sábado, 31 de maio de 2008

Tô lendo "O Mago". E daí? Vai bater?


Ainda bem que imagino que doutores-acadêmicos-chatos, que só lêem livros de mortos, amarelados e com linguagens indecifráveis, não aparecem aqui no blog do professor pc. Sabem a razão? Tapei os olhos, fechei o nariz, botei dentro de um exemplar da piauí e comprei a biografia do Paulo Coelho. Escrito pelo Fernando Morais, compro até a história do Flamengo. Vai escrever assim lá em Cochabamba! Parei de ler tudo.

Só o início...

Mas, por favor, não contem pra ninguém.

Fotosacana - 24: da série: o Bush é um babaca!


Deu na Folha.

Blog do professor pc recomenda: livro sobre Fotojornalismo


A Folha de S. Paulo publica resenha hoje. Leia sinopse publicada no site da Livraria Saraiva:

"Em "Caçadores de Luz - Histórias de Fotojornalismo", os irmãos Alan, Lula e Sérgio Marques contam em detalhes como realizaram algumas das principais fotos de suas carreiras, que ilustraram as páginas dos principais jornais do país. Desde percalços na Guerra de Angola até a cobertura de acidentes aéreos no meio da mata, passando pelas campanhas presidenciais, do governo Sarney até os dias de hoje, os reconhecidos e premiados repórteres- fotográficos acompanham e registram o dia-a-dia do mundo político sempre num ângulo singular, transformando em imagem os acontecimentos que marcam a história recente do país. Essencial para estudantes de jornalismo".

Blog do professor pc recomenda: debates ARFOC sobre Fotojornalismo


Meu camarada Antonio Batalha, diretor da ARFOC, manda a dica. Imperdível para estudantes de Jornalismo.

Quem lê tanta notícia?


E essa notícia do assaltante que entalou em uma churrasqueira de Porto Alegre após invadir uma casa na zona sul da capital gaúcha? O cara foi preso em flagrante por tentativa de furto.

A foto é de Sandro Coelho.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

A missão dos jornais

Vale a pena ler. Publicado na Folha de ontem.

TENDÊNCIAS/DEBATES

Não caia antes de ser empurrado
ANTONIO ATHAYDE

Nessa nova realidade, a missão dos jornais não é mais trazer novidades aos leitores, mas ajudá-los a compreender o mundo

AINDA OUTRO dia recebi correspondência eletrônica com uma dezena de provérbios oriundos de várias culturas mundo afora. Com pequenas variações, nós aqui temos correspondentes para quase todos.
Um deles, inglês, que está no título deste artigo, me fez pensar na situação pela qual passam hoje os jornais norte-americanos, que amargam resultados ruins, com perda de leitores e anúncios e, conseqüentemente, de valor de mercado.
No Brasil, festejamos seguidos anos de crescimento de circulação, de faturamento e, o mais surpreendente, aumento da participação do nosso meio no chamado "bolo publicitário", a verba destinada pelos anunciantes aos diversos meios de comunicação.
Surpreendente, sim, pois o crescimento da base de assinantes da TV paga e dos usuários da internet no Brasil fez com que analistas previssem que aconteceria aqui o mesmo fenômeno que preocupa acionistas e executivos da mídia impressa norte-americana.
Uma rápida análise do que está acontecendo por aqui mostra o impressionante crescimento dos chamados "jornais populares", com preço baixo e conteúdo dirigido à classe C, já chamada a "classe dominante" no país.
"Extra" (Rio), "Diário Gaúcho" (Rio Grande do Sul), "Super Notícia" (Minas Gerais), "Agora" e "Jornal da Tarde" (São Paulo) batem seguidos recordes de circulação. Iniciativas em Vitória (ES) e Campinas (SP) surpreendem os criadores de jornais populares por atingirem resultados muito superiores aos esperados nos seus planos de negócio.
Preço baixo, estratégia de distribuição, promoções e, sobretudo, matérias produzidas e apresentadas de acordo com o gosto do novo leitor fazem a receita desse enorme sucesso. Fica claro que estamos assistindo ao processo de formação de novos leitores que, em breve, procurarão análises mais refinadas, textos mais profundos e anúncios de produtos de maior valor agregado e migrarão para os jornais que ofereçam esse serviço.
Os grandes jornais inovam com novos cadernos, reformas gráficas e revistas, além de terem feito reestruturações nas suas organizações de modo a ganhar agilidade na percepção das novas tendências do mercado leitor e do mercado publicitário.
Ao mesmo tempo em que anunciam a revolução que a internet traz ao seu próprio negócio, os jornais têm seus cadernos de informática, que propagam as conquistas desse seu ferrenho concorrente. E assim também aconteceu quando da chegada da TV digital, quando foram servidos ao público cadernos especiais apresentando essa nova maneira de competição pelo tempo do consumidor.
E assim se preparam para essa nova realidade, em que sua missão não é mais trazer novidades aos leitores, mas sim ajudá-los a compreender o mundo, mais complexo sob qualquer ponto de vista, inclusive apontando a melhor maneira de escolher e comprar um produto ou um serviço.
Tabelas de preço de publicidade se tornaram mais simples, e equipes de vendas, mais preparadas para mostrar a anunciantes e agências de propaganda as vantagens de anunciar em jornal, não só como mídia eficiente, mas como veículo capaz de emprestar sua extraordinária capacidade de relacionamento com o seu leitor ao anúncio nele veiculado.
Nada como o prazer de ler "o meu jornal"!
É impressionante como mesmo os pequenos diários do interior do país estão na web fazendo valer a força de suas marcas, se dedicando ao chamado "hiperlocalismo", a promover eventos, enfim, a reagir aos movimentos de leitores dos mais diversos perfis e a oferecer a anunciantes novas formas de se relacionar com eles.
Os jornais brasileiros têm vantagens importantes sobre os americanos que os fazem viver realidades inteiramente diferentes neste instante.
Podem acompanhar o que ocorre por lá e se preparar para enfrentar as dificuldades e evitar o "eu sou você amanhã". Além disso, não estão submetidos à pressão de resultados que o mercado impõe às sociedades de capital aberto. Os empresários daqui fizeram o possível para enfrentar as dificuldades do final do século e do início desta década sem baixar a qualidade do seu produto. Amargaram reduções importantes nas suas margens e colhem agora os frutos dessa decisão.
Minha impressão é que os jornais americanos se preocuparam demais com a chegada dos concorrentes eletrônicos, não fizeram seu dever de casa para entender a nova situação e se entregaram a um derrotismo antecipado. Caíram antes de serem empurrados.

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ANTONIO ATHAYDE, 62, engenheiro, é diretor-executivo da ANJ (Associação Nacional de Jornais). Foi executivo sênior da Rede Globo, Gobosat/NET Brasil, Globopar, Rede Bandeirantes e SBT. Trabalhou como consultor da Telefónica para projetos de TV na América Latina e para o Grupo Abril.

Blog do professor pc recomenda: curso de Cinema - em São Paulo




Recebi e passo adiante.

Brasileiro não gosta de ler


Bela matéria publicada no caderno "Cotidiano" da Folha de S. Paulo sobre os hábitos de leitura do brasileiro.
Quer ler? É só passar a mãozinha.

Palestra sobre "Novas Tecnologias e Futuro da Mídia"

PRÊMIO MONGERAL IMPRENSA
Cerimônia de entrega homenageará ABI e terá palestra sobre novas tecnologias e futuro da mídia

A cerimônia de entrega do II Prêmio Mongeral Imprensa acontecerá dia 10 de junho, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com homenagem à Associação Brasileira de Imprensa, ABI. O jornalista e presidente da ABI, Maurício Azêdo, receberá placa comemorativa ao centenário da instituição e, em seguida, haverá palestra com o jornalista e colunista de O Globo Ancelmo Gois, que falará sobre a influência da tecnologia e o futuro da mídia. A palestra será seguida de debate com os jornalistas jurados do prêmio, Heloísa Magalhães (Valor Econômico), George Vidor (O Globo / Globo News) e Denise Bueno (Gazeta Mercantil), e é aberta a estudantes de jornalismo. As inscrições devem ser feitas até 2 de junho e o evento é válido como atividade complementar.

Data: 10 de junho de 2008 – Horário: 9h
Local: Rua Marquês de São Vicente, 225, Gávea – Auditório do RDC da PUC
Inscrições até 02 de junho – Vagas limitadas

ALUNOS DA PUC - Inscrições na secretaria do Departamento de Comunicação
ALUNOS DE OUTRAS UNIVERSIDADES – Inscrições no site www.premiomongeralimprensa.com.br, link “Palestra”. Não esquecer de enviar nº de matrícula e nome da faculdade no corpo da mensagem.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

quarta-feira, 28 de maio de 2008

A Internet emburrece os jovens?

Deu hoje no caderno "Ilustrada" da Folha.

A internet me deixou BURRO DEMAIS!
Mark Bauerlein, que tem sido criticado na imprensa e por internautas, diz que prevalecem na web linguagem pobre e "recreações adolescentes"

RAQUEL COZER

O ataque começa já no título. É a "geração mais estúpida", anuncia "The Dumbest Generation" (Tarcher, 272 págs.), lançado nos EUA há duas semanas, em referência a quem nasceu em algum momento das últimas três décadas.

A razão para tal epíteto, ainda mais controversa, é explicitada no subtítulo: "Como a era digital embasbaca os jovens americanos e põe em risco nosso futuro. Ou, nunca confie em ninguém com menos de 30".

Às já bastante vilanizadas telas de TV e de videogames o autor Mark Bauerlein junta as telas de computadores e de celulares como as responsáveis por jovens "superficiais", incapazes de lembrar (e de dar importância a) fatos históricos.

"Eles praticamente não lêem. Com toda a informação disponível on-line, como nunca antes na história, eles preferem dedicar uma quantidade inacreditável de tempo a vasculhar vidas alheias e a expor as suas próprias em redes de relacionamento como o Facebook e o MySpace", diz Bauerlein, 49, à Folha, por telefone, de Atlanta, onde dá aulas de inglês na Universidade de Emory.

Bauerlein, ex-diretor de pesquisa e análise da Fundação para as Artes nos EUA, acredita que o excesso de informações a que as crianças e os adolescentes têm acesso na rede faz com que eles percam a capacidade de diferenciar "o significativo do insignificante" e, com isso, de embasar argumentos.

"Nossa memória cultural está morrendo", diz o autor. É uma opinião similar à do filósofo italiano Umberto Eco, que, em entrevista ao jornal espanhol "El País" (reproduzida no último dia 11 no caderno Mais!), afirmou que "a abundância de informações sobre o presente não permite refletir sobre o passado".

"Recreações adolescentes"

"The Dumbest Generation" se levanta contra as "vozes pró-tecnologia" que defendem que a navegação na internet seja benéfica à cognição (leia mais ao lado). "A realidade das práticas na web", escreve Bauerlein, "é só o que poderíamos esperar: expressões adolescentes e recreações adolescentes".

O que ele enxerga como uma dificuldade de absorção de informações entre os jovens resultaria também da leitura não-linear que os sites estimulam. No livro, Bauerlein fundamenta tal opinião com estudos do instituto de pesquisas Nielsen, segundo os quais os usuários mais "escaneiam" com os olhos do que propriamente lêem as páginas à sua frente.

"Além disso, sabe-se que, na internet, quanto mais simples a linguagem, mais os leitores acessam as páginas. O que os jovens lêem na rede não lhes acrescenta nada em termos de gramática nem de capacidade de elaborar textos", diz.

Reações

Nos últimos dias, Bauerlein vem passando mais tempo que de costume em frente ao computador, para responder, um por um, aos e-mails "raivosos" que têm abarrotado a caixa de entrada do seu Outlook.

"Li recentemente um artigo no jornal "Boston Globe" sobre seu último livro e escrevo para lhe dizer que você é um imbecil. Você deve saber disso. Ninguém que escreva um livro inteiro baseado na idéia de que uma geração esteja se tornando idiota por causa da tecnologia pode ter noção da realidade."

A experiência de ignorar os adjetivos e discutir as "questões substantivas" com os alvos de sua tese não tem surtido muito efeito. O autor aprova o debate mesmo assim. "É sinal de que os jovens se importam, de que têm valores a defender."

O diálogo que a internet permite rendeu também páginas de comentários de leitores em sites como o da revista americana "Newsweek". No último fim de semana, a publicação esquentou o debate ao lembrar que os mais velhos têm o costume de lamentar a ignorância dos mais novos ao menos desde os tempos em que, na Grécia Antiga, "os admiradores de Sófocles e Ésquilo questionaram a popularidade de Aristófanes".

As críticas mais freqüentes ao livro de Bauerlein citam os testes de Quociente de Inteligência. Desde o começo século 20, o QI de crianças e adolescentes aumenta a cada geração. O conceito de "estúpido" de Bauerlein, afirma a "Newsweek", não faz sentido se forem levados em conta aspectos como a habilidade de pensar criticamente e de fazer analogias.

"Eles [os críticos] não entenderam o ponto central da discussão", defende-se o autor, renegando o viés anacrônico do debate. "[A discussão] não é sobre as ferramentas da internet em si, mas sobre seu uso. Quando um cientista diz que a tecnologia desafia as mentes e torna as pessoas mais espertas, ele está falando do MySpace? Ele sabe que os adolescentes passam muito mais horas em redes sociais do que estudando?"

Aos detratores Bauerlein costuma responder com dados oficiais, de órgãos como o Departamento de Educação americano e o Census Bureau.

Em sites, em resposta aos críticos, despeja uma porção de números da realidade norte-americana, às vezes aleatoriamente: uma pesquisa de 2006 contabilizou nove horas semanais de adolescentes conectados a redes sociais; outra constatou que 55% deles dedicam menos de uma hora semanal aos estudos em casa; uma terceira dá conta de que apenas 6% dos estudantes são considerados "muito bem preparados para a escrita"...
Quanto ao "estúpido" do título, esclarece Bauerlein, é pura provocação. "Eu sou professor. Sei que são discussões como essa que fazem os jovens pensarem..."

segunda-feira, 26 de maio de 2008

domingo, 25 de maio de 2008

Foto chocante


Saiu hoje no caderno "Mais", da Folha de S. Paulo. Sem comentários. Eita mundo!

Sobre erros e mentiras, segundo o ombudsman da Folha





Legendas:
Foto 1: Briga entre alunos apenas do Mackenzie registrada em 67
Foto 2: Marines dos EUA fincam a 2ª bandeira americana no monte Suribachi, e não a primeira
Foto 3: Imagem de alunos da Kent State University sem adulteração


Erros repetidos viram mentira

Foto que virou ícone do movimento estudantil brasileiro de 1968 (no alto) foi registrada em outubro de 1967 e não envolvia alunos da USP

DIZEM que uma mentira repetida mil vezes vira verdade. Pois erros que se repetem muito podem virar mentiras. Até em fotos.

Em 13 de maio, recebi o leitor Renato Martinelli, que veio relatar um erro que o jornal vem repetindo e o tem incomodado há décadas.

A foto do alto virou ícone do movimento estudantil brasileiro de 1968 por ter sido sistematicamente identificada como retrato da "batalha da rua Maria Antonia" entre estudantes da USP e do Mackenzie.

A mais recente reincidência do engano ocorreu no dia 4 deste mês, no caderno Mais!.
Como o leitor me documentou, a foto é de 26 de outubro de 1967, registra uma briga entre alunos apenas da Universidade Mackenzie e saiu na capa da edição do dia seguinte da Folha.

Ela mostra um grupo de jovens de direita que tentava destruir a urna da eleição para a diretoria da União Estadual dos Estudantes, disputada pela chapa Nova UEE (com José Dirceu candidato a presidente e o mackenzista Américo Nicolatti a vice), pela Frente Universitária Independente (liderada pelo PCB) e pela Frente de Trabalho, da situação (liderada pela AP).

Gil Passarelli (1917-1999), um dos melhores repórteres-fotográficos que este jornal já teve, ganhou o Prêmio Esso de Fotografia com ela. Mas até em livro de sua autoria, a foto saiu como se fosse de 1968. O Banco de Dados da Folha corrigiu a legenda no arquivo em 2001, mas ela voltou a sair errada.

Martinelli desejava corrigir a falha para atenuar uma distorção histórica: a impressão de que no Mackenzie só havia conservadores. Ele e vários colegas lutaram pela democracia numa frente de centro-esquerda, e não é justo que isso não seja devidamente reconhecido.

A segunda foto é outro erro repetido. De Joe Rosenthal (1911-2006), ela retrata a segunda bandeira americana hasteada no monte Suribachi em 23 de fevereiro de 1945, não a primeira. E esse gesto não representou o fim da batalha pela ilha de Iwo Jima, que ainda perduraria por 31 dias, com o custo de 6.821 vidas americanas.
A outra foto, do confronto entre a Guarda Nacional e os estudantes da Kent State University, também tem um erro em sua história. De John Filo, então estudante de fotojornalismo, de 4 de maio de 1970, foi por décadas reproduzida com uma adulteração (o poste que aparece atrás da moça foi apagado para melhorar a composição) até o autor, atualmente editor da CBS News, se dar conta e restaurá-la.

"PC Guimarães comenta". A nº 8

terça-feira, 20 de maio de 2008

Oswaldo Munteal e a "Operação Escorpião"

Oswaldo Munteal, professor gente boa da FACHA, da PUC e da UERJ, e, ainda por cima, botafoguense, mandou o artigo abaixo e disse que fazia questão que fosse publicado aqui no blog. Para mim é uma honra.

A OPERAÇÃO ESCORPIÃO E O ANTÍDOTO DA HISTÓRIA
Oswaldo Munteal*

“O critério de utilidade essencial para tal ou qual veneno, criado no laboratório, era sempre o mesmo: inodoro e sem gosto, ele não deveria deixar nenhum vestígio no organismo, de forma que não fosse identificado nem pela vitima, nem pelos peritos que analisassem as causas do óbito.” Arkadi Vaksberg. O Laboratório dos Venenos: A Indústria do Assassinato Político. Nova Fronteira. RJ. 2008.

Jango foi eliminado através de envenenamento pelos próceres da ditadura militar de 1964, contando com o apoio direto dos EUA. Para muitos ainda é difícil aceitar, pois o impacto de décadas de repressão ainda não foi devidamente apurado e assimilado pela consciência do povo brasileiro. A nossa memória encontra-se num lugar recôndito do inconsciente coletivo. A Sombra, conceito consagrado pela psicologia, pesa sobre a nossa identidade, a partir da negação dos nossos complexos, comprometendo de forma aguda a sociedade brasileira na sua busca por um horizonte de sentido voltado para a questão nacional e popular.

Fica uma pergunta: estamos preparados para enfrentar as feridas e olhar para dentro? Investigar as entranhas da nação destruída em 1968 com o Ato 5? Os indícios se transformaram em elementos concretos com as últimas pesquisas que estão sendo realizadas nos arquivos que tratam do governo e do exílio de Jango, e que foram recentemente incorporados ao acervo do Instituto Presidente João Goulart, e nos documentos recentemente desclassificados, ou seja abertos a consulta pública, pelo Ministério das Relações Exteriores. O cruzamento de informações converge para os esclarecimentos prestados por Neira Barreiro. O agente uruguaio, ligado à Operação Condor vem inclusive solicitando proteção diante das ameaças que vem sofrendo na prisão face ao seu depoimento à Polícia Federal.

A chegada ao poder de uma nova onda reformista na América Latina reacendeu o desejo de apurar o movimento de extermínio das principais lideranças carismáticas e populares do continente nos anos 60 e 70. O terrorismo de Estado grassou entre 1968 e 1980, com graves conseqüências para a democracia brasileira no presente, devido ao caráter institucional da ditadura.

O golpe de Estado constituiu um fenômeno político-institucional por excelência. Nesse sentido determinou que suas lógicas, infra-estruturas, órgãos e pessoal treinado fossem projetados para romper com a ordem constitucional e democrática preexistentes, e reestruturou todo este conjunto com objetivos autoritários. A investigação sobre o período que vai de 1968 até 1980 deve seguir os caminhos das pesquisas realizadas no Uruguai, Argentina, Chile, e agora com o presidente Fernando Lugo inventariando o governo de Strossner no Paraguai após 63 anos de partido único. A análise sobre o assassinato do ex-presidente João Goulart parece-me fundamental a fim de penetrar a fundo na memória nacional.

O desaparecimento forçado de pessoas nesta época aparece claramente nos documentos oficiais e os indícios mostram que a liquidação de Jango também. Os registros, como telegramas diplomáticos aparentemente inofensivos, recomendações de próprio punho em ofícios e memorandos, recomendavam aumentar a pressão sobre o presidente. A troca de substâncias altamente tóxicas integrava o esquema de assassinatos da Operação Escorpião, braço brasileiro da Operação Condor.

Durante o governo do General Geisel e com a orientação do ex-ministro da Justiça Armando Falcão, a ordem era controlar a vida de Jango no exílio em todos os seus passos. Segundo fontes documentais o cuidado maior era no sentido de não torná-lo um mártir, operando no desgaste cotidiano, agindo com pequenas e grande traições, infiltrações do SNI, com a cooperação da CIA, e a participação ativa, concreta e indiscutível de um profissional conhecido como “Agente B”. Há suspeitas, inclusive, no que diz respeito à troca dos frascos dos remédios do ex-presidente por substâncias altamente tóxicas.

Jango vinha numa melhora no seu quadro de saúde, tendo recuperado as forças internas quando foi mais uma vez golpeado. Nesta data, 1 de março de 1976, aniversário do ex-presidente, a conspiração foi urdida e todo o plano de execução preparado. O infiltrado conhecia a família, os amigos, visitantes eventuais, funcionários da estância e hábitos privados de Jango. O ex-presidente, que se encontrava na fronteira do Uruguai com a Argentina, em certo momento até aceitava abrandar as críticas aos militares na hipótese de voltar ao Brasil, mas não renunciar a agenda que consagrou as reformas de base. Quanto vale dar fim à utopia das reformas? O vôo rasante do Condor selou o destino de Jango e mergulhou o Brasil num caminho aparentemente sem volta para as reformas estruturais.

O trabalho de pesquisa que empreendemos em equipe neste momento, refere-se ao registro detalhado da acumulação de dados sobre as pessoas e grupos, análise da inteligência e as operações da repressão, os lugares de reclusão dos clandestinos, transportes secretos, e as justificativas frente às denúncias sobre as violações aos direitos humanos. Elaboramos um método analítico de investigação histórica, que não nos permita, em hipótese alguma, a isenção, mas a capacidade de indignação viva, com o máximo de conteúdo a fim de dar conta de uma realidade que cada vez se torna mais complexa.

*Pós-doutorando e pesquisador da EBAPE/FGV; professor da UERJ, PUC-Rio e FACHA

PC Guimarães comenta no ar. A nº 7


Semana passada houve um imprevisto e não pude colocar no blog a coluna sobre futebol que publico no Correio do Brasil. Ainda dá tempo de ler. É atual e bom para recordar o fracasso do Menguinho na Libertadores. A coluna 8 está no:
http://www.correiodobrasil.com.br

domingo, 18 de maio de 2008

Repórter da Folha "vira PM"


Imperdível a reportagem de Raphael Gomide na Folha de hoje. Não deixem de ler. Está no caderno "Mais!". São seis páginas de matéria. Quer ter uma idéia?

PM por dentro
EM BUSCA DE ESTABILIDADE E SALÁRIO DE R$ 909,49, POLICIAIS MILITARES SÃO OBRIGADOS A ENFRENTAR O DIA-A-DIA VIOLENTO DO ESTADO DO RIO, ONDE 151 DELES FORAM ASSASSINADOS EM 2007; NO MESMO ANO, 1.330 CIVIS FORAM MORTOS PELA PM, RECORDE HISTÓRICO

Em 2007, 151 PMs foram assassinados no Estado, um a cada 2,5 dias. As polícias do Rio mataram 1.330 pessoas (recorde histórico), média de 3,64 por dia. Por que a PM do Rio é a que mais mata e mais morre no Brasil e tem altos índices de corrupção? Qual é o perfil de quem se aventura a enfrentar a morte diariamente, por R$ 909,49 mensais brutos e estabilidade no emprego?

Para tentar entender isso, a reportagem da Folha fez concurso público e ingressou como recruta, de 3 a 25 de janeiro, no Curso de Formação de Soldados da PM. Fui aprovado em 67º lugar no exame intelectual, em 3 de junho de 2007, no Maracanã de 25 mil candidatos.

Vinte questões de português, 20 de matemática e redação compõem a primeira etapa.
Após as outras etapas e o ingresso de 20 alunos de outros certames, fui o 36º do Primeiro Pelotão da 2ª Companhia. Meu pelotão reunia os 58 mais bem colocados. Só se preencheram 752 vagas (459 de minha turma e 293 de outra), menos da metade das 2.000 previstas. Mais 412 pessoas continuam em processo de seleção.

Só 2.643 fizeram 50% no exame intelectual. Dos 300 primeiros, o psicotécnico reprovou 44 (15%), o físico barrou 20%. Só 201 de 300 fizeram os testes médicos, que afastaram mais 90 antes da pesquisa social, quando saíram 17.

Todas as fotos que ilustram o texto foram feitas por mim ou por algum colega, com a minha câmera. Não havia determinação quanto a não poder tirar fotos, mas a maioria delas foi feita de maneira disfarçada.

A formatura dos recrutas será em 29 de agosto. A promessa do governador Sérgio Cabral (PMDB) e da PM, de ter 2.000 homens (a seleção não admitiu mulheres) nas ruas até o fim de 2007, não se realizou nem se realizará em 2008.

Ombudsman da Folha: Quando o leitor cobra coerência do jornal

Bela análise do ombudsman na Folha de hoje, domingo, 18 de maio.

A memória da ponte
Carlos Eduardo Lins da Silva

O ombudsman recebeu 23 questionamentos sobre a cobertura da inauguração da ponte Octavio Frias de Oliveira no domingo passado.

Todas para saber por que o jornal, que três anos antes havia publicado editorial para condenar a obra, agora a noticiava sem nenhuma crítica à construção.
Nas mensagens, era possível perceber motivações diversas. Havia desde pessoas claramente sinceras no seu desejo de esclarecer o que lhes parecia uma contradição até indisfarçáveis articulações de cunho político-partidário.

A Folha teria se poupado desse desgaste previsível se tivesse publicado na página que registrou a solenidade uma simples retranca para lembrar sua posição sobre a obra no passado e agora.
Instada pelo ombudsman, a Secretaria de Redação enviou a seguinte nota: "A Folha considerou e considera que a obra, dispendiosa, não é prioritária. Essa era a opinião pessoal do próprio sr. Octavio Frias de Oliveira. Hoje, a ponte é uma realidade. Foi completada, aliás, num período em que as finanças da prefeitura melhoraram. Essas considerações não têm relação com o fato de, agora, o poder público homenagear o sr. Frias batizando a ponte com seu nome. Seria descabido que a Folha ou a família Frias rejeitassem uma homenagem a seu líder".

Parece-me uma explicação justificável. Deveria ter constado do noticiário de domingo. Assim como também poderia ter sido lembrado pela reportagem que a ex-prefeita Marta Suplicy, responsável pelo início do projeto, não foi convidada para a inauguração.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Falando de crônicas

Me amarro em crônicas. E não é de hoje. Li quase tudo de Fernando Sabino, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, Sérgio Porto, Antonio Maria, Drummond, Luis Fernando Veríssimo e outros. Vale a pena ler o texto de Nelsinho Motta publicado hoje na Folha. Mesmo que eu não concorde com algumas coisas que o Nelson escreve...

É só passar a mãozinha.

Crônicas contemporâneas
NELSON MOTTA

O drama dos cronistas sempre foi o assunto. Mas hoje, embora eles abundem, parece que todos embarcam sempre nas mesmas canoas. Começa a ficar bem chato e previsível. Tudo sempre parece girar em torno do governo, do oficial, do institucional, para o bem e para o mal, como se o mundo em volta não existisse.

Os grandes cronistas, como Rubem Braga e Fernando Sabino, também tinham seus problemas com os assuntos, e encontravam em seu talento e sua sabedoria as formas de entreter e divertir o leitor. Mas, se escrevessem hoje, coitados, como todos nós nessa árdua atividade, seriam quase obrigados a comentar os escândalos políticos, as falcatruas, mentiras e sem-vergonhices que explodem todos os dias nos jornais, rádios, TVs e blogs.

Não que exista mais corrupção hoje do que nos tempos dos grandes cronistas, mas a eficiência da PF e a do Ministério Público na democracia a trouxeram à luz e levaram-na ao centro das atenções.

Será que Rubem Braga, autor de célebre crônica apocalíptica sobre a devassidão de Copacabana na virada dos anos 60, não escreveria nada sobre mensaleiros, sanguessugas e aloprados? Ou sobre o novo mundo do clepto-sindicalismo?

Mas também seria muito divertido ler crônicas de Nelson Rodrigues sobre o MST, os quilombolas, as elites sindicais, os ecochatos, a "bolsa-ditadura", as cotas raciais, o politicamente correto. Quantas gargalhadas perdemos, sem a veia tragicômica de Nelson, durante os dias inesquecíveis do caso Renan Calheiros.

Hoje há cronistas por toda a parte, cada um pode ter o seu próprio blog. Mas os melhores e os piores se aproximam quando todos escrevemos variações sobre o mesmo tema: escândalos e baixarias no país da piada pronta.
Está difícil mudar de assunto.

"Açassinaram" a gramática!


Deu no Lancenet.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

segunda-feira, 12 de maio de 2008

"PC Guimarães comenta": a nº 7 ("Não se brinca com o Fogo!"



Está no ar. Quer ler mais no "Correio do Brasil"? É só clicar:
http://www.correiodobrasil.com.br

Depois, passe a mãozinha no jornal e vá virando as páginas no sistema de flip.

domingo, 11 de maio de 2008

Onde fica Mianmar?

Outra análise imperdível do ombudsman da Folha de S. Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva.

Mianmar no escuro
Na terça-feira, provavelmente pela primeira vez na história do jornal, Mianmar apareceu como manchete da Folha, devido à tragédia meteorológica que vitimou dezenas de milhares de seus cidadãos.
Era uma excelente oportunidade para os leitores saberem mais sobre este país pouquíssimo conhecido entre brasileiros.

Sua cultura milenar e rica e o fato de uma ditadura militar controlar rigidamente a sociedade desde 1962 são pelo menos dois pontos de interesse jornalístico que poderiam ser explorados.
No entanto, e apesar de o didatismo ser um dos valores fundamentais do projeto editorial do jornal desde 1984, a oportunidade foi quase inteiramente desperdiçada.
A entrevista com Paulo Sérgio Pinheiro, brasileiro que é um dos maiores especialistas em Mianmar no mundo, na sexta-feira, fez com que a cobertura do jornal melhorasse um pouco nesse caso.

Mas a falta de esforço didático ficou patente em outro aspecto: embora o mesmo fenômeno natural, um ciclone, também tenha ocorrido no sul do Brasil na mesma semana (em escala menor), pouco se explicou ao leitor sobre ele. Qual a diferença entre ciclone, tufão e furacão? Ciclones como o de Mianmar podem ocorrer no Brasil? Como se dá nome a um ciclone? Quase todas essas perguntas tiveram respostas insuficientes ou nulas no jornal.

FRASE DE LEITOR

"Onde diabos fica Mianmar? ... se fosse depender da folha só saberia que fica na costa do Índico na Ásia. Mas não custava nada colocar um mapinha e contar um pouco da história do pais..."
(A. Pereira Alvim Junior)

Dilma e o ombudsman


Simplesmente imperdível a coluna do ombudsman da Folha de S. Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva.

Leituras de fotos e fatos

O caso do dossiê tem sua importância; só creio não ser tão grande a ponto de merecer o rio de tinta que já se gastou na exploração de detalhes.

TALVEZ ninguém tenha entendido mais de leitura do que os grandes escritores.

Marcel Proust dizia que "cada leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo".

Jorge Luis Borges ressaltava a autonomia absoluta do leitor, a certeza de que o texto não depende só de quem o constrói, mas também de quem o lê.

Há inúmeros estudos científicos sobre recepção dos meios de comunicação de massa que comprovam a hipótese dos romancistas. A mesma mensagem é compreendida por diferentes indivíduos de maneiras muito diversas, às vezes antagônicas, entre si.
Esta semana, leitores da Folha deram nova demonstração de que esta interpretação do fenômeno da leitura é provavelmente correta. Um mesmo editorial, "Revés da oposição", sobre o depoimento da ministra Dilma Rousseff ao Senado, na quinta-feira, despertou reações opostas.

Houve quem o considerasse exemplo de que a imprensa está inteira a favor do governo federal, inclusive a Folha. Outros, em maior número, acharam que ele reforça o caráter de oposição à administração Lula que vêem no jornal.
A cobertura da fala da ministra e a manchete de sexta-feira, com novas revelações sobre o caso do dossiê dos gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, reavivaram o assunto, que estava algo adormecido.

Quando o episódio do dossiê teve início, este ombudsman era apenas leitor. E a minha leitura era a de que se estava fazendo muito barulho por nada ou pelo menos por muito pouco.
Mantenho este ponto de vista. Em minha crítica interna de sexta-feira, afirmei que as questões indígenas e de conflitos de terra na região Norte "são mais relevantes para a nação e deveriam ocupar o espaço de honra que é concedido às futricas político-partidárias que, a meu ver, não levam a coisa nenhuma a não ser ao acirramento do ódio irracional e imaterial que grassa entre petistas e tucanos especialmente em São Paulo."

Claro que o assunto tem a sua importância relativa. Só que não creio ser tão grande a ponto de merecer o rio de tinta que já se gastou na exploração de meandros detalhados sobre seus atores e motivações.
Acho que a Folha, ao tratar do tema esta semana, cometeu erros jornalísticos, independentemente da avaliação do valor intrínseco do assunto. A chamada da primeira página de quinta-feira, como ressaltei na crítica interna, estava excessivamente editorializada.

Havia advérbios e adjetivos demais para texto noticioso. Se queria apontar contradições da ministra ao longo do tempo, o jornal podia tê-las relatado com a reprodução de suas falas e as datas em que foram feitas.

A foto da capa de quinta também provocou leituras distintas, muitas iradas. Mas neste aspecto não acho que tenha havido erro. A foto mostra uma ministra enfática, irritada, na ofensiva.

A imagem retratava provavelmente o momento mais destacado do seu depoimento, quando respondia à provocação descabida e ofensiva que lhe fizera o senador José Agripino Maia.
Era uma ilustração do fato do dia. Na sexta, a ministra esteve com o presidente Lula em solenidade amena. E a Folha publicou, na edição nacional, foto dela, sorridente e simpática. Era a ilustração do fato do outro dia.
Depõe contra o espírito de isenção do jornal, entretanto, que essa foto de sexta tenha sido substituída, na edição São Paulo, por outra, com Dilma e Lula em momento de aparente enfado.

Toda leitura é possível, como ensinam Proust e Borges. Mas vai ser difícil achar quem leia, nessa alteração editorial, um gesto de simpatia à ministra.

FRASES DE LEITORES

"O editorial ... é digno de ser um editorial do jornal oficial do PT. Estou desesperançado e decepcionado com essa imprensa uníssona a favor do governo"
(Genaro A. P. Salles)

"Na capa ... temos uma foto da ministra Dilma Rousseff que tem, indubitavelmente, o propósito de ridicularização"
(Jerson A. Prochnow)

"Tsunami de notícias", Carlos Heitor Cony

Vale a pena ler o artigo de Cony na Folha de hoje. Bela análise sobre essa avalanche de notícias e comentários publicadas em jornais, revistas, sites, blogs etc etc nos dias de hoje.

A pobreza da abundância
CARLOS HEITOR CONY

Crítico inglês de música pop, escrevendo para jornais não necessariamente ligados à temática que escolheu, Simon Reynolds, 45 anos, autor de "Bring the noise" (Faber&Faber), reclama não da diversidade, mas da redundância e banalidade que penetram em todas as áreas do pensamento e da criação artística.
"Há opiniões demais sobre música e tudo o mais". No caso de sua especialidade, ele acrescenta: "Toneladas de jornalistas competindo para tecer opiniões (...) um universo incestuoso, comentários de leitores na seção de cartas, respostas enfurecidas dos artistas criticados".

Mal comparando, a sociedade é invadida diariamente por um tsunami de notícias e comentários: quando vence ou é vencida por uma onda mais forte e letal, logo surge outra, a morte da menina de seis anos, o austríaco tarado que estuprava a filha, o craque de futebol metido com travestis num motel da Barra, a crise na candidatura de um candidato à Presidência dos Estados Unidos, a gradual e obsessiva caminhada de Lula para um terceiro mandato -tudo isso se amontoa nos jornais, revistas, rádios, TVs, internet, palavras, palavras, palavras.

Lembro um professor que decidiu ler apenas dicionários: um bom dicionário contém todas, ou quase todas, as palavras, e com elas se podem fazer todas as combinações, até mesmo de conceitos e de coisas inexistentes.

Dirão: mas o sentido, o conteúdo de tantas palavras? A resposta obriga ao uso de outras tantas palavras. Que sentido teve o assassinato da menina de seis anos, do pai que violentou as filhas, do craque escolado que não distinguiu um homem de uma mulher?

E aí estou, vítima e cúmplice da pobreza da abundância, colaborando para aquilo que são Paulo chamou de "confusão de nós mesmos".

Trocadalho do carilho


Bom fotógrafo está sempre atento. Bom repórter também. Belo clic do Lula Marques da Folha de S. Paulo. Agora, cá entre nós, trocadilhozinho sinistro!

Esqueci de dizer 1: "Agripino Maia sifu!"


O senador Agripino Maia, que apoiou governos da Ditadura e hoje posa de oposição, perdeu uma boa oportunidade de ficar calado. Quem sabe agora a gente não se livra um pouco mais daquela vozinha chata nos telejornais da vida.
Boa, Dilma!

Fotosacana - 23: O que que é isso, companheiro?

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Uma homenagem: Artur da Távola



Soube à tarde da morte do Artur da Távola, ou, como chamávamos em O Globo, Paulo Alberto (seu nome verdadeiro). Foi uma das pessoas que me tratou bem quando eu era um simples "foca". Ele lembrava de mim como "o amigo do Oswaldo Montenegro".
Falando agora há pouco com o meu camarada pão-duro Gustavo Nagib, que fez uma homenagem ao Paulo Alberto em seu hilário blog no jornal Extra (http://extra.globo.com/blogs/paoduro/), Gustavo me lembrou de uma troca de e-mails entre Paulo Alberto e eu. Curioso: Gustavo ainda tem esse e-mail. Reproduzo neste blog.

Valeu Mestre! Boa viagem. Mande notícias.

Quer ler? Já sabe, né? É só passar a mãozinha.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Fotosacana


E a legenda: "Olimpíada: polícia chinesa treina para receber futebol". Deu pra entender?

terça-feira, 6 de maio de 2008

"PC Guimarães comenta" no ar. A nº 6. "Campeão ou não, és eterna paixão"



Quer ler? É só passar a mãozinha. A coluna é publicada toda segunda-feira, após às 16h, no Correio do Brasil (http://www.correiodobrasil.com.br)

Aula de Assessoria: mais uma do Caso Ronaldo


Conversei ontem, em sala de aula, com os meus alunos sobre o Caso Ronaldo. Vale a pena ler a nota publicada hoje na coluna do Joaquim Ferreira dos Santos, em O Globo.

Luiz Garcia e Zuenir Ventura


Tive a honra de ser chefiado pelo Luiz Garcia no Globo. Sou fã de carteirinha. Não sei se já escrevi aqui no blog, mas lembro do Luiz Garcia fechando a primeira página do jornal, ao mesmo tempo em que lia um livro em inglês e jogava xadrez com o Luis Eduardo Resende, num plantão monótono de um fim-de-semana. Sabe tudo de português. Vale a pena ler o texto que publicou hoje sobre o novo livro de Zuenir Ventura. Já reli o primeiro volume e estou lendo o segundo.
Quer ler o texto do Luiz? Já sabe, né? É só passar a mãozinha.

"Eu também tive um sonho", Ricardo Benevides

Botei a "cara" pra bater e estou levando. Meu querido amigo professor de RP, Ricardo Benevides, mandou a "gozação" em anexo. Ano que vem ele vai ver.
"Eu também tive um sonho, meu caro PC.

Sonhei que a torcida do Botafogo tinha acordado hoje (segunda), olhado pra trás e dito a si mesma: fizemos um belo campeonato, nosso time é bom às pampas, mas o adversário foi melhor nos dois jogos das finais.

E só isso. Sonhei que a torcida tinha dito só isso.

Porque o Cuca disse só isso. E a diretoria do clube não disse nem isso.

Como será bom o dia em que os torcedores puderem se distanciar e dizer só isso, depois de jogos como o de semana passada e o de ontem. O grande Botafogo será ainda maior. Porém, eu acordei e descobri que o time do Botafogo não é o time do "quase". A torcida é que é a torcida do mas...

Eu e os meus sonhos!
Abração,
Benevides"

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Do Grajaú para o mundo!


Renato Maurício Prado, Fernando Calazans, Roberto Assaf e Juca Kfoury começam a ficar preocupados. Não se fala noutra coisa no Brasil. Quer dizer, no Rio de Janeiro. Ou melhor, na minha rua. Vá lá, no meu prédio. Como queiram, no meu andar. Admito, no meu quarto. É a coluna "PC Guimarães comenta" arrebentando.
Quer ler o que penso sobre a derrota do Glorioso mais charmoso do universo? É só passar a mãozinha. Fica até terça de manhã no Correio do Brasil.
http://www.correiodobrasil.com.br

domingo, 4 de maio de 2008

Invasão de privacidade

Vale a pena ler o texto do ombudsman da Folha sobre o caso envolvendo Ronaldo e os travestis.

Privacidade dos olimpianos
Carlos Eduardo Lins da Silva

Ronaldo Nazário, o "Fenômeno", poderia ter sido um dos personagens da edição de estréia de "Serafina". Ele freqüenta habitualmente as páginas desse tipo de revista, na condição de rico e famoso.

Existe uma indústria que vive da exploração da imagem desses personagens "olimpianos", fenômeno típico do século 20: gente famosa não só pelo que fazem, mas pela vida que levam, como define o ensaísta Clive James.

Entre os principais beneficiários dessa atividade, estão evidentemente as próprias celebridades, que recebem pequenas fortunas para promover produtos ou eventos e, para tanto, precisam estar sempre em voga.

Acontece que nem sempre tudo é charme e beleza na vida dessas pessoas. Quando algo desagradável ocorre e o jornalismo noticia, nunca falta quem reclame de invasão de privacidade. Alguns leitores fizeram isso no caso entre Ronaldo e travestis.

Quem busca a celebridade e vive dela tem menos direito de reclamar respeito à privacidade que os demais. Nisso concordam o Manual da Redação da Folha (que trata do assunto às páginas 27 e 28) e acadêmicos como Diógenes V. Hassan Ribeiro, autor do livro recomendado nesta coluna.

"São pessoas mais sujeitas à curiosidade alheia, até em razão de provocarem essa curiosidade por motivos profissionais, por interesses econômicos", diz Ribeiro.
É claro que, ainda assim, há limites éticos e de bom gosto que devem ser respeitados caso a caso. No de Ronaldo, a meu ver, a Folha tem agido dentro dessas fronteiras.

1968 - O ano que não terminou: Peter Burke no "Mais!" da Folha

Imperdível para quem quer entender 1968 a leitura do caderno "Mais!" da Folha de S. Paulo de hoje. Reproduzo um dos artigos, do historiador inglês Peter Burke. Mas tem muito mais coisa no caderno.

Lembranças de maio
O HISTORIADOR INGLÊS PETER BURKE RECORDA O IMPACTO DAS MOBILIZAÇÕES NA FRANÇA E NA TCHECOSLOVÁQUIA E AS CONQUISTAS PARA O FEMINISMO, OS COSTUMES E OS DIREITOS CIVIS

PETER BURKE
COLUNISTA DA FOLHA


Uma das datas da qual os membros da minha geração jamais vão se esquecer é 1968, graças a dois acontecimentos, um em Praga e o outro em Paris.
O primeiro foi a chamada Primavera de Praga -em outras palavras, o "socialismo com face humana" incentivado por Alexander Dubcek, que se tornou primeiro secretário do Partido Comunista da Tchecoslováquia em janeiro daquele ano.
O segundo acontecimento memorável ou, melhor dizendo, série de acontecimentos -"os acontecimentos", como os franceses os descreveram na época- se deu em Paris, dentro e em volta de duas universidades: Sorbonne, no centro da cidade, e Nanterre, em sua periferia.
Os estudantes foram liderados por trotskistas (expulsos da União dos Estudantes Comunistas Franceses em 1965), maoístas e anarquistas (sobretudo o carismático Daniel Cohn-Bendit, que se tornaria um respeitável deputado no Parlamento Europeu).
Os estudantes se revoltaram, hastearam bandeiras vermelhas, atiraram coquetéis Molotov, lutaram contra a polícia ou fugiram dela, arrancaram paralelepípedos das ruas, ergueram barricadas (pela primeira vez desde a Segunda Guerra), atacaram os escritórios da American Express e do banco Chase Manhattan em Paris e, no dia 10 de maio de 1968, ocuparam a Sorbonne, convertendo-a numa espécie de comuna estudantil.
De Gaulle queria enviar o Exército para intervir, mas foi persuadido a não fazê-lo, já que os soldados, em sua maioria rapazes que cumpriam o serviço militar obrigatório, poderiam querer se confraternizar com os estudantes.
As principais armas empregadas contra eles foram investidas com gás lacrimogêneo e cassetetes.

Slogans e pichações
As revoltas estudantis não costumam conquistar a simpatia do público, mas esses fatos o fizeram. Mesmo as pichações nos muros foram fotografadas e reproduzidas na imprensa, sendo imitadas em outras cidades, como Oxford.
Algumas daquelas pichações são recordadas até hoje, especialmente "A imaginação ao poder!". Algumas delas seguiam a tradição das revoluções: "Abaixo o Estado", por exemplo, ou "Abolição da sociedade de classes!".
Outras expressavam críticas à tradição revolucionária, exortando ao sexo em vez do trabalho e à espontaneidade em lugar da disciplina ("Aqui se "espontaneiza'").
Outras pichações, ainda, defendiam posturas francamente hedonistas ("Viver o presente" ou "Trabalhadores do país, divirtam-se!"), expressando um pouco do espírito carnavalesco dos próprios acontecimentos.
Algumas pichações eram citações, reconhecidas ou não, de Bakunin, Nietzsche, Unamuno, Heráclito etc. Outras ofereciam epigramas originais, como "As paredes têm ouvidos. Seus ouvidos têm paredes" ou "A barricada fecha a rua, mas abre a via".
Vistas em conjunto, essas inscrições transmitem de maneira vívida uma crítica veemente à religião, ao Estado (especialmente a polícia), ao sistema educacional e à sociedade de consumo ("A mercadoria é o ópio do povo").
A inspiração de muitas dessas pichações, assim como dos acontecimentos como um todo, veio do chamado "situacionista" Guy Debord, autor de "A Sociedade do Espetáculo" (1967), de intelectuais de esquerda como Henri Lefebvre, Louis Althusser, Cornelius Castoriadis e Claude Lefort, de Mao Tse-tung, tão popular entre a esquerda nos anos 1960, e, voltando mais atrás, de Marx, Lênin e Trótski.

Alguma revolução
Hoje, 40 anos depois, seria interessante que alguém entrevistasse os autores das pichações -se soubéssemos quem são!- para lhes perguntar o que pensam hoje das idéias e dos sentimentos que, na época, expressaram publicamente com tanta pungência.
O que essas pichações tornam muito claro é o desejo ou a esperança de muitos de seus autores por alguma espécie de revolução política ou social, um novo 1789 ou, quem sabe, um novo 1848 ou mesmo uma revolução cultural como a que estava acontecendo na China, enquanto ocupavam a Sorbonne e eram elogiados por alguns intelectuais franceses, incluindo Jean-Luc Godard. Até que ponto essa revolução teve êxito?
A pergunta era muito difícil de responder na época, mas hoje, passados 40 anos, algumas coisas já se tornaram mais claras. Os acontecimentos ajudaram a derrubar o presidente Charles de Gaulle, que renunciou ao cargo em abril de 1969.
Por outro lado, De Gaulle foi sucedido por seu antigo primeiro-ministro, Georges Pompidou, que não era mais aberto que seu antecessor às idéias dos estudantes.

Ganhos indiretos
Os acontecimentos de 1968 instigaram o governo a empreender uma reforma das universidades, multiplicando o número de estudantes, mas não conseguindo ampliar a infra-estrutura acadêmica de modo a satisfazer as suas necessidades.
É possível que as conseqüências mais duradouras do Maio de 1968 tenham sido indiretas, de natureza cultural, mais que estrutural.
O exemplo dos estudantes parece ter encorajado o movimento feminista francês, além de aumentar a consciência política de alguns intelectuais, como foi o caso de Michel de Certeau [1925-86].
Num artigo publicado algumas semanas apenas após os acontecimentos, ele -com um entusiasmo talvez inesperado, em se tratando de um jesuíta de meia-idade- escreveu que "em maio de 1968, tomou-se a palavra como tomou-se a Bastilha em 1789".
A interpretação que Certeau fez dos fatos do Maio de 1968 pode ser aplicada a ele próprio. Antes de 1968, ele era um historiador da espiritualidade que também se debruçava sobre a reforma da igreja.
Depois de escrever esse célebre artigo sobre 1968, porém, Certeau foi projetado para sua segunda carreira, a de analista da sociedade contemporânea, discutindo e criticando as idéias de Michel Foucault e Pierre Bourdieu, tendo escrito "A Cultura no Plural" (1974) e "A Invenção do Cotidiano" (1980), além de dar palestras nos EUA, no Brasil e em outros países.
Em suma, como é o caso de revoluções em escala maior, os acontecimentos de 1968 incentivaram algumas pessoas a alimentar pensamentos novos, dando asas a sua criatividade.
Para deixar a última palavra às pichações, "a revolução é uma iniciativa". "Criemos comitês de sonhos." "A ação não deve ser reação, mas criação." "Criem!"
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PETER BURKE , 70, é historiador inglês, autor de "O Que É História Cultural?" (ed. Zahar). Escreve na seção "Autores", do Mais! . Tradução de Clara Allain.