quarta-feira, 7 de outubro de 2009

No meu time joga Ruy Castro e mais 10

Mais um belo texto de RUY CASTRO na Folha de S. Paulo sobre Jornalismo. Dessa vez sobre títulos. Uma pequena aula.

Títulos
Na bolsa de títulos mais repetitivos da imprensa brasileira, "Um olhar sobre..." começa enfim a ser aposentado. E já não era sem tempo. Adotado por nós com grande atraso, sua matriz francesa, "Un regard sur...", está fora de moda em Paris desde 1970. Mas, até outro dia, era uma doença por aqui: nove em dez artigos nos cadernos culturais eram intitulados "Um olhar sobre...". Aí seguia-se aquilo sobre o que alguém estava lançando "um olhar": o rock grunge, a Revolução de 1932, os filmes do Mazzaropi.

Nós, da imprensa, somos assim. Quando adotamos uma fórmula, entregamo-nos a ela com fervor. Por exemplo, desde que passamos a usar títulos de filmes para criar títulos de matérias, nunca mais paramos. O auge desse macete foi na revista "Manchete", nos anos 60 e 70, porque seu diretor, o querido Justino Martins, o achava divertido.

Daí que, de repente, tudo se tornou "A hora e a vez de..." ou "Quem tem medo de...?", tirados de "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", conto de Guimarães Rosa, e de "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", peça de Edward Albee, ambos filmados com enorme sucesso. Precisávamos ficar atentos para que cada título, ou suas variações, só saísse uma vez por edição.

Eu próprio, redator da "Manchete" em 1972, cometi um, e infame. Era o apogeu dos faroestes italianos, com títulos tipo "Django não perdoa. Mata!". Caiu-me à mesa uma matéria sobre o duelo mundial de xadrez entre o americano Bobby Fischer e o russo Boris Spassky, disputado em Reykjavík, na Islândia.

Fischer estava ganhando todas e, na hora de titular, nem titubeei: "Fischer não perdoa. Mate!". Justino adorou. Nem ele nem eu sabíamos que, no xadrez de alto nível (no de baixo nível também), o mate não chega a acontecer. O perdedor tomba o rei muito antes.

2 comentários:

Alexandre Sobral R. Horta disse...

Estou lendo "Estrela Solitária - Um brasileiro chamado Garrincha" e, definitivamente, entendo o porque de jornalismo e publicidade começarem juntos no mesmo curso...
Abraço professor!!

Alexandre Sobral R. Horta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.