Como sempre, vale a pena ler a análise do ombudsman da Folha. Aula de Jornalismo.
Notícias no país do futebol Carlos Eduardo Lins da SilvaÉ evidente que não pode competir com outros veículos em velocidade e atração imagética, ainda assim o jornal insiste nas velhas fórmulas DEPOIS de reclamações de ordem político-partidária, o maior volume de
queixas que chegam ao ombudsman diz respeito à
cobertura esportiva do jornal, particularmente à de futebol. São, em geral, torcedores revoltados com o que consideram atitude preconceituosa contra seu time de preferência.
Aliás, não é à toa que esses são os dois temas que mais mobilizam a emoção dos leitores em relação ao jornal. Já quase virou lugar-comum dizer que a luta entre PT e PSDB virou uma espécie de Fla-Flu.
Infelizmente para o país, como adverte
José Miguel Wisnik no livro indicado ao lado,
"os Fla-Flus podem ser tão estimulantes e interessantes no futebol (onde o próprio jogo se encarrega de reverter de alguma forma a paralisia dos opostos) e tão nefastos na vida intelectual, onde imobilizam e esterilizam o pensamento".A cobertura de esportes é uma das áreas que mais sofrem nos jornais impressos as conseqüências do novo ambiente da mídia. A TV paga, com seus canais dedicados 24 horas diárias a esportes, os blogs especializados, a informação via internet, tudo isso exige do jornal impresso uma nova atitude se quiser manter a atenção, o interesse e a lealdade do leitor.É evidente que ele não pode competir com os outros veículos em velocidade e atração imagética.
Mesmo assim, continua insistindo, muitas vezes, nas velhas fórmulas.A ilustração fotográfica não pode se limitar a reproduzir estaticamente o que o torcedor viu dezenas de vezes em movimento e câmara lenta na véspera. Ela tem de ser capaz de sintetizar o significado do jogo em alguma cena que as câmeras de televisão por qualquer motivo não puderam registrar ao vivo.
Quanto aos textos, não devem em nenhuma hipótese só descrever o que o leitor já viu muitas horas antes. Precisa ir atrás do detalhe, da informação exclusiva, da opinião avalizada, do enfoque original, do anúncio de novidades.Há 20 anos, a Folha inovou a cobertura esportiva com a adoção de estatísticas detalhadas das competições. A TV absorveu isso rapidamente. Agora, não é mais um diferencial.
Pelo mundo, claro, também se discute
o que fazer com os esportes nos jornais. O caráter cada vez mais mercadológico da atividade -que até ameaça seus princípios básicos- tem feito com que alguns diários pelo mundo incorporem a cobertura de esportes à de economia e negócios. Pode ser uma saída.
Mas no Brasil, ao menos em futebol, o que mais interessa é o jogo em si. Por isso,
o importante é investir em talento e inteligência. A Folha já tem excelentes colunistas, que fazem a sua parte. Precisa pensar mais em como superar as dificuldades no noticiário.
Embora não seja um jornal nacional (não há nenhum desse tipo no Brasil), este tem repercussão em todo o país. Por isso, é necessário conter seu natural bairrismo e dar mais espaço ao que é importante em outros Estados.
Também tem de se esforçar para
buscar o inusitado, esclarecer o que ocorre nos bastidores, superar em qualidade de análise e informação a rapidez e superficialidade dos meios adversários.
Isso vale não apenas para o futebol, mas para todas as modalidades. Um leitor fã de Fórmula 1 tem cobrado uma cobertura menos ingênua e mais crítica da política interna das grandes escuderias e ele tem razão em suas queixas. É difícil, mas precisa ser feito.
E, ao mesmo tempo, ainda há a permanente busca da imparcialidade possível.
Vêm aí os Jogos Olímpicos de Pequim, mais um grande teste para o jornal mostrar ao leitor a sua contínua utilidade.
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