Tenho vários ídolos. Charles Chaplin, Nilton Santos, Garrincha, Ernest Hemingway, Rubem Braga, Fernando Sabino, Vinicius de Moraes, Noam Chomsky, Sergio Porto, Drummond, Fernando Pessoa, Che Guevara, Paulo Cesar Caju e Marinho Chagas, Noel Rosa, Catherine Deneuve, Tio Sá e muitos... muitos outros. Me amarrava também nos palhaços Fred e Carequinha. Mas se eu escrever que eu gostava do Carequinha, muitos canalhas vão me gozar.
Admiro o texto de dois amigos: um dele já se foi: Lanning Elwis. O outro continua: Sérgio Vasconcellos. Meu melhor amigo de infância, o irmão que eu gostaria de ter. Até mesmo pra brigar. Por anos e anos não nos falamos. Culpa minha.
O cara escreve muito. Vejam o que escreveu no seu blog "Ferro de blog blog":
http://sergiovasconcellos.blogspot.com/"Amanhece laranja em Niterói. Vejo daqui. Aqui não. Aqui cinza. A velha paisagem dos meus 6 anos de idade volta aos meus olhos de boêmio, agora ávidos por um sono profundo.
Estou no Grajaú. No velho Grajaú dos amigos de infância. Do Amaury, do PV, do PC, do Alfinete, do Arbex, do Tuninho Arataca, do Marcio, do Paulo Maurício, do Cesar Bigode, Oswaldo e de tantos outros que já se foram.
Estou no velho Grajaú do PC, da Cássia, da Clarita, da Sandra, da Tê, da Leila, da Chris, da Katia, da Regina Mara, da Carminha, nossa de quanta gente que subia - e quando subia, a gente olhava de baixo - e descia as escadas da Boite Oficina, que eu fazia com o Helcinho, com o Fernando, com o Eduardo, no velho e saudoso GTC?
Estou aqui, de frente pra Ponte Presidente Costa e Silva, a ponte Rio-Niterói, que inaugurei com meu pai e minha mãe, junto com milhares de outras famílias.
Era um outro Rio de Janeiro, um outro Grajaú, muito diferentes do que são hoje.
O Grajaú do Padre Ferro, do 110, do Seu Hildo, da Luluzinha, das Organizações Magalhães, do Banco Andrade Arnaud, do depósito de carrocinhas da Kibon, do laboratório e do barzinho no centro da praça.
São seis e dez da manhã. Eu morava na Engenheiro Richard e via quase a mesma coisa do que vejo daqui agora: só que eu via um pouco mais: de binóculo, via as horas no relógio da Central, via os navios na Baía de Guanabara, via a própria Guanabara, do Rei da Voz, das Lojas Ducal, da Tonelux, da TV Excelsior e da Rádio Mayrink Veiga.
Eu via a Pedra da Babilônia, via o cometa da Mesbla do Passeio Público, o Sumaré e quando era inverno, eu via balões enormes, lindos, com lanterninhas formando imagens.
Não tinha incêndio nem Polícia nem Corpo de Bombeiros de plantão. Bandidos? Uns dois ou três: lembro do Mineirinho, do Caveirinha e do Cara de Cavalo. Só.
O Grajaú era um bairro aristocrático, de mansões com jardins e quintais, com pouquíssimos edifícios. Eu mesmo nasci numa casa enorme, na Rua Canavieiras, brincava na rua, soltava pipa e via de longe as Hudsons, os Packards, as Mercurys e os enormes Chevrolets. Todos invariavelmente pretos.
Eu conhecia todo mundo e todo mundo me conhecia. O Chico cortava o cabelo de todos os meninos do bairro e só quando ele estava atolado demais, a gente cortava com o Jair. Lanchava no Boys, passava na casa do Seu Moreira, que dava balas pra gente.
Naquele tempo, a gente podia aceitar balas de qualquer pessoa, principalmente de moradores do Grajaú.
Lembro das Vemaguetes que nos ensinaram mais do que a dirigir, nos ensinando a pilotar. Roda Livre ou roda presa: com ou sem reduzida. A gente fazia curva no braço, sem freio-motor, mas com tração dianteira.
Meu primeiro beijo, minha primeira namorada, meus primeiros gols foram todos no Grajaú.
Olho da janela e vejo que ainda restam muitas casas. Na maioria delas eu brinquei, subi no muro, pulei o portão, porque todo mundo era "faixa". Não tinha tempo ruim.
Amanheceu laranja em Niterói. Mas aqui já clareou também. É tempo de dormir o sono dos justos.
Boa noite".
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