domingo, 29 de dezembro de 2013

Aula de Jornalismo: um novo formato jornalístico de qualidade para a internet


Bastante interessante essa avaliação da Suzana Singer, ombudsman da Folha, sobre o projeto multimídia "Tudo sobre Belo Monte".

Aula de Jornalismo: é nisso que dá economizar dinheiro e não enviar repórteres e /ou repórteres fotográficos para cobrir os grandes eventos


Bela análise da Suzana Singer, ombudsman da Folha.

Flagrante: uma prova de que a Guarda Municipal do Rio de Janeiro pode ser útil em vez de ficar alimentando a Indústria da Multa

Não morro de amores pela Guarda Municipal do Rio de Janeiro. Principalmente nas ações que alimentam a Indústria da Multa. Mas palmas para essa atitude desses guardas que prenderam esses babacas que roubam covardemente pessoas indefesas na rua. Mas quem merece destaque também é o Carlos Ivan que registrou o flagrante. Deu na capa do Globo em dezembro.


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Apresentador fica irritado com censura e abandona programa



Se é pra valer eu não sei, mas que foi hilário foi. Obrigado pelo link, Carlos Venâncio, da Facha.

domingo, 11 de agosto de 2013

Será que o dono da Amazon que comprou o Washington Post vai encontrar a solução para gerar receita no Jornalismo on-line?

Imagem ilustrativa

Vale a pena ler a matéria publicada no Globo de hoje. Para ler, clique AQUI.

O Globo divulga abertura de inscrições para estágio na InfoGlobo

Para saber detalhes, clique AQUI.

O facebook e a máquina de escrever. "É hora de reinventarmos o Jornalismo", Marcelo Tass

Deu hoje na Folha de S. Paulo. Recomendo a leitura.

O Facebook e a máquina de escrever
Marcelo Tass

A mídia antiga foi empurrada para a revolução digital. É hora de nos desapegarmos de falsos dilemas e reinventarmos o jornalismo

Minha primeira vez na Redação da Folha coincidiu com a chegada dos computadores.

Até então, o ambiente era dominado pelas máquinas de escrever e pela fumaça dos cigarros.

Fui testemunha ocular da rejeição instantânea de alguns colegas à novidade tecnológica.

Uns profetizavam que a chegada das "máquinas silenciosas com monitores parecidos com os de TV" era um sinal do fim do jornalismo. Outros se agarravam nostálgicos às suas Olivettis como náufragos diante de uma boia no convés do Titanic.

Temo que o atual debate "jornalismo convencional x redes sociais", da forma como tem sido conduzido nesta Folha, repete o falso dilema "computador x máquina de escrever". A comparação entre ferramentas diferentes, somada à confusão entre ferramenta e usuário, conduz a conclusões distorcidas.

A mudança central que computadores trouxeram ao jornalismo foi conectar os profissionais na Redação e, depois, fora delas. As informações passaram a ser compartilhadas em tempo real, flexibilizando as decisões editoriais e os prazos de fechamento.

Era o início tímido da aceleração espantosa que experimentamos hoje na publicação das notícias na era das redes sociais.

Já as redes sociais não representam uma mudança de hardware, mas de software. Na história da comunicação, a transmissão da informação sempre foi unidirecional.

Na revolução digital, as redes sociais subverteram esse fluxo. Leitores não querem mais ser só leitores. Querem também publicar, criticar, influenciar. Substitua leitores por telespectadores, ouvintes, empresas, consumidores, alunos, professores, chefes, funcionários, pais, filhos, torcedores, clubes de futebol e sinta o tamanho da encrenca.

Depois das manifestações de junho, a Folha passou a ser enfática em criticar as redes sociais. Em um editorial, chegou a alertar: "É honesto reconhecer um aspecto corporativo nessas críticas".

Não questiono a legitimidade das críticas, mesmo corporativas, e até concordo com algumas delas. O equívoco é como se fundamentam: na tentativa inglória de separação asséptica entre "jornalismo convencional" e redes sociais.

Sérgio Dávila, em "Cidadão Face", coloca de um lado a "imprensa profissional" e do outro, a geração Movimento Passe Livre, que ele condena pelo uso do Facebook.

Na mesma coluna em que critica a Folha por "comer poeira" por não levar a sério denúncias surgidas na rede, a ombudsman pisa no mesmo tomate. Suzana Singer decreta que "no momento, blogs e redes sociais não têm capacidade para tomar o lugar da mídia convencional."

Ora, blogs e redes sociais são apenas ferramentas, sem vida própria. Podem ser usadas bem ou mal, por profissionais ou amadores. Ao que me consta, esta Folha tem blogs e está nas redes sociais. Resta a pergunta: qual o significado, em 2013, da expressão "mídia convencional"?

Não é mera questão semântica. Quem pensa fazer parte da "mídia convencional" parece ainda acreditar na existência de um "leitor convencional". Mesmo contra a vontade, a mídia antiga já foi empurrada para a revolução digital pelos seus próprios usuários. É hora de nos desapegarmos dos falsos dilemas e reinventarmos o jornalismo.

Quem é Jeff Bezos, da Amazon, o cara que comprou o Washington Post. Segundo Elio Gaspari

Deu na Folha e no Globo. Como alguém aqui tem que trabalhar, só hoje pude ler. Recomendo.

Um grande dia na história da imprensa
Elio Gaspari

Em setembro de 1994 um curioso com jeito de ET, diploma de engenharia da computação pela Universidade de Stanford e uma passagem pelo Bankers Trust queria começar seu negócio.

Qual, não decidira, mas sabia que seu motor seria o comércio eletrônico. Inscreveu-se num curso rápido para interessados em vender livros. Viu que estava diante de um mercado anacrônico, fez uma dívida, alugou uma garagem e fundou a Amazon com a mulher, um computador e dois amigos. Vendeu livros e tornou-se a maior livraria do mundo. Vende de tudo e é a maior atacadista de comércio eletrônico. Jeff Bezos acaba de comprar por US$ 250 milhões o venerado "The Washington Post", quindim dos jornalistas no século passado, berço da dupla de repórteres que derrubou o presidente Richard Nixon com suas reportagens sobre o caso Watergate.

O "Post" teve de tudo: editor brilhante, Ben Bradlee, copiloto da cobertura do Watergate; donos malucos, o playboy Edward MacLean, que azarou a família comprando para sua mulher o diamante Hope, ou Philip Graham, que pediu ao presidente John Kennedy que demitisse um editor de seu jornal. Doente, Graham matou-se. No apogeu, teve na sua viúva, Katharine, a cujo pai pertencera o jornal, a maior figura da história do "Post". Logo ela, que até a morte do marido parecera uma dondoca maltratada e tímida. Kay Graham morreu em 2001.

A compra do jornal por Bezos foi anunciada dias depois de o "New York Times" ter vendido o "Boston Globe" por 6% do US$ 1,1 bilhão que pagou em 1993. Ele não só criou a Amazon como lançou o Kindle. Bezos é um gênio da conexão com os consumidores. Sua estrutura tecnológica é uma das maiores do mundo, mas seu segredo está na logística e no atendimento à freguesia. É um empresário feroz e detesta sindicatos. Quando lançou o Kindle, com livros a US$ 9,99, os magnatas do mercado editorial organizaram um cartel debaixo do guarda-chuva da Apple e acabaram nos tribunais. No Brasil sua operação é pedestre, mas essa é outra história.

Bezos entrou no "Post" com dinheiro do próprio bolso, para enfrentar o "New York Times", que há anos busca o caminho das pedras eletrônicas. Leva uma vantagem: com uma fortuna de US$ 25,2 bilhões, tem mais dinheiro que toda a família Sulzberger e pouco se lixa para as oscilações de Wall Street. A Amazon perdeu dinheiro durante cinco anos e sobreviveu à bolha da internet. Seu negócio, desde o primeiro momento, era a inovação. Numa daquelas histórias que fazem o folclore dos empresários, quando uma senhora idosa reclamou que os pacotes da Amazon eram difíceis de abrir, ele mandou redesenhá-los. Noutra: fazia reuniões mantendo uma cadeira vazia, para que todos se lembrassem do consumidor.


Bezos entra num mercado que consome fortunas em logística e papel para entregar produtos que podem chegar eletronicamente a um tablet em pouco mais de um minuto. É fácil intuir que, aos 49 anos, olha para esse negócio com a cobiça que sentiu aos 30, quando se inscreveu no curso para livreiros. O que fará, e como, será uma bonita história. De saída, anunciou que vive "em outra Washington", pois sua sede fica em Seattle, do outro lado do país, no Estado do mesmo nome. Um palpite: ele adora vender barato.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O Jornal Laboratório da FACHA voltou


Estou de novo editor. Em breve muitas novidades.

Colaborem. Participem.

É nisso que dá chamar amadores para fazer trabalho de profissionais


Odeio micreiros! Essa gente que sabe mexer em programas de computador, mas não tem história e se diz "webdesigner". Ou então essa gente que monta uma loja, uma pizzaria, um escritório ou algo do ramo e economiza na produção do material visual de divulgação e promoção. Muitas vezes lidam direto com a gráfica que se mete a fazer coisas que deveriam ser feitas por um designer profissional. O barato sai caro.

Pois bem. Ontem, cansado de pedir pizza da Domino´s e da Parmê, decidi variar e olhar um desses muitos folhetos que botam na minha caixinha de correspondência do prédio onde moro. PQP! Repararam nas imagens acima, né? A foto é a mesma, embora as pizzarias sejam diferentes. Ou contrataram a mesma agência e os "artistas" usaram a mesma imagem ou é coisa de gráfica picareta que se mete a fazer "arte". E faz mesmo. Chupa fotos de catálogos ou da internet sem pagar e dar crédito a quem fez o trabalho.

Amadorismo não! Contrate um profissional. 

Que bela capa!


Especial para os meus alunos de Secretaria Gráfica e Programação Visual. Bela capa do Lance! paulista de hoje. A mensagem é uma gozação, claro. Mas a ideia e o visual ficaram bacanas. Bela sacada.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Cora Rónai e a Mídia Ninja



Concordando ou não, vale a pena ler o texto da Cora Rónai no Globo de hoje sobre a entrevista do pessoal da Mídia Ninja no.
Cora Ronai
Mídia ninja

O papo na rede social foi a Mídia Ninja, que deu entrevista ao "Roda viva" representada por Bruno Torturra e Pablo Capilé. Infelizmente, acho que foi desperdiçada uma boa oportunidade de troca de ideias, menos pelos ninjas, diga-se, do que pelos entrevistadores, que insistiam -- compreensivelmente, até -- em entender de onde vem o dinheiro que financia os ninjas e qual o seu "modelo de negócios".

Não diminuo a importância desse, digamos, "detalhe" -- eu mesma fiquei bastante desapontada quando soube que, por trás do que eu imaginava ser um movimento espontâneo, estavam, pelo menos em parte, grana e estímulo do governo. Não porque seja condenável receber dinheiro público, mas porque não confio em quem se diz independente e auto sustentável enquanto, por trás, recebe uma quantia não especificada de recursos que, por serem nossos, deveriam ser bem explicados. As informações que Capilé deu sobre isso, aliás, foram absurdas: o Fora do Eixo, sistema que é a nave mãe da Mídia Ninja, não trabalha com reais, mas com estalecas, patacas ou algo do genero. Então tá.

Apesar disso, eu teria de fato preferido uma conversa que fosse mais fundo em métodos de trabalho, escolhas de pauta e, sobretudo, possibilidades de crescimento e multiplicação do modelo ninja de transmissão de notícias, porque o processo é interessante e tem muitas possibilidades.

Ao contrário do que me pareceu ser percepção geral no programa e na própria rede, não vejo o mundo dividido entre "mídia clássica" de um lado e "mídia ninja" de outro, como se a existência do modelo tradicional de jornalismo estivesse ameaçada pela emergência do jornalismo participativo. O modelo tradicional de jornalismo anda abalado pelo desenvolvimento da web, que veio bem antes dos ninjas e que mudou, de forma drástica, a maneira como nos informamos.

Na web, todo cidadão pode ser, em tese, fornecedor de notícias. O mérito da mídia ninja é reunir alguns desses cidadãos num projeto comum, oferecendo-lhes o canal para chegar ao público; é juntar debaixo do mesmo teto virtual fabricantes de conteúdo que, antes, espalhavam-se pelas mídias sociais, dando-lhes, de quebra, a oportunidade de mostrarem o que vêem em tempo real. O proto-ninja Abraham Zapruder, mais famoso dos cinegrafistas amadores, teria adorado tudo isso.

Pessoalmente, acho que as mídias que convivem num mesmo espaço de tempo se complementam, se influenciam e se transformam a partir desse convívio. Não existem mais -- se é que alguma vez existiram -- áreas estanques ou impermeáveis no planeta comunicação.

o O o

A certa altura do "Roda Viva", um entrevistador destacou como grande tento da Mídia Ninja ter ido parar no Jornal Nacional, que precisou usar imagens do coletivo. Mas claro, ué: todos os jornais do mundo sempre usaram, e continuarão a usar, cada vez mais, imagens de agências de notícias, de gente que ia passando e até mesmo de outras emissoras. A Mídia Ninja é um pouco disso tudo.

Ainda não inventaram, e eu espero que não inventem nunca, emissora capaz de estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

o O o

Acho que faltou à entrevista, também, a discussão de um ponto fundamental. Não há como negar que a Mídia Ninja tem feito um trabalho dinâmico e valente, e que é em parte graças às suas imagens que as farsas da polícia vêm sendo desmontadas; mas fico com a sensação amarga de que algo está fora do meu campo de compreensão quando vejo os ninjas filmando os jornalistas da mídia tradicional sendo agredidos e enxotados das manifestações sem fazer um só gesto em sua defesa.

o O o

Aliás: acho a expulsão da mídia tradicional das manifestações uma demonstração de intolerância insuportável. Não gosta da Record? Mude de canal. Odeia a Globo? Desligue a TV. Não suporta a Band? Não dê declarações a ela se for procurado. Está de bom tamanho. Cabe ao público, em última instância, decidir o que quer ver, ler, ouvir. Achar que "o povo" precisa que manifestantes queimem os carros da reportagem e agridam os jornalistas para "não ser manipulado" é de uma arrogância que beira o fascismo.

Tenho falado muito a respeito disso na internet, porque venho de um tempo em que lutávamos, ao contrário, para ter uma imprensa livre e plural. Trabalhei alguns anos sob censura e não foi bom; visitei países quem têm apenas um ou dois jornais e não gostei.

Alguns jovens tentam me explicar, bondosamente, que as agressões não são contra as pessoas, mas contra as empresas. Sei que a minha idade impede que eu entenda coisas simples como essa, mas relevem, por favor.

É que, na minha época, o soco doía na pessoa física que acertava, e não na pessoa jurídica que a empregava.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

"Dirceu, a biografia", uma aula de mau jornalismo




Não tenho nenhum motivo nem procuração para defender José Dirceu. O mesmo acontece com o jornalista Mario Sergio Conti. Mas tenho todos os motivos para defender o Bom Jornalismo. E, segundo a resenha de Conti publicada na revista piauí que está nas bancas, Otávio Cabral, autor do livro, não fez. Li o livro, logo que foi lançado, meio desconfiado pelo fato de o "coleguinha" ser repórter dessa Veja que está aí. Mas vale mesmo ler abaixo na íntegra o texto do Conti publicado na piauí. Destaquei alguns trechos em amarelo. Mas vale a pena ler a resenha na íntegra.

Chutes para todo lado
A incrível biografia de José Dirceu, o fauno que comeu cordeiro patagônico

por MARIO SERGIO CONTI

O título do livro de Otávio Cabral é Dirceu – A Biografia. O autor poderia ter dispensado o artigo ou posto “uma biografia”. Mas tascou a biografia, o que indica a pretensão de ter feito o relato completo e fidedigno da vida de José Dirceu. Tarefa difícil porque o biografado não quis ser entrevistado pelo biógrafo.

Otávio Cabral diz no prólogo ter contado com a ajuda de dois pesquisadores para “vasculhar nove arquivos públicos”. Três linhas adiante repete o verbo: “Vasculhei os acervos de nove jornais e oito revistas nacionais, além de quatro publicações estrangeiras”, se bem que a BBC não seja uma publicação, e sim uma emissora e um site. Ele fez mais que pesquisar arquivos e órgão de imprensa: vasculhou-os, que os dicionários definem como investigar e esquadrinhar com minúcia.

O livro começa em 1968, com os pais de José Dirceu assistindo pela televisão à sua prisão no Congresso da União Nacional dos Estudantes, em Ibiúna. Informa que a notícia da prisão de José Dirceu foi “transmitida em rede nacional de televisão”. Mas o Brasil só teria rede nacional de tevê no ano seguinte.

O autor diz e rediz que Passa Quatro, onde José Dirceu nasceu, tinha 11 mil habitantes. São Paulo contava com 4 milhões de moradores quando ele se mudou para lá. O autor faz o cálculo e conclui que a capital era “trezentas vezes maior do que a sua Passa Quatro natal”. Cálculo errado: São Paulo era 363 vezes maior. Dirceu estudou no Colégio Paulistano, “na rua Avanhandava, próximo à praça da Sé”. Não, a escola ficava na rua Taguá, na Liberdade. Preparou-se para o vestibular no curso “Di Túlio”, que se grafava “Di Tullio”.

Antes do golpe de 1964, segundo a biografia, José Dirceu conheceu o autor de novelas Vicente Sesso, “com quem foi trabalhar na TV Tupi, ajudando a redigir roteiros”. Sesso “acabara de escrever Minha Doce Namorada, que deu à atriz Regina Duarte o apelido de ‘a namoradinha do Brasil’”. E José Dirceu “foi praticamente adotado por Sesso, que o levou para morar na sua casa, no mesmo quarto de seu filho adotivo, o ator Marcos Paulo”.

José Dirceu não trabalhou na TV Tupi nem fez roteiros. Foi datilógrafo de Sesso. Nunca morou na casa do escritor. Sesso, isso sim, lhe emprestou uma casa que tinha na rua Treze de Maio. Ele só veio a escrever Minha Doce Namorada em 1971, às pressas, para substituir uma novela que obtivera pouca audiência. Essas informações foram dadas pelo próprio José Dirceu numa entrevista a Marília Gabriela que se encontra transcrita na internet. A data e a composição de Minha Doce Namorada podem ser achadas em histórias da teledramaturgia.

São erros tolos? Sem dúvida. Para a caracterização de José Dirceu, interessa pouco saber que em 1968 não havia rede nacional de televisão. Que estudou em tal rua, e não em outra. Que São Paulo era tantas vezes maior que Passa Quatro. Que não escreveu roteiros para a tv Tupi. Mas todos esses equívocos estão nas seis primeiras páginas do capítulo inicial. E a sexta página se encerra com um abuso: Otávio Cabral afirma que José Dirceu apoiava Jango “mais para se opor ao pai do que por ideologia”. Nada autoriza o biógrafo a insinuar o melodrama edipiano. Ainda mais porque, dois parágrafos adiante, é transcrita uma declaração na qual José Dirceu afirma que, no dia mesmo do golpe, se opôs à ditadura por “um problema de classe”.

O livro realça aspectos pessoais em detrimento dos políticos. Ele repete cinco vezes que nos anos 60 Dirceu tinha cabelos compridos, outras quatro que era cabeludo, e duas dizendo que deixava a “barba por fazer”. Caso o leitor não tenha percebido, o livro estampa ainda catorze fotos de Jose Dirceu de cabelos longos e a barba nascendo. A aparência não é anômala nem define o biografado. Muitíssimos jovens eram assim naquela época.

Em contrapartida, o biógrafo não analisa se nos anos 60 José Dirceu era reformista ou revolucionário. Se queria o socialismo ou não. Se considerava a luta de classes o motor da história. Não explica se acreditava mais na guerrilha, no terror ou na legalidade institucional. Ao “vasculhar” a vida de José Dirceu, Cabral se ateve a uma ideia prévia, que ele enuncia assim: “Encontrava na atividade política um prazer e vislumbrava nela uma chance de ascensão social e profissional.”

A afirmação, caída do céu, é oca e insensata. Oca porque não há nada de mais em se ter prazer fazendo política – ou medicina, malabarismo, jornalismo, o que for. Insensata porque, por dez anos, José Dirceu correu perigo real de ser preso (o que lhe aconteceu), torturado e assassinado (o que ocorreu com centenas de outros). Gramou dez anos de exílio e clandestinidade. Não queria subir na vida e sequer tinha profissão. Fazia política em tempo integral.

Com a anistia de 1979, ajudou a construir um partido, o PT, que não lhe garantia “ascensão” alguma. Como dezenas de outros políticos surgidos nos anos 60, poderia ter aderido ao PMDB, ao PDT ou ao PSDB, que logo chegaram ao poder. Dirceu e o PT fizeram política mais de duas décadas antes de entrar no Planalto. Por que não foi pragmático, imediatista? Talvez porque tivesse convicções, as quais Otávio Cabral despreza. O autor prefere se perder em minudências.

Vejamos como ele se perde. O biógrafo diz que Rui Falcão, hoje presidente do PT, foi colega de José Dirceu na Pontifícia Universidade Católica, onde estudou jornalismo. A PUC sequer tinha curso de jornalismo na época e Rui Falcão estudou direito, mas na Universidade de São Paulo. Relata que 5 mil estudantes se reuniram “nas arcadas do Grupo Escolar Caetano de Campos”, que não se chamava “Grupo Escolar” e não tem arcadas. Afirma que a Faculdade de Filosofia, na rua Maria Antônia, tem cinco andares, um a mais do que se vê em qualquer foto. Sustenta que uma das “ações ousadas” de José Dirceu foi a destruição do palanque do governador paulista, Abreu Sodré, no 1º de maio de 1968, na Praça da Sé. O ataque a Sodré foi feito por me-talúrgicos de Osasco, liderados por José Ibrahim. É isso que está dito na entrevista de Ibrahim a José Dirceu, no blog deste último. No Congresso da UNE em Ibiúna, José Dirceu ora é colocado num ônibus, ora num camburão, mas aparece numa foto numa Rural Willys. Depois de uma semana, é levado “para a Fortaleza de Itaipu, em São Vicente” – e a fortaleza fica no município de Praia Grande.

O autor não fica só nos erros menores. Escreve que em 1968 “a Guerra Fria encontrava-se no auge e a invasão dos Estados Unidos a Cuba era iminente”. A invasão de Cuba fora eminente em 1961, quando a CIA organizou o desembarque na Baía dos Porcos, e no ano seguinte, durante a crise dos mísseis, e não seis anos depois.

E 1968 não foi o ano do auge da Guerra Fria, e sim o da sua grande crise, que levou o capitalismo e o stalinismo a se darem as mãos. Em janeiro, na Ofensiva do Tet, os vietcongues chegaram aos jardins da embaixada americana em Saigon sem a ajuda de tropas da China e da União Soviética. Em maio, a greve geral na França foi deflagrada apesar da oposição frontal do gaullismo e do Partido Comunista, que seguia ordens de Moscou. Em agosto, a invasão da Tchecoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia, para massacrar uma experiência de socialismo democrático, mostrou que o apoio dos Estados Unidos à Primavera de Praga não passava de retórica.

Em meio a esses três fatos turbulentos, que insuflaram as mobilizações brasileiras daquele ano, José Dirceu cresceu como liderança política. Seria interessante saber o que pensava a respeito deles. É obrigação de um biógrafo analisar o mundo no qual o seu biografado vive, e contar como ele reage a grandes mudanças. Otávio Cabral preferiu fofocar sobre os namoricos do líder estudantil, que ele trata como um fauno.

Dirceu foi um dos presos políticos trocados pelo embaixador americano Charles Burke Elbrick, sequestrado no Rio, em 1969, por grupos esquerdistas. No México, onde desembarcou, segundo Cabral ele era “um dos mais paranoicos, tinha certeza de que era vigiado pela CIA”. Se há documentos americanos comprovando que a CIA espionou os brasileiros exilados em Cuba, por meio de um agente duplo cubano, por que não os investigaria no México? Não havia paranoia nos cuidados de José Dirceu. O que há é a tentativa de Cabral em pintá-lo como um homem irracional e doente. Faz o mesmo com o PT e as alas à esquerda do partido, que ele qualifica de “raivosos”.

Uma das fontes dos capítulos sobre a estadia de Dirceu em Havana é O Apoio de Cuba à Luta Armada no Brasil, de Denise Rollemberg, que é apresentada como historiadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas a historiadora se formou, fez mestrado, doutorado e é professora na Universidade Federal Fluminense. É compreensível, pois, que Dirceu tenha bobagens como a de dizer que ele foi instalado em “uma casa na periferia de Havana, a Casa do Protocolo, hoje um centro cultural”. Havia dezenas de “casas de protocolo” em Cuba, e não uma determinada.

José Dirceu passou um tempo clandestino no Brasil no início dos anos 70. Otávio Cabral se fia em papéis da ditadura para apontá-lo como um dos responsáveis pelo assassinato de um sargento da PM, em janeiro de 1972, “na rua Colina da Glória, no Cambuci”. Uma testemunha teria reconhecido Dirceu como participante no crime. Há três elementos que abalam a credibilidade dos documentos militares. O reconhecimento da testemunha foi feito com base numa foto antiga de Dirceu, antes de ele ter feito uma cirurgia plástica no rosto em Cuba. A morte do sargento não gerou inquérito nem processo. A rua Colina da Glória não existe no Cambuci nem em bairro nenhum de São Paulo. Otávio Cabral também leva em conta o depoimento de um sargento, integrante do Centro de Informações do Exército, que acusou José Dirceu de ter sido agente duplo e delator.

As acusações de assassinato e delação são graves. Mereceriam investigação profunda, ponderação e exposição demorada. Seria preciso sobretudo ter boa-fé. Foi o que fez Elio Gaspari ao analisar casos semelhantes na série de quatro livros monumentais sobre a ditadura. Foi também o que fez o jornalista Vicente Vilardaga no recém-lançado À Queima-Roupa – O Caso Pimenta Neves, livro no qual relata o assassinato da repórter Sandra Gomide pelo diretor de redação de O Estado de S. Paulo. Vilardaga busca entender um assassino, Pimenta Neves, cujo crime lhe é repulsivo. À Queima-Roupa é sólido justamente pelo seu empenho em compreender o que pensou e como agiu o homicida, situando o seu crime no contexto da imprensa paulista.

Já Otávio Cabral envolve José Dirceu numa névoa de insinuações para melhor denegri-lo. Em títulos de capítulos, chama-o de “camaleão”, “bedel de luxo”, “o maior lobista do Brasil” e “o maior vilão do Brasil”. Como Dirceu foi condenado e aguarda a prisão, o que Cabral faz é chutar um homem caído no chão.

Mas comete tantos erros que acaba chutando a sua própria reputação profissional. Em 1978, diz ele, José Dirceu participou de um grupo que ajudou a financiar candidatos do “MDB simpáticos à luta armada, como Anísio Batista de Oliveira e Djalma Bom”. Que surpresa. Anizio (com “z”) Batista e Djalma Bom eram sindicalistas no final dos anos 70. O primeiro era metalúrgico e integrava o grupo de Lula em São Bernardo. O outro estava na Pastoral Operária e militava na oposição metalúrgica de São Paulo. Ambos discordavam da luta armada e do MDB. Candidataram-se a deputados na década seguinte, e foram eleitos pelo PT.

Desconhecendo fatos comezinhos como esses, Otávio Cabral decreta logo em seguida: “Foram as mulheres, e não a política, o que mais atraiu Dirceu de volta a São Paulo.” Como ele pode ter tanta certeza? Apaixonar-se, meter-se em namoros tumultuados, praticar adultério, gostar de amor e sexo, ter filhas fora do casamento – tudo isso ocorreu com José Dirceu. E também com muita gente da esquerda e da direita, com pobres e ricos das mais diferentes atividades.

Achar que isso define alguém é ingenuidade, clichê reducionista. Para ficar em três exemplos da esquerda (que não têm nada a ver com José Dirceu, diga-se): Marx teve um filho com a empregada Helena Demuth, Lênin foi amante da comunista francesa Inessa Armand, Trotsky teve um caso com a pintora Frida Khalo. As traições amorosas explicam o que fizeram na política?

É torpe a maneira como Otávio Cabral trata as namoradas e esposas de José Dirceu. Ele escreve vulgaridades machistas como “loira alta e voluptuosa”, “encontrou a inesquecível lembrança deitada na cama”, “formas avantajadas”, “a bunduda do sindicato”. Dá nome, sobrenome e profissão de algumas das mulheres que amaram Dirceu. De outras, o primeiro nome ou só a ocupação. “Empresária”, por exemplo. Por quê? Talvez por incerteza. Talvez por covardia. O que sobressai é a alusão melíflua, e não a afirmação direta.

Em compensação, eis uma afirmação direta de Otávio Cabral sobre profissionais de sua área, o jornalismo: “Antigos companheiros de Ibiúna e de clandestinidade tinham posições de destaque na imprensa em meados dos anos 80, como Rui Falcão, que comandava a revista Exame, e Eugênio Bucci,diretor da Playboy.” Nem Falcão nem Bucci participaram do Congresso da une em Ibiúna. Oprimeiro porque não era mais estudante e o outro por ser criança. Eugênio Bucci jamais esteve na clandestinidade. Rui Falcão, sim, mas não foi “companheiro” de Dirceu: clandestino, militava em outra organização e noutra cidade. Bucci nunca foi diretor da Playboy. São cinco erros factuais numa frase. Algum recorde foi batido.

A Biografia tem dezenas de barbaridades semelhantes. Uma das melhores: Fernando Collor, na tentativa de se manter no Planalto durante a campanha pela sua destituição, conclamou o povo a ir às ruas com roupas pretas para defendê-lo, e todos foram de verde-amarelo. Como todo mundo sabe, ocorreu o contrário. Collor incitou a população a se vestir de verde-amarelo e o Brasil foi tomado por manifestantes de preto.

Otávio Cabral tem mania de comidas e bebidas. Seguem-se exemplos do livro. “Frango ao molho pardo brasileiro, cozido e com um saboroso molho à base de sangue da própria ave.” “Molho ultrapicante, com pimentas, amendoim, canela e amêndoa.” “Os melhores runs.” “Coxinha, feijoada e doce de jaca com canela.” “Moqueca de peixe, cerveja e cachaça dominaram a noite.” “Cálices de vinho de sobremesa italiano.” “Coelho a Los Fubangos.” “Bacalhau assado à moda do Minho, arroz de marisco e chanfrana de cabrito.” “O refrescante vinho verde português Alavarinho Deu la Deu, escolhido a dedo para aplacar o calor.” “Toucinho do céu, tradicional doce português à base de gemas de ovos.” “Comeram pato laqueado, tomaram vinho e deram boas risadas.” “Cachaça Havana e champanhe Dom Pérignon.” “Filé com creme de mostarda, cebola, ervilha, presunto e batata palha.” “Vinho Romanée-Conti, safra de 1997.” “Comeu galeto e bebeu o vinho tinto italiano Brunello di Montalcino.” Chega?

Tem mais. “Risoto de carne-seca na moranga, acompanhado de um Chardonnay brasileiro.” “De sobremesa, goiabada com queijo e champanhe.” “Vinhos renomados, como o Almaviva chileno.” “Bufê com uísque e champanhe.” “Mal tocou no salmão grelhado.” “Pegou uma garrafa de rum cubano.” “O vinho melhoraria seu humor.” “Duas doses de bourbon antes de dormir.” “Algumas garrafas de vinho mais tarde.” “Ravióli de foie gras, coquilles Saint-Jacques com trufas e endívias caramelizadas e lombo de javali com risoto de aspargos.” “As taças abastecidas sem intervalo com os melhores espumantes brancos e tintos da região.” “O compromisso teve cordeiro patagônico e um excelente Malbec no restaurante Barricas de Enopio.” Basta?

Pois ainda tem cupim, salada de batata, Cabernet Sauvignon chileno, paella, presunto de Parma etc. etc. etc. Mas é melhor parar porque esse cordeiro patagônico desceu mal. O Barricas de Enopio não é mais o mesmo.

Em menor grau, o livro é obcecado por novelas e futebol. São inúmeras as referências a tramas e atores do horário nobre. Todas descabidas, porque José Dirceu não acompanha novelas. Ele gosta de futebol, mas não mais que um torcedor típico. Apenas uma das referências futebolísticas tem sentido político, o jogo da Seleção Brasileira contra a do Haiti, em Porto Príncipe, em 2004. De fato, Dirceu – com Ricardo Teixeira e o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, apelidado de Kakay – pelejou pela organização do chamado Jogo pela Paz.

Se não discute o apoio de Dirceu à intervenção brasileira no Haiti (uma posição contrária à da esquerda ortodoxa), Cabral descreve com detalhes a viagem da “comitiva liderada por Lula e Dirceu”. Fala que os dois foram ao Estádio Nacional “num caminhão de bombeiros, junto com astros do futebol brasileiro como Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo Fenômeno. Dirceu tirou fotos com todos antes de entrar no veículo”. Conta que “às quatro da tarde, o Hino Nacional Brasileiro foi tocado e Dirceu chorou”. No segundo tempo, o goleiro Fernando Henrique substituiu o titular e, prossegue Cabral, “assim que viu o homônimo do ex-presidente entrando em campo, Dirceu virou-se para Kakay e ironizou: ‘Bem que esse Fernando Henrique podia tomar um gol. Aí a festa vai ser perfeita.’” É um belo relato.

Exceto pelo seguinte: José Dirceu não foi ao Haiti ver a partida.

Não era necessário entrevistar o biografado para saber que ele não assistiu ao Jogo pela Paz (procurado, Dirceu não deu nenhuma informação para esta resenha). Não há referências ao então chefe da Casa Civil nas copiosas reportagens sobre Lula e sua comitiva no Haiti. Foi feito um documentário sobre a partida, O Dia em que o Brasil Esteve Aqui, com mais de uma hora de duração, no qual Dirceu está ausente do jogo. Poder-se-ia perguntar a Lula, a Ricardo Teixeira, a Kakay, aos jogadores, às pessoas da comitiva, a todos que lá estiveram, se José Dirceu compareceu. E eles diriam: não, José Dirceu não foi ao Haiti. Em vez de trabalhar, Otávio Cabral preferiu a invencionice delirante.

Washington Post tem novo dono

Deu hoje na coluna do Pedro Dória, no Globo.

história se repete no ‘Post’

Exatos 80 anos depois, novamente o jornal à beira do colapso é comprado por um milionário que deseja reinventá-lo

Em 1933, o milionário americano Eugene Isaac Meyer comprou um jornal à beira da falência na capital, Washington. Era o “Post”. Durante a crise financeira dos anos 1920, Meyer havia feito fortuna na Bolsa. No pior período da crise, dirigiu o Fed, Banco Central. Exatos 80 anos depois, seu neto vende o mesmo jornal, que enfrenta pesadas dificuldades financeiras. Não é, portanto, a primeira vez que isso ocorre na história de um dos mais importantes e tradicionais títulos da imprensa americana. E esta é uma história que conta muito. Sobre como bilionários convivem com a imprensa tradicional por lá, sobre como a imprensa tradicional se relaciona com o Vale do Silício, sobre como o jornalismo sobrevive.

Eugene Meyer não teve sucesso à frente do “Washington Post”. Ao menos não no quesito financeiro. A empresa só se tornou novamente rentável na década de 1950. O velho financista, porém, investiu muito no jornal. Transformou-se numa paixão compartilhada com o genro, Phil Graham. Curiosamente, não foi para sua filha Katherine, mas sim para o marido dela, Phil, que Meyer deixou o jornal.

O maior acerto da carreira de Graham foi a indicação de Ben Bradlee para dirigir a redação, em 1968. Naquele ano, o “Post” levara um furambaço do “New York Times”, que publicou os documentos do Pentágono, provando que o governo dos EUA sabia que o conflito no Vietnã daria errado, mesmo enquanto enviava mais soldados. Dois jovens repórteres, ao longo de todo o ano de 1972, cuidadosa e lentamente, publicaram uma série de reportagens que no conjunto se tornou o escândalo Watergate. O presidente Richard Nixon se viu obrigado a renunciar. O trabalho investigativo sob a batuta de Bradlee, bancado primeiro por Phil Graham e, posteriormente, por sua viúva Kate Graham, se tornou o símbolo máximo do que é jornalismo de qualidade.

Na carta que enviou aos funcionários do “Post”, Jeff Bezos incluiu: “quero pontuar duas formas de coragem que os Grahams têm mostrado. A coragem de dizer ‘espere, vamos com calma, busquemos outra fonte para confirmar’ e a coragem de continuar a insistir numa história, não importa quão alto leve.” Há ecos nítidos de Watergate aí.

Bezos não é meramente o idealizador e fundador da Amazon. Já seria muito, evidentemente, reinventar o comércio no século XXI. Ele também foi um dos primeiríssimos investidores no Google. Depositou na conta de Sergei Brin e Larry Page um cheque de US$ 250 mil dólares quando, para os jovens estudantes, aquilo era uma fortuna. Jeff Bezos sabe exatamente o que está fazendo.

Dificilmente espera fazer fortuna como dono de um jornal. Mas provavelmente espera fazer dinheiro. A pista para explicar a compra está em outra carta. Aquela escrita por Don Graham, filho de Kate e Phil, neto de Eugene. “Nosso objetivo como donos foi sempre de que a posse deveria ser boa para o “Post”. Nossa única saída seria cortar custos e sabíamos que havia um limite para isto.”

Exatamente como ocorreu há 80 anos, o “Post” precisa de um investidor com bolsos fundos o suficiente para sobreviver à tormenta, se reinventar e não deixar um único minuto de fazer bom jornalismo. Às vezes, cortar não é a solução. Pelo contrário. Cortar, muitas vezes, precipita um fim que não é necessário. Bezos traz tanto o bolso fundo quanto a qualificação para reinventar um jornal sem, espera-se, perturbar a qualidade do jornalismo que produz. Segue, assim, o exemplo do homem mais rico do mundo, Warren Buffett, que comprou o jornal de sua cidade natal. Para investir nele.

Por sua vez, Don Graham sabe exatamente para quem está vendendo. Ele conhece muito o Vale do Silício e a indústria de tecnologia. É um dos mentores de Mark Zuckerberg, criador do Facebook. Circula por aquele mundo já há vários anos. E Bezos é uma companhia frequente.

Impossível dizer o que ocorrerá nos próximos anos. Mas alguém que sabe fazer dinheiro na internet agora é dono de um dos mais importantes jornais do mundo. Vai ter muita gente de olho no que faz. Para quem se preocupa com jornalismo, a notícia é boa.

sábado, 3 de agosto de 2013

Sobre o Fora do Beiço, Mídia Ninja, Pós TV e Fora do Eixo

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As aulas recomeçam na segunda e estamos de volta, firmes e fortes. Muito interessante este artigo do Álvaro Pereira Júnior publicado hoje no caderno "Ilustrada" da Folha de S. Paulo.

Fora do Beiço
Humor intencional e humor involuntário em torno do coletivo que dá abrigo à Mídia Ninja

"Ator de Jiraya' vem ao Brasil e treina Mídia Ninja do Fora do Eixo." "Frente fria chega ao sudeste e congela cachês de artistas do Fora do Eixo." "Pablo Capilé oferece asilo a Edward Snowden na Casa Fora do Eixo."

Já deu para perceber qual o principal alvo do site de humor forado beico.tumblr.com: o coletivo artístico Fora do Eixo. Originário de Cuiabá, liderado pelo publicitário Pablo Capilé, o FdE é hoje uma potência nacional, baseada em São Paulo na casa que leva o nome da organização.

O Fora do Beiço faz mais vítimas, como se vê por estas outras manchetes: "Parapsicólogos alertam para o perigo de foto hipnotizante de Caetano"; "No Rio, papa Francisco promove caônização' [sic] de Criolo".

Velhos e novos ídolos da MPB, a cena indie estatal, o noticiário político, os fatos musicais: nada escapa da "razzia" bem-humorada do Fora do Beiço.

Em um texto sobre um suposto encontro do papa com o rapper messiânico Criolo, um trecho sublime: "Num papo franco, o papa Francisco descobriu afinidades com Criolo --ele é jesuíta, que catequiza os índios, e Criolo é augustino (que vem de Augusta'), e catequiza os indies".

Nas últimas semanas, a cena que gira em torno do Fora do Eixo, tão zoada pelo Fora do Beiço, ganhou evidência. Foi graças à Mídia Ninja, um grupo, aninhado no FdE, de jornalistas não remunerados, que vêm cobrindo como "insiders" as manifestações recentes pelo Brasil.

No Rio e em SP, apesar do amadorismo e da completa falta de isenção, marcaram gols jornalísticos. Estavam onde a "grande mídia" não conseguia estar, ajudaram a derrubar mentiras da PM. Tornaram-se, com mérito, assunto internacional.

A Mídia Ninja é um dos braços de uma televisão na internet operada pelo Fora do Eixo, a Pós TV. É por isso que me lembrei do Fora do Beiço para abrir este texto. Porque acompanho a Pós TV desde o começo, em 2011. Trabalho em televisão, procuro seguir as novidades. E é só com bom humor que dá para falar de uma coisa tão malfeita.

Pode ter sido falta de sorte, mas nas dezenas de vezes em que tentei ver a Pós TV, o que encontrei, de tão primário, deveria se chamar Pré TV. Áudio e imagens sofríveis. O conteúdo, de um tédio abissal.

Tirando as transmissões recentes dos ninjas, nunca vi um programa que não fosse: a) discurseira; b) debate ou entrevista em que todos têm a mesma opinião.

Como se dirige aos já convertidos (seus programas são vistos por poucas centenas de pessoas), a Pós TV não tem nenhuma preocupação de contextualizar. Os convidados passam horas falando sem ser identificados. Ou pelo menos passaram nos programas que segui.

Pena que o "Fora do Beiço" não deve ter assistido a um dos eventos mais curiosos da história recente da Pós TV. Ele seria capaz de descrevê-lo com muito mais humor. Foi logo depois do primeiro "streaming" de grande repercussão da Mídia Ninja.

No dia 18/6, já no estertor de uma manifestação gigantesca em SP, marcada por agressões à "grande imprensa", houve um conflito brutal entre manifestantes e a PM na rua Augusta. Nenhuma outra TV estava lá. A Mídia Ninja fez uma transmissão eletrizante, e digo isso sem nenhuma ironia.

No dia seguinte, o responsável pelo trabalho foi entrevistado na Pós TV. O apresentador fez uma rápida introdução e mandou a primeira pergunta. O rapaz só fez desfilar o jargão prolixo do Fora do Eixo.

Em poucos segundos, o próprio entrevistador pareceu perder o interesse: começou a ler e digitar em um iPad. Depois de uns cinco minutos, o ninja parou finalmente de falar, o apresentador disse algo, o ninja retomou o discurso, o entrevistador voltou ao iPad e eu fechei o computador.

No sentido contrário da diversidade que o FdE apregoa, a linha da Pós TV me parece monolítica: propagar a ideologia digital-coletivista da organização. Se alguma vez apresentou uma voz dissonante, eu infelizmente perdi.

De tão fraca e cheia de si, a Pós TV acaba fazendo humor involuntário. Bem diferente do Fora do Beiço, que não leva ninguém a sério. Até o slogan da conta no Twitter ironiza o jeito FdE de falar: "Semeando parcerias e polinizando a fertilidade efervescente culturo-colaborativa. Coletivamente falando".


Não faço ideia de quem é o gênio que escreve. Merece um programa on-line. Não na Pós TV, claro.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Que bela página!


Linda essa página do caderno "Comida" da Folha de S. Paulo de hoje. Especial para os meus alunos de Secretaria Gráfica.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Jornalismo com paixão

Taí, gostei deste texto do Carlos Alberto Di Franco publicado na íntegra pelo Estadão e reproduzido com cortes no Globo. Recomendo aos meus alunos e ex-alunos.

"Prendo a respiração, tento puxar o ar pela boca, mas o cheiro dos cadáveres em decomposição invade todos os meus sentidos. Volto alguns passos, penso em não olhar. Mas, como jornalista, sinto o dever de escancarar a realidade crua. Na escola, há pelo menos dez corpos insepultos, na quadra de futebol, ao sol. Pobreza, porcos misturados a pães, arroz e bananas e trânsito confuso sempre fizeram parte do dia a dia dos haitianos. Até o cheiro forte da comida temperada e exótica é antigo conhecido dos brasileiros. A diferença, agora, é que tudo isso está misturado ao cheiro de morte. Assim é o Haiti. Homens e mulheres que podem sofrer tragédias violentas uma ou duas vezes, ou até três - e depois sofrer ainda mais."

O relato em primeira pessoa do jornalista Rodrigo Lopes, repórter multimídia e correspondente internacional do Grupo RBS, mostra a garra da reportagem de qualidade. A adrenalina da guerra, o infindável sofrimento de povos castigados pela força misteriosa da natureza, o registro de momentos de admirável grandeza moral, um impressionante mosaico do drama humano, batem forte no leitor. O texto está despido de sensacionalismo, mas carregado de paixão. E o que seria do jornalismo se faltasse o fascínio do repórter por seu ofício? Rodrigo Lopes, um jornalista jovem e tarimbado, não é um espectador neutro da história. Ainda bem. Derramou lágrimas. Manifestou indignação. Vibrou com fagulhas da vida humana. Guerras e Tormentas (Besouro Box Edições) é um mergulho do repórter nos principais acontecimentos deste início de século. Vale a pena.

A capa do livro

"23h do dia 5 de abril, uma terça-feira. Sentado no chão gelado de paralelepípedos da Via della Conciliazione, sinto-me como uma ilha, cercada de gente por todos os lados. Para onde olho, há pessoas chorando, rezando, cantando." A multidão passa diante do corpo do papa. "São 5h48m. Um arrepio percorre o meu braço direito. Estático a dois metros de João Paulo II, é como se o tempo parasse. Os fiéis passam por mim. Prendo o passo, ando devagar, para que o guarda não perceba que quero ficar mais tempo. Ganho uns 15 segundos extras. Mas não é mais possível ficar. Um segurança se aproxima e interrompe meu êxtase. Proibido celular - ele diz. Os 10 minutos mais emocionantes da minha vida se encerram em duas frases, ao vivo para o sul do Brasil: Tenho que desligar a pedido de um segurança. Voltamos a qualquer momento... Sigo caminhando, à direita do caixão. Tempo apenas para uma foto. Ao sair da basílica, o azul matutino do céu de Roma se abre na praça. Meu telefone toca: Seu f.d.p, me fez chorar! Do outro lado da linha, Luciano Wilson, meu amigo de infância, o Jesus das encenações da via-sacra do nosso bairro, nos tempos do grupo de jovens da igreja."

Luciano representa a cabeça do leitor médio. Ninguém resiste à magia da reportagem. Os jornais, prisioneiros das regras ditadas pelo marketing, estão parecidos, previsíveis e, consequentemente, chatos. Precisam, com urgência, recuperar a capacidade de surpreender e emocionar o leitor.

A revalorização da reportagem e o revigoramento do jornalismo analítico devem estar entre as prioridades estratégicas das empresas de comunicação. É preciso seduzir o leitor com matérias que rompam com a monotonia do jornalismo declaratório. Menos Brasília e mais vida. Menos aspas e mais apuração. Menos frivolidade e mais consistência. Além disso, os leitores estão cansados do baixo-astral da imprensa brasileira. A ótica jornalística é, e deve ser, fiscalizadora. Mas é preciso reservar espaço para a boa notícia, para o empreendedorismo, para a inovação. Tem muita coisa interessante acontecendo. A boa notícia existe. E vende jornal. O leitor que aplaude a denúncia verdadeira é o mesmo que se irrita com o catastrofismo que domina muitas de nossas pautas.

Precisamos, enfim, combater a síndrome ideológica que ainda persiste em alguns guetos anacrônicos. Seu exemplo mais acabado é a patologia dos rótulos. Alguns jornalistas não perceberam que o mundo mudou. Insistem, teimosamente, em reduzir a vida à pobreza de quatro qualificativos: direita, esquerda, conservador, progressista. Tais epítetos, estrategicamente pendurados, têm dupla finalidade: exaltar ou afundar, gerar simpatias exemplares ou antipatias gratuitas. A boa reportagem é sempre substantiva. O adjetivo é o adorno da desinformação, o farrapo que tenta cobrir a nudez da falta de apuração. É, frequentemente, uma mentira.

A apuração de faz de conta representa uma das maiores agressões ao leitor. Matérias previamente decididas em redutos sectários buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não se apoia na busca da verdade. É um artifício para validar a premissa que se quer impor. O pluralismo de fachada, hermético e dogmático, convoca pretensos especialistas para declarar o que o repórter quer ouvir. Mata-se a reportagem. Cria-se a versão.

É importante que os repórteres e os responsáveis pelas redações tomem consciência desta verdade redonda: a imparcialidade (que não é neutralidade) é o melhor investimento. O leitor quer informação clara, corajosa, bem apurada. Não devemos sucumbir à tentação do protagonismo. Não somos construtores de verdades. Nosso ofício, humilde e grandioso, é o de iluminar a história.

Inúmeras foram as reflexões suscitadas pelo excelente texto do repórter Rodrigo Lopes. O leitor, em qualquer plataforma, evita os produto sem alma. Recusa as tentativas de engajamento ideológico. Quer matérias interessantes, pautas próprias. Quer menos burocracia e mais criatividade. Quer menos jornalismo de registro e mais reportagem de qualidade. Quer um jornalismo rigoroso, mas produzido com paixão.

* Carlos Alberto di Franco é doutor em comunicação pela Universidade de Navarra e diretor do departamento de comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais.


e-mail: difranco@iics.org.br.

domingo, 30 de junho de 2013

#vemprarua, velha Imprensa

Muito interessante o artigo da ombudsman Suzana Singer na Folha de hoje. Boa reflexão para todos nós, especialmente para os jovens jornalistas. Reproduzo também o artigo do Marcelo Coelho citado por ela.

#vemprarua, Folha
A imprensa precisa inventar um modo de captar as mudanças de humor da sociedade e também de cobrir o que está fora das instituições
A inesperada explosão de descontentamento que se vê nas cidades mostra que alguma coisa precisa mudar no jornalismo tradicional. Como ninguém percebeu que o clima estava tão pesado?

As pesquisas que apontavam uma alta aprovação da presidente e os bons índices de emprego pareciam indicar que, apesar da inflação e da economia fraca, estava "tudo bem". Imaginava-se que a Copa das Confederações aumentaria a sensação de bem-estar, já que, diz o senso comum, o futebol sempre adiciona um ingrediente de orgulho nacional ao momento político.

A multidão, com seus gritos de protesto, deu um "looping" nessas certezas e deixou evidente que os canais da imprensa são insuficientes para captar as mudanças de humor na sociedade.

Fosse um movimento que tivesse nascido nas franjas da cidade, a surpresa seria mais compreensível. Mas o gatilho das manifestações foi acionado pelos jovens de classe média urbana, público teoricamente próximo a um jornal como a Folha.

Em sua coluna "A vez da mídia", na "Ilustrada" de quarta-feira passada, Marcelo Coelho afirma que as pessoas que se manifestam nas ruas e nas redes sociais "se sentem mal representadas na mídia tradicional". Entre outros fatores, Coelho cita um "abismo geracional", que ele identifica na falta de jovens escrevendo no jornal ou sendo entrevistados para comentar o movimento.

Rejuvenescer o corpo de colunistas poderia ajudar a criar uma sintonia maior com as ruas, mas, com certeza, não basta. Um monitoramento mais profissional das redes sociais também é um caminho, já que elas mostraram a sua força nas mobilizações pelo país.
É preciso aprender a interpretar as ondas no Facebook e no Twitter, separando o que é realmente importante do que é espuma. Trata-se de tornar realidade o pretensioso slogan da mais recente campanha publicitária do jornal em que uma garota diz: "A Folha segue o que eu penso e o que eu não penso. A Folha me segue. Eu sigo a Folha".

Não é uma tarefa fácil porque implica inventar um modo de cobrir aquilo que está fora das instituições. Para entender o que querem os manifestantes, não adianta ligar para sindicatos, agremiações estudantis ou partidos políticos. Não há nem lideranças definidas, o que subverte a lógica da reportagem política.

Perdida, a imprensa não se cansa de reproduzir os cartazes desenhados para as passeatas, na esperança de decifrar, por meio desses pedaços de papel, um fenômeno tão novo. Além de chacoalhar as diferentes instâncias de poder, a moçada do #vemprarua deu um nó na cabeça dos jornalistas.

EM RITMO FRENÉTICO
Não está fácil fazer jornalismo nas últimas semanas. Desde que os protestos tomaram o país, o noticiário muda em ritmo de montanha-russa. Num dia, é fundamental explicar o que seria uma Assembleia Constituinte exclusiva para a reforma política; 24 horas depois, essa proposta já tinha sido engavetada.

Em dois dias, o Congresso tomou mais decisões do que nos últimos seis meses. A PEC 37, que limitaria a ação do Ministério Público, foi enterrada sumariamente. Votaram a destinação dos royalties do petróleo e também o projeto de tornar a corrupção um crime hediondo.

Até o Supremo Tribunal Federal foi sacudido: determinou a prisão imediata de um parlamentar. A prefeitura cancelou a licitação de ônibus em São Paulo e o Estado anunciou que não aumentará o pedágio.

Essas respostas imediatas ao que se supõe que queiram os manifestantes formam uma miríade de medidas difícil de ser discutida em pouco tempo. Cabe aos jornais, onde há maior espaço para a reflexão, aprofundar o debate e mostrar que nem tudo é tão bom quanto parece.

Segurar o pedágio não é uma forma de subsidiar o transporte individual? De onde o governo vai cortar os R$ 50 bilhões que irão para projetos de transportes? Mais verbas são a saída para melhorar a educação?

Da mesma forma que os políticos reagiram à urgência criada pelo clamor popular, o jornal precisará "mostrar serviço". É hora de fazer a diferença, analisando cada assunto sem entrar num clima de "agora o Brasil vai pra frente".

O artigo do Marcelo Coelho:

A vez da mídia
Se o pensador mais ousado da Globo se chama Arnaldo Jabor, talvez seja momento de uma autocrítica

Partidos, Congresso, sindicatos, governantes --não há instituição democrática que não esteja sob o foco de críticas. Falta falar de outra instituição, a imprensa. Ou "a mídia", como prefere dizer quem já se põe no campo de ataque.

Acho que há três pontos a destacar. Em primeiro lugar, a ideia de que as redes sociais, como o Facebook, aposentaram a mídia tradicional. De um ponto vista, faz sentido. De outro, não.

Claro que, graças ao Facebook, foi possível avaliar, por exemplo, se valeria ou não a pena participar da manifestação de segunda-feira passada, dia 17 de junho. Quanto mais adeptos no mundo virtual, mais se sente que o momento de passar à vida real já chegou.

Não é tão claro o raciocínio de que, com as redes, elimina-se a função dos jornais e das empresas de comunicação. Muito do que se compartilha no Facebook, em termos de notícia e opinião política, tem origem nos órgãos jornalísticos organizados, sejam impressos, audiovisuais ou da própria internet.

Passo com isso ao segundo ponto. Quem está protestando contra o pastor Feliciano, a PEC 37, Renan Calheiros, os gastos da Copa, e outros mil problemas, teve sua indignação despertada pelas notícias dos jornais e da TV.

São as reportagens de sempre, com sua rotina de sempre, que acumularam essa insatisfação contra o sistema político. E, se a mídia noticiou os casos de vandalismo, também foram indispensáveis para mostrar os abusos policiais.

A imprensa sai então glorificada dessas movimentações? Com toda evidência, não. Houve ataques contra emissoras de TV e contra repórteres respeitabilíssimos, como Caco Barcellos. Há mais.

Acredito que, graças à conquista de um poder de autoexpressão possibilitado pela internet, as pessoas que se manifestam nas ruas e nas redes se sentem mal representadas na mídia tradicional.

Em parte, a "crise de representação" que se verifica no caso de partidos e Congresso se reflete nas relações entre imprensa e cidadãos.

Existe a sensação, claro, de uma desigualdade de poder de fogo: grandes empresas de comunicação podem mais do que sites e blogs isolados.

Há também um abismo geracional. Incluo-me entre os que envelheceram. E olhe que à minha volta, nos chamados formadores de opinião, nos analistas, comentaristas, sociólogos, filósofos, urbanistas, técnicos e economistas que, sempre os mesmos, são os entrevistados nessa época, a maioria está na ativa desde que eu era criança...

Quando o pensador mais ousado e "irreverente" da Globo se chama Arnaldo Jabor, talvez seja o momento de uma autocrítica.

A alienação, o distanciamento entre a imprensa e os manifestantes se dá em outros níveis também. Ao voltarem-se contra governantes, as passeatas denunciam o contraste entre o mundo oficial, movido a discursos eleitorais, planilhas técnicas e blá-blá-blá de marqueteiros, e uma realidade cotidiana da qual todos se esquecem assim que assumem o poder.

É injusto dizer que um jornal como a Folha se esquece de apontar falhas na saúde, nos transportes e na educação. Ao contrário, isso é noticiado todo dia, com investigação e detalhe.

Mas, assim como os políticos só parecem acordar para o interesse público às vésperas da eleição, também os jornais concentram-se excessivamente, a meu ver, no calendário eleitoral. Não há dia --mesmo nestas últimas semanas-- em que não saiam notícias sobre as movimentações de Aécio e Eduardo Campos, ao lado dos clássicos prognósticos de que Dilma vai se reeleger se a economia não piorar muito.

A rotina desse tipo de cobertura mata os jornais, e interessa a pouquíssimas pessoas. As próprias reportagens sobre corrupção e mazelas administrativas me parecem difíceis, chatíssimas de ler.

Há a obrigação de revelar dados, estatísticas etc., sem o que estaríamos retrocedendo a um jornalismo da Idade da Pedra. Ao mesmo tempo, acho que isso trouxe um risco de rotinização e tecnicalismo que afasta o leitor --e não adianta "emburrecer" a linguagem para trazê-lo de volta.

Chamo "emburrecer" o processo que leva à elaboração de boxes, por exemplo, dizendo "entenda o que é o mensalão", "entenda o que é reforma política" ou coisa parecida. "Entenda, é sua última chance".... Mas os manifestantes destes dias parecem estar entendendo mais do que se pensa.
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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Eliane Brum, uma aula de Jornalismo


Especialmente para meus alunos e ex-alunos. Acabo de ler o delicioso "A vida que ninguém vê", de Eliane Brum, uma das melhores repórteres do Brasil (se não for a melhor, incluindo aí os homens). Esse livro é antigo, de 2006, mas só agora consegui ler. Li também "O olho da rua".


Aulas de jornalismo na veia.

Curioso que na página 190 deo "A vida que ninguém vê", ela escreve: "(...) tenho a pretensão de que este livro seja lido nas faculdades de Jornalismo (com J caixa alta". Esse vai ser; o "Olho da rua" foi lido para os meus alunos há alguns dias. Alguns trechos, claro. Na página 195, Eliana diz que teve um Mestre (de verdade, não de "papel passado") na faculdade, Marques Leonam (seu parente, Mestre Carlos Leonam?). O cara dizia pra ela: "Lei Leonam número um: repórter não tem o direito de ser ingênuo.Lei Leonam número dois: repórter não tem o direito de ser ingênuo".

Caracolis! Este humilde jornalista e prof que escreve estas mal traçadas diz isso há anos. Tomara que algum ex-aluno aqui se lembre disso. E olha que estou muito longe de ser o Eliane Brum de calça comprida. No posfácio outro Mestre de verdade, Ricardo Kotscho, escreve sobre Eliane: "Escalada para cobrir a inauguração do primeiro Mc Donald´s de Porto Alegre (...) Eliane encontrou o primeiro filão que a diferenciaria dos outros repórteres. Em vez de fazer o registro burocrático habitual, ela puxou conversa com os aposentados que frequentavam a praça (...). Eliana procurava fugir da vala comum da pauta, cavando sua própria história".

Muitas vezes meus alunos me perguntam: "O que é um bom repórter?", "O que é um bom texto?". É Eliane Brum. Como no exemplo da página abaixo.


Tem outro livro da Eliane que não li e que não consigo encontrar, "Coluna Prestes, o avesso da lenda" (esgotado).


E outro que vai sair agora no final do mês de junho (escrevo em 19 de junho de 2013) e que já encomendei pela internet, "A menina quebrada".




sábado, 15 de junho de 2013

O Jornal impresso está vivo. Viva o Jornal!

Para ler é só passar a mãozinha

Interessante. Deu hoje no Globo.

Jornalismo e livro digital: o novo casamento da Mídia


Para ler é só passar a mãozinha nas imagens

Deu hoje no Globo. Interessante. Recomendo a leitura.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Celulite de Maria Sharapova gera polêmica

Deu domingo na coluna da Suzana Singer, da Folha.

A CELULITE DA CAMPEÃ
Folha sentiu a força e a fúria das redes sociais nesta semana. Uma nota machista na "FolhaCorrida" virou assunto na internet e resultou em 172 mensagens ao jornal.
Acima da foto da tenista Maria Sharapova, que mostrava um pouco de celulite na sua coxa, saiu o título "Quase Perfeita" e um texto dizendo que a tenista "supera a chuva, mas não a celulite".
As leitoras ficaram furiosas. Em vez de pedir desculpas pela grosseria, a Redação justificou-se dizendo que "foi uma tentativa de usar humor com a imagem da atleta, que tem status de celebridade não só pelos resultados em quadra mas também por sua aparência".
Os moços da Redação deveriam prestar mais atenção a uma das máximas do colunista Xico Sá: "homem que é homem não sabe, nem procura saber, a diferença entre estria e celulite".

E o passaralho passou na Folha!

Deu na coluna da Suzana Singer, ombudsman da Folha.
Desequilíbrio
Folha elimina 24 vagas e fecha 'Equilíbrio', de olho num futuro de "Redação enxuta e jornal menor"
Folha enterrou o caderno "Equilíbrio", concebido há 13 anos com a promessa de ajudar o leitor a viver com "menos estresse".
O que era um tabloide semanal de oito páginas sobre saúde e comportamento, com seis colunistas, vira um arremedo do que foi, agora publicado como uma página em "Cotidiano", nos mesmos moldes do "Folhateen" na "Ilustrada".
O fim do suplemento foi anunciado num corte que incluiu o fechamento de 24 vagas na Redação (6% do total) e o desligamento da colunista Danuza Leão. É a segunda leva de demissões em um ano e acontece na sequência das feitas pelo "Estado de S. Paulo" e pelo "Valor" --a Editora Abril começou sua "reestruturação" na sexta-feira passada.
Parece que os jornalistas brasileiros estão vivendo o pesadelo que os colegas americanos enfrentaram nos últimos anos. Nos EUA, onde se registrou queda violenta da circulação e da receita publicitária, as vagas nas Redações de jornais encolheram 26% desde 2007.
Hoje, esses veículos empregam 40.600 profissionais, um pouco menos do que em 1978, quando eram 43.000. É um retrocesso de 35 anos.
A sangria dos anunciantes do impresso, nos EUA e na Europa, não vem sendo compensada pela publicidade na internet. Os jornais americanos calculam que, para cada dólar ganho com publicidade nos seus sites, tenham sido perdidos US$ 15 no impresso (dado de 2012).
A situação é melhor na Ásia, graças ao crescimento de vendas de jornais na China e na Índia.
Por aqui, os jornais não cansam de divulgar dados otimistas sobre si mesmos. A Folhapublicou, em março, que a publicidade em jornais cresceu 0,7% no ano passado. Segundo o "Estado", a circulação geral aumentou 1,8% nesse período.
Se está tudo bem, por que sacrificar o produto? A Secretaria de Redação diz que o caderno "Equilíbrio" foi extinto porque "não era mais viável economicamente".
Sobre as demissões, afirma que "o fraco desempenho da economia obrigou a Folha a fazer ajustes pontuais em suas despesas".
Segundo a Secretaria de Redação, "o crescimento da receita publicitária é menor que a inflação" e o aumento de circulação veio principalmente dos "jornais populares".
A situação econômica da Folha é boa, a empresa não tem dívidas, mas, segundo a direção, "as Redações do futuro deverão ser cada vez mais enxutas, assim como o produto impresso".
É uma fórmula difícil de dar certo: estruturar um jornal menor, mas mais sofisticado para fazer frente às informações gratuitas oferecidas na internet, com uma equipe reduzida e menos experiente, encarregada também de manter um site de notícias 24 horas.
Enquanto um novo modelo de negócio não se impõe, é assim que as empresas de mídia estão tocando o barco. Aos que acreditam que o jornalismo de qualidade faz bem à democracia resta torcer para que a travessia dê certo.
Aos fãs de Rosely Sayão: a colunista continuará escrevendo na página de "Equilíbrio", no "Cotidiano".