Bela matéria publicada no caderno "Mais!" da Folha de hoje. Imperdível para alunos de Jornalismo.
Notícias de uma guerra Saem em edição fac-similar os 34 números do jornal "O Cruzeiro do Sul", distribuído aos pracinhas brasileiros na Itália em 1945 LUIZ FERNANDO VIANNAEle nasceu, como se diz no meio militar, para levantar o moral da tropa. Hoje, é um documento histórico que, após décadas esquecido, estará disponível ao público a partir de agosto.
O jornal "O Cruzeiro do Sul" teve 34 números entre 3 de janeiro e 31 de maio de 1945. Circulava apenas entre os combatentes da FEB (Força Expedicionária Brasileira) que lutavam na Itália, naquele final da Segunda Guerra. A coleção completa não se encontra na Biblioteca Nacional nem no Arquivo Nacional, no Rio.
Mas foi localizada pelo coronel Roberto Mascarenhas no acervo de seu avô, João Baptista Mascarenhas de Morais (1883-1968), general que, por comandar a campanha da FEB, recebeu a patente de marechal.
Em 2005, Mascarenhas mostrou o material ao general Carlos de Meira Mattos (1913-2007), que também lutou na Itália. Ele disse, segundo o relato do coronel: "É uma preciosidade. Você vai me fazer escrever um livro aos 92 anos".
Mas ele se convenceu de que o ideal era reproduzir os jornais. É essa edição fac-similar que a Léo Christiano Editorial (0/xx/21/2568-1979), em parceria com a RP Consultoria, lançará em 25 de agosto. A publicação (cerca de 200 págs., preço a definir) terá índice onomástico (mais de 10 mil nomes) e remissivo, para facilitar o trabalho de quem queira localizar parentes na coleção.
Mulheres atraentesEntre outras coisas, costumava constar o seguinte dos dois números semanais de "O Cruzeiro do Sul", que tinham quatro páginas standard (tamanho padrão) e eram editados em Florença:
- mensagens aos pracinhas (como ficaram conhecidos os expedicionários) de militares brasileiros e estrangeiros, além de uma menção ao "valoroso e bem equipado Exército brasileiro" feita pelo presidente americano Franklin Roosevelt, manchete de 10 de janeiro;
- reproduções de reportagens (ou trechos delas) dos correspondentes Rubem Braga ("Diário Carioca"), Joel Silveira (Diários Associados) e Egydio Squeff ("O Globo") -parte está em livros que os autores publicaram, mas há inéditos, ainda que nem todos com um valor literário que transcenda a condição de noticiário do momento;
- a coluna "Cartas do Brasil", com crônicas sobre o "lado humano" dos militares (saudades da família e do país, em especial) assinadas pelo cabo José César Borba, provavelmente o editor de "O Cruzeiro do Sul" e que seria "um homem de posses", segundo Joel Silveira (1918-2007) disse a Christiano;
- fotos de cidades brasileiras, começando pelo Rio ("Copacabana é um sonho tropical visitando a gente nas noites geladas da Itália", dizia a legenda);
- a seção "Esportes", com prioridade para as novidades do futebol brasileiro, que tinha um alto representante na FEB: Perácio (do Flamengo e da seleção brasileira), líder do time de pracinhas que enfrentava companhias de países aliados;
- e os avisos "Cuidado com os espiões", que recomendavam atenção com estranhos, mulheres atraentes sobretudo.
Alguns nomes que aparecem no jornal ainda não tinham importância à época. É o caso do ilustrador "cabo C. Scliar", ou seja, Carlos Scliar (1920-2001), que se tornaria um artista plástico de grande importância.
Também há dois artigos do "soldado Jacob Gorender", mais tarde um dos principais historiadores marxistas do país, autor de "Combate nas Trevas" (ed. Ática).
O mais curioso é o segundo, "Uma Nova Era de Paz", que saiu na edição especial (12 páginas) de 31 de maio, comemorativa da vitória.
Gorender, então com 22 anos, afirmava que "o imperialismo em geral sofrerá um golpe decisivo com o esmagamento militar e político da Alemanha hitleriana" e que "a guerra da libertação (...) acelerou o processo de desenvolvimento dos países latino-americanos, antecipando a sua emancipação econômica".
"Os artigos expressam a situação peculiar da Segunda Guerra, em que o Brasil era aliado dos EUA e da União Soviética. Depois, a situação mudou muito", justifica os "erros" Gorender, 85. Ele recebeu da Folha os dois textos. "Faltava isso nas minhas obras completas", disse, com humor.
O pintor Israel Pedrosa, outro esquerdista histórico, se lembra de receber "O Cruzeiro do Sul" em seu batalhão de transportes. "A guerra foi decisiva para a conscientização política da minha geração", diz.
Para o general (à época, tenente) Octavio Costa, 87, o jornal "era um lenitivo" por transmitir notícias do Brasil.
Roberto Mascarenhas quer doar os originais da coleção ao Museu Histórico do Exército, no Rio. Ele avisa que ainda há por estudar 23 volumes de correspondências do avô.
4 comentários:
OLÁ PROFESSOR PAULO CESAR,
meu nome é Adrianna Setemy, sou historiadora e pesquisadora da FEB e essa notícia do do "Jornal Cruzeiro do Sul" me interessou muito, por isso, gostaria de saber se o sr. teria como me ajudar a estabelecer contato com o Cel. Roberto Moraes, neto do Mascarenhas de Moraes, para que pudesse conversar com ele a respeito dessa documentação que ele diz possuir. Aguardo sua resposta!
Cordialemnte,
Adrianna
e-mail: deusa_clio@hotmail.com
Adrianna
Vou tentar ajudar você. Estou correndo no momento, mas, entre hoje e amanhã, vou enviar mensagem para o seu e-mail.
ola professor,
desde ja agradeço sua disposição em me ajudar! Aguardo noticias!
Prezado Professor:
Sou filho de militar, já falecido, que participou da campanha da FEB na Itália. Sei que meu pai escreveu um artigo no Jornal Cruzeiro do Sul e teria o maior interesse em ter acesso as edições para poder localizar referida matéria.
Antecipadamente grato por sua atenção subscrevo-me atenciosamente,
José Franklin Dias de Moraes
Meu emai:franklinmoraes@hotmail.com
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