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As aulas recomeçam na segunda e estamos de volta, firmes e fortes. Muito interessante este artigo do Álvaro Pereira Júnior publicado hoje no caderno "Ilustrada" da Folha de S. Paulo.
Fora do Beiço
Humor intencional e humor involuntário em torno do coletivo
que dá abrigo à Mídia Ninja
"Ator de Jiraya' vem ao Brasil e treina Mídia Ninja do
Fora do Eixo." "Frente fria chega ao sudeste e congela cachês de
artistas do Fora do Eixo." "Pablo Capilé oferece asilo a Edward
Snowden na Casa Fora do Eixo."
Já deu para perceber qual o principal alvo do site de humor
forado beico.tumblr.com: o coletivo artístico Fora do Eixo. Originário de
Cuiabá, liderado pelo publicitário Pablo Capilé, o FdE é hoje uma potência
nacional, baseada em São Paulo na casa que leva o nome da organização.
O Fora do Beiço faz mais vítimas, como se vê por estas
outras manchetes: "Parapsicólogos alertam para o perigo de foto
hipnotizante de Caetano"; "No Rio, papa Francisco promove caônização'
[sic] de Criolo".
Velhos e novos ídolos da MPB, a cena indie estatal, o
noticiário político, os fatos musicais: nada escapa da "razzia"
bem-humorada do Fora do Beiço.
Em um texto sobre um suposto encontro do papa com o rapper
messiânico Criolo, um trecho sublime: "Num papo franco, o papa Francisco
descobriu afinidades com Criolo --ele é jesuíta, que catequiza os índios, e
Criolo é augustino (que vem de Augusta'), e catequiza os indies".
Nas últimas semanas, a cena que gira em torno do Fora do
Eixo, tão zoada pelo Fora do Beiço, ganhou evidência. Foi graças à Mídia Ninja,
um grupo, aninhado no FdE, de jornalistas não remunerados, que vêm cobrindo
como "insiders" as manifestações recentes pelo Brasil.
No Rio e em SP, apesar do amadorismo e da completa falta de
isenção, marcaram gols jornalísticos. Estavam onde a "grande mídia"
não conseguia estar, ajudaram a derrubar mentiras da PM. Tornaram-se, com
mérito, assunto internacional.
A Mídia Ninja é um dos braços de uma televisão na internet
operada pelo Fora do Eixo, a Pós TV. É por isso que me lembrei do Fora do Beiço
para abrir este texto. Porque acompanho a Pós TV desde o começo, em 2011.
Trabalho em televisão, procuro seguir as novidades. E é só com bom humor que dá
para falar de uma coisa tão malfeita.
Pode ter sido falta de sorte, mas nas dezenas de vezes em
que tentei ver a Pós TV, o que encontrei, de tão primário, deveria se chamar
Pré TV. Áudio e imagens sofríveis. O conteúdo, de um tédio abissal.
Tirando as transmissões recentes dos ninjas, nunca vi um
programa que não fosse: a) discurseira; b) debate ou entrevista em que todos têm
a mesma opinião.
Como se dirige aos já convertidos (seus programas são vistos
por poucas centenas de pessoas), a Pós TV não tem nenhuma preocupação de
contextualizar. Os convidados passam horas falando sem ser identificados. Ou
pelo menos passaram nos programas que segui.
Pena que o "Fora do Beiço" não deve ter assistido
a um dos eventos mais curiosos da história recente da Pós TV. Ele seria capaz
de descrevê-lo com muito mais humor. Foi logo depois do primeiro
"streaming" de grande repercussão da Mídia Ninja.
No dia 18/6, já no estertor de uma manifestação gigantesca
em SP, marcada por agressões à "grande imprensa", houve um conflito
brutal entre manifestantes e a PM na rua Augusta. Nenhuma outra TV estava lá. A
Mídia Ninja fez uma transmissão eletrizante, e digo isso sem nenhuma ironia.
No dia seguinte, o responsável pelo trabalho foi
entrevistado na Pós TV. O apresentador fez uma rápida introdução e mandou a
primeira pergunta. O rapaz só fez desfilar o jargão prolixo do Fora do Eixo.
Em poucos segundos, o próprio entrevistador pareceu perder o
interesse: começou a ler e digitar em um iPad. Depois de uns cinco minutos, o
ninja parou finalmente de falar, o apresentador disse algo, o ninja retomou o
discurso, o entrevistador voltou ao iPad e eu fechei o computador.
No sentido contrário da diversidade que o FdE apregoa, a
linha da Pós TV me parece monolítica: propagar a ideologia digital-coletivista
da organização. Se alguma vez apresentou uma voz dissonante, eu infelizmente
perdi.
De tão fraca e cheia de si, a Pós TV acaba fazendo humor
involuntário. Bem diferente do Fora do Beiço, que não leva ninguém a sério. Até
o slogan da conta no Twitter ironiza o jeito FdE de falar: "Semeando
parcerias e polinizando a fertilidade efervescente culturo-colaborativa.
Coletivamente falando".
Não faço ideia de quem é o gênio que escreve. Merece um
programa on-line. Não na Pós TV, claro.
2 comentários:
muiiito pejorativo e preconceituoso o nome fora do beiço
fora do beiçonão é humor, é pejorativo e preconceituoso, falo isso sem defender qq mérito.
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