domingo, 17 de junho de 2012

"Será que a Folha é?" (homofóbica), pergunta ombudsman do jornal

Deu hoje na coluna da Suzana Singer, ombudsman da Folha. A última linha é um chute naquele lugar.


Será que a Folha é?
Jornal é chamado de homofóbico por editar carta contra gays e por insuflar preconceito entre as torcidas de futebol

Na semana da Parada Gay, surgiu a dúvida: será que a Folha é homofóbica? Não por ter calculado, com o Datafolha, o número de participantes no evento, iniciativa aplaudida pelos leitores. Nem por ter acolhido o artigo de um vereador evangélico que questiona os direitos dos homossexuais, já que havia um contraponto na mesma página.Mas por ter publicado, no Painel do Leitor on-line, uma mensagem que previa que "daqui para a frente ser hétero não será politicamente correto". "Os participantes da parada fazem a apologia da homossexualidade", defendeu o escritor Gilberto de Mello Kujawski, 82.

A reação foi forte nas redes sociais. A mensagem foi considerada, no mínimo, "fascista", e o jornal foi tachado de homofóbico. "Texto que fomenta o preconceito não deve ser publicado. Se escolheram essa mensagem, é porque ela reflete a opinião da Folha", disse Tiago Mariano, 21, estudante de jornalismo.
A revolta é compreensível, mas não é verdade que publicar manifestação "antigay" signifique encampar essa visão. Para saber a opinião da Folha, tem que olhar os editoriais. Nos últimos anos, eles defenderam iniciativas que visam garantir direitos de casais aos gays e a aprovação de uma lei específica contra a homofobia (sem tolher a liberdade de expressão).

Folha estaria errada se o e-mail publicado pregasse o ódio ou a violência contra homossexuais, mas não se tratava disso. Era mais uma ironia, de gosto duvidoso.

A dúvida do título acima é pertinente, porém, quando se analisa a notícia "Torcedores do Corinthians são maioria na Parada Gay, diz Datafolha", publicada discretamente no impresso, mas com grande visibilidade na Folha.com. Foi o texto mais comentado, mais enviado e o segundo mais lido de terça-feira.

O dado, que saiu da pesquisa feita na parada, apenas reflete o tamanho da torcida corintiana em São Paulo. Não era notícia nem deu para entender por que essa pergunta foi incluída no questionário, já que orientação sexual e time do coração não têm nada a ver.

Serviu apenas para reforçar preconceitos, como se viu nos mais de 840 comentários postados na internet. "Eu me ofendo quando um torcedor xinga o outro de veado, bambi, como se a nossa condição fosse motivo de vergonha. Essa matéria acirrou ainda mais isso", reclamou o editor de livros Átila Morand, 28.

Apesar do erro, a Folha não é homofóbica. Só os muito desatentos -e os militantes mais exaltados- não percebem a quantidade de reportagens e colunas favoráveis aos gays no jornal. O preconceito desse caso foi fruto de outra fraqueza: a vontade de aumentar a audiência com gracinhas, sem precisar suar para fazer jornalismo.

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