sábado, 24 de janeiro de 2009

Sarcozy e o Plano para a Imprensa francesa

Deu hoje na Folha de S. Paulo. Vale a pena dar uma lida.

França lança plano de 600 mi para resgatar imprensa

Pacote inclui aumento de verba publicitária em jornais e proteção a jornalistas de internet
Jovens terão assinatura gratuita, e distribuição vai ter custos reduzidos; setor enfrenta crise e cortes, e greves têm sido frequentes

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Depois dos bancos e do setor automotivo, foi a vez de a mídia francesa receber ajuda do governo. O presidente Nicolas Sarkozy anunciou ontem um plano para "salvar" jornais e sites de notícias no país.

Ao todo, o pacote vai custar 600 milhões distribuídos por três anos, sem incluir os recursos para a modernização do parque gráfico francês.

As medidas fazem parte dos "Estados Gerais da Imprensa" iniciativa lançada por Sarkozy em outubro passado para avaliar a situação da imprensa francesa e propor recursos para a sua modernização. O diagnóstico apontou três problemas-chave: queda da receita com publicidade, diminuição dos leitores e alto custo de produção. Na França, o preço médio do jornal é de 1,26 euro, contra 0,80 na Alemanha.

Para atacar a primeira questão, Sarkozy propôs um aumento dos gastos com informes publicitários do governo. O Estado "vai dobrar, a partir deste ano, as despesas com a comunicação institucional" na imprensa escrita e eletrônica, afirmou ontem no Palácio do Eliseu. Assim, serão injetados 20 milhões a mais neste ano.

Aos críticos que veem na iniciativa uma ameaça à liberdade de imprensa, Sarkozy disse: "Espero que ninguém veja um atentado à independência".

Ainda no pacote, o presidente francês disse que cortará as despesas postais da imprensa, o que representará uma economia de 24 milhões para o setor. A ajuda aos jornaleiros totaliza 60 milhões, e o estímulo para expandir a entrega em domicílio, 70 milhões.

Para deter o desaparecimento gradual de leitores, o presidente propôs a assinatura gratuita de um jornal por um ano para os jovens de 18 anos. O governo arcará com os custos de distribuição, e a publicação escolhida pelo leitor ofereceria os exemplares gratuitamente.Internet

Para a internet, Sarkozy anunciou a adaptação à era digital dos direitos autorais dos jornalistas e acrescentou que o Estado criará um estatuto do editor da imprensa digital para desenvolver jornais na rede.

Na avaliação de Dominique Candille, do Sindicato Nacional dos Jornalistas, "não é chocante ajudar a imprensa, mas essa é só parte da resposta". "Já as ajudas diretas e indiretas, como a exoneração dos encargos sociais nos incomodam.

"Os sindicatos também afirmam que querem observar como serão alocados os recursos. Nos últimos anos, por causa de dificuldades financeiras, os principais jornais franceses passaram para o controle total ou parcial de grandes grupos industriais que, a princípio, não eram da área de comunicação.

Para Sarkozy, as medidas são a resposta necessária para um setor em dificuldades e que enfrenta um cenário econômico mundial "deteriorado". Na França, as greves de jornais têm sido recorrentes. Em 2007, só o diário "Le Monde" fez três para protestar contra as más condições de trabalho.Vários sindicatos convocaram para a próxima quinta uma greve geral de jornalistas contra os programas de demissão voluntária e cortes de pessoal.

Enquanto o presidente Sarkozy anuncia ajuda para a imprensa escrita e eletrônica, o governo segue com um programa de redução de custos nas televisões e rádios estatais. Os sindicalistas estimam que 900 trabalhadores estejam ameaçados no grupo estatal France Télévisions. Na Radio France Internationale, 206 postos de trabalho serão suprimidos.

Para o SNJ, é justamente na questão da situação profissional dos jornalistas que o pacote foi tímido. O setor emprega 100 mil profissionais mas, segundo dados do SNJ, um quinto dos jornalistas não tem vínculo empregatício com as empresas.

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