sexta-feira, 27 de julho de 2012

Julliette Bincohe faz papel de jornalista no filme "Elles"

Deu no site da Folha.


Crítica: Ao tocar em várias questões, "Elles" não satisfaz ninguém

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INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Em "Elles", uma jornalista dispõe-se a entrevistar duas garotas de programa, quer dizer, não prostitutas comuns, mas meninas que usam desse expediente para viver enquanto fazem a faculdade.

Um assunto aparentemente embaraçoso --não para o espectador, nem para as garotas-- sobretudo para a diretora do filme, a estreante Malgorzata Szumowska.

Diante de um tema delicado, impõe-se a seriedade. Não se pode simplesmente mostrar as meninas, suas narrativas, suas razões e eventuais problemas. É preciso que haja algo de grave, de sério, a justificar a empreitada.
Divulgação
Cena do filme francês "Elles", com Juliette Binoche como jornalista que escreve um artigo sobre prostituição
Cena do filme francês "Elles", com Juliette Binoche como jornalista que escreve um artigo sobre prostituição

A jornalista é quem fornece essa necessária gravidade. É uma mulher de meia-idade, casada, com dois filhos -um adolescente meio vagal e um menino viciado em jogos. Um clichê, em suma.

Como se isso não bastasse, uma das moças vai se referir à "hipocrisia francesa", para deixar as coisas bem claras. A jornalista não se dá conta de o quanto sua própria vida é cheia de impasses, ao menos até entrar em contato com as suas entrevistadas.

Desde então sabemos que, entre o sensacionalismo, o voyeurismo e a "seriedade temática", Szumowska investe nos três. Em "Elles", há para todos os interessados.

O risco dessa estratégia é terminar não satisfazendo a ninguém. Toca-se em vários tipos de questões, do abismo geracional ao consumismo, mas o filme não se detém em nenhuma delas mais do que o necessário para que não duvidemos de sua "seriedade".

Evita-se talvez um aspecto relevante em tudo isso: prostitutas são pessoas que, como as atrizes, representam papéis. Ao se tornarem objeto de reportagem, tornam-se narradoras de histórias. Qual a parte de verdade e qual a de ficção nisso tudo é algo de que "Elles" passa ao largo.

ELLES
DIREÇÃO: Malgorzata Szumowska
PRODUÇÃO: França/Polônia - 2012
ONDE: Espaço Unibanco Augusta, Lumière - Playarte, Reserva Cultural
CLASSIFICAÇÃO: 16 anos
AVALIAÇÃO: regular

sábado, 14 de julho de 2012

Um livro especial sobre tipologia para meus alunos de Secretaria Gráfica

Deu hoje na Folha.

Para saber mais, clique aqui.



Livro compõe retrato curioso da tipografia
"Esse É Meu Tipo", trabalho do inglês Simon Garfield, narra em tom jornalístico, para leigos, a evolução das fontes digitaisCLAUDIO ROCHA
ESPECIAL PARA A FOLHA


Este não é um livro técnico, pensado e escrito para designers gráficos -os usuários naturais das fontes digitais.
O jornalista inglês Simon Garfield também não é um especialista no assunto, mas mostrou-se um observador atento ao descrever os vários aspectos da modernidade sob a ótica do design tipográfico no livro "Esse É Meu Tipo", que chega agora ao Brasil.

No fundo, ele confronta o conceito de qualidade com a complexidade da comunicação visual contemporânea.

As manifestações da tipografia no cotidiano normalmente interessam apenas aos profissionais.
Com uma abordagem jornalística de fatos e personagens importantes ou curiosos da história antiga e recente da tipografia, o autor aproxima esse universo do leitor comum, ligado essencialmente ao conteúdo da mensagem.

Entretanto, o computador pessoal transformou o leitor em usuário, obrigando-o a enfrentar as peculiaridades das fontes tipográficas sem muito preparo.

RECURSOS TENTADORES
O menu de fontes se apresenta repleto de opções de estilo e recursos tentadores, algumas vezes acessados inadvertidamente.

O livro conta a história inusitada da funcionária de uma empresa de seguros de saúde que foi demitida por enviar um e-mail com o texto integral em letras maiúsculas, dando a entender que ela estava elevando o tom de voz na mensagem para o cliente.

Em trabalhos profissionais, como logotipos, as fontes se transformam em matéria-prima fundamental para identificar empresas.

A fonte Unity, usada no logotipo da famosa bola Jabulani, na Copa do Mundo de 2010, compôs também os números e nomes nos uniformes dos jogadores de seleções como Alemanha e Espanha, patrocinadas pela Adidas.

Essa fonte foi desenhada por Yomar Augusto, citado de passagem no livro, sem mencionar que ele é brasileiro.

É um exemplo de como o design tipográfico brasileiro tem evoluído, em quantidade e qualidade.

EXPRESSIVIDADE
O livro traz depoimentos dos criadores de fontes digitais e análises breves de tipos notórios, como a badalada Helvetica e a controversa Comic Sans, que alcançam públicos distintos, em condições diversificadas.

Explica também por que as aplicações em sinalização viária ou em aeroportos privilegiam a legibilidade e a funcionalidade, enquanto em uma embalagem ou em uma capa de livro elas buscam, antes de tudo, expressividade e personalidade.

Julgar os atributos formais das fontes e avaliar as sensações que um texto pode, e deve, expressar por meio das letras faz parte do trabalho de um programador visual.

Após a leitura deste livro, contudo, o usuário comum se sentirá mais familiarizado com a linguagem tipográfica e com o senso crítico um pouco mais apurado.

ESSE É MEU TIPO
AUTOR Simon Garfield
EDITORA Zahar
TRADUÇÃO Cid Knipel
QUANTO R$ 44,90 (360 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
CLAUDIO ROCHA é tipógrafo e coeditor da revista "Tupigrafia"

Imitar a internet é suicídio para os jornais, diz Janio de Freitas

Deu hoje na Folha.


Em homenagem, colunista defende a reinvenção de jornais
Janio de Freitas diz que impressos devem buscar soluções próprias para enfrentar a concorrência com a internet
Para ele, situação atual lembra os anos 50 e 60, quando havia temor do fim dos jornais com a chegada da TV
Jorge Araújo/Folhapress
O jornalista Janio de Freitas durante homenagem recebida em congresso em São Paulo
O jornalista Janio de Freitas durante homenagem recebida em congresso em São Paulo

DE SÃO PAULO
O jornalista Janio de Freitas, 80, colunista da Folha, foi homenageado ontem no 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.

A sessão solene também foi dedicada a Tim Lopes, da TV Globo, morto há dez anos durante reportagem.
No evento, Freitas afirmou que os jornais devem se preocupar menos com a internet e centrar esforços em soluções próprias para reinventar o impresso e enfrentar a concorrência da rede.

"A internet procura imitar os jornais, e os jornais estão tentando imitar a internet", afirmou. O resultado, diz, é que os jornais estão perdendo a identidade. "Para os jornais, isso é um suicídio."

Freitas esteve à frente das reformas do "Diário Carioca" e do "Jornal do Brasil", que revolucionaram a imprensa brasileira com mudanças no conteúdo e na forma da informação levada ao leitor.

Ele observou que nos anos 50 e 60 os jornais sofreram a concorrência feroz da televisão, veículo recém-nascido no Brasil.

"Havia, como hoje com a internet, a percepção de que os jornais não sobreviveriam", lembrou o colunista.
E não morreram, na sua visão, porque se reinventaram com linguagem própria.

"Que os jornalistas voltem sua criatividade para encontrar o jornal do seu tempo", afirmou o colunista.

Freitas é crítico do jornalismo na internet. Segundo ele, a rede não criará leitores para o jornal impresso e atua pouco em investigações.

Ele lembrou o Wikileaks, que reuniu informações sigilosas sobre governos. Mas para divulgá-las, entregou o material a profissionais de jornais impressos.

Matinas Suzuki Jr., diretor da Companhia das Letras e ex-jornalista da Folha, disse no evento que sua geração deve muito do aprendizado a Freitas. "Janio se tornou um grande herói para a gente."

Os perigos dos programas ao vivo

Impróprio para menores de 18 anos e cardíacos.

Ruy Castro e o papo com a estátua do Drummond

Mais um texto genial de Ruy Castro. Deu hoje na Folha.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Alberto Dines põe Gilmar Mendes no seu devido lugar

Deu no site "Comunique-se".


“É criminoso desconsiderar o jornalismo como profissão”, diz Alberto Dines ao criticar Gilmar Mendes

O jornalista e escritor Alberto Dines foi o entrevistado da madrugada desta segunda-feira, 9, do programa ‘É Notícia’, apresentado por Kennedy Alencar na Rede TV. Durante o encontro, Dines falou sobre a relação entre jornalismo e política, o uso das novas tecnologias e defendeu o diploma para exercer a profissão.

Com mais de 60 anos de atuação nos principais veículos do país e de estudo sobre a imprensa, Dines avalia a decisão de não exigir o diploma para a classe, tomada em 2009, como “um voto infelicíssimo de Gilmar Mendes”. Para ele, a saída primária do relator do caso foi argumentar que o jornalismo não é profissão, e sendo assim não precisaria de diploma.

Segundo Dines, afirmar que o jornalismo é um “ofício eventual” é criminoso, pois tira o caráter institucional da imprensa num processo político. Ele diz que quando a profissão voltar a ser regulamentável seria válido debater o melhor tipo de formação, e cita a Universidade Columbia, onde o curso de jornalismo é ministrado em nível de pós-graduação e tem a duração de dois semestres com atividades práticas.
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Alberto Dines e Kennedy Alencar durante o 'É Notícia' (Imagem: Reprodução/Rede TV)

Isso é o que se pode chamar de um repórter cagão!

domingo, 8 de julho de 2012

"O que fazer" e "o que não fazer" com o trabalho dos correspondentes, segundo a ombudsman da Folha

Deu hoje na coluna da Suzana Singer, onbudsman da Folha.

No domingo passado, o alto da "Primeira Página" foi ocupado por uma foto impactante de dois homens pendurados em forcas improvisadas em guindastes. Eles tinham acabado de ser executados no Irã.

O relato, do correspondente Samy Adghirni, foi capa da "Ilustríssima". Na mesma edição, "Mundo" trazia uma reportagem, assinada de Teerã e de São Paulo, sobre o embargo do petróleo ao Irã. As duas reportagens são exemplares de "o que fazer" e "o que não fazer" com o trabalho dos correspondentes.

O texto da "Ilustríssima" era a descrição objetiva daquilo que um taxista iraniano definiu como "circo doentio". O repórter contou o que viu e deu o contexto, explicando que execuções públicas de criminosos são vistas como parte da estratégia do governo para semear o terror.

Embora falasse de uma realidade distante, a reportagem provocou discussão entre leitores, que se manifestaram sobre a pertinência da pena de morte, e gerou um editorial ("Morte no guindaste").

Já o mau exemplo do uso do correspondente foi o texto frio sobre as consequências das sanções econômicas impostas ao Irã. A reportagem poderia ter sido escrita apenas da alameda Barão de Limeira. Não havia entrevistas, clima, nada que mostrasse como a população iraniana é afetada pelas medidas que tentam obrigar o governo a suspender seu programa nuclear.

No passado, os correspondentes eram as únicas fontes de informação em determinados lugares, mas hoje dá para fazer um jornal razoável assinando agências internacionais e comprando reportagens ou artigos pinçados de periódicos de fora. Fazer o básico não requer muito esforço, já que, pela internet, é possível acompanhar o que os principais meios de comunicação estão valorizando ao longo do dia.

Mas, para sair da zona do "mediano" e fazer jornalismo de qualidade, é essencial ter repórteres nos principais pontos do mundo. Pode ser um luxo, custa caro, mas faz uma bela diferença se os correspondentes forem bem aproveitados.

A legião estrangeira foi mais numerosa na década retrasada, quando os orçamentos das Redações eram menos restritivos. Mesmo assim, para ficar em dois exemplos de bom jornalismo, o "El País" ainda mantém 20 correspondentes fixos e o "New York Times", em levantamento do ano passado, tinha 50 (sem contar os colaboradores).

A Folha chegou a ter 15 postos no exterior em 1991 e hoje está com oito: Washington, Nova York, Los Angeles, Buenos Aires, Londres, Pequim, Jerusalém e Teerã.

A vantagem de manter jornalistas próprios em outros países é poder buscar enfoques que interessem ao seu leitor. O que chama a atenção de um correspondente brasileiro em Pequim, por exemplo, pode ser bem diferente daquilo que mobiliza o jornalista do "Guardian".
O problema é que, no pequeno espaço dedicado à cobertura internacional, apostar em diferenciais tem sido raro. Os correspondentes acabam sendo usados para relatar o "aconteceu ontem", fazendo resumos de fatos e de declarações de autoridades que estão, pelas agências de notícias, à disposição dos redatores em São Paulo.

A disputa por espaço ficou ainda mais acirrada desde que o noticiário econômico internacional -quentíssimo, com a crise na Europa- foi transportado para a editoria "Mundo". 

"Ilustríssima", com textos de 15 mil toques, é um oásis para os correspondentes sedentos por escrever -é quase o triplo do espaço de uma capa de caderno diário.

Gerenciar correspondentes não é fácil. Eles estão longe, alguns em fusos horários diferentes; muitas vezes, "carentes", isolados, querem discutir enfoques, saber a repercussão do que foi publicado, mas o corre-corre do jornal diário conspira contra conversas mais longas.

Gastar tempo, dinheiro e papel com correspondentes, porém, é essencial para se diferenciar da concorrência e para dar ao leitor a chance de ver o mundo pelos olhos do seu jornal.

Miriam Leitão e o Jornal de papel

Vale a pena ler o texto da Miriam Leitão publicado hoje no Globo.


Jornal de papel

O jornal vai morrer. É a ameaça mais constante dos especialistas. E essa nem é uma profecia nova. Há anos a frase é repetida. Jornais desaparecem em vários países, tiragens diminuem, redações emagrecem. O tempo que o leitor, em média, fica diante de um exemplar encurta. Experiências são feitas para atrair leitores na era da comunicação nervosa, rápida, multicolorida, performática. Mas o que é o jornal? Onde mora seu encanto?
O que é sedutor no jornal é ser ele mesmo e nenhum outro formato de comunicação de ideias, histórias, imagens e notícias. No tempo das muitas mídias, o que precisa ser entendido é que cada um tem um espaço, um jeito, uma personalidade. O pior erro que se pode cometer é um meio negar sua própria natureza e tentar ser outro dos muitos seres que povoam esse mundo, seres que agora se multiplicam.
É intenso o mundo da comunicação de hoje e não permite muitos erros. Trabalha-se num meio mutante e desafiador. Quando surge uma nova mídia, há sempre os que a apresentam como tendência irreversível, modeladora do futuro inevitável e fatal. Depois se descobre que nada é substituído e o novo se agrega ao mesmo conjunto de seres através dos quais nos comunicamos.
O livro vai morrer, dizem os mesmos especialistas que atestam o fim dos jornais. E o livro migra, muda e fica. Parati e para mim. Fica em papel ou em meio digital, como um dia foi pergaminho, papiro. Os livros têm o encantamento eterno que faz, ainda hoje, jovens disputarem concursos literários, pessoas de todas as idades circularem por festivais como a Flip — ou Clip, como diria Veríssimo — e as bienais. Livros forjam pessoas, personalidades e sensações; marcam momentos e etapas da vida.
A biblioteca da exposição “Humanidades” foi formada pela mesma pergunta feita a pessoas de áreas diferentes: que livros influenciaram sua formação? Há pessoas que diante dessa pergunta podem até ficar constrangidas. Há outras que souberam os marcos do caminho da sua própria construção.
Leitora compulsiva de jornais desde a infância, não saberia viver sem eles. Leitora obsessiva de livros, só fiquei sem eles uma única vez na minha vida e foi sob a mira de armas. Na prisão, fui proibida de ler. Fazia parte do tormento. No longo silêncio sem livros, sem jornais, eu lembrava trechos dos livros mais amados. “Diadorim, meu diadorim”. E me sentia liberta.
Migrante por todas as mídias, conheço a força e o jeito de cada uma. Jornal, rádio, televisão, revista, blogs, sites, twitter e tudo o que mais vier. Aqui, neste matutino carioca (O Globo), começou este ano um produto vespertino específico para tablets. E ele é diferente de todas as outras mídias e preenche um vazio que nem se sabia que existia. Isso é que é curioso. A tecnologia de comunicação inventa a estrada e logo surgem produtos novos de comunicação. E tudo que circula é o mesmo e é diferente. É notícia, imagem parada ou em movimento, ideias, reflexões, opiniões.
Sempre aparecem os que garantem que um meio está morrendo, porque o outro nasceu e, na verdade, eles todos convivem. E a mudança continua em ritmo veloz. Quem não se lembra do vaticínio sobre o rádio? Tudo fica e muda. Essa é a natureza da era da comunicação vertiginosa.
Quando criança, eu me sentava ao lado do meu pai assim que o jornal chegava e colhia os suplementos que caíam do seu primeiro olhar, e depois vasculhava as partes centrais já lidas por ele. Lembro desses momentos com ternura. Da leitura conjunta brotavam discussões acaloradas sobre nossas divergências de opinião. Assim cresci.
Sábado passado eu estava mergulhada na leitura dos jornais, quando Mariana, minha neta de seis anos, acomodou-se ao meu lado no sofá, imitando meu jeito de sentar e perguntou:
— E o meu?
— O seu o que?
— O meu jornal!
Dei para ela o Globinho, o Estadinho. Não achei a Folhinha.
A cara dela de satisfação era de derrubar as convicções sobre o fim iminente do jornal. Daniel, meu neto de dois anos, chegou exigindo o seu exemplar de uma forma, digamos, insistente. As páginas terminaram partidas.
Os jornais vão acabar, garantem os especialistas. E, por isso, dizem que é preciso fazer jornal parecer com as outras formas da comunicação mais rápida, eletrônica, digital. Assim, eles morrerão mais rapidamente. Jornal tem seu jeito. É imagem, palavra, informação, ideia, opinião, humor, debate, de uma forma só dele.
Todos os jornais passaram a ter sites onde as notícias se movem o dia inteiro e as imagens em movimento se misturam a fotos. E como todos os sites estão olhando todos os sites, eles vão mudando o dia inteiro. Um copiando o outro. Dias atrás, vi um em que uma notícia começava em português e terminava em espanhol; um ideal há muito sonhado no mundo ibero-americano: a fusão dos dois idiomas.
Nesse tempo tão mutante em que se tuíta para milhares, que retuitam para outros milhares o que foi postado nos blogs, o que está nos sites dos veículos onlines, que chance tem um jornal de papel que traz uma notícia estática, uma foto parada, um infográfico fixo?
Terá mais chance se continuar sendo jornal.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Uma sátira ao Jornalismo em forma de romance

Recomendadíssima a entrevista publicada no caderno "Ilustríssima", da Folha de S. Paulo, e, pelo jeito, o livro também é imperdível para jornalistas, professores e estudantes de Jornalismo.

Antes da entrevista, a capa do livro.


Para saber mais, clique aqui.

Confissões no gravador
A sátira de Annalena McAfee ao jornalismo


RESUMO Ex-editora de suplemento de livros do jornal "The Guardian" passou para o outro lado do balcão ao lançar romance satírico protagonizado por jornalistas às voltas com suas deficiências de formação, jogos de poder e lances de prepotência. A internet e suas consequências para o métier são o foco desta entrevista.
RAQUEL COZER

O RESPEITADO jornalista inglês Simon Jenkins arriscou, em 4 de janeiro de 1997, um exercício de futurologia no jornal "The Times".

"A internet", ele escreveu, "é mais uma febre que as forças de mercado mais cedo ou mais tarde colocarão no devido contexto. [...] Ela terá seu momento em cena e então assumirá seu lugar na fileira das mídias inferiores."

Àquela altura, prestes a se casar com o escritor Ian McEwan -que conhecera em 1994, numa entrevista para o "Financial Times"-, a jornalista Annalena McAfee trabalhava na editoria de cultura do vespertino "Evening Standard". De dentro de redações de jornal ela testemunhou, desde então, a velocidade com que a internet pôs por terra os devaneios de Jenkins.

"Em março daquele ano, já estava claro que a rede seria o lugar em que as pessoas buscariam informações. Só quis mostrar esse último momento antes da queda", disse ela à Folha, por telefone, de Londres. Não por acaso, é naquele ano que se desenrola a ação de seu romance de estreia, "Exclusiva" [trad. Angela Pessoa e Luiz Araújo, Companhia das Letras, 424 págs., R$ 54], uma sátira ao jornalismo.

O uso da palavra "queda" para descrever o cenário pós-web não deixa dúvida quanto ao conceito de McAfee sobre a imprensa hoje. Principalmente em relação a uma especialidade britânica, os tabloides sensacionalistas, fenômeno dos anos 90 cujos procedimentos culminaram, em 2011, com o fechamento do principal deles, "News of The World", após escândalo envolvendo escutas ilegais.

O romance coloca Honor Tait, uma ex-correspondente de guerra, frente a frente com Tamara Sim, especializada em listas de "dez mais" com celebridades. À beira dos 80 anos, Honor amarga a percepção de que seus feitos não interessam a mais ninguém. Aos 27, Tamara vê na chance de entrevistá-la a oportunidade ser alçada a um posto mais nobre no "The Monitor", jornal onde trabalha como repórter da revista "Pssit!".

Com humor, tendo como inspiração assumida a crítica mordaz que Evelyn Waugh (1903-66) fez ao jornalismo no clássico "Furo!", McAfee escancara a formação deficiente da jovem repórter. Mas a veterana não sai ilesa. Suas culpas vêm à tona, com mais sutileza, depois que ela e Tamara têm o primeiro estranhamento.

O mea-culpa de Honor decorre de questionamentos que a própria McAfee faz ao pensar em suas três décadas como jornalista -ela editou o suplemento literário do "Guardian" até 2006, quando deixou o ambiente das redações. "Não é de hoje que o jornalismo tem suas ambiguidades morais", diz a autora, que vem com o marido a Paraty.

Folha - Em "Exclusiva", a sra. critica o jornalismo atual, mas, na trama, a veterana Honor Tait questiona seus métodos do passado. Que velhos vícios se mantiveram e o que piorou?
Annalena McAfee - O velho jornalismo não era livre de problemas. Não é de hoje que o jornalismo tem suas ambiguidades morais. No sentido de, por exemplo, o profissional viver esse limiar entre ser um observador ou um provocador. E, no sentido de alheamento, uma espécie de negação da humanidade, uma capacidade de olhar para as tragédias sem se envolver ou, ainda pior, de torcer por elas.
Dito isto, é inevitável considerar a pressão do tempo, as pressões crescentes do jornalismo moderno como um agravante. Décadas atrás, alguém poderia ter duas, três semanas para escrever uma reportagem. Hoje, as pessoas são enviadas para uma pauta em cima da hora, sem falar que nem todas têm capacidade de pesquisa, independentemente do tempo. Os jornais também dão mais importância ao trivial, às celebridades.

O livro começa com Honor retirando da sala tudo o que possa dar à repórter pistas sobre sua personalidade. Depois, Honor lembra que se enganou ao tirar conclusões precipitadas sobre entrevistados. A sra. passou por alguma situação parecida como jornalista?
Enquanto escrevia o livro, o que aconteceu por dois anos e meio, tive a experiência de entrevistar alguém e ter uma primeira impressão errada. Assim que isso aconteceu, coloquei Tait relembrando experiência similar. Ela se lembra de quando entrevistou um escritor e, pela casa dele, pela forma como contava histórias antigas, deduziu que a vida dele estava acabada. E só depois de publicar o perfil soube que ele tinha como amantes duas gêmeas idênticas, de 20 anos.
A questão é que jornalistas acreditam que podem decifrar a vida da pessoa no espaço de uma hora, que tiveram um insight psicológico, quando na verdade são necessários anos para conhecer alguém realmente bem, em nível pessoal.

Isso tem a ver com a vaidade dos jornalistas, como você mostra com suas personagens?
O jornalismo é uma profissão incrivelmente privilegiada, não? Você tem contato com pessoas que as pessoas comuns não têm oportunidade de conhecer, você vive situações importantes. E isso pode dar ilusões de grandeza, se você não tomar cuidado.

Por que escolheu 1997 como data para situar a trama?
Aquele foi o último momento em que ainda era possível alguém acreditar que a internet era uma moda passageira que não iria interferir em nada. No começo do livro há uma frase de um importante jornalista, Simon Jenkins, dizendo que a internet teria seu momento e então assumiria seu lugar na fileira de mídias inferiores. Que era preciso tomar cuidado com os fanáticos defensores da internet.
Ele escreveu aquilo em janeiro de 1997. Em março daquele ano, já estava claro que a internet seria o lugar em que as pessoas buscariam informações. Houve grandes histórias americanas naquele primeiro semestre, o ataque terrorista que matou mais de 150 pessoas em Oklahoma, o suicídio em massa de membros da seita Heaven's Gate em Los Angeles.
As pessoas iam caçar informações na internet, e alguns jornais perceberam que aquilo ia acontecer. Em janeiro ainda se podia dizer que a internet não iria significar nada. Eu só quis mostrar esse último momento antes da queda.

Que mudanças a sra. percebe nos jornais depois da internet?
Bem, fico feliz por poder ler jornais no meu Kindle, na internet, e, quando chega o jornal impresso, é inevitável a sensação de que você já leu aquilo antes. Mas há algo ainda atraente no papel, há algo de 'serendipity' [descobertas felizes e casuais] que a internet não dá. Quando busca notícias na internet, você já as seleciona de antemão segundo seu interesse.

A sra. acha que o jornalismo impresso mudou editorialmente após a internet? Os textos devem ser mais analíticos?
Há essa busca pelo analítico, por debates, mas os impressos também mantêm a trivialidade, o interesse pelas celebridades. Você encontra na internet tanto uma coisa quanto a outra, então acho que essa não é a resposta sobre os diferenciais do impresso.
Jornais oferecem análises e reflexões certamente valiosas, mas o principal é que permitem a você experimentar uma história fora da sua área de interesse natural. Ao folhear as páginas de esportes, que você nunca lê, seus olhos podem se deixar atrair pela história de um jogador do qual nunca ouviu falar. A forma de editar as imagens, tudo isso pode fazer a diferença.

Quando descreve no livro a repercussão internacional do escândalo envolvendo Honor, a sra. é bastante crítica ao citar o jornalismo no Reino Unido. Por que acredita que os tabloides sensacionalistas se tornaram predominantes no país?
Os jornais britânicos sabem fazer sensacionalismo extremamente bem ou extremamente mal, depende do ponto de vista. Uma qualidade que pode ser, talvez, admirável, é a irreverência. Talvez isso seja uma boa qualidade. Um aspecto negativo é o bullying. Nós vemos a evidência de um aspecto pernicioso desfilar à nossa frente, como aconteceu com a descoberta de que tabloides estavam grampeando telefones de pessoas comuns, o que é ilegal, imoral.

O impacto do digital sobre os jornais é mostrado de dentro de uma redação também em "Os Imperfeccionistas" [Record], que saiu recentemente no Brasil e que, como o seu livro, foi muito elogiado. Por que os bastidores do jornalismo despertam interesse?
Li esse livro, gostei muito. E conheci Tom Rachman, o autor, um homem charmoso com quem estive em um debate sobre jornalismo.
Acho que as descrições dos ambientes das redações não são de interesse só de jornalistas, mas de qualquer um que trabalhe em equipe, que conheça políticas de escritórios. Jogos de poder são universais, assim como a questão de velhice versus juventude, da qual trato no meu livro.

Os limites éticos do jornalismo são ultrapassados algumas vezes pelas personagens do romance. Como a sra. vê a discussão em torno da regulação da mídia?
Prestar contas é uma coisa importante, porque certamente a tecnologia vem permitindo uma excessiva invasão de privacidade.
Mas ficaria muito preocupada se, por exemplo, fossem aprovadas leis restringindo a liberdade de imprensa. Acho que na Inglaterra precisamos de mais regulação, que somos muito fracos nisso, o que permite que jornalistas se comportem muito mal, sem limites. Mas a maneira para isso é a autorregulação, os jornalistas serem convocados a prestar depoimentos sobre seus métodos, eles e os jornais serem responsáveis pelo que escrevem e publicam.

Essa é uma discussão que também acontece no Brasil no momento. Como está isso agora na Inglaterra?
Desde a descoberta dos grampos pelos tabloides, há essa certeza de que a regulação é necessária, e está sendo discutido qual o próximo passo. Há dois meios: um é fortalecer a autorregulação, o outro, criar uma legislação.
Se há essa discussão no Brasil, você deve saber: uma vez que você tem o governo envolvido na regulação da imprensa, você está a um passo da censura.

NA FLIP
No sábado (7), às 15h, Annalena McAfee debate jornalismo e literatura na Casa da Cultura, com o jornalista Paulo Roberto Pires (mediação do editor da "Ilustríssima", Paulo Werneck). No mesmo dia, McAffe conversa sobre mercado com o editor Jonathan Galassi e a agente literária Deborah Rogers, na Casa da Companhia.

"Pense duas vezes antes de sair disparando tuítes antes de ter os fatos dominados". Dorrit Harazim e a barriga histórica

Deu no Globo. Leitura imperdível para estudantes de Jornalismo.


‘Barriga’ histórica - DORRIT HARAZIM
 Tirania da notícia instantânea levou CNN e Fox ao erro

“Barriga”, no jargão jornalístico, significa notícia falsa, equivocada, mal apurada. Erro evitável, em suma. Há tempos a mídia americana não produzia um barrigão do tamanho do que confundiu até mesmo o presidente Barack Obama, na manhã da última quinta-feira.

Eram dez horas da manhã em Washington quando o presidente da Corte Suprema dos Estados Unidos, o conservador John Roberts, iniciou a leitura do seu voto sobre a constitucionalidade da reforma do sistema de saúde sancionada por Obama em 2010. Entrincheirado na Casa Branca pelo fundamentalismo conservador que o quer fora dali, e às voltas com a decepção do eleitorado democrata que o entronizou presidente, Obama dependia desse voto para tornar mais robusto seu verbete na história.

Até agora, passados três anos e meio de mandato, seu principal feito tinha sido eleger-se primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Mas, dependendo do julgamento da Corte, ele poderia se outorgar um lugar na galeria dos presidentes que, como Franklin D. Roosevelt, Lyndon B. Johnson e Ronald Reagan, imprimiram alterações profundas na malha social da nação.

Seu lugar na história, e talvez suas chances de reeleição em novembro próximo, dependiam desse voto. Compreensivelmente, todas as mídias do país estavam com seus melhores quadros a postos para uma cobertura maciça que prometia ocupar o dia inteiro.

Eram 10h06m quando Roberts inicioua leitura das mais de 50 páginas de seu voto. O documento final tinha 193 páginas e a Corte Suprema não fornece aos jornalistas cópias embargadas para serem digeridas e analisadas antecipadamente. Uma única cópia chega à sala de imprensa e, ao preço de 10 centavos de dólar por página, o catatau pode ser copiado pelos repórteres credenciados. Segue-se a pressa em devorar tudo antes do concorrente. Foi essa tirania da notícia instantânea em tempos de internet que levou a CNN e a Fox News, duas das três maiores redes noticiosas de televisão, ao erro. A partir das 10h08m, tanto na cobertura ao vivo a cargo do âncora Wolf Blitzer como nas ramificações digitais da empresa (Twitter, e-mails para assinantes, blogs e página do portal) anunciaram que a Suprema Corte tinha derrubado o projeto de Obama. Na concorrente Fox News, líder de audiência nos Estados Unidos e militante engajada na oposição a Obama, a interpretação inicial do voto foi igualmente errada, durante dois intermináveis minutos — uma eternidade, nestes tempos de notícias em nanosegundos.

Apesar de as agências Associated Press, Reuters e Bloomberg terem divulgado o resultado correto, a CNN se manteve soberba por cinco imperdoáveis minutos. Só então o âncora arriscou a primeira correção de curso. “Vamos respirar fundo e aguardar para saber o que os juízes efetivamente decidiram”, suplicou ao vivo. “É possível que [a questão] seja mais complexa do que o que anunciamos inicialmente.” Quando a emissora finalmente colocou no ar a devida correção, junto com a notícia de que o projeto fora, na verdade, aprovado, vários membros do Congresso, plugados na TV já haviam retransmitido a informação errada. O próprio Obama ficou no escuro durante um curto tempo, alternando a leitura das versões do seu discurso pós-voto que tinha em estoque. Como não lembrar da fatídica primeira edição do “Chicago Tribune” de 3 de novembro de 1948, cuja manchete — “Dewey derrota Truman” — prevendo o resultado daquela eleição presidencial é até hoje considerada a maior “barriga” de todos os tempos?

No caso de agora, saiu-se melhor quem tinha conhecimento mais sólido do funcionamento da Corte, quem manteve a serenidade sob pressão e quem menos pensou nas demandas do departamento de marketing. Três horas antes da leitura do voto na Corte, Dan Abrams, um analista jurídico da rede ABC, alertava seus colegas: “Cuidado com possíveis erros. Lembrem- se do caso Bush v. Gore”, tuitou ele às 7 da manhã. Abrams fora um dos poucos jornalistas a interpretar corretamente o voto de 12 anos atrás, que deu a vitória a George W. Bush na até hoje polêmica contagem de votos da eleição de 2000.

O “New York Times” resistiu bravamente à tentação de sair na frente. Um minuto após a AP ter anunciado a aprovação da lei, o chefe da sucursal de Washington do jornalão postou na internet um curioso pedido aos leitores de suas várias plataformas digitais: pediu paciência. Explicou que o batalhão de repórteres e editores do diário precisava de tempo para analisar os termos do voto. “Quando estivermos seguros, vocês receberão uma avalanche de matérias de qualidade.” E assim foi.

Segundo levantamento com 613 jornalistas sobre mídia digital, compilado este ano pela rede Oriella PR (empresa que reúne 16 agências de comunicação em 23 países), 68% dos profissionais brasileiros declararam usar microblogs como principal ferramenta para captar e disseminar notícias. Boa hora para pensar duas vezes antes de sair disparando tuítes antes de ter os fatos dominados. O conselho serve não só para jornalistas.

Cony e o mistério na Redação


Deu hoje na Folha. O que será que aconteceu? Será que o popular Alexandre da CIA sabia?