domingo, 24 de junho de 2012

Ombudsman da Folha de S. Paulo comenta decisão do jornal de cobrar pelo conteúdo

Deu hoje na coluna da Suzana Singer, ombudsman da Folha. (Ver post abaixo).


'Nós não vamos pagar nada...'
Folha decide cobrar pelo acesso ao site, mas precisa melhorar o noticiário para convencer os internautas


Uma onda de reclamações se seguiu ao anúncio de que a Folhapassa a cobrar pelo acesso ao conteúdo digital. Muita indignação ("Cobrar vai contra o espírito livre da internet"), ironia ("Fui..."), crítica ("Do jeito que anda o site, vai ser difícil gastar as 20 clicadas") e até tiradas românticas ("Vou sentir falta desse espaço, uma pena terminar assim, sem nenhum afago") foram usadas pelos leitores que ameaçam se divorciar da Folha na web.

Desde quinta-feira, o acesso digital é contado. Quem passar de 20 textos por mês será convidado a fazer um cadastro. Se chegar a 40 links, terá que pagar (R$ 1,90 no primeiro mês, R$ 29,90 nos seguintes).

É o tal "paywall", muro de cobrança poroso, em que se restringe o acesso, mas sem rigor. Alguma navegação gratuita é permitida: no caso da Folha, além dos 40 textos por mês, seções como a capa (home) e o "Guia" não entram na contagem. É uma estratégia para buscar uma nova fonte de receita sem diminuir drasticamente a audiência, já que ela garante os anúncios.

Desde que o "New York Times" implantou essa cobrança, em março de 2011, o modelo "poroso" vem sendo discutido por jornais de todo o mundo. A razão é simples: a receita de publicidade na internet, diferentemente da TV aberta, não é suficiente para cobrir os custos.

Se o motivo é nobre, a revolta dos internautas também é compreensível. Acostumados a se informar de graça na rede e incomodados com um monte de anúncios que saltitam sobre a tela, não entendem por que devem colocar a mão no bolso.

A audiência na internet é dispersa, fluida, provavelmente a expressiva maioria dos visitantes do site da Folha nem vai dar com a cara no "muro de cobrança", porque consome pouquíssima notícia.

Entre os que atingirem a cota de 40 textos por mês, só os realmente comprometidos com o jornal aceitarão pagar. Não é difícil imaginar formas de burlar o "paywall", mas a experiência com iniciativas semelhantes -download de músicas, por exemplo- mostra que uma parcela considerável não se incomoda em gastar, desde que não seja muito.

Para esse grupo menor mas fiel, o jornal precisará oferecer conteúdo de qualidade superior à que o site tem hoje. Para ler pequenos informes sobre o que aconteceu nas últimas horas, em textos mal-ajambrados, ou para saber das fofocas mais recentes sobre celebridades do "mundo B", ninguém precisa gastar um centavo, há uma oferta enorme de sites e blogs gratuitos na rede.

Neste momento, o desafio da Folha é mostrar que um noticiário bem-feito custa caro, mas que vale a pena financiá-lo.

'Qualidade custa caro'
O editor-executivo Sérgio Dávila responde aos questionamentos dos leitores sobre o "paywall":

Por que cobrar pelo digital?
A ação serve à estratégia de unificar as operações impressa e digital. Além disso, a Folha é pioneira no Brasil de um modelo mundial, inaugurado pelo "paywall poroso" do "New York Times", e dá um passo necessário na rediscussão do modelo de negócios por que passa a indústria de comunicações no mundo inteiro.

Os anúncios no site não são suficientes para cobrir os custos?
Não.

A cobrança não vai contra o espírito livre da internet?
Fazer jornalismo de qualidade é caro. No impresso, ele é bancado por assinaturas, venda em banca e publicidade. Não há por que ser diferente no modelo digital, ou as contas não fecham.

Como evitarão que os internautas migrem para sites gratuitos?
Para o internauta eventual, que lê até 40 textos/mês, a Folha vai oferecer o conteúdo de sua versão impressa, que era inacessível. Não achamos que sites de notícia gratuitos sejam nossos concorrentes.

A cobrança significará um salto de qualidade no site da Folha?
Sim. Há cursos em andamento para melhorar a qualidade dos textos produzidos para a plataforma digital. A Redação passa por aprimoramento periódico.

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