sábado, 4 de outubro de 2008

Por um Jornalismo diferente

Reflexões para um jornalismo diferente
Thais Naldoni (Portal Imprensa)

A canção de Chico Buarque faz cada vez mais sentido. "Todo dia ela faz tudo sempre igual" ("Cotidiano"). Essa é uma autocrítica que faço agora como profissional de comunicação. Sempre acreditei que o Jornalismo fosse uma profissão sem rotina. Que cada dia estaria em lugar diferente, que o cotidiano não me consumiria como nos demais trabalhos. Mas consome.

O jornalismo vive um período complicado, no qual a tecnologia interfere diretamente no que é produzido. Antes, as matérias pareciam mais densas, recheadas de informações e impressões. Claro! O repórter estava no local do acontecimento, via o fato sempre de perto, sentia o cheiro, analisava expressões, ouvia impressões. Hoje, o jornalismo - óbvio que existem exceções - está baseado no telefone, na internet, no e-mail, no oráculo Google.

Vejo, frequentemente, repórteres satisfeitos com as informações que chegam nos releases, sem que nada aguce sua curiosidade de saber mais. E é tão bom saber mais... A falta de leitura faz com que o vocabulário utilizado para redigir as matérias seja cada vez mais pobre e, assim, o texto perde em informação, em solidez, em charme.

Credito isso, em parte, à falta de investimento da maioria dos veículos de comunicação na reportagem. E olha que não estou falando de grandes reportagens, como as publicadas nas revistas Brasileiros e Piauí. Falo de reportagem de todo o dia, de todas as editorias. É mais barato ligar de São Paulo para o Rio de Janeiro ou mandar um repórter de uma cidade para outra? A resposta é bem fácil, não é?

O mais interessante é que esse "fenômeno" não está restrito aos veículos pequenos, com poucos recursos. Tenho colegas renomados, de uma mídia que tem por característica fazer matérias in loco, que é o rádio, por exemplo, que se queixam de terem que apurar suas matérias e gravar entrevistas por telefone, como medida de corte de custos das empresas. Isso, para matérias em rádio, gera um déficit de qualidade brutal.

Penso que, quanto mais qualidade consigamos dar a uma matéria, mais ela será lida, ouvida, assistida, acessada. Acredito ainda que o trabalho bem feito, inovador, será sempre reconhecido, ainda que isso leve algum tempo.

O muro das lamentações da coluna de hoje é apenas uma reflexão que me peguei fazendo. Seria o jornalismo uma profissão restrita aos escritórios? Será que a informação não merece ser melhor trabalhada, melhor escrita, melhor pensada? Será que nessa "Roda Viva" (olha o Chico de novo!) em que se insere o jornalista, é possível fazer diferente? Vou seguir pensando nisso e pedindo para que a fonte da criatividade nunca seque... E então, será que dá para fazer diferente?

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