessa opinião pública que ora castiga, ora absolve".

Para ler a versão on-line da entrevista, clique http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup37006,0.htm.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Você tem olhado por onde pisa? Digo, clica



E a polêmica campanha do Estadão paulista "contra" os blogueiros? Vale refletir. Vejam uma das peças da campanha e o "contra anúncio" produzido pelo blog "Banda Podre". Leiam também o artigo do Carlos Castilho, publicado no "Observatório da Imprensa":

Estadão ironiza blogs tentando obter credibilidade
Carlos Castilho
O jornal O Estado de S.Paulo resolveu ironizar os weblogs na tentativa de mostrar que eles não merecem ser levados a sério, numa campanha onde o alvo indireto é o fortalecimento da credibilidade do veterano órgão da elite quatrocentona de São Paulo.

A iniciativa revela mais as preocupações do Estadão do que as debilidades dos weblogs em matéria de confiabilidade e exatidão das informações que publicam. Se o jornal quisesse mesmo prestar um serviço ao público teria enfatizado a necessidade de um posicionamento crítico, em vez de uma inútil tentativa de desqualificar um canal de comunicação adotado hoje por quase 70 milhões de pessoas em todo mundo, inclusive pela maioria dos jornais. Os blogs não estão acima de qualquer suspeita em matéria de veracidade das informações que publicam. Muito menos jornais, como o Estadão, porque é crescente a consciência de que o conteúdo de todos os veículos de comunicação deve ser visto de forma crítica, o que não significa hostilidade e nem desconfiança.

A desastrada campanha publicitária do Estadão provocou a reação imediata da comunidade de blogueiros. Alguns deles chegaram a pegar pesado, como o Banda Podre, que usou o episódio Pimenta Neves, que nada tem a ver com a questão da credibilidade do jornal.

A realidade contemporânea se tornou demasiado complexa para ser condensada nas páginas de um jornal, revistas, no noticiário radiofônico ou nos telejornais. Em vez de se preocupar em desacreditar concorrentes ou blogs, o Estadão deveria começar pelo próprio quintal, porque só assim ele poderia mostrar o caminho para busca de solução de um problema que é um desafio para toda a imprensa e também para os blogs.

A questão da credibilidade nos meios de comunicação é muito mais séria do que as piadinhas dos spots publicitários do Estadão. Ela não vai ser resolvida com ironias, que servem apenas para mostrar a falta de informação do jornal sobre a complexidade da comunicação contemporânea.

O Jornal de Debates está com o debate "Você olha por onde clica?". Quem quiser participar é bem-vindo:http://www.jornaldedebates.ig.com.br/

Uma observação: o que os publicitários têm contra as pessoas que se chamam BRUNO? Além daquele anúncio que mostra um rapaz que se chama Bruno sendo sacaneado por um "malandrinho" numa escola, agora chamam os "Brunos" de macacos. Alô alô "Brunos" de todo o mundo está na hora de procurar o Conar.

domingo, 19 de agosto de 2007

Outra do ombudsman da Folha

Sou leitor assíduo de seção de cartas. De quase todos os veículos que leio. Só não leio a da Veja. Só tem elogios ao que a revista faz. Já tinha reparado essa mania do Adilson. Tem que ser muito competente e muito bem remunerado pra trabalhar com Maluf.

"Painel do Leitor" ou "Painel do Assessor?"
O jornalista Adilson Laranjeira é um ótimo assessor de imprensa do deputado Paulo Maluf (PP-SP). Exerce a função com eficiência e determinação. Conforme levantamento do "Painel do Leitor", a Folha publicou 12 cartas suas em 2005, 11 em 2006 e oito neste ano. A penúltima no sábado retrasado, a última na terça.
O missivista está certo em escrever. A Folha, que integra um grupo jornalístico no qual Laranjeira trabalhou, é que está errada. Manifestação de políticos e assessores deve sair como declaração entre aspas na editoria que veiculou as informações contestadas.
Leitores protestam contra a "invasão". Vêem um "Painel do Assessor" preterindo "anônimos" que só têm aquele espaço em favor de figurões (e porta-vozes) habitués de outras páginas. Assino embaixo.

Aula sobre Pauta (ombudsman Mário Magalhães)

Mais um domingo de "Bingo" pro ombudsman da Folha. Curtam principalmente os trechos em destaque.

Estorvo da pauta, maldição dos antolhos
É preciso estar de olhos e ouvidos atentos à novidade; a melhor reportagem não é a que satisfaz a pauta, mas a que vai além dela

O REPÓRTER Kleber Tomaz e o fotógrafo Antônio Gaudério saíram cedo para a entrevista que o Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado marcara para a tarde da terça. Chegaram antes da hora.

A Polícia Civil de São Paulo anunciaria o balanço de uma operação. Enquanto esperavam em um auditório, os jornalistas da Folha ouviram gritos do outro lado de uma divisória de madeira, onde se instala uma delegacia.
Tomaz correu com o gravador. Ouviu uma voz que seria de policial: "Aqui não. Aqui você vai falar que não apanhou". Sobreveio um som de tapa. Um homem que parecia estar preso berrou: "Ai, ai".

O suposto policial: "Aqui não. Aê, seu bosta. Você vai falar que não apanhou. [...] Na época da ditadura, os caras batiam [som de risadas]". E ironizou quem apanhava em tempos não tão velhos assim: "E os bandidos: "Não senhor, pelo amor de Deus'".
O assunto da coletiva foi para o pé de uma bela reportagem que, infelizmente, não mereceu nem alto de página. A foto, "roubada" por uma fresta, não rendeu boa imagem. A polícia defendeu-se: foi "brincadeira" dos policiais. Com o "furo", contudo, a Secretaria da Segurança Pública ordenou apuração sobre os eventuais atos de tortura.
Os repórteres fizeram a coisa certa: tinham uma pauta, mas mudaram de rumo quando outra notícia se sobressaiu.

Não é sempre assim: um estorvo do jornalismo é a submissão burocrática à pauta original como um fanático ao seu livro-guia. É preciso estar de olhos -e ouvidos- atentos à novidade, rejeitando os antolhos que limitam a visão.

Conforme o "Manual da Redação" da Folha, "pauta" é "o primeiro roteiro para a produção de textos jornalísticos e material iconográfico". A melhor reportagem não é a que satisfaz a pauta, mas a que vai além dela e surpreende.

No auditório havia um terceiro repórter, de outro veículo, cuja identidade a Folha omitiu. Ele escutou os gritos, mas só noticiou o que era oficial. Ficou com a pauta de origem, calou sobre a violência.

sábado, 18 de agosto de 2007

É por essas e outras que eu não leio mais o JB! Que vergonha!

Jornal do Brasil plagia matéria de site sobre histórias em quadrinhos
Tiago Cordeiro

Uma nota publicada no site Universo HQ, especializado em histórias em quadrinhos, foi republicada com alterações mínimas na versão online do Jornal do Brasil. Apesar das reclamações de Sidney Gusman, editor do site, a empresa levou mais de 24 horas desde a publicação da nota para apagar o texto. A reportagem disponibilizou uma cópia da página (http://www.comunique-se.com.br/images/mail/temp/jb002.jpg) e ainda é possível encontrar seu registro na busca do JB Online (http://www.google.com/custom?domains=jbonline.terra.com.br&q=Viagra&sa=BUSCA&sitesearch=jbonline.terra.com.br&client=pub-5394900822474081&forid=1&channel=2109019961&ie=ISO-8859-1&oe=ISO-8859-1&cof=GALT%3A%237F7F7F%3BGL%3A1%3BDIV%3A%23FFFFFF%3BVLC%3A3D81EE%3BAH%3Acenter%3BBGC%3AFFFFFF%3BLBGC%3AFFFFFF%3BALC%3A003399%3BLC%3A003399%3BT%3A000000%3BGFNT%3A0000FF%3BGIMP%3A0000FF%3BLH%3A0%3BLW%3A0%3BL%3Ahttp%3A%2F%2Fjbonline.terra.com.br%2F%2Fimg2006%2Flogo_google.gif%3BS%3Ahttp%3A%2F%2Fjbonline.terra.com.br%2F%3BFORID%3A1%3B&hl=pt)

“A única coisa que ele [o plagiador] fez foi tirar o itálico e colocar aspas. É lamentável. Não é um blogzinho de algum leitor, é o JB Online”, criticou Gusman, que também trabalha nos Estúdios Maurício de Sousa, responsáveis pela Turma da Mônica. Além da substituição citada por Gusman, o texto alterava o título e incluía apenas a frase "os típicos quadrinhos nipônicos" para falar dos mangás.

O editor fez a reclamação com a jornalista Aline Freire, editora do JB Online, que repassou para o Caderno B, responsável pela nota. O repórter e subeditor Marcelo Migliaccio admitiu o erro, mas não quis confirmar se o JB Online publicaria uma errata. "Já resolvemos com o veículo".

O blog do Universo HQ publicou um texto sobre o plágio, disponibilizando uma cópia da página e criticando o plágio.

Fonte: Observatório da Imprensa

Desculpem: recebi uma mensagem do atento autor da matéria, Tiago Cordeiro (ver nos comentários). O texto foi publicado no "Comunique-se" e não no "Observatório da Imprensa". Obrigado, Tiago.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Anticurso de Jornalismo! Em São Paulo


Revista Caros Amigos promove primeiro ‘anticurso’ de jornalismo
Com a proposta de ‘pensar o jornalismo com a visão Caros Amigos’, a revista promove a partir de setembro seu primeiro ‘Anticurso de Jornalismo”.

Durante quatro sábados (15/09, 22/09, 29/09 e 06/10), profissionais e estudantes participarão de palestras-debates sobre temas como exigência do diploma, a grande mídia, o mito da imparcialidade e do ouvir os dois lados, o manual de redação, o repórter "telefônico", a supressão de criatividade e as “fontes”.

Serão duas palestras por encontro. A primeira inicia às 13h e a segunda tem previsão de encerramento às 17h30. Mylton Severiano, Georges Bourdoukan, José Arbex Jr., Renato Pompeu, Cláudio Tognolli, Claudius e Marcos Zibordi são os palestrantes confirmados.

O valor é R$ 250 e para se inscrever, basta entrar em contato pelo e-mail anticurso@carosamigos.com.br ou telefone: (11) 3819-0130. As palestras serão na redação da Caros Amigos, localizada na Rua Fidalga, 162, Vila Madalena - São Paulo – SP. As vagas são limitadas.

Fonte: Comunique-se

Dica de livro: "Mídia e Crise Política no Brasil"


Acabei de receber. Pros que gostam de Política e de reflexão.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Obrigado, Joel!


Nunca vi Joel Silveira de perto. Li diversos livros dele. Adorei o clássico "A milésima segunda noite da Avenida Paulista". Uma delícia! New Journalism puro. Mande um abraço pro Vinicius (de Moraes), Mestre.

"Caros Amigos" nas bancas. E os assinantes?


Divulgo mas reclamo. Desde que assinei, nunca recebo no prazo. Já telefonei, mandei e-mail, mas não adianta. Assim não dá. Não vou mais renovar. Só vou comprar nas bancas. Mas não deixem de ler.

Google News e o Jornalismo na Web

Interatividade com leitores corrige distorção na prática do jornalismo
Carlos Castilho (Observatório da Imprensa)

Ao iniciar, na semana passada, a publicação de comentários de pessoas citadas em notícias, o site Google News aumentou ainda mais a polêmica sobre a participação de leitores na produção de conteúdos informativos jornalísticos.

O Google News publica notícias de todo o mundo, recolhidas de 4.500 jornais, revistas, boletins, emissoras de rádio e TV, bem como páginas Web, cujo conteúdo é indexado pelos robôs eletrônicos e editados automaticamente sem intervenção humana, para reprodução em 41 idiomas diferentes, inclusive o português.

O projeto sempre foi criticado por ser uma forma de jornalismo robotizado e agora os seus responsáveis pretendem dar-lhe uma cara mais humanizada ao incorporar, na sua versão norte-americana, observações de pessoas citadas em notícias publicadas diariamente.

Por enquanto, os comentários têm aparecido mais em seções como tecnologia, ciência e saúde do que nas de política, esportes e economia, devido a razões consideradas técnicas (para ver um exemplo, clique aqui).

O problema é como identificar corretamente o responsável pelo comentário para evitar autoria falsa. O Google criou uma série de regras para minimizar os riscos das falsificações, mas isto acabou gerando um enorme aumento de trabalho, porque cada solicitação deve ser checada e só depois disto é que é publicada.

Nos casos de política e economia o processo pode tomar horas o que retarda a certificação de autenticidade, inviabilizando a publicação, porque a notícia acaba sendo superada por outras. Nas notícias menos voláteis, o processo pode ser concluído em tempo hábil.

O Google News pode estar preocupado com a humanização do seu noticiário, mas a participação dos leitores, por meio de comentários, está se transformando num tema que terá profundas implicações para a prática do jornalismo na Web.

O que começa a acontecer é uma lenta transferência de ênfase do autor para os comentários, num grande número de sites noticiosos e weblogs de informação, inclusive aqui no Observatório.

Os textos e posts publicados assumem cada vez mais a função de propor temas para discussão pelos leitores por meio de comentários. Na teoria, esta sempre foi a missão principal do jornalismo, mas ela acabou sendo alterada, na prática, pela indústria da comunicação, através da transformação da notícia num produto de consumo.

Antes da internet, a ausência de mecanismos rápidos para interação entre redações e leitores contribuiu para que a autoria da notícia fosse mais importante que a sua discussão.

A situação mudou agora na Web com a multiplicação quase frenética de softwares voltados para a participação dos internautas, apesar desta reviravolta ainda não ter sido totalmente digerida e entendida pelas redações.

A notícia está deixando de ser um produto para se transformar no ponto de partida de um processo, que começa com os jornalistas, que depois cedem o papel principal para os leitores. Os profissionais deixam de ser os donos da notícia.

A compreensão deste processo seguramente vai ajudar a reduzir muito as atuais desconfianças mútuas entre as redações e o público leitor de jornais e revistas, mas também entre os espectadores e ouvintes das emissoras de TV e rádio.

"Leitores-repórteres". O SAL da terra, digo, do Globo

Aula de Secretaria Gráfica: atenção na edição



Deu no "Erramos" de hoje da Folha paulista. É preciso muito cuidado na edição. Mesmo um grande jornal como a Folha, erra. Tem uma história que o Maurício Menezes contava no seu show de um editor que ligou para o Arquivo Fotográfico do Jornal pedindo uma foto do continente Antártica (ou Antártida, se preferirem). Mandaram uma foto de uma garrafa de cerveja Antártica e, pior, o cara publicou. Se pedisse do Deus Brahma será que mandariam a foto da cerveja também?

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Gay Talese, um dos maiores jornalistas de todos os tempos


Ainda sobre Gay Talese. A revista "Brasileiros" (ver post abaixo) publica duas fotos dele (uma quando jovem, outra atual) e reproduz as capas da revista "Esquire" com duas das principais reportagens do Jornalista americano. Como disse, vale a pena comprar e ler a revista.

"Le Monde Diplomatique Brasil" nas boas bancas do ramo


Saiu! Em papel. Consegui comprar ontem. Coleciono edições número 1 de publicações. A capa chama para uma entrevista com Noam Chomsky. Não precisa dizer mais nada. Leitura para pessoas especiais e inteligentes, como os botafoguenses. Não recomendo para torcedores dos demais times.

Quem quiser saber mais:
http://diplo.uol.com.br/2007-08,a1832

"BRASILEIROS", a revista


Estou lendo, claro! Simplesmente IM-PER-DÍ-VEL. Certa vez, meu saudoso amigo Francisco Carlos Âncora da Luz, o "Pio", escreveu sobre a peça "A China é azul", sucesso nos anos 70 com José Wilker: "Quem não for assistir a China é azul, TÁ COM NADA". Digo o mesmo sobre a revista "Brasileiros". Quem não ler a revista, tá com nada. Já li o perfil de um dos meus ídolos, GAY TALESE, um dos "inventores" do New Journalism, e a matéria de capa sobre "Preconceitos". Corram para as boas bancas do ramo. Quem não conseguir comprar, alugo a minha. Cobro diária.

"Quatro linhas de sete toques", um belo texto sobre o jornalista Cláudio Abramo

TENDÊNCIAS/DEBATES
Cláudio Abramo, jornalista marceneiro
ROBERTO MÜLLER FILHO

Aos jornalistas que aprendemos com ele, e fomos tantos, ficaram lições de forma e de conteúdo. De ética e de caráter

QUANDO RECEBI o convite para escrever sobre Cláudio Abramo, com quem trabalhei várias vezes nesta Folha e de quem fui amigo o tempo todo, tive uma espécie de medo e desejo irresistível de aceitar. Passados 20 anos de sua morte, ele ainda é o melhor de todos.
Herdei-lhe uma bengala, preciosa lembrança que guardo com grande carinho. Por via das dúvidas, ela está, enquanto escrevo, ao meu lado. Talvez para inspirar-me, quem sabe para tê-la ao alcance dos olhos, para evitar que Cláudio a utilize como reprimenda à ousadia de escrever sobre ele, seja pela pobreza do texto que estou produzindo, seja constrangido pelos elogios que certamente escorrerão do teclado enquanto tento conter a emoção que a lembrança de sua figura majestosa desperta.
Explico-me: o pouco que aprendi sobre jornalismo devo ao muito que ele sabia. Cláudio adotou-me assim que soube que eu estivera preso num navio-presídio, Raul Soares, onde descarregavam subversivos da Baixada Santista e de outros lugares.
Fez-me repórter, depois editor de economia, por duas vezes, quando implantava a reforma deste jornal, após ter feito, jovem ainda, a de "O Estado de S. Paulo". Leu meus textos, corrigiu-os impiedosamente. Com ele aprendi também a editar.
Algum tempo depois de sua vinda para a Folha, Cláudio comandou a grande mudança para o método de composição a frio, que aposentou a linotipia. Na fase inicial da mudança, a luta contra o tempo era implacável, horários rígidos de fechamento.
Lembro-me dele retirando os diagramas das editorias mesmo que ainda incompletos. Nos espaços vazios, entravam calhaus. Mas ele ajudava com sua experiência e genialidade. Havia um título de alto de página, de uma coluna, acho que eram quatro linhas de sete toques, dificílimo de fazer, sobretudo quando pressionados pela urgência do fechamento. De sua enorme mesa ao centro da ampla redação que comandava, Cláudio anunciava que chegara a hora de entregar os diagramas. Não raro, quando pedíamos clemência, alegando que faltava apenas produzir o maldito título de uma coluna, ele pedia que disséssemos de que a matéria tratava e, de pronto, ditava-nos, lá de seu posto, com impressionante exatidão, as tais quatro linhas de sete toques.
Aos jornalistas que aprendemos com ele, e fomos tantos, de tantas gerações, ficaram lições de forma e de conteúdo. De ética e de caráter. Autodidata, Cláudio falava fluentemente cinco línguas e escrevia em português e inglês. Leu muito, tinha uma cultura humanista admirável. As reportagens e colunas que escreveu ao longo da vida são impecáveis. Mas gostava mesmo era de ser marceneiro. A propósito, Cláudio era bom nisso também. Fazia bons móveis e dizia que a ética do jornalista, assim como a do marceneiro, era a mesma, ou seja, só havia uma ética, a do cidadão.
Modesto, não se levava a sério. Mas levava muito a sério a profissão. Fazia o trabalho com paixão. Participou de todos os embates políticos de seu tempo. Sempre do lado dos oprimidos. Foi vítima da ditadura como profissional e cidadão. Preso com sua mulher Radhá, manteve a altivez e a irreverência com os poderosos.
No comando, Cláudio era exigente, transmitia-nos técnica e regras de conduta. Aprendi com ele que é possível, embora não seja fácil, combinar emoção e isenção ao reportar os episódios que cobríamos.
Mas Cláudio era, sobretudo, justo e combinava isso com generosidade. Gostava de recrutar jovens, aos quais ensinava pelo exemplo. Houve um dia em que, constrange-me revelar, aprendi com ele uma preciosa lição de integridade. Testemunhei conversa tensa entre ele e Octavio Frias de Oliveira, uma de tantas, fruto de uma curiosa relação de respeito e farpas.
Cláudio tentava convencer Frias de que a Folha, que já se tornara o jornal de maior tiragem no Estado, precisava agregar influência. Recomendava a criação de uma ou duas páginas de opinião, com a contribuição de jornalistas notórios e respeitáveis. Apresentou três nomes famosos. Ante a resistência inicial de Frias, saiu fechando abruptamente a porta.
Atônito, temendo pela reação que o gesto pudesse provocar, atrevi-me a sugerir paciência a Frias, argumentando que Cláudio era um tanto irascível, mas certamente um grande jornalista. Recebi mal-humorada resposta, mais ou menos nesses termos: "E você acha que, se eu não soubesse disso, toleraria tal temperamento?".
Depois, fui ter com Cláudio e argumentei que os três nomes que ele sugerira eram competentes, mas nem sempre falavam bem dele. E foi aí que me veio a lição, inesquecível como um bofetão: "Eu sei, mas são grandes jornalistas e têm direito ao trabalho".
É por tudo isso que ele faz tanta falta.

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ROBERTO MÜLLER FILHO, 65, jornalista, é diretor da edição brasileira da "Harvard Business Review" e da revista "Razão Contábil". Foi diretor da "Gazeta Mercantil" e editor de economia da Folha .

Fonte: Folha de S. Paulo

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Lançamento de livro


É hoje o lançamento do livro do Ernesto Rodrigues. Ainda dá tempo de tomar banho, escovar os dentes, passar gel ou brilhantina no cabelo e dar um pulo lá. Ernesto garante autógrafo especial, uísque escocês e vinho francês. Para os que não são do Rio, ele garante a passagem. De ônibus. Mas tem que chegar na hora.

domingo, 12 de agosto de 2007

Cliping do blog: Ombudsman da Folha - 2

"Vidente" vê nova tragédia e ganha espaço na Folha
Mário Magalhães
Enquanto tantas famílias sepultam seus mortos e sucumbem à tragédia de Congonhas, enquanto tantos se afligem com as incertezas da aviação, a Folha destacou anteontem o chute de um dito "vidente" de Águas de Lindóia (SP). Título: "Previsão de acidente aéreo agita a internet; peritos apontam indício de fraude".
Abertura: "Uma suposta premonição agita grupos de discussão da internet e virou assunto de mesas de bar. Ela diz que haverá um novo acidente com avião de grande porte em 29 de outubro deste ano, com ao menos 600 mortos".
O texto contou que o "profeta" antecipou a vitória de Geraldo Alckmin contra Luiz Inácio Lula da Silva e um atentado que não houve contra o papa.
Espanta que o jornal publique com ares de seriedade, em temporada ingrata aos corações, uma reportagem como essa. "Videntes" se prestam a jornalismo de entretenimento, comportamento ou galhofa.
Em meio a páginas tristes, é mais imprópria ainda a divulgação de devaneios de abutres sedentos de holofotes e à procura de audiência crédula.

Cliping do blog: Ombudsman da Folha - 1

Jornalismo nocauteado
No episódio dos boxeadores cubanos pareceu haver opinião demais e informação de menos. E precipitação, ao dar status de fato a uma suposição
Mário Magalhães

NO FINZINHO da noite do primeiro sábado do Pan, o repórter Paulo Cobos chegou a um restaurante na Barra da Tijuca para compartilhar um risoto de camarão com dois colegas da Folha. Não deram conta nem de metade da travessa.
Cobos foi o que menos comeu -quem sabe "aplacara" a fome com um "furo" enviado pouco antes para São Paulo: a deserção do primeiro atleta cubano, um jogador de handebol. Bom começo de cobertura sobre a delegação caribenha.
Depois, com o sumiço de um técnico de ginástica e de uma dupla de notáveis boxeadores, Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, o jornal estampou entrevista exclusiva com um promotor de lutas na Alemanha que contava ter contratado os campeões. O autor foi o repórter Eduardo Ohata, ex-boxeur amador cujo currículo soma, em três combates, três derrotas por nocaute técnico. Fidel Castro citou o novo "furo" no diário oficial "Granma".

Na reta final da competição, a Folha baixou a guarda. Publicou que na canoagem houve "mais um cubano tentando arrumar confusão". Qual cubano, que confusão, por que mais um? Não respondeu. O embarque de parte da equipe foi tratado como "debandada" causada por "rumores de deserção em massa". Ocorre que não faltou chance de fuga, nas romarias que os cubanos fizeram ao comércio popular do Rio.

Na crítica diária de 30 de julho (disponível em www.folha.com.br/ombudsman), elenquei pontos de inconsistência nas reportagens. Escrevi: "O que condeno é, a essa altura do século 21, a ideologização de cobertura esportiva com base em premissas editoriais, de opinião". Com o reaparecimento de Lara e Rigondeaux, a viagem-relâmpago e a transparência anêmica das autoridades brasileiras, a opinião veio a se sobrepor aos fatos na Folha.

Informação de menos
Na quarta, o editorial "Direitos nocauteados" afirmou que o governo "violou" a Constituição e o direito de asilo. Sobre a hipótese de "operação rotineira de repatriamento", assestou: "Esse seria o caso de os atletas cubanos de fato desejarem voltar para seu país [...]. As circunstâncias da deportação, entretanto, fazem dessa hipótese uma espécie de conto da carochinha".

Prosseguiu: os desportistas "foram mantidos incomunicáveis". Lamentou que eles não tiveram "contato com representantes de instituições independentes, como [...] OAB, o Ministério Público [...]". "Se tais entrevistas tivessem ocorrido, ao menos não haveria dúvidas quanto à real disposição dos atletas de voltar". Até então o noticiário focara os depoimentos à PF, o bate-boca entre governistas e opositores e o simulacro jornalístico do "Granma".

Uma admirável reportagem do jornal carioca "Extra" reconstituiu, na quinta, as quase duas semanas da farra em liberdade. Além de testemunhos sobre a fartura de picanha e pistoleiras, o jornal conversou com o salva-vidas e o pescador a quem os lutadores apelaram para chamar a polícia, a fim de regressar a Cuba. Pelo que se sabe hoje, inexistiu pedido de asilo. Representantes da OAB e do Ministério Público estiveram com os estrangeiros e ouviram a vontade de "volver".

Não é papel do ombudsman discutir o mérito de posições editoriais. É legítimo que o jornal as tenha e as divulgue. Nesse episódio, porém, pareceu haver opinião demais em contraste com informação de menos. E precipitação, ao conferir status de fato ao que era suposição. Desde a controversa "debandada", o espaço opinativo aparentou influenciar o noticioso.

Os leitores ganhariam se a Folha tivesse demonstrado na apuração da história a mesma determinação que exibiu ao opinar quando os fatos ainda aconselhavam prudência.
Persistem mistérios a investigar: a ruptura dos pugilistas com os alemães; eventuais ações comuns dos governos aliados de Brasil e Cuba contra fugitivos e agenciadores; por que a PF, de modo obscuro, afastou a imprensa; as ameaças da polícia política fidelista às famílias dos rebeldes; e muito mais.

O compromisso com os fatos não relativiza a evidência de que o regime cubano é uma ditadura de partido único na qual se proíbem sindicatos e empresas independentes, greves, jornais autônomos, livros, acesso à internet e onde quem grita "Fora, Fidel" vai em cana.

Os boxeadores têm o direito de tentar a sorte onde bem entenderem. Dói imaginar seu futuro fora dos ringues, como "arrependidos" -humilhação que a ditadura militar brasileira impôs a adversários "convencendo" pelo pau-de-arara.

Cliping do blog: Sobre a Imprensa

Deu hoje no caderno "Dinheiro" da Folha.
Uma conspiração da grande imprensa
JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
Estudo estima que a cobertura nos jornais dos EUA reflita mais a demanda do leitor que a identidade dos proprietários

UM MARCIANO cuja única fonte de informação fossem os comentaristas da Fox News, o canal de TV a cabo de Rupert Murdoch nos Estados Unidos, concluiria que: 1) as armas de destruição maciça de Saddam Hussein estão escondidas na Síria; 2) a ocupação do Iraque pela coalizão é um sucesso incontroverso; e 3) a única razão pela qual a grande maioria do povo americano está decepcionada com a guerra contra o terror (para a Fox, não parece haver guerra no Iraque) é a cobertura negativa feita pela imprensa liberal -leia-se à esquerda de Murdoch- movida por preconceito contra George W. Bush.
Felizmente o Brasil não está em guerra, mas os defensores mais radicais do presidente Lula também acreditam que a mídia conservadora (e golpista!) inventou a corrupção do mensalão e o caos aéreo. Assim como os seus colegas americanos, os extremistas brasileiros culpam o noticiário dos jornais, que, ao contrário dos editoriais e colunas de opinião, deveria ser imparcial.
Exageros à parte, não há dúvidas de que a cobertura na imprensa não é sempre neutra. O trabalho "What Drives Media Slant? Evidence from U.S. Daily Newspapers" (http://home.uchicago.edu/~jmshapir/biasmeas111306.pdf), de Matthew Gentzkow e Jesse Shapiro, economistas na Universidade de Chicago, examina como as forças do mercado afetam o conteúdo ideológico da imprensa. Gentzkow e Shapiro começaram construindo uma medida do quanto a linguagem das notícias em um jornal se assemelha àquela de um congressista republicano ou democrata.
No contexto brasileiro, seria medir quantas vezes um órgão da imprensa mencionou expressões associadas à oposição, como "mensalão", em comparação a termos como "golpismo", uma das fórmulas favoritas dos situacionistas. Usando essa medida e uma extensa base de dados sobre os moradores da área de venda de cada órgão de imprensa, assim como informações sobre os donos do jornal, os autores avaliaram o papel da ideologia dos proprietários e o impacto das preferências dos leitores na linguagem escolhida pelos veículos de comunicação. Isso é em geral uma tarefa difícil, mas, usando métodos estatísticos sofisticados, os autores estimam que a cobertura nos jornais americanos reflita muito mais a demanda dos seus leitores do que a identidade dos seus proprietários.
Os donos de veículos de comunicação nos Estados Unidos parecem principalmente almejar o sucesso.
Não é certo que um estudo semelhante sobre a imprensa brasileira chegasse às mesmas conclusões, mas, se esse fosse o caso, ficaria mais fácil entender, por exemplo, por que os jornais e revistas de grande circulação no Brasil dedicaram tanto espaço à crise aérea. Ler a imprensa no nosso país ainda é majoritariamente uma atividade de uma parcela relativamente próspera da população, que freqüentemente tem informações, pelo menos por meio de conhecidos, da verdadeira situação nos aeroportos brasileiros. Minimizar a crise do transporte aéreo pode agradar ao governo e até mesmo ajudar a receber propaganda de empresas estatais, mas vai resultar em menor credibilidade, menos leitores e, como conseqüência, menor receita de publicidade privada. Optar pela omissão pode ser uma boa escolha econômica para um pequeno jornal ou para alguns blogueiros, mas não para aqueles que almejam ser líderes na imprensa. Para esses, é melhor produzir um veículo que atraia uma grande audiência e muitos anunciantes.

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JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN , 59, professor de economia na Universidade Princeton (EUA), escreve quinzenalmente aos domingos nesta coluna.
jose.scheinkman@gmail.com

Em todo lugar tem alguém da FACHA - Até no "Sexo na TV"


A bela Cintia Lazary (na foto, à esquerda), que está na capa de "O Globo" hoje (domingo, 12 de agosto) na chamada para matéria no "Jornal da TV", estudou na FACHA - e foi minha aluna. Gente muito boa. Nos dois sentidos.

sábado, 11 de agosto de 2007

Jornalismo Cidadão


Deu no blog do Jorge Antonio Barros, no globo online.
Imprensa
Jornalismo cidadão na internet: a novidade que veio para ficar

"O lema do cinema novo, um dos maiores movimentos artísticos nacionais, foi uma câmera na mão e uma idéia na cabeça. O novo jornalismo cidadão repete o mote, só que em vez de idéias são os fatos do cotidiano da cidade, que acabam virando notícia na seção "Eu-Repórter", do Globo Online, que completa hoje um ano. Com o crescimento do conceito de Web 2.0, que nada mais é do que a plena interatividade das mídias digitais com o leitor/espectador, a cobertura jornalística de cidade ganhou bastante com a participação voluntária do cidadão. Nem o grande Marshall Mc Luhan previu tanta interação.

Com o espaço dado aos leitores, o jornalismo inaugura uma nova fase, que ainda encontra resistência em alguns setores da imprensa, erroneamente preocupados com os novos conceitos de empregabilidade dos profissionais de comunicação. Da galeria de 30 fotos do aniversário do "Eu-Repórter", quase um terço é de flagrantes de acidentes ou de violência, contribuindo com o imediatismo na divulgação dos fatos. A rapidez ganha pelos veículos de comunicação, com essa interatividade, é inigualável. No caso de um acidente com o avião dos bombeiros no Campo dos Afonsos, o trabalho de um leitor, praticamente anônimo, foi o único documento histórico. Não se enganem, o olhar dos cidadãos sobre o que acontece nas ruas chegou para ficar. E, crescendo esse movimento, vai chegar a época em que os escândalos de corrupção não serão mais recuperados a partir do rastreamento de documentos, mas do simples registro fotográfico da cena dos crimes. Quero estar vivo pra ver".

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Para refletir: perguntas "maldosas"

Gosto da Ilha (já estive lá) e não tenha surtos histéricos contra Fidel Castro. Mas a nota publicada hoje na coluna do Nelson de Sá, na Folha paulista, serve como reflexão. Como "administrar" as perguntas em uma entrevista? Eis a nota do jornalista:

"Fidel Castro um dia antes avisou, "vou pedir ao "Granma" que dê a entrevista" dos dois boxeadores a "Julita Osendi". Assim foi, por duas páginas, com destaque na capa.

E com as incríveis perguntas de Julia Osendi, tipo: "Como boxeador formado pela Revolução, parte do povo cubano, o que sente por ter perdido medalhas que fizeram falta?", "Que sentimentos tem, dor por trair, arrependimento do que fez, felicidade por estar de novo entre os seus?". E por aí foi o negócio.

Quem quiser ler a íntegra:
http://www.granma.cubaweb.cu/2007/08/09/deportes/artic05.html

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Dica do blog: livro sobre a Al Qaeda


Vai ser lançado ainda. O Chomsky elogiou. Vou comprar.

Cony escreve sobre estudantes de Comunicação

Belo artigo do Cony na Folha paulista de hoje.
A consciência da sociedade
CARLOS HEITOR CONY
Alunos de uma faculdade de comunicação, certamente mal informados, me procuraram com algumas perguntas sobre a profissão que pretendem exercer. Minhas respostas foram de pouca valia. Não cheguei ao jornalismo por vontade própria, e há mais de 50 anos procuro me livrar dela. Todos os dias fico pasmo quando sou obrigado a exercê-la.
Respondi à pergunta dos jovens devolvendo a mesmíssima pergunta: por que eles queriam ser profissionais da comunicação? Com pequenas variantes, todos responderam que desejavam melhorar o mundo, denunciar os descalabros humanos e criar uma sociedade mais justa e consciente.
Bem, 50 anos atrás, a coisa era um pouco diferente. Nossas ambições eram mais modestas e práticas. Hoje, o pessoal chega às redações querendo descobrir o furo do dia, a "fonte" que vai dar o serviço sobre um escândalo à vista ou presumido, o ministro que está em processo de fritura, a verba da merenda escolar que financiou a viagem da família de um funcionário do alto escalão à Disneylândia. Realmente, tudo poderia ser melhor com a mídia vigilante, isenta, sem rabo preso.
Antigamente, o grosso do pessoal chegava à redação pensando onde iria almoçar, onde haveria uma boca livre, uma inauguração qualquer que daria direito a uns comes e bebes. O resto vinha por acréscimo. Faltando assunto, descolava-se uma reportagem sobre um tema óbvio -aumento no preço do pescado na Semana Santa ou o estado calamitoso dos hospitais públicos.
Nem a primeira nem a segunda geração conseguiram salvar o mundo. É possível que agora, com a conscientização de uma nova leva de profissionais, a vida se torne mais suportável e o pessoal chegue às redações sem a banal preocupação do lugar onde poderá almoçar.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

O fim dos jornais?

Será hora de dar adeus aos jornais?
Russell Baker (em 7/8/2007)
Reproduzido da The New York Review Of Books, volume 54, nº 13, de 16/8/2007, título original "Goodbye to newspapers?"; tradução de Jô Amado, intertítulos da Redação do OI

Vale a pena ler o longo artigo republicado no Observatório da Imprensa:

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=445IMQ009

Bela resposta

Aula (Secretaria Gráfica): New York Times muda de formato

A Mídia é tendenciosa? - 3


Leiam os dois textos abaixo.

A Mídia é tendenciosa? - 2


Outro texto sobre o tema.

A Mídia é tendenciosa? - 1


Outro debate do momento. A Mídia é tendenciosa? Vou publicar alguns artigos com pensamentos diferentes para a nossa reflexão. Como o do Ali Kamel, publicado no Globo. O Jornal de Debates (www.jornaldedebates.com.br) está com debate no ar sobre o assunto.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

piauí nova nas bancas - e nas minhas mãos


Já estou lendo. Maravilhosa, como sempre.

Imprensa nas bancas


Acabou de sair. Vou comprar, como sempre.

Os jornais podem desaparecer? (2)

Retranca do post abaixo:

Crítica/jornalismo
Estudos abordam imprensa brasileira pós-redemocratização
Teses analisam as relações entre democracia e jornalismo no país e as mudanças introduzidas por novas tecnologias

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA,ESPECIAL PARA A FOLHA

Há quem ache que os jornais impressos diários vivem uma crise séria, que talvez até ameace o seu futuro, mas estudos de boa qualidade intelectual e sem desvios ideológicos sobre eles parecem estar florescendo na comunidade acadêmica brasileira.
É o que se pode depreender de duas teses recentemente defendidas que tratam de fenômenos históricos quase contemporâneos. Uma, de doutorado na Universidade de Londres, de autoria de Carolina Oliveira Mattos; outra, de mestrado na Universidade de São Paulo, feita pelo excelente repórter Lourival Sant'Anna.
O trabalho de Mattos trata da relação entre jornalismo (com ênfase no papel desempenhado pela Folha, "O Globo", "O Estado de S. Paulo", "Isto É" e "Veja") e democracia política no Brasil entre 1984 e 2002. O de Sant'Anna, de como três jornais (Folha, "O Globo" e "O Estado de S. Paulo") têm respondido às inovações tecnológicas, à queda de leitura e à concorrência com novos meios ao longo deste século.
O grande traço comum entre as duas monografias são seus marcos teóricos, que -embora não idênticos- distanciam-se da matriz que norteou a grande maioria dos estudos brasileiros sobre os meios de comunicação de massa na sociedade, derivada da inspiração (com freqüência distorcida) dos ensinamentos da Escola de Frankfurt.

Abordagem funcionalista
Lourival Sant'Anna, no seu prólogo, afirma de maneira direta e sem subterfúgios que, "embora autores europeus também sejam citados [na sua tese], predomina a abordagem funcionalista americana". Mattos, em explanação mais longa e bibliograficamente bem embasada, diz "simpatizar com a visão liberal-pluralista da mídia e com a análise crítica político-econômica".
Só o fato de que os dois operaram livres das amarras ideológicas que acorrentaram durante décadas a pesquisa sobre a mídia no país já significou um ponto de partida que lhes deu grande vantagem sobre muitos dos seus antecessores.
Mattos e Sant'Anna mostram-se preocupados em de fato conhecer e explicar a realidade, não em justificar preconceitos conspiracionistas de como grandes veículos de comunicação manipulam a consciência da população e ditam os rumos políticos da nação.

Diretas-Já
A tese de Mattos analisa com detalhes o período de fortalecimento da sociedade civil brasileira durante o processo da campanha das Diretas-Já e a importância da mídia -em particular da Folha- naquele momento histórico. Mostra como o Projeto Folha caminhou de uma proposta "revolucionária" (entre aspas mesmo pela própria autora) para um jornalismo dirigido ao mercado. Depois, estuda a consolidação da imprensa no livre mercado nos anos 1990.
Suas conclusões são sólidas, nada simplistas. Ela afirma que a "grande imprensa" deu uma contribuição para o avanço da democracia no país nas duas décadas em exame. E mostra como o mercado foi uma força a favor da inclusão de novos cidadãos na esfera pública, em grande parte via consumo de veículos de comunicação, que se tornaram mais acessíveis a eles.
Demonstra que a consolidação dos ideais liberais do jornalismo tem sido em geral positiva para a mídia e para a sociedade brasileiras. Mas ressalta as muitas contradições que existem em todo esse universo e nessa seqüência de situações que envolvem múltiplos atores. A mídia não é determinante sozinha de nada: influencia a sociedade e é influenciada por ela, tenta seguir modelos ideais, mas é atropelada pelas condições objetivas da realidade. Não há reducionismos maniqueístas nas conclusões de Mattos.
De certa maneira, Sant'Anna captura quase o mesmo objeto do estudo de Mattos (embora o de Mattos inclua também revistas semanais, a prioridade que ela dá aos jornais diários é indiscutível) no momento seguinte ao da consolidação da democracia e das leis do livre mercado no setor específico do jornalismo diário. Ou seja, durante e logo após a superação parcial da grave crise econômica que atingiu toda a indústria cultural brasileira no início do século 21.
Ele se concentra na questão-chave que aflige todos os apaixonados pelo jornal impresso diário: esse produto vai sobreviver nas próximas cinco ou seis décadas?; caso sobreviva, em que condições?

Conclusões precipitadas
Sant'Anna avisa com absoluta razão: "Este é um campo no qual conclusões precipitadas não são aconselháveis". Constata que há os que já decretaram a morte dos diários, até com data marcada, e os que estão convencidos de sua eternidade. "A verdade provavelmente reside em algum ponto, entre os dois extremos".
Por isso, diz Sant'Anna, suas conclusões, menos do que conclusões, são mediações entre profecias. Recomenda que os jornais mudem para se manter úteis no mercado de informações. Dá-se conta de que isso não será tarefa fácil. Verifica que os ativos que o diário acumulou em mais de cem anos de história não são desprezíveis nem triviais, do ponto de vista da sociedade, dos anunciantes, dos agentes públicos. Isso lhes dá uma base boa para garantir sobrevida de qualidade. Mas nada é garantido.
O que importa, menos do que acertos e erros das conclusões desses dois trabalhos, é que eles mostram que a academia pode contribuir para a compreensão mais acurada do universo da indústria cultural brasileira e, em conseqüência, para o seu aprimoramento, do qual resultará alguma melhoria para a sociedade.

Os jornais podem desaparecer?


Já mostrei a capa e já encomendei. Quem tiver interesse, não deve deixar de ler o texto abaixo, publicado sábado na Folha paulista.

Notícias do futuro
O professor da Universidade da Carolina do Norte (EUA) Philip Meyer analisa em livro a imprensa americana e diz que o desafio dos jornais diante das novas formas de comunicação é investir na qualidade
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Das análises já publicadas sobre o destino dos jornais diários impressos diante do assédio que sofrem das novas formas de comunicação, nenhuma é mais relevante do que a de Philip Meyer, professor da Universidade da Carolina do Norte, no livro "Os Jornais Podem Desaparecer?", agora lançado no Brasil.
Meyer é uma pessoa que fez tudo no jornalismo: foi entregador de jornal, repórter, editor, dirigente corporativo da Knight Ridder, uma das maiores empresas de comunicação dos EUA, pesquisador e agora é professor.
Quase tudo que ele escreve é comprovado estatisticamente. O impressionismo é reduzido ao mínimo indispensável. Meyer é duro com seus colegas.
Uma de suas teses mais importantes é a de que o jornal não vende informação, mas influência. Se o seu poder de influenciar cresce, aumenta também o seu valor de mercado.

Qualidade da informação
O modelo de negócios que pode, segundo ele, garantir a sobrevivência dos jornais diários é fazer com que a qualidade da informação que eles publicam seja reconhecida pela opinião pública, a começar pelas elites da sociedade. "Um jornal influente terá leitores que confiam nele e, em conseqüência, ele valerá mais para os anunciantes".
Meyer demonstra que há uma correlação positiva historicamente comprovada entre qualidade e sucesso comercial, embora ressalte não ser possível estabelecer com a mesma certeza o que causa o que (se a qualidade resulta no sucesso ou provém dele).
Sua análise acusa os administradores da maioria dos jornais americanos de terem respondido mal à crise provocada pelo avanço da internet no mercado de classificados e publicidade geral: em vez de investir mais na qualidade, comprometeram-na com cortes de custos e de pessoal nas redações.
Com isso, cresceram os erros, caiu a confiança dos líderes de opinião (a começar pelas fontes dos próprios jornalistas, a quem Meyer confere um papel muito especial na avaliação social dos meios de comunicação), a credibilidade ficou em xeque.
Meyer faz uma análise detalhada dos erros de 5.100 textos jornalísticos e de como eles foram encarados pelos leitores.
Os erros que mais abalam a imagem do jornal não são aqueles que mais aparecem nas correções públicas que os jornais admitem (ou seja, os erros objetivos). São os erros subjetivos (decorrentes de má avaliação, contextualização equivocada, interpretação incorreta dos fatos, sensacionalismo, exagero, enviesamento) que minam a credibilidade.
É muito pouco provável que os jornais diários impressos venham de fato a desaparecer, ao menos no futuro previsível. A história dos meios de comunicação de massa mostra que um veículo nunca some do mercado. O rádio sobreviveu à televisão, o teatro ao cinema.
A questão é como os jornais querem subsistir, o quão socialmente relevantes eles querem ser para as próximas gerações.
É nesse sentido que Meyer alerta ao final: "Para ter sucesso, é preciso encontrar um modo de conquistar, empacotar e vender a confiança que as antigas mídias estão abandonando voluntariamente por meio de sua estratégia de colheita". Se quiserem influir de fato na sociedade, os jornais terão de apostar na qualidade.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA, livre-docente e doutor em jornalismo pela USP e mestre em comunicação pela Michigan State University, é diretor de relações institucionais da Patri Políticas Públicas

OS JORNAIS PODEM DESAPARECER?
Autor: Philip Meyer
Tradução: Patricia De Cia
Editora: Contexto
Quanto: R$ 43 (272 págs.)
Avaliação: ótimo