Vale a pena ler o texto do ombudsman da Folha sobre o caso envolvendo Ronaldo e os travestis.
Privacidade dos olimpianos
Carlos Eduardo Lins da Silva
Ronaldo Nazário, o "Fenômeno", poderia ter sido um dos personagens da edição de estréia de "Serafina". Ele freqüenta habitualmente as páginas desse tipo de revista, na condição de rico e famoso.
Existe uma indústria que vive da exploração da imagem desses personagens "olimpianos", fenômeno típico do século 20: gente famosa não só pelo que fazem, mas pela vida que levam, como define o ensaísta Clive James.
Entre os principais beneficiários dessa atividade, estão evidentemente as próprias celebridades, que recebem pequenas fortunas para promover produtos ou eventos e, para tanto, precisam estar sempre em voga.
Acontece que nem sempre tudo é charme e beleza na vida dessas pessoas. Quando algo desagradável ocorre e o jornalismo noticia, nunca falta quem reclame de invasão de privacidade. Alguns leitores fizeram isso no caso entre Ronaldo e travestis.
Quem busca a celebridade e vive dela tem menos direito de reclamar respeito à privacidade que os demais. Nisso concordam o Manual da Redação da Folha (que trata do assunto às páginas 27 e 28) e acadêmicos como Diógenes V. Hassan Ribeiro, autor do livro recomendado nesta coluna.
"São pessoas mais sujeitas à curiosidade alheia, até em razão de provocarem essa curiosidade por motivos profissionais, por interesses econômicos", diz Ribeiro.
É claro que, ainda assim, há limites éticos e de bom gosto que devem ser respeitados caso a caso. No de Ronaldo, a meu ver, a Folha tem agido dentro dessas fronteiras.
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