domingo, 14 de setembro de 2008

"Internet e eleições", Carlos Eduardo Lins da Silva

Deu hoje na coluna do ombudsman da Folha de S. Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva. Boa reflexão, como sempre. Ainda mais nesses tempos de eleições.

Internet e eleições

Aconteceu nesta semana em São Paulo o segundo seminário internacional sobre jornalismo on-line chamado Media On. Um dos temas foi a internet na eleição presidencial americana deste ano.

O pleito de 2008 está para a internet como o de 1960 esteve para a TV: é o primeiro em que o meio de comunicação, que já existia antes, assume papel realmente de proa.
A internet está tendo nesta campanha mais relevância como instrumento de ação política do que como meio de comunicação. Barack Obama arrecadou a maior parte de sua receita com doações feitas por meio da rede (75% dos seus US$ 372 milhões até 31 de julho chegaram assim) e a utiliza como eficiente forma de arregimentação e organização de correligionários.

Mas o público também vem se valendo do jornalismo on-line para se informar sobre as eleições mais do que jamais no passado. Pesquisa do Pew Research Center, citada pelo jornalista Francisco Mendez, revela que 24% dos americanos dizem usar a internet como principal meio para obter notícias sobre a campanha.

Ainda é menos que a TV (32%) e os jornais impressos (31%), mas é muito superior às porcentagens registradas em 2004 (13%) e 2000 (9%). Mendez também registrou que alguns blogs têm pautado a grande imprensa com informações obtidas às vezes de maneira eticamente questionável (como a blogueira que se infiltrou em reunião de voluntários de Obama, fingindo ser uma delas, e divulgou comentário indiscreto que ouviu do candidato).

Alguns sites como www.realclearpolitics.com e www.politico.com viraram pontos de referência obrigatórios de todos os interessados pela campanha, graças ao trabalho estritamente apartidário e metodologicamente criterioso que vêm realizando.
Muitos blogs, no entanto, descambaram para o mais arraigado sectarismo ideológico e partidário, sem nenhum compromisso com os fatos.

O que será interessante observar é o efeito que essa crescente influência da internet terá sobre a maneira como os cidadãos se relacionam com as instituições públicas e entre si na sociedade.

Há estudos ainda não conclusivos que indicam associação positiva entre atitude adversa em relação aos meios de comunicação tradicionais e polarização política. Ou seja: as pessoas que deixam de confiar em jornais, revistas, emissoras de rádio e TV tendem a se tornar mais agressivas e radicais na defesa de suas idéias e no ataque às idéias de seus adversários.

Se esses indícios se confirmarem, que tipo de ambiente político sobrevirá?

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