segunda-feira, 30 de junho de 2008

A arte assanhada de Alexandre Vogler



A coluna está ficando sacaninha!
Alexandre Vogler trabalhou comigo, no seu início de carreira, na minha antiga agência Portafolio. Já há algum tempo vem chamando a atenção dos jornais com a sua arte ousada. cadê você, Vogler?

Fotosacana - 30 - A deputada assanhada!


A coluna está ficando sacaninha!

Cá entre nós: lá no Grajaú o gesto da deputada Manuela D`Ávila tem um certo significado. A foto é de Roberto Stuckert Filho. Foi feita em outubro do ano passado. Publicar agora tem um objetivo meio sacaninha.

Fotosacana - 29 - Frente Ampla de Rita Guedes


A coluna está ficando sacaninha!
Mas é ou não é a verdadeira "Frente ampla". A foto é de Marcos Ramos e foi publicada na coluna "Gente boa" de O Globo.

Jornais dos EUA vivem crise

A indústria de jornais americana passa por um dos períodos mais difíceis da história. Nas últimas semanas, empresas têm anunciado cortes nas folhas de pagamentos, terceirizações nas operações de impressão e, até mesmo, vendas de prédios históricos, como a sede do Tribune Co. em Chicago, um dos jornais mais respeitados dos Estados Unidos.

Analistas afirmam que os veículos estão funcionando em "modo de sobrevivência" e o pior está por vir. Segundo o analista de mídia da Fitch Ratings, Mike Simonton, existem "expectativas muito amargas para o setor". As previsões tem por base anúncios seguidos de cortes abrangentes de pessoal, como nos jornais The Hartford Courant e no The Baltimore Sun. Na Flórida, o The Palm beach Post e o Daytona Beach Journal pretendem reduzir seus custos operacionais em 7%.

O Tribune ainda informou que fechou a venda de um dos principais jornais do grupo, o Newsday, de Nova York, Com as reduções e vendas, o jornal espera conseguir honrar os compromissos que tem em 2008, mas terá que arrumar uma nova fonte de receita para sanar as dívidas do ano que vem.

Fonte: Ad News

O jornal e o futebol



Como sempre, vale a pena ler a análise do ombudsman da Folha. Aula de Jornalismo.

Notícias no país do futebol
Carlos Eduardo Lins da Silva

É evidente que não pode competir com outros veículos em velocidade e atração imagética, ainda assim o jornal insiste nas velhas fórmulas

DEPOIS de reclamações de ordem político-partidária, o maior volume de queixas que chegam ao ombudsman diz respeito à cobertura esportiva do jornal, particularmente à de futebol. São, em geral, torcedores revoltados com o que consideram atitude preconceituosa contra seu time de preferência.

Aliás, não é à toa que esses são os dois temas que mais mobilizam a emoção dos leitores em relação ao jornal. Já quase virou lugar-comum dizer que a luta entre PT e PSDB virou uma espécie de Fla-Flu.

Infelizmente para o país, como adverte José Miguel Wisnik no livro indicado ao lado, "os Fla-Flus podem ser tão estimulantes e interessantes no futebol (onde o próprio jogo se encarrega de reverter de alguma forma a paralisia dos opostos) e tão nefastos na vida intelectual, onde imobilizam e esterilizam o pensamento".

A cobertura de esportes é uma das áreas que mais sofrem nos jornais impressos as conseqüências do novo ambiente da mídia. A TV paga, com seus canais dedicados 24 horas diárias a esportes, os blogs especializados, a informação via internet, tudo isso exige do jornal impresso uma nova atitude se quiser manter a atenção, o interesse e a lealdade do leitor.

É evidente que ele não pode competir com os outros veículos em velocidade e atração imagética. Mesmo assim, continua insistindo, muitas vezes, nas velhas fórmulas.A ilustração fotográfica não pode se limitar a reproduzir estaticamente o que o torcedor viu dezenas de vezes em movimento e câmara lenta na véspera. Ela tem de ser capaz de sintetizar o significado do jogo em alguma cena que as câmeras de televisão por qualquer motivo não puderam registrar ao vivo.

Quanto aos textos, não devem em nenhuma hipótese só descrever o que o leitor já viu muitas horas antes. Precisa ir atrás do detalhe, da informação exclusiva, da opinião avalizada, do enfoque original, do anúncio de novidades.

Há 20 anos, a Folha inovou a cobertura esportiva com a adoção de estatísticas detalhadas das competições. A TV absorveu isso rapidamente. Agora, não é mais um diferencial.

Pelo mundo, claro, também se discute o que fazer com os esportes nos jornais. O caráter cada vez mais mercadológico da atividade -que até ameaça seus princípios básicos- tem feito com que alguns diários pelo mundo incorporem a cobertura de esportes à de economia e negócios. Pode ser uma saída.

Mas no Brasil, ao menos em futebol, o que mais interessa é o jogo em si. Por isso, o importante é investir em talento e inteligência. A Folha já tem excelentes colunistas, que fazem a sua parte. Precisa pensar mais em como superar as dificuldades no noticiário.

Embora não seja um jornal nacional (não há nenhum desse tipo no Brasil), este tem repercussão em todo o país. Por isso, é necessário conter seu natural bairrismo e dar mais espaço ao que é importante em outros Estados.

Também tem de se esforçar para buscar o inusitado, esclarecer o que ocorre nos bastidores, superar em qualidade de análise e informação a rapidez e superficialidade dos meios adversários.

Isso vale não apenas para o futebol, mas para todas as modalidades. Um leitor fã de Fórmula 1 tem cobrado uma cobertura menos ingênua e mais crítica da política interna das grandes escuderias e ele tem razão em suas queixas. É difícil, mas precisa ser feito.

E, ao mesmo tempo, ainda há a permanente busca da imparcialidade possível.
Vêm aí os Jogos Olímpicos de Pequim, mais um grande teste para o jornal mostrar ao leitor a sua contínua utilidade.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Aula de Assessoria: no Alcaparra



Nos bons tempos freqüentei muito o restaurante Alcaparra, no Flamengo. Bom atendimento, boa comida, bom serviço. E boa assessoria! Leiam a nota publicada na coluna "Programa furado" no caderno "RioShow" do Globo de hoje.

Cesar Maia assassina a gramática



Deu hoje no ex-blog do Cesar Maia. Leiam a última linha; não precisa nem passar a mãozinha. "Alertando "a" (sic) algum tempo" é primário. Alguém precisa alertar Cesar Maia que é "há" e não "a".

Por que em vez de tirar onda de blogueiro, o nosso alcaide não trabalha de verdade? Poderia cuidar dos buracos nas ruas (quem anda de moto, sofre) e acabar com a Indústria da Multa.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

"Internet é a 2ª mídia de massa no Brasil"

23 horas e 51 minutos. Esse é o tempo médio que o brasileiro navega pela internet por mês, segundo informações do presidente do Interactive Advertising Bureau (IAB Brasil) e diretor-geral do Terra, Paulo Castro. Os números servem de apoio para a declaração de Castro, que dispra: "é a segunda mídia mais abrangente do Brasil. Só perde para a TV aberta", declarou ao portal Terra.

Com o volume mensal, o Brasil ultrapassa em três horas os franceses e em quatro horas os norte-americanos. Paulo Castro prevê que a internet brasileira deva atingir 25 milhões de visitantes únicos até o final de 2008. Em dezembro do ano passado, segundo o Ibope, este número era de 21,3 milhões, contabilizados a partir de conexões residenciais. Em número absoluto, o Ibope confirma 40 milhões de internautas.

"É a sexta maior população de Internet no mundo. É um meio eletrônico de massa e alta cobertura", avalia o presidente da IAB Brasil. Segundo ele, o crescimento do mercado digital no país é impulsionado pelo aumento de venda de computadores e disseminação de acesso em escolas e lan-houses. Outro fator comentado por Castro foi a baixa do dólar e melhor condições para crédito.

A Classe C foi a que mais cresceu em participação entre os brasileiros. A estimativa do IAB é de que, em 2008, 40% do uso da Web seja feito por este grupo, 13% pelas classes D e E e o restante pelas mais ricas.

Fonte: Marcelo Gripa - Adnews

Curso de Telejornalismo



Minha ex-aluna Joana Carvalho pede para divulgar.

NOVAS TURMAS PARA CURSO DE TELEJORNALISMO NO CINE GLÓRIA

Devido ao sucesso das últimas edições, o Cine Glória, administrado pela produtora Urca Filmes oferecerá, a partir do próximo dia 12 de julho, mais uma turma do curso Telejornalismo: Aprenda na Prática, ministrado pelos profissionais Ronaldo Rosas, jornalista, ator e publicitário; e Marco de Cardoso, jornalista, publicitário e professor universitário.
A nova turma do curso, ministrado pelos dois jornalistas desde 2006, terá duração de um mês e carga horária de 20h, com aulas uma vez por semana, sempre aos sábados. As inscrições podem ser feitas no próprio Cine Glória (Praça Luis de Camões, s/nº, subsolo – Glória) e informações podem ser obtidas pelos telefones (21) 9204 0877 ou 2556-0781 e pelo e-mail: cinegloria@urcafilmes.com.br.

PROGRAMA:
TELEJORNALISMO: Aprenda na Prática
Conteúdo
Redação de textos para tv; apresentação diante da câmera; técnicas de narração em off e ao vivo; as formas de narrativa para telejornais e programas jornalísticos; como fazer entrevistas; exercícios práticos de vídeo e redação de textos com os alunos. Ao final, os alunos recebem um DVD com as gravações feitas por eles durante o curso.

Docentes
Ronaldo Rosas - Jornalista, ator e publicitário, apresentador do “Jornal Bandeirantes”; âncora do “Jornal da Manchete”; apresentador e repórter especial dos programas “Câmera Manchete” e “Programa de Domingo”; âncora do Talkshow “Primeiro Time” e do telejornal “Edição Nacional” na TVE; supervisor e co-autor dos Cursos de Pós-graduação em Comunicação; diretor da Escola de Rádio e TV (graduação) e diretor da Escola Superior de Mídia do Instituto Politécnico da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.

Marco de Cardoso - Jornalista, publicitário e professor universitário. Diretor e editor de telejornais e programas jornalísticos na GloboNews, Globosat (GNT, Sportv), SBT, Record, Bandeirantes, Fox, TVE, CNT, UTV-RJ e Manchete. Coordenador do Laboratório de TV e professor de Redação Publicitária da Escola de Comunicação Social da UNIGRANRIO. Coordenador do curso de Graduação Tecnológica em Produção Audiovisual na UNIGRANRIO. Professor de Telejornalismo e Texto para TV na UERJ, Universidade Estácio de Sá, Universidade Gama Filho e Centro Universitário Moacyr Bastos. Ganhou três prêmios de jornalismo (EXPOCOM, Prêmio da Fundação Parq-Tec da Universidade Federal de São Carlos-SP e o Prêmio Austregésilo de Athayde).

Informações e inscrições
Carga horária: 20 horas (4h /semana)
Sábados: 12/07, 19/07, 26/07, 02/08 e 09/08, das 09h às 13h
Custo: R$ 550,00 com opção de parcelamento em 2x ou 10% de desconto à vista ou para quem indicar outro aluno.

Público – alvo: Profissionais da área de telejornalismo, recém-formados ou estudantes de Jornalismo.

Vagas Limitadas. Turmas com um mínimo de 10 alunos.



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segunda-feira, 23 de junho de 2008

No Jornalismo nada se cria, tudo se copia: Dunga dá uma de Jânio




Bela sacada do Globo ao publicar no caderno de Esportes uma foto do Dunga, feita pelo repórter-fotográfico Alexandre Cassiano, que repete o enquadramento de Jânio Quadros na fanosa foto premiada de Erno Schneider.

Chegou o Inverno no Rio!


A foto é do meu querido amigo Paulo Rodrigues. Que faça bastante frio pra gente beber bons vinhos...

Jornalismo da segunda vida, Carlos Eduardo Lins da Silva (ombudsman da Folha)

Jornalismo da segunda vida

O espírito do jornalismo em que o ideal é que todos possam ser jornalistas acha muitos adeptos no lado de cá da realidade

MUITOS JÁ decretaram a morte do jornalismo impresso. Agora, já há quem preveja a substituição do jornalismo do mundo real pelo do universo da segunda vida, em que valores como a necessidade de checar os fatos para ver se eles pelo menos ocorreram deixam de ter qualquer significado.

O Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais, um dos raros grupos de intelectuais dispostos a produzir conhecimento independente que teimam em sobreviver no Brasil, realizou em São Paulo na semana passada seminário internacional sobre as novas mídias em que o mundo virtual foi uma das atrações.

A Second Life, criação de 2003 do Linden Lab, uma empresa de tecnologia de São Francisco, Califórnia, é muito mais do que um jogo. Pretende ser uma realidade alternativa.

Seus residentes, mais de 5 milhões atualmente, criam avatares de si próprios. O avatar não é um clone de seu criador nem um replicante do universo de Blade Runner. Ele é a pessoa melhorada. Um homem obeso e tímido pode virar atlético e audaz.

Os avatares ganham vida, andam, voam, trabalham, brincam, fazem negócios na vida virtual. Com dinheiro de verdade do mundo real. Compram roupas, terrenos, casas (já movimentam mais de US$ 60 milhões por ano).

Fazem jornalismo também. Há os meios de comunicação do mundo virtual, criados e desenvolvidos por avatares, que noticiam os acontecimentos da Second Life. E há os meios de comunicação do mundo real que se estabelecem na realidade alternativa. Reuters e CNN são dois exemplos de empresas jornalísticas que instalaram escritórios e correspondentes nesse novo universo.

Tudo poderia não passar de brincadeira inteligente, frívola ou psicótica -depende do gosto- de sociedades e indivíduos que já resolveram (ou pensam ter resolvido) seus problemas materiais básicos e podem se dar ao luxo de dar vida a bonecos em que superam suas frustrações e limites.

O problema é que esse espírito do jornalismo em que o ideal é que todos possam ser jornalistas acha muitos adeptos no lado de cá da realidade.

O conceito de jornalista-cidadão, que tem muito de positivo, pode gerar situações complicadas. Veja o recente exemplo de Mayhill Fowler, que entrevistou o ex-presidente Bill Clinton se passando por simples eleitora e entrou em reunião do candidato Barack Obama identificando-se como voluntária de sua campanha.

Ela registrou declarações sensacionais dos dois e causou grandes prejuízos a ambos. Fez um serviço público? Praticou bom jornalismo? Revelou à sociedade o que os políticos realmente pensam, mas não dizem em público? Ou foi antiética, desonesta, agiu sob a lógica de fins justificando meios?

Faz sentido discutir ética jornalística nesse ambiente? No seminário de São Paulo, um pesquisador britânico disse que o conceito de privacidade é "um produto da era industrial, que agora está acabando" e que, portanto, "não deveria nos surpreender que estejamos procurando construir novas formas de construir uma identidade on-line".
Se todos os valores humanos estão em xeque neste ambiente de múltiplas realidades, por que os do jornalismo sobreviveriam?

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Febeapa: Jornalismo Intuitivo?



A sacada é do meu camarada Fred Tavares, professor de PP da FACHA. Como é que os coleguinhas advinharam que as pessoas na foto estão fingindo? Vá ser ruim de legenda lá em Caruaru!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

"Como é duro ser o mestre"


Zapeando, encontrei esse belo texto publicado no blog do Gilmar Ferreira, colunista de futebol e coisa tal do jornal Extra.

O texto que foi extraído do blog do jornalista David Coimbra, do Zero Hora, de Porto Alegre - leitura que Gilmar recomenda (http://www.clicrbs.com.br/blog/)

Fui professor, uma vez. Faz tempo, foi na Unisul, de Santa Catarina. Convidaram-me para dar aula duas vezes por semana e pensei que ia ser legal isso de ser professor. As alunas me olhando com reverência. Chamando-me de mestre. Admirando minha superioridade. Miando:

- Ai, como o senhor sabe tuuudo, profe.

Ah, cara, realmente ia ser legal.

Já no primeiro dia, encontrei certa resistência dos outros professores.

- Tens algum curso de pedagogia? - perguntavam-me.

- Que método vais empregar nas aulas?

Essas coisas.

Invejosos, concluí. Corporativistas. Não querem que outros sejam chamados de mestres e sejam amados pelas alunas suspirantes.

Não me deixei intimidar, fui em frente na minha disposição de ser professor. Enfrentei algumas dificuldades que suponho serem normais para quem é noviço em uma atividade. O velho e bom Ancheta passou por algo parecido. Pegou um time de adolescentes no Passo Fundo e acabou desempregado em um mês, vítima da impaciência dos dirigentes. O Jones Lopes da Silva escreveu uma matéria emocionante a respeito. Dias atrás, o Ancheta veio visitá-lo na Redação, abraçou-o e confirmou:

- Ainda não desisti. Quero trabalhar como técnico.

Eu também não desisti de ser professor, nas primeiras semanas. Segui com as aulas e as provas e tudo mais.

Até que surgiu aquele cara. Na verdade, ele não surgiu; já estava lá. Um dos alunos. Sentava-se numa das filas laterais da sala e parecia sempre meio aéreo. Olhava-me com uma expressão vazia e nunca falava nada. Não era alto. Nem baixo. Nem gordo. Nem magro. Moreno, cabelos castanhos, a mandíbula pronunciada como se carregasse um cinzeiro na boca. O tal prógnato. Enxergava o mundo com uns olhinhos de porco, pequenos, estreitos e baços.

Enfim, tinha a maior cara de burro.

Jamais dei muita atenção a ele, até certa noite. Triste noite. Havia pedido que a turma fizesse um exercício de texto bem básico e, depois de explicar tudo direitinho, perguntei a ele:

- Entendeu?

Foi meu grande erro.

Ele me olhou inexpressivamente e respondeu:

- An?

- Entendeu? - repeti.

Ele:

- Ah. Entendi.

- Então faz aí como eu disse.

Ele fez. Errado.

- Tu não disseste que havia entendido? - perguntei. - Vou explicar de novo.

Foi o que fiz.

- Agora entendeu?

Ele:

- Entendi.

- Então faz.

Ele fez. Errado.

- Mas tu não disseste que tinha entendido???

Ele me lançou um olhar sem vida.

- Vou explicar outra vez!

E o fiz. Bem devagarinho. Passo a passo. Passo a passo. Com exemplos e tal.

- E agora? Entendeu?

- Entendi.

- Entendeu mesmo?

- Entendi.

- Não quer que explique de novo?

- Não.

- Tem certeza?

- Tenho.

- Hm... Então faz aí.

Ele fez. Errado.

Naquele momento, me deu uma vontade de chorar, mas uma vontade, uma vontade... Respirei fundo. Sentei-me ao lado dele para ficarmos do mesmo nível - dizem que isso funciona. Falei devagar, escandindo as sílabas:

- Vou... explicar... de... novo. Certo?

- Certo.

Retomei a explicação, mas já sentindo um aperto no peito, já sentindo que algo grave poderia ocorrer. Como ocorreu. Perguntei se ele havia entendido. Ele:

- Entendi.

- Jura por Deus?

- Juro.

Suspirei. E, num fio de voz, com os olhos marejados, pedi:

- Então faz...

Ele fez. Errado.

Compreendi que eu não era professor. A vida é assim. Alguns até sabem fazer, mas não sabem ensinar. Talvez eu precisasse daqueles cursos de pedagogia. Talvez os professores veteranos estivessem certos, afinal. Espero que o Ancheta não encontre um tipo como aquele aluno no começo dessa nova carreira dele.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Blog do professor pc recomenda: blog do Pedro Curi






Meu ex-aluno Pedro Curi, do Laboratório de Fotografia, está com um belo blog de fotos. Vale a pena visitar. Fotos "líricas" como "Onde a coruja dorme" e "hilárias" como "Barriga".

Quer ver? Clique: http://www.pedrocuri.blogspot.com/

A volta dos "Trapalhões"


Que bela sacada de "título conjunto" do Dia Online. E que boa notícia! Didi e Dedé juntos de novo. Não vejo mais o programa, mas me divertia muito com o quarteto nos anos 80. Quanto aos "trapalhões" do Dunga...

terça-feira, 17 de junho de 2008

Palestra sobre Passeata dos 100 mil durou quase três horas





Quase três horas! Foi o tempo que durou ontem a palestra do professor e ex-líder estudantil Vladimir Palmeira e do repórter-fotográfico Evandro Teixeira sobre os 40 anos da Passeata dos 100 mil. O auditório da FACHA Botafogo ficou lotado durante a palestra. Os professores Cid Benjamin e Pery Cotta foram os mediadores do evento, patrocinado pelo Jornal Laboratório, com o apoio do ERP (Escritório de Relações Públicas).

Fotos: Pedro Jardim

Ancelmo Goes divulga palestra sobre Passeata dos 100 mil

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Legenda sacana: Vista? Que vista?


A legenda saiu no JB de hoje. A foto é de Fernando Souza. O que vocês acharam da linda vista? Quer ver melhor? É só passar a mãozinha.

Fotosacana - 27 - Dá-lhe Garotinho! (2)


O apelido dele é "Bolinha", o nome dela é Rosinha. Dizem que ela também é conhecida como "Madame". Os dois formam um belo casal. O amor é lindo!

Informe JB divulga nota sobre a palestra "Passeata dos 100 mil"

Blog do professor pc recomenda: livro sobre a História da Imprensa no Brasil



Nelson Werneck Sodré escreveu há alguns anos um clássico sobre a História da Imprensa no Brasil (a Mauad X ainda tem disponível em seu catálogo). Esse livro é novo.

domingo, 15 de junho de 2008

Internet emburrece?

Vale a pena ler o artigo de Gilberto Dimenstein a Folha de hoje.

Internet emburrece?

As redes facilitaram o acesso à informação, mas também facilitaram a apropriação de reflexões dos outros

IMAGINE 687 MIL UNIVERSITÁRIOS ou recém-formados disputando 2.500 vagas de estágio e de programas de trainee. Isso equivale a aproximadamente 2.800 candidatos por vaga. Só para dar uma medida de comparação: é uma proporção 25 vezes maior do que a dos vestibulares das mais disputadas faculdades brasileiras.
O que você acha que ocorreu com tanta gente disputando tão poucos empregos? Pergunte a algumas das 57 empresas, entre as quais a Microsoft, a Natura, a Unilever, a Braskem e o ABN-Amro, que participaram da seleção. Não ocorreu o óbvio.
Responsável pela aplicação dos testes em 2007, a psicóloga Sofia Esteves constatou que algumas das empresas não preencheram vagas ou tiveram de se contentar com a repescagem, obrigadas a diminuir o nível de exigência. "Há uma distância crescente entre o perfil desejado pelas empresas e a qualidade dos universitários", afirma.
Além das óbvias questões educacionais, relembradas na semana passada, com a divulgação de um índice de qualidade do ensino (Ideb), a psicóloga levanta mais uma hipótese: excesso de internet. Seria essa mais uma das retrógradas reações típicas de quem tem fobia tecnológica?

Sofia conta que alguns exames foram abrandados ou até eliminados. Numa prova de língua portuguesa, apenas um entre 1.800 candidatos foi aprovado. Decidiu-se então abolir esse requisito -o candidato passou a ser eliminado apenas quando comete, na redação, um erro do tipo escrever experiência com "ç".
Na seleção, porém, a dificuldade tem sido menos a de escrever segundo as normas gramaticais (o que já é grave) do que a de expor criativamente uma idéia -um critério relevante porque as empresas querem funcionários capazes de enfrentar desafios com autonomia. E aí, na visão da psicóloga, entraria a ação nociva da internet.

É verdade que as redes digitais facilitaram, como nunca, o acesso a qualquer tipo de informação, mas também é fato que facilitaram a apropriação de reflexões dos outros. É sabido que muitos alunos, na hora de fazer as lições, montam uma colagem de textos encontrados na internet. "Estão perdendo o hábito de ler um livro inteiro e fazer um resumo."
Pula-se velozmente de galho em galho digital, numa interatividade hiperativa. A hipótese é que, por isso, sairia prejudicada a busca de profundidade.

A combinação de excesso de informação com hiperatividade foi um dos fatores que motivaram Mark Bauerlein, professor da Universidade Emory, em Atlanta (EUA), a escrever um livro intitulado "A Mais Burra das Gerações: Como a Era Digital Está Emburrecendo os Jovens Americanos e Ameaçando Nosso Futuro". Burrice seria, na sua visão, 52% dos adolescentes americanos terem respondido em uma prova que a Alemanha foi aliada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.
Sua tese central é a de que as tecnologias digitais permitiram que os jovens passassem ainda mais horas do dia trocando informações com seus pares, mas, ao mesmo tempo, diminuiu o tempo de intermediação dos adultos nos processos de aprendizado.
Diante daquela avalanche de dados em tempo real, ficaria então mais difícil para os jovens aprender a selecionar e expor o que é relevante no conhecimento tudo isso acaba prejudicando a liderança e a capacidade de trabalhar em grupo.

A avalanche digital não teria maiores problemas se o jovem não fosse obrigado a buscar um emprego que exigisse criatividade e autonomia para solucionar desafios o que requer necessariamente a capacidade de síntese e a habilidade de selecionar uma informação relevante. Justamente uma das razões, entre várias, para que aqueles 687 mil universitários brasileiros não conseguissem preencher 2.500 vagas.

PS- Como trabalho simultaneamente com comunicação e educação, tenho observado que, embora adore a abundância de informação, reverencie a possibilidade de escolhas e aprecie ainda mais a possibilidade de interagir, coisas que vieram mesmo para ficar (e é bom que fiquem), o jovem se sente confuso e demanda cada vez mais a intermediação de gente em quem possa confiar para ajudar na seleção das informações.
Ele vê com desconfiança os meios de comunicação tradicionais como a escola, por suspeitar que eles não conseguem traduzir o que é relevante para sua vida. Por esse ângulo, nós é que somos emburrecidos. Tanto a escola como o jornal do futuro vão estar assentados na solução desse desafio ou vão ficar estacionados no passado. gdimen@uol.com.br

Blog do professor pc recomenda: livro sobre Katharine Graham, a "publisher" do Washington Post


Na verdade quem recomendou foi o ombudsman da Folha de S. Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva, em sua coluna de hoje. O blog concorda. Não li, mas gostei. Vejam a sinopse publicada no site da Livraria Cultura.

"A autobiografia de uma das mulheres mais poderosas dos EUA - Katharine (Kathie) Graham - presidente e proprietária do Washington Post. O livro traz a história dos pais de Katherine - o pai multimilionário que compra o arruinado 'Washington Post'; a mãe excêntrica e suas amizades cativantes, como Thomas Mann e Adlai Stevenson; a história de Phil Graham - o marido brilhante e carismático, cujo mergulho na psicose maníaco-depressiva e, por fim, seu suicídio, são narrados de maneira comovente e generosa. Acima de tudo, é a história da própria Kay Graham, sua luta para assumir a direção de um grande jornal, os personagens fascinantes que conheceu, e os grandes nomes do 'Post - Bob Woodward, Carl Bernstein e Ben Bradlee".

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Fotosacana - 26 - Dá-lhe Garotinho!


Quase esqueço de publicar essa pérola publicada no Globo de ontem. A foto é de Michel Filho.

Classificados blog do professorpc: estágio no Bolsa de Mulher

Cargo: Estagiário
Salário: A Combinar
Localidade: RJ
Título: Estágio em jornalismo/webtv
Descrição: Estágio em jornalismo/webtv

O Bolsa de Mulher SA, uma empresa Ideiasnet (IDNT3 na Bovespa) focada
em de soluções femininas, oferece 1 vaga para estágio em produção e
edição de vídeo para web.

Requisitos:- Estar cursando do 3 ao 7 período de Comunicação Social, Cinema ou
Desenho Industrial.
- Ter domínio de edição em Adobe Premiere;
- Ser ágil, criativa e curiosa;
- Gostar de internet.
Período: manhã ou tarde
Local: Ipanema
Remuneração: a combinar

Como participar:
Envie seu currículo e link para portfólio (YouTube de preferência) até
o dia 30/06/2008 para o email vagas@bolsademulher.com com o subject
"ESTAGTV 2Q 2008"
Nº de vagas: 1
Empresa: Bolsa de Mulher SA

O JB comeu mosca, segundo o professor Gilson Caroni



Bela sacada do meu camarada de longa data, Gilson Caroni, professor da FACHA, sociólogo e "aprendiz" de Jornalista (rs). Saiu no Observatório da Imprensa e em diversos sites. Isso que o JB fez, lá no Grajaú tem nome. Que Jornalismo é esse, seu Tanure?

LEITURAS DO JB
Ato falho ou boca torta?
Gilson Caroni

Diz a psicanálise que é através do ato falho que o inconsciente realiza seus desejos. Como Freud não admitia espaço para o acaso, nenhum gesto, palavra ou pensamento acontece acidentalmente. Em tudo há uma intencionalidade, oculta ou não.

O que ocorreu com a edição de domingo (8/6) do Jornal do Brasil? Ao tratar do escândalo que atinge o governo de Yeda Crusius (PSDB-RS), os editores não hesitaram em caprichar no significativo título: "Corrupção abala governo do PT". Ao leitor mais desatento foi isso que ficou marcado na retina.

"Um escândalo de corrupção pode forçar a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), a promover alterações no primeiro escalão de sua administração. Na pior crise política de seu governo, Yeda vê seus auxiliares mais próximos sendo envolvidos por gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal e até pelo vice-governador Paulo Feijó (DEM)."

Freud diria que o "equívoco" é a evidência de como certos sintomas revelam formação de compromisso entre a intenção consciente do sujeito e o recalcado. Quando sabemos o poderoso instrumento que é um título de jornal, nos damos conta da extensão do "recalque".

Para o jargão jornalístico, no entanto, trata-se apenas de que alguém "comeu mosca". Não identificou um erro que saltava à vista. Uma falha que pode ser corrigida com uma errata. E fica o dito pelo não dito, ou melhor, o escrito pelo não escrito.

Mas para quem conhece a linha editorial da contrafação daquele que já foi um dos mais importantes jornais de expressão nacional, o erro do JB cabe na máxima popular: "O uso do cachimbo faz a boca torta". Talvez seja o caso de lembrar ao atual proprietário, Nélson Tanure, que normas de segurança em estaleiros não são mecanicamente aplicáveis a redações. Nestas últimas, os procedimentos mais importantes devem conter prudência e uma boa dose de ética.

A curva padronizada para ambientes com material combustível recomenda que o uso do cachimbo seja precedido por todas as precauções possíveis.

Blog de aluno


Pedro Jardim, aluno do 6º período e estagiário do Laboratório de Fotografia, acaba de lançar um blog de fotos.
Quer ver?
http://drope-pk.blogspot.com/

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Classificados Blog do PC - Oferta de estágio - Só para mulheres

Vaga de estágio na empresa Monte-Castelo Idéias
Mulheres
A partir do 6o período
(De preferência do turno da noite)
Horário: 8h30 às 18h
Assessoria de imprensa
Salário a combinar
enviar currículo para cecilia@montecastelo-ideias.com.br

Pessoal: palestra com Vladimir Palmeira e Evandro Teixeira na FACHA







O ex-líder estudantil Vladimir Palmeira e o repórter-fotográfico Evandro Teixeira fazem palestra na FACHA Botafogo na próxima terça-feira, dia 17 de junho, às 19h no auditório. Vladimir foi o principal líder estudantil dos movimentos de 68 no Brasil e Evandro Teixeira acaba de lançar um livro sobre o tema. A Passeata está completando 40 anos no dia 26 de junho.

Quem não for é mulher do padre, digo, do bispo.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Fotosacana - 25 - Prefiro não comentar



Autor: Custódio Coimbra (O Globo)

Aluna da FACHA visita Livraria Shakeaspeare and Company, em Paris. Breve no Jornal Laboratório da FACHA


Minha aluna Luciana Guimarães visitou a famosa Livraria Shakeaspeare and Company, em Paris, tema de dois livros que li recentemente. E entrevistou o atual dono, George Whitman. Ficou de escrever uma matéria para o Jornal Laboratório da FACHA.

domingo, 8 de junho de 2008

Não é de hoje que os índios atiram flechas em aviões




A foto dos índios que vivem isolados no Acre, próximo da fronteira com o Peru, que foi destaque há duas semanas nos principais jornais do País lembram as fotos de Jean Manzon na reportagem que assinou junto com David Nasser em junho de 1944 na revista "O Cruzeiro". Ao ver a foto recente, me lembrei do livro "Cobras criadas", de Luiz Maklouf de Carvalho. Só que o livro não estava comigo. Quis confirmar. Por isso só agora estou postando aqui no blog. O texto sobre a reportagem "Enfrentando os Chavantes" (grifado assim mesmo, com ch; e não com x) começa na página 109 do livro.

Curioso que não lembro de ter visto a referência em nenhum jornal. O que aconteceu? Desinformação dos colegas? Será que não valia um box?

Cadernos sobre 1968 são destaque no Globo


A seção "Por dentro do Globo" informa que os cinco cadernos especiais sobre 1968 foram escolhidos pelos editores como o mlehor material publicado pelo jornal em maio.

Blog do professor pc recomenda: livro "O destino do Jornal..."


Outro livro imperdível. Leiam texto publicado na "Ilustrada", da Folha.

Crítica/"O Destino do Jornal"

Estudo analisa perspectivas para jornal impresso no Brasil
Jornalista Lourival Sant'Anna aborda Folha, "O Estado de S.Paulo" e "O Globo'


MARCELO COELHO

Boas e más notícias. Boa notícia: a circulação de jornais cresce no mundo (9,39% nos últimos cinco anos). Más notícias: cresce mais ainda se contarmos os jornais distribuídos gratuitamente (14,3% no mesmo período).

Cresce em países como China e Índia, e cai na Europa e nos Estados Unidos.
Boa notícia: jornais e revistas, juntos, ganham mais com anúncios do que a televisão. Má notícia: os anúncios pela internet cresceram 32,45% no mundo. Boa notícia: prevê-se que os ganhos com jornais on-line dobrem nos próximos cinco anos.
Estes dados saíram recentemente num site especializado, o www.pressgazette.co.uk.
No Brasil, as notícias recentes são em geral muito boas. De 2006 para 2007, a circulação cresceu 11,8%, e a participação dos jornais no bolo das receitas publicitárias em geral aumentou 6%, segundo a Associação Nacional de Jornais (www.anj.org.br).

Mesmo assim, parece difícil acreditar no futuro do jornal impresso a longo prazo, e sua substituição por edições on-line ainda esbarra com incógnitas quanto aos ganhos publicitários que podem ser obtidos pelo novo meio.
Lourival Sant'Anna é repórter especial de "O Estado de S. Paulo". Sua dissertação de mestrado, defendida em 2007, é agora publicada pela editora Record, com o título "O Destino do Jornal".

Traçar perspectivas sobre o futuro do jornalismo impresso -ou do jornalismo em geral- é uma tarefa arriscadíssima. Ainda mais no caso brasileiro, dadas as recentes variações da economia e o curto intervalo de tempo dos dados disponíveis para análise.

Paradoxos
"Quando o projeto deste estudo foi esboçado, no fim de 2003, os jornais estavam imersos numa crise", escreve Lourival Sant'Anna. "Dois anos depois, quando os diretores de redação do "Estado", da "Folha" e do "Globo" concederam entrevistas para este livro, celebravam o aumento da circulação dos jornais e marcas inéditas de lucratividade."

Natural, portanto, que o autor tenha sido prudente e matizado em suas conclusões. Nada é simples na indústria jornalística e este livro permite ao leitor interessado familiarizar-se com alguns dos diversos paradoxos e situações contra-intuitivas que envolvem esse ramo de atividades.

Bolsa e modelo familiar
A abertura de capitais na Bolsa, supostamente mais moderna do que o modelo mais tradicional da empresa familiar, pode trazer distorções no desempenho dos jornais. É que o crescimento dos lucros a curto prazo, evidentemente interessante para os acionistas, pode ser fatal num prazo de tempo maior. Consegue-se grande lucratividade cortando custos e piorando o produto, porque demora um tempo até o consumidor desistir do jornal que habitualmente lê.

Temas como estes são analisados com clareza em "O Destino do Jornal", que também sofre, entretanto, algumas das desvantagens do meio gutemberguiano em que é veiculado.

Os números que analisa vão apenas até o ano de 2006. Num clima de tão rápidas transformações, a internet mais uma vez mostra sua superioridade relativa. Mas, quando se trata de formular perguntas, e de estabelecer os quadros analíticos a serem alimentados por novas informações, um livro como o de Lourival Sant'Anna é ainda (como o jornal, espero) indispensável.

De um ponto de vista administrativo e financeiro, com estudos de caso muito interessantes e raciocínios estatísticos um bocadinho mais complexos, o livro de Philip Meyer "Os Jornais Podem Desaparecer?" (editora Contexto) será uma leitura valiosa para quem quiser se aprofundar no assunto.

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O DESTINO DO JORNAL: A "FOLHA DE S.PAULO", "O GLOBO" E "O ESTADO DE S.PAULO" NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Autor: Lourival Sant'Anna
Editora: Record
Quanto: R$ 40 (272 págs.)
Avaliação: bom

O futuro dos jornais, no "Mais!", da Folha

Leio tudo sobre o tema. A matéria saiu hoje no caderno "Mais!" da Folha de S. Paulo. São quase 5 páginas e não dá para publicar na íntegra. Quem quiser dar uma espiadinha, eis a primeira parte da matéria.

Imperdível para jornalistas, professores e estudantes de Comunicação. Para aqueles que são ligados e gostam de estar sempre atualizados. E não têm medo de texto grande, claro!

O futuro dos jornais
MARCANDO A ASCENSÃO DA BURGUESIA, IMPRENSA TEVE PAPEL DECISIVO AO ELEVAR AS MASSAS A PROTAGONISTAS DA HISTÓRIA; HOJE, CRESCIMENTO DO SETOR NOS MERCADOS EMERGENTES, EM CONTRASTE COM OS EUA, AJUDA A REDEFINIR A DISCUSSÃO DE IDÉIAS EM PAÍSES COMO O BRASIL

ELEONORA DE LUCENA
Editora-executiva da Folha


A invenção de Gutenberg foi fruto da ascensão da burguesia, que começava a disputar a liderança do processo histórico com a aristocracia. Em sua trajetória, a imprensa pavimentou a incorporação das massas ao papel de protagonista, sempre em compasso com as disputas pelo poder.

Se na Inglaterra e na França a liberdade de expressão foi por muito tempo contida pelas forças do antigo regime, nos Estados Unidos a independência colocou a livre manifestação como dado constitutivo do país e possibilitou a criação de periódicos sem as amarras reais.

No Brasil, a Impressão Régia -que aportou no Rio de Janeiro com a fuga da corte portuguesa de Napoleão- estabeleceu em seus primeiros atos "fiscalizar que nada se imprimisse contra a religião, o governo e os bons costumes". Não foi à toa, portanto, que o primeiro jornal brasileiro -o "Correio Braziliense"- nasceu em Londres. Foi há 200 anos, comemorados na semana passada.

De lá para cá, o jornalismo nacional marcou sua presença na história, destacando-se nos momentos de polarização, como nas campanhas pela abolição da escravatura, pela república, pela democracia, pelas eleições diretas.

Enfrentou períodos sombrios de censura e sufocamento econômico. Como no resto do mundo, acompanhou a chegada das novas mídias que disputam o tempo e o bolso do cidadão.

Nos últimos anos, a discussão sobre o futuro dos jornais passou a freqüentar o debate sobre comunicações. A internet -e suas infinitas possibilidades de informação e interação- é colocada como rival dos meios impressos, tachados de lerdos e opacos. Preocupados com a adesão avassaladora dos jovens à rede de computadores, os jornais buscam a renovação e discutem sua função nesse momento e seu espaço como negócio.
Tradicionais empresas jornalísticas já há muitos anos investem na internet e aproximam suas plataformas de informação. Embora sejam âncoras importantes na rede e ganhem audiências em crescimento exponencial, não encontram contrapartidas em suas receitas que possam justificar uma eventual transição do papel para a tela.
Ao mesmo tempo, a venda de jornais continua a crescer no mundo (2,6% em 2007), muito impulsionada por países como China e Índia -e Brasil, que teve alta de 11,8%.

Bússola para o leitor
Por aqui, onde a televisão ainda reina quase absoluta como em nenhum outro lugar do globo, a fatia dos jornais no bolo publicitário engordou. Foi de 19,4%, em março último. A internet ficou com apenas 3,2%. Só no primeiro trimestre deste ano, a publicidade em jornais brasileiros aumentou 24%.

Esse vigor mostra o interesse e a confiança de leitores e anunciantes nos diários impressos e coloca em xeque previsões pessimistas. Os jornais condensam uma credibilidade difícil de ser replicada em outros meios e funcionam como uma bússola para o leitor imerso no caos informativo atual. Apresentam um resumo organizado das notícias mais importantes das últimas 24 horas, selecionando e hierarquizando fatos, análises e opiniões. Já foi dito que editores atuam como curadores de notícias para seus leitores.

Os jornais também são os principais responsáveis pelos chamados furos de informação, fatos inéditos e relevantes que são trazidos à luz contra interesses e em benefício da democracia. Trazem um mosaico de opiniões único e se tornam referência na discussão de idéias do país. Finalmente, são elogiados também por serem práticos, portáteis.

Nem por isso deixam de enfrentar questionamentos variados. Nos Estados Unidos, sempre referência nesse e em outros debates, os jornais registram vendas estáveis ou declinantes e sofrem golpes -muitos advindos da internet- que atingem sua imagem de credibilidade e independência. O oficialismo e o adesismo na cobertura da Guerra no Iraque, por exemplo, deixaram cicatrizes incômodas.

Além disso, a pulverização do capital das empresas jornalísticas norte-americanas, a partir dos anos 60, introduziu novas lógicas para avaliação dos resultados dos produtos perante seus acionistas. Hoje, eles passam por mudanças sensíveis em seus controles -e em suas linhas editoriais. Movimento que coincide com um dos momentos mais ricos da história política recente nos EUA.

Há uma disputa de mercado e de poder. Os jornais estão nesse emaranhado tratando de achar o seu rumo. É disso que trata o texto que a Folha publica a seguir. O autor garimpa nos 300 anos de história da imprensa nos Estados Unidos explicações para os desafios de hoje.

Lá e aqui não existem respostas definitivas sobre os caminhos para os jornais. Como podem ampliar seu universo de leitores -especialmente em países, como o Brasil, onde o analfabetismo ainda é uma vergonhosa realidade? Como conseguir atrair as novas gerações bombardeadas pela multimídia? Como trabalhar com a internet? Como, enfim, melhorar a qualidade do produto despachado diariamente até a porta do consumidor antes do seu café da manhã?

No texto que segue, publicado originalmente na revista norte-americana "The New Yorker", o autor lembra que bons jornais devem ser como um país conversando consigo mesmo. Numa sociedade extremamente desigual e cada vez mais preocupada com o bem-estar em escala privada, os jornais colocam foco sobre o interesse público. Têm a tarefa de fazer uma reflexão cotidiana sobre a realidade. É o seu papel e o seu futuro.

Ombudsman da Folha: boas críticas



Curtas, mas sérias
Carlos Eduardo Lins da Silva

Capa do suplemento Equilíbrio de 29 de maio publicou desenho de homem negro para ilustrar reportagem sobre odores desagradáveis do corpo. Muitos leitores manifestaram justa indignação. Instados pelo ombudsman, ilustrador e editora responderam não ter havido intenção de fazer associações e lamentaram que o resultado tivesse causado essas reações. Bom, mas pouco. Pedido de desculpas público teria sido muito mais apropriado.

Anúncio de novo shopping na primeira página de 31 de maio, com foto de atriz conhecida, dizia "Leia mais no caderno Ilustrada". Embora estivesse identificado como "informe publicitário", ele pareceu a alguns leitores uma chamada jornalística. Na Ilustrada não havia nada para ler sobre o shopping, mas sim outros anúncios dele. A Redação desconhece (e não deve conhecer) o conteúdo dos anúncios. Mas alguém no jornal precisa cuidar para que eles não criem confusão entre publicidade e jornalismo.

Grande parte do "Painel do Leitor" voltou a ser ocupado por assessores de imprensa. É justo que eles tenham espaço para se manifestar. Mas que seja ou no noticiário, como "outro lado", ou em seção nova, que se poderia chamar "direito de resposta" ou "outro lado" mesmo. O "Painel do Leitor" é do leitor.

Nota do editor do blog: concordo plenamente com o ombudsman. Não é de hoje que o assunto é debatido. Adilson Laranjeira, assessor de Maluf, volta e meia tem suas cartas publicadas na seção.

Ombudsman da Folha fala de alterações nos arquivos eletrônicos de jornais

Vidas marcadas para sempre
Carlos Eduardo Lins da Silva

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É indiscutível que a facilidade atual de achar documentos sobre a vida de qualquer pessoa pode criar prejuízos e até tragédias irreparáveis--------------------------------------------------------------------------------

UMA MULHER na Inglaterra passou por mastectomia, concordou em dar entrevista a um jornal e ter publicada sua foto em reportagem sobre câncer. Cinco anos mais tarde, um namorado fez busca sobre seu nome na internet, achou a reportagem, se aborreceu e desmanchou o namoro. Ela pediu ao jornal que retirasse da web o seu nome e a sua foto.

Um homem nos EUA se internou em clínica de reabilitação para alcoólatras e aceitou que seu nome e foto aparecessem em reportagem sobre recuperação de viciados em drogas. Três anos depois, recuperado, teve grande dificuldade para conseguir emprego porque empresas faziam busca de seu nome na internet e desconfiavam dele.

Estes são dois exemplos recentes de um dilema com que jornalistas e empresas de comunicação têm se defrontado devido à nova realidade criada pelo enorme acesso a informações que os recursos tecnológicos da internet proporcionam a milhões de pessoas.

Pelo que se observou da intensa discussão gerada pelo tema no recente encontro mundial de ombudsmans de comunicação, ainda não se estabeleceu consenso sobre como agir nesses casos.

A maioria dos veículos de países desenvolvidos adotou a prática de, quando há erros em matéria arquivada, indexar a ela uma correção. Alguns, como o jornal inglês "The Guardian", esperam 24 horas antes de arquivar eletronicamente o texto, de modo que, se alguma correção tiver de ser feita, ela possa ser incorporada ao original antes de ser arquivada.

Todos se preocupam, obviamente, com a integridade do arquivo. A qualquer jornalista com preocupações éticas repugna a idéia de permitir que se altere o que foi publicado porque é evidente o perigo de distorções históricas graves que precedentes desse tipo podem provocar.

Mas também é indiscutível que a facilidade atual de achar em segundos documentos não necessariamente corretos ou cujos fatos tenham sido desmentidos pelo tempo sobre a vida de qualquer pessoa pode criar constrangimentos, prejuízos ou até tragédias pessoais irreparáveis.

Mesmo quando não há erro ou deslize ético por parte do veículo, como nos dois casos citados acima, a situação do meio de comunicação se torna delicada.

Será que, de agora em diante, ele deve passar a alertar o entrevistado de que sua história e sua imagem poderão ser acessadas pelo público para o resto da vida antes de obter a autorização para contá-la e expô-la? Será que, depois de refletirem sobre isso, tantos entrevistados se recusem a ponto de inviabilizar a operação jornalística?

Atendi recentemente a um leitor que me pediu que a Folha apagasse de seus arquivos duas matérias em que ele foi entrevistado quando jovem. Ele afirma que contêm informações falsas. Mesmo que não houvesse inverdades, ele como qualquer outra pessoa poderia ter se arrependido de algumas afirmações, talvez produtos de arroubo juvenil, a que todos estão sujeitos.

A Secretaria de Redação me informou que "a Folha não altera seu arquivo digital, por considerar que isso seria "reescrever" a história, modificar o que já foi impresso", que "todos os erramos publicados estão na versão digital, mas ainda não estão indexados à matéria correspondente" e que está "trabalhando para fazer isso em breve."

Faço votos de que o "em breve" seja breve e que o jornal considere a possibilidade de, em alguns casos extremos, por razões humanitárias, abrir exceções à regra de não mexer no arquivo eletrônico.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Blog do professor pc recomenda: Fórum de Mídia Livre


Meu camarada Gustavo Barreto pede para divulgar:

"Jornalistas, acadêmicos e ativistas pela democratização da comunicação divulgaram no início de abril manifesto em defesa da diversidade informativa e da garantia de amplo direito à comunicação. O manifesto, resultado de reunião promovida em São Paulo em março, lança as bases para a organização do I Fórum de Mídia Livre.

O evento acontecerá nos dias 14 e 15 de junho de 2008 na Escola de Comunicação da UFRJ, no Rio de janeiro, e as inscrições estão abertas. Quer mais informações? Clique:
http://forumdemidialivre.blogspot.com/

Cresce venda de jornais



Não deixem de ler matéria no Globo de hoje sobre o crescimento da venda dos jornais. Imperdível para alunos de Jornalismo. Acima, a tabela publicada pelo jornal.

domingo, 1 de junho de 2008

História do Jornalismo: "Jornal Cruzeiro do Sul, Notícias de uma guerra"


Bela matéria publicada no caderno "Mais!" da Folha de hoje. Imperdível para alunos de Jornalismo.

Notícias de uma guerra
Saem em edição fac-similar os 34 números do jornal "O Cruzeiro do Sul", distribuído aos pracinhas brasileiros na Itália em 1945

LUIZ FERNANDO VIANNA

Ele nasceu, como se diz no meio militar, para levantar o moral da tropa. Hoje, é um documento histórico que, após décadas esquecido, estará disponível ao público a partir de agosto.

O jornal "O Cruzeiro do Sul" teve 34 números entre 3 de janeiro e 31 de maio de 1945. Circulava apenas entre os combatentes da FEB (Força Expedicionária Brasileira) que lutavam na Itália, naquele final da Segunda Guerra. A coleção completa não se encontra na Biblioteca Nacional nem no Arquivo Nacional, no Rio.

Mas foi localizada pelo coronel Roberto Mascarenhas no acervo de seu avô, João Baptista Mascarenhas de Morais (1883-1968), general que, por comandar a campanha da FEB, recebeu a patente de marechal.

Em 2005, Mascarenhas mostrou o material ao general Carlos de Meira Mattos (1913-2007), que também lutou na Itália. Ele disse, segundo o relato do coronel: "É uma preciosidade. Você vai me fazer escrever um livro aos 92 anos".

Mas ele se convenceu de que o ideal era reproduzir os jornais. É essa edição fac-similar que a Léo Christiano Editorial (0/xx/21/2568-1979), em parceria com a RP Consultoria, lançará em 25 de agosto. A publicação (cerca de 200 págs., preço a definir) terá índice onomástico (mais de 10 mil nomes) e remissivo, para facilitar o trabalho de quem queira localizar parentes na coleção.

Mulheres atraentes

Entre outras coisas, costumava constar o seguinte dos dois números semanais de "O Cruzeiro do Sul", que tinham quatro páginas standard (tamanho padrão) e eram editados em Florença:
- mensagens aos pracinhas (como ficaram conhecidos os expedicionários) de militares brasileiros e estrangeiros, além de uma menção ao "valoroso e bem equipado Exército brasileiro" feita pelo presidente americano Franklin Roosevelt, manchete de 10 de janeiro;
- reproduções de reportagens (ou trechos delas) dos correspondentes Rubem Braga ("Diário Carioca"), Joel Silveira (Diários Associados) e Egydio Squeff ("O Globo") -parte está em livros que os autores publicaram, mas há inéditos, ainda que nem todos com um valor literário que transcenda a condição de noticiário do momento;
- a coluna "Cartas do Brasil", com crônicas sobre o "lado humano" dos militares (saudades da família e do país, em especial) assinadas pelo cabo José César Borba, provavelmente o editor de "O Cruzeiro do Sul" e que seria "um homem de posses", segundo Joel Silveira (1918-2007) disse a Christiano;
- fotos de cidades brasileiras, começando pelo Rio ("Copacabana é um sonho tropical visitando a gente nas noites geladas da Itália", dizia a legenda);
- a seção "Esportes", com prioridade para as novidades do futebol brasileiro, que tinha um alto representante na FEB: Perácio (do Flamengo e da seleção brasileira), líder do time de pracinhas que enfrentava companhias de países aliados;
- e os avisos "Cuidado com os espiões", que recomendavam atenção com estranhos, mulheres atraentes sobretudo.

Alguns nomes que aparecem no jornal ainda não tinham importância à época. É o caso do ilustrador "cabo C. Scliar", ou seja, Carlos Scliar (1920-2001), que se tornaria um artista plástico de grande importância.

Também há dois artigos do "soldado Jacob Gorender", mais tarde um dos principais historiadores marxistas do país, autor de "Combate nas Trevas" (ed. Ática).
O mais curioso é o segundo, "Uma Nova Era de Paz", que saiu na edição especial (12 páginas) de 31 de maio, comemorativa da vitória.

Gorender, então com 22 anos, afirmava que "o imperialismo em geral sofrerá um golpe decisivo com o esmagamento militar e político da Alemanha hitleriana" e que "a guerra da libertação (...) acelerou o processo de desenvolvimento dos países latino-americanos, antecipando a sua emancipação econômica".

"Os artigos expressam a situação peculiar da Segunda Guerra, em que o Brasil era aliado dos EUA e da União Soviética. Depois, a situação mudou muito", justifica os "erros" Gorender, 85. Ele recebeu da Folha os dois textos. "Faltava isso nas minhas obras completas", disse, com humor.

O pintor Israel Pedrosa, outro esquerdista histórico, se lembra de receber "O Cruzeiro do Sul" em seu batalhão de transportes. "A guerra foi decisiva para a conscientização política da minha geração", diz.

Para o general (à época, tenente) Octavio Costa, 87, o jornal "era um lenitivo" por transmitir notícias do Brasil.

Roberto Mascarenhas quer doar os originais da coleção ao Museu Histórico do Exército, no Rio. Ele avisa que ainda há por estudar 23 volumes de correspondências do avô.

Imprensa brasileira faz 200 anos - 3 (Box 2)

Deu hoje na Folha (box 2). Vale a pena ler o artigo da Isabel Lustosa.

Imprensa é "I" de Independência
ISABEL LUSTOSA
ESPECIAL PARA A FOLHA

HIPÓLITO DA COSTA considerou exageradas as manifestações de agradecimento a d. João por ter autorizado a imprensa no Brasil depois de sua chegada. Para o jornalista, não era o caso de agradecer e sim de lamentar que esse grande pedaço da América tenha ficado séculos proibido de produzir impressos. Também não ficou radiante quando recebeu o primeiro jornal impresso no Brasil. Na sua opinião, fazer imprimir a "Gazeta do Rio de Janeiro", com seu conteúdo anódino, burocrático e totalmente filtrado pela censura, era gastar papel bom com matéria ruim. Jornal mesmo fazia Hipólito da Costa lá da Inglaterra. Informativo, analítico, denso, o "Correio Braziliense" trazia para o Brasil as notícias mais recentes através da reunião de informações de vários periódicos europeus e americanos, associadas a notícias apuradas pelo jornalista e completadas por suas sofisticadas reflexões críticas.

Foi só mesmo depois de 1821 que começou a aparecer aqui uma imprensa realmente livre. Na Revolução Constitucionalista do Porto, em 1820, uma das primeiras medidas dos revolucionários foi a liberação da imprensa. Logo começaram a aparecer jornais e jornalistas das mais diversas extrações: radicais, conservadores, moderados etc. Essa agitação ajudou a garantir o sucesso dos movimentos pelo Fico e pela Independência. O clima de debate que agitou a imprensa nos dois primeiros anos do reinado de d. Pedro 1º foi interrompido pela dissolução da Constituinte e pela repressão que sucedeu à Confederação do Equador.

Mas para provar que imprensa e Parlamento são irmãos siameses, com a retomada dos trabalhos legislativos, em 1826, a imprensa voltou a florescer. Foi nesse contexto que raiou a "Aurora Fluminense", do grande Evaristo da Veiga, e que teve atuação marcante em São Paulo Líbero Badaró. O assassinato desse jornalista foi uma das sombras que marcaram o final do Primeiro Reinado. Na seqüência, a profusão de jornais que agitaram o período regencial dá conta da vitalidade de uma imprensa que lidava com as questões de formação da vida política e social brasileira. Com a estabilização que teve início na segunda década do reinado de d. Pedro 2º, também sossega um pouco a imprensa.

O século 19 será marcado pelo caricatura. À "Semana Ilustrada" do amigo do imperador, o alemão Fleiuss, sucedeu a "Revista Ilustrada" do italiano Ângelo Agostini. A primeira revista, polida, cortesã, veiculava um humor amável, onde revelou-se sob o pseudônimo de Dr. Semana um cronista inspirado: Machado de Assis. A segunda daria guarida às campanhas pela Abolição e pela República e seria particularmente impiedosa com o imperador.

Muitas outras revistas do gênero foram lançadas ao longo do século 19, concorrendo com vantagem pelos leitores de grandes jornais como os vetustos "Diário de Pernambuco", "Jornal do Commercio" e "Diário do Rio de Janeiro", surgidos ainda no Primeiro Reinado, e o "Correio Paulistano", aparecido no ano da Abdicação, 1831.

No final do século 19 emergiriam os primeiros grandes jornais republicanos, "O País" e "Gazeta de Notícias", no Rio, e "Província de São Paulo", que na República adotou o nome de "O Estado de S. Paulo". Em torno deles pululavam publicações menores tornadas importantes pela grande nomeada de seus editores: "O Cidade do Rio", de Patrocínio, e as duas aventuras de Olavo Bilac no mundo editorial, em associação com o caricaturista Julião Machado: "A Cigarra" e "A Bruxa".

A virada do século 19 para o 20 assistiu à modernização das técnicas gráficas e ao aumento da tiragem dos jornais. O "Jornal do Brasil" vai se destacar pelo grande investimento em seu parque gráfico. Outro concorrente importante será o "Correio da Manhã", que terá atuação marcante em vários episódios políticos que ajudaram a fazer ruir a República Velha. Foi em suas páginas que o Barão de Itararé estreou na imprensa. Em 1921, Assis Chateaubriand adquiriu "O Jornal", que daria início aos Diários Associados. Naquele mesmo ano foi lançada a "Folha da Noite" -hoje Folha-, surgindo o jornal "O Globo" em 1925.

Ainda nos primeiros anos do século 20 as revistas ilustradas passariam por notável transformação. Surgiram "Careta", "Fon-fon!" e "O Malho", trio que abrigaria os maiores nomes da caricatura brasileira: J. Carlos, Kalixto e Raul Pederneiras. A caricatura viveu então sua época de ouro, mas já competindo com a fotografia que, nas páginas da sofisticada "Kosmos", alcançava nível de grande apuro artístico. Revistas de mesmo espírito foram surgindo em vários Estados, com destaque para São Paulo -que revelou caricaturistas como Voltolino e Belmonte e o humor de Juó Barnanere.

A Revolução de 1930 deu uma sacudida no panorama, levando ao fechamento de uns e à abertura de outros. O golpe do Estado Novo amordaçou, confiscou ou subornou alguns tantos jornais, jornalistas e editores. O cenário sofreria outro rearranjo depois de 1945, com o surgimento da "Tribuna da Imprensa" e da "Última Hora", de Samuel Wainer. A revista símbolo dos anos que se seguiriam foi "O Cruzeiro", renovadora do padrão editorial do gênero e que inspiraria "Manchete", de Adolfo Bloch. Mas também surgiu nos anos 1950 uma revista sofisticada: "Senhor".

O jornal e a revista tornados empresas já estariam em cena tanto na escalada que levou ao suicídio de Vargas, em 1954, quanto na que levou ao golpe militar, dez anos depois. Os grandes, com exceção do "Correio da Manhã" -cuja dona, Niomar Bittencourt, chegou a ser presa-, sobreviveram como puderam. Mas a resistência à ditadura teria mesmo a voz dos nanicos da imprensa alternativa. Foi essa voz, tão parecida com as dos panfletos e jornais da Independência, que ganhou as praças e universidades, no humor escrachado do "Pasquim", na reflexão consistente de "Opinião" e "Movimento" e que, ao lado da luta pela redemocratização, deu visibilidade às causas das mulheres, negros e homossexuais. Naqueles anos de chumbo, através dos periódicos de maior ou menor duração que inundaram o país, ficou mais uma vez provado que imprensa se escreve mesmo é com "I" de Independência.

* ISABEL LUSTOSA é historiadora da Fundação Casa de Rui Barbosa e autora de "Insultos Impressos - A Guerra dos Jornalistas na Independência", Companhia das Letras, 2000.

Imprensa brasileira faz 200 anos - 2 (Box 1)

Deu hoje na Folha (box 1)

Biblioteca já não tem espaço para o acervo
MARCELO BERABA

Os 200 anos da imprensa brasileira já não cabem na Biblioteca Nacional. Seus 16,2 quilômetros de estantes nos seis andares da ala destinada aos periódicos, no Rio, estão abarrotados e não têm como acomodar as publicações que não param de chegar.
O edifício de 1910 não tem espaço para guardar o acervo nem para atender os leitores com conforto e segurança. Construído para receber 500 mil volumes, abriga hoje 9 milhões de livros, periódicos, mapas, fotos e manuscritos.

As várias reformas executadas ao longo do século 20 esbarram na área do prédio (13 mil m2) e nas suas características. A dificuldade de incorporação de facilidades tecnológicas incomuns quando foi erguido (elevadores, ar-condicionado e controle de umidade) é um obstáculo à sua modernização.

Os jornais estão hoje acondicionados em dois depósitos. A maior parte está no Armazém dos Periódicos, que abriga os títulos do século 20 e os que foram lançados no século 19 e continuam a circular, como o "Diário de Pernambuco" (1825). São cerca de 60 mil títulos de jornais, revistas e boletins. Não há espaço para os 3.000 exemplares de jornais que recebe por mês. Os periódicos que viveram e morreram no século 19 estão no Armazém de Obras Raras, que guarda mais de 6.500 títulos.

A solução para aliviar as prateleiras já existe, mas falta dinheiro para concretizá-la: é a implementação da Hemeroteca Brasileira. A BN adquiriu em 1988 uma área de 16 mil m2 na zona portuária. A antiga Estação de Expurgo, de 1949, tem uma estrutura sólida e espaço para receber todos os periódicos. O traslado abrirá espaço para o velho prédio da Cinelândia acolher os 40 mil livros que esperam um lugarzinho numa estante para serem lidos. Enquanto isso, eles estão empilhados em depósitos.

Imprensa brasileira faz 200 anos

Deu hoje na Folha.

Imprensa brasileira faz 200 anos
Brasil foi o 12º país da América Latina a receber uma tipografia; o México já possuía uma desde 1535

Hoje há 555 jornais diários no país; circulação daqueles que são auditados pelo IVC aumentou 10,7% em 2007 em relação ao ano anterior

Inaugurada em 1º de junho de 1808 com o lançamento do "Correio Braziliense", a imprensa brasileira completa hoje dois séculos. O Brasil havia acabado de acomodar no Rio a família real portuguesa expulsa de Lisboa pelas tropas de Napoleão e vivia os efeitos das mudanças que sacudiam a Europa.

Os jornais surgem neste ambiente de efervescência política e econômica e se tornam importantes no embate de idéias. Passados 200 anos, eles enfrentam hoje a concorrência acirradíssima de outros meios pela atenção dos leitores e um forte questionamento sobre seu papel na sociedade. Mas nos últimos anos encontraram fôlego na recuperação da circulação e no crescimento de sua participação no bolo publicitário.

O "Correio Braziliense", mensário publicado por Hipólito da Costa (1774-1823) em Londres, circulou de 1º de junho de 1808 a dezembro de 1822. Além dele, duas outras iniciativas marcaram 1808 como o começo de um novo ciclo de circulação de idéias no país.

Em 13 de maio foi instalada a tipografia da Impressão Régia, criada para imprimir as leis e decretos do gabinete de d. João 6º, mas que também editou romances, poesias, livros científicos, religiosos, didáticos e periódicos. Poucos meses depois, em 10 de setembro, houve o lançamento da "Gazeta do Rio de Janeiro", jornal oficial da corte que também editava notícias do Brasil e da Europa.

Os historiadores do período costumam destacar três características daquela imprensa incipiente. Primeiro, ela chegou tarde. Estudos mostram que o Brasil foi o 12º país da América Latina a receber uma tipografia, quando o México já tinha oficina desde 1535 e o Peru desde 1584. Buenos Aires tem sua primeira impressora em 1780.

O segundo aspecto é que esta imprensa nasce censurada. Em Portugal, os impressos eram submetidos a três ordens de vigilância: o Poder Real, a Inquisição e o bispo. No Brasil, havia a censura da Igreja Católica e a Mesa do Desembargo do Paço. A censura só foi abolida em 1821, no calor das revoltas que obrigaram d. João 6º a voltar a Lisboa. A terceira característica destacada pela maioria dos historiadores é o caráter áulico das primeiras publicações.

Embora julgue correta essa caracterização, o historiador Marco Morel chama a atenção para o contexto político: "A ênfase no atraso, na censura e no oficialismo como fatores explicativos dos primeiros tempos da imprensa não é suficiente para dar conta da complexidade de suas características e das demais formas de comunicação numa sociedade em mutação, do absolutismo em crise".

São deste período "A Idade d'Ouro no Brasil" (1811), o segundo jornal a circular no Brasil e o primeiro na Província da Bahia, "Variedades" (1812), a primeira revista impressa no Brasil, e "O Patriota" (1813).

Hoje o Brasil tem 555 jornais diários, segundo a ANJ (Associação Nacional de Jornais). Após um longo período de crise econômica, a entidade festeja o crescimento de circulação e faturamento do setor. Os diários auditados pelo IVC (Instituto Verificador de Circulação) tiveram crescimento de circulação em 2007 de 10,7% em relação a 2006. Este índice se refere aos 88 jornais monitorados. A ANJ calcula que com a inclusão dos diários não auditados este crescimento tenha sido de 11,8%.

O faturamento publicitário dos jornais aumentou 23,72% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2007, índice acima do crescimento do mercado de comunicação, que foi de 15,48%. O crescimento em 2007 em relação a 2006 foi de 15,22%, enquanto o mercado cresceu 8,98%. A participação no bolo publicitário também melhorou. Passou de 15,46% para 16,38%. No primeiro trimestre deste ano chegou a 18,89%. A internet teve 2,77% de participação no mercado publicitário em 2007. A TV continua com a maior fatia do bolo: 59,21%.

O ombudsman, o diplomata e o militar

Diplomata, não militar
Carlos Eduardo Lins da Silva (ombudsman da Folha em sua coluna de hoje)

O ombudsman é alguém à procura de soluções mutuamente satisfatórias para as partes em desacordo; é agente da conciliação, não do litígio

ENCERROU-SE ontem em Estocolmo a conferência anual da ONO (Organization of News Ombudsmans), que congrega as cerca de cem pessoas que exercem o cargo em veículos de comunicação no mundo.

A capital da Suécia é o local mais apropriado para essa reunião, já que foi naquele país que a palavra nasceu e a função foi criada, em 1713, como explicou Par-Arne Jigenius, ombudsman do diário sueco "Dagens Nyheter".

Charles 12 era rei da Suécia, uma das maiores potências da época, com um território que incluía as atuais Letônia, Finlândia, Estônia, parte da costa alemã do Báltico e parte da Rússia. Ele ficou famoso pelas guerras que conduziu contra a Dinamarca e a Rússia, inicialmente com sucesso, mas encerradas com um revés tão caro ao país, que ele jamais voltou a ter a importância geopolítica que tinha na época.

Quando estava exilado na Turquia, influenciado por experiências similares que ali observara, Charles 12 criou o Gabinete do Supremo Ombudsman. A palavra vinha do sueco umbuds man, que significa representante.

Desde o início, apesar da imponência do título, o ombudsman só tinha poder para receber reclamações do público, investigá-las e enviá-las aos departamentos do governo capazes de resolver soberanamente cada assunto.

Charles 12 era um grande guerreiro. Mas quando resolveu estabelecer o ombudsman pensou como político sobre como conciliar de forma pacífica conflitos de interesses entre os cidadãos e o Estado.

Com o passar dos anos, o cargo inspirou tentativas similares em governos, empresas e, finalmente, a partir de 1967 (no "Courier-Journal" e no "The Louisville Times", em Louisville, Kentucky) em jornais e depois em outros veículos de comunicação.
O ombudsman é alguém que procura soluções mutuamente satisfatórias para partes em desacordo. É um agente da conciliação, não do litígio; promove a harmonia, não o dissenso. Seu modelo é o diplomata, não o militar.

Às vezes, em sociedades que se encontram em momentos de grande excitação ideológica, alguns podem idealizar o ombudsman como o encarregado de atacar, punir ainda que só pela humilhação pública quem consideram inimigos.

Não é isso que ele deve fazer. Não foi para isso que a instituição foi concebida. Nem na esfera do Estado nem na esfera da mídia.

A troca de idéias em Estocolmo entre profissionais de países tão diversos como Brasil, Turquia, EUA, Colômbia, Reino Unido, Estônia, Geórgia, Itália, África do Sul, Suíça, Austrália e Suécia, mostrou que, apesar de diferenças culturais, econômicas, políticas e sociais, a missão do ombudsman de mídia é clara.

Ela tem basicamente três dimensões, todas fundamentais. Uma é mediar os desentendimentos eventuais entre consumidor e produtor de informação. A segunda, estimular o aperfeiçoamento técnico do veículo em que trabalha. A terceira, ajudar a expandir a consciência pública sobre o papel dos meios de comunicação na sociedade e refinar a relação entre eles e ela.

Noutra feliz coincidência do encontro da ONO de 2008, a presidência da entidade é ocupada por uma jornalista de Kentucky, o Estado do sul dos EUA onde o primeiro ombudsman de imprensa trabalhou.

Ela é Pam Platt, do "Courier-Journal". Em seu bem-humorado discurso de abertura da conferência, comparou o que fazem os ombudsmans com recente aventura sua de navegar sozinha num caiaque na Flórida em rio cheio de jacarés. Para se sair bem nas duas situações ela recomenda duas prioridades: nunca parar de remar e conhecer bem o caminho. Um bom conselho.

Como se faz uma reportagem


Já escrevi aqui que gosto dessa seção "Por dentro do Globo". Boa aula para estudantes contar como foi preparada a cobertura da prisão do Álvaro Lins.