JORNAL DO BRASIL E-mail para a condessa Por Jorge Antonio Barros em 20/7/2010 | |
Se houvesse correio eletrônico para o céu, gostaria de enviar um e-mail para a Condessa Maurina Pereira Carneiro, que foi a dona de um jornal que povoou o imaginário de gerações de jornalistas e leitores de jornal bem informados e sintonizados com seu tempo. Como nunca vivi, nas últimas 3 décadas, a experiência de ver um jornal diário se extinguir, exceto a Última Hora e a Tribuna da Imprensa, este é um e-mail-desabafo por conta da notícia triste que é publicada hoje no Globo: o Jornal do Brasil vai acabar em papel, e permanecer apenas na internet. Não se trata de uma posição de vanguarda, de forma alguma. Mas da dilapidação de um dos maiores patrimônios da história da imprensa brasileira e até mesmo mundial. Mas vamos à carta, antes que acabe o papel e se esgote a paciência do caro leitor. "Estimada Condessa Pereira Carneiro, Fui estagiário, repórter, repórter especial, chefe de reportagem e editor-assistente de cidade, do seu jornal,entre os anos de 81 a 88 e depois de 91 a 95. Venho por meio deste, mui respeitosamente, lhe dar essa triste notícia, em primeira mão. O Jornal do Brasil acabou em papel. Primeiro perdeu o tamanho standard e virou berliner. Já havia doído em mim aquela transformação. Eu sou da época em que jornal era grande e se lia com as duas mãos, dobrando em quatro partes, no ônibus, na praia ou no banheiro. Aprendi a ler jornal no seu matutino, ensinado por meu falecido pai, que insistia que eu começasse pela Coluna do Castello. Como eu não engrenava em assuntos complicados, comecei mesmo foi pelo Caderno B, o pioneiro suplemento de cultura, onde mais tarde admirei algumas das repórteres mais bonitas de uma redação, como Luciana Villas-Boas, Susana Schild, Norma Curi, Sonia Racy, Cleusa Maria, e alguns dos críticos mais fustigantes, como Wilson Coutinho, José Carlos Avellar, Macksen Luís, Luiz Paulo Horta, Tárik de Souza. Foi no seu jornal onde vivi as emoções do princípio no exercício do ofício de repórter, o mais puro e carregado de perplexidades, entre as funções do jornalismo. Na Avenida Brasil 500, no início dos anos 80, foi ali que escrevi a primeira reportagem, me infiltrei no primeiro presídio, dei o primeiro "furo jornalístico", levei o primeiro furo, convenci a primeira pessoa a fazer confidências, fiz a primeira entrevista, perdi o primeiro bloco de anotações, fui ao primeiro local de crime, cobri a primeira chacina, sofri a primeira ameaça, levei o primeiro processo, publiquei a primeira denúncia, cobri e aderi a primeira greve, fui enviado especial para cobrir a primeira guerra, acompanhei o primeiro escândalo em Brasília, a primeira posse de presidente da República, assim como seu impeachment, participei da primeira coletiva, ganhei o primeiro prêmio e, pela primeira vez, compartilhei de um trabalho em equipe, com um grupo extraordinário de jornalistas, que ensinavam a fazer jornalismo, enquanto se divertiam. Fui aprendiz de repórter com Luiz Mário Gazzaneo, Ronald Carvalho, Sérgio Fleury, Heraldo Dias, Hedyl Valle Júnior, Luciano de Moraes, Paulo Henrique Amorim, Marcos Sá Correa, Flávio Pinheiro, Celina Cortes - minha primeira professora - Bella Stal, Beth Marins, Valéria Fernandes, Xico Vargas, Carlos Rangel, Joaquim Ferreira dos Santos, Zuenir Ventura, Juarez Bahia, Wilson Figueiredo, Artur Xexéo, Altair Thury, Sandra Chaves, Maurício Dias, José Luiz Alcântara, Luarlindo Ernesto, Bruno Thys, Paulo Motta, Luiz Fernando Gomes, J. Paulo da Silva, Jairo Costa, Abel Mathias, Ubirajara Moura Roulien, Bartolomeu Brito, Ronaldo Braga, Milton Amaral, Mônica Freitas, Tânia Rodrigues, Carlos Peixoto, Christine Ajuz, Maria Alice Paes Barreto, Glória O. Castro, Deborah Dumar, Regis Farr, Israel Tabak, Fritz Utzeri, Joelle Rouchou, José Gonçalves Fontes, Orivaldo Perin, Dácio Malta, João Batista de Freitas, Ricardo de Hollanda, Almir Veiga, Evandro Teixeira, Vidal Cavalcanti, Rogério Reis, Kiko Nascimento Brito, Telmo Wambier, Luiz Paulo Coutinho, entre tantos outros que são traídos pela memória. No seu jornal foi onde comecei a perder a timidez ao lidar com pessoas e a gostar muito de tirar delas alguns segredos de interesse público. Senhora condessa, foi no seu jornal que eu iniciei como estagiário sem QI (Quem Indica), numa época em que ainda era possível um estudante de jornalismo conseguir uma audiência com o diretor de redação (Walter Fontoura), que me recebeu e me deu o estágio, depois que eu obtive a dica de um motorista, seu Cosme, que também já partiu dessa para melhor, como a senhora. Cosme estava ao volante de uma das Brasílias creme com o letreiro do Jornal do Brasil em preto, em frente ao antigo Rio Palace Hotel (hoje Sofitel), no Posto 6, quando me aproximei e perguntei como seria possível estagiar no JB, o jornal da minha infância. Eu era panfleteiro de uma joalheria e estudava à noite. A Avenida Brasil 500 - que vai virar um hospital público - é um endereço inesquecível. Foi ali no seu jornal, condessa, que eu virei rato do departamento de pesquisa e da biblioteca. Que biblioteca! Eu adorava o espaço amplo da redação com grandes janelas de onde se podia avistar, de um lado, o Cais do Porto e, do outro, o trânsito do Elevado da Perimetral. Um dia, ali, o fotógrafo Carlos Hungria fez a fantástica foto de um policial rapinando galinhas, do caminhão particular para o carro da polícia. Eu não tinha carro, mas ouvia falar que muita gente gostava de namorar no estacionamento, entre uma reportagem e outra. É claro que eu preferia almoçar no Brito’s, o apelido do restaurante a la carte, em vez do bandejão. Brito era o sobrenome do dr. Nascimento Brito, genro da condessa, que assumiu a presidência do jornal. Foi ali que estive com muitas fontes que olhavam pro Jornal do Brasil com devoção hoje só comparável à de muita gente diante de uma grande emissora de TV. Num desses almoços, já como chefe de reportagem, conheci um jovem deputado arrojado que acabou virando governador. Foi lá também que eu a conheci, numa tarde de 1980, quando participava do projeto Jovem Jornalista, do professor Dimas, aberto a secundaristas, onde eu era "gato" porque não tinha mais idade para frequentar. A senhora era uma grande entusiasta de novos talentos, condessa. De modo geral, as corporações de hoje se ressentem desse olhar mais artesanal, uma espécie de convicção de que o negócio de comunicação não é apenas uma fábrica de salsichas, mas lida com valores um pouco mais profundos, nos quais o ser humano é o objetivo principal. Tudo bem, senhora condessa, eu tenho saudades. Tenho saudades até de um tempo que não vivi. Imagine dos anos que vivi no JB... Da dupla que formei com o fotógrafo Raimundo Valentim, com César ao volante. Das matérias com o fotógrafo Marco Antonio Cavalcanti. Dos amigos maravilhosos que fiz, que apesar da distância só nós sabemos o quanto nos une. Saudade de passar o dia na rua, batendo perna, e voltar no fim da tarde para escrever a matéria. Era a supremacia do papel, nem sonhávamos com computador. Era indescritível o barulho das máquinas de escrever, como uma sinfonia desorganizada e metálica, todas as tardes, no calor do fechamento. As laudas - o papel com medidas especiais para a impressão - com cópias em carbono, para deixar na chefia, na pesquisa e na Agência JB, que pagava uma merreca de direitos autorais, no fim do ano. Eu gostava tanto da minha Olivetti Lexikon 80, que até hoje sua imagem me acompanha como avatar no Twitter. Twitter, a senhora jamais imaginou, é aquilo que chamam de mídia social, onde todo mundo passou a ser dono da própria notícia e acreditar piamente que a qualquer momento jornal impresso vai se tornar algo obsoleto. Uma falácia. Jornais jamais vão acabar. Poderão apenas mudar de superfície. Mas tenho certeza de que vai doer, como a perda de um ente querido. Eu sou fanático por papel, tinta e letras." |
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Há 13 anos
2 comentários:
OLÁ PC GUIMARÃES,
GRANDE JB, QUE PENA!!!
PARABÉNS PELO DIA DO AMIGO.
ESPERO TORNAR-ME O SEU MAIS NOVO AMIGO VIRTUAL.
NA OPORTUNIDADE CONVIDO PARA QUE VENHA CONHECER O BLOG ”HUMOR EM TEXTO”.
SÃO CRÔNICAS DE HUMOR, SOBRE OS RELACIONAMENTOS HUMANOS SEM PALAVRAS CHULAS OU PORNOGRAFIA.
É UM BLOG QUE RESPEITA VOCÊ E MUITO MAIS AINDA O SEU COMENTÁRIO.
SOMOS UMA IMENSA FAMILIA DE SEGUIDORES O QUE VOCÊ IRÁ COMPROVAR FACILMENTE.
A CRÔNICA DESTA SEMANA É:
“FILHOS DA MESMA MÃE?”
SAIBA AS RAZÕES.
UM ABRAÇÃO CARIOCA.
Obrigado, Paulo. Seja bem-vindo. Parabéns pra vc também. Vou lá no Humor em texto.
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