A bem-vinda normalidade democrática
Carlos Eduardo Lins da Silva
A eleição já começa a virar rotina, o que ajuda a entender a relativa indiferença em que correu a campanha para o primeiro turno deste ano
ENTRE 1911 e 1926, os paulistanos escolheram seus prefeitos por eleições com grau de legitimidade reduzido. Reconquistaram esse direito em 1953, mas só por dois anos porque o regime militar voltou a lhes impor administradores nomeados.
Em 1985, iniciou-se o período mais longo sem interrupções de pleitos diretos para a prefeitura. Já são 23 anos. Começa a virar rotina, o que ajuda a entender a relativa indiferença em que correu a campanha para o primeiro turno deste ano.
O ombudsman de plantão sempre sofreu intensa pressão dos leitores nas votações municipais passadas. Desta vez, nem tanto.
Talvez por essa bem-vinda normalidade democrática. Talvez porque as pesquisas sempre deixaram claro que haveria segundo turno e que um dos finalistas seria Marta Suplicy. Talvez porque a Folha esteja fazendo cobertura razoavelmente equilibrada.
Pelas minhas contas, o jornal publicou 12 reportagens negativas sobre Gilberto Kassab, seis sobre Marta Suplicy e três sobre Geraldo Alckmin. Houve muitas reportagens negativas aos três juntos.
Acho natural a concentração de críticas no atual e na ex-prefeita, pois quem passa pelo cargo deixa mais flancos abertos a acusações.
Alguns desses textos contra Kassab e Marta foram injustos ou exagerados. Coisas pequenas, quase irrelevantes, como impostos que não foram pagos ou firmas desativadas não declaradas à Justiça, foram tratados como escândalos contra a candidata do PT.
O prefeito foi vítima também desse tipo de arroubo moralista, como no caso do clipping da prefeitura com notícias sobre a campanha. Alckmin foi o mais poupado.
A Folha abusou, infelizmente e como de hábito, do jornalismo de declarações, ataques e fofocas, que não leva a nada, não esclarece ninguém e torna o noticiário aborrecido e irrelevante.
Mas teve momentos muito bons, como a série de reportagens com propostas dos seis principais candidatos para políticas públicas específicas e principalmente para os problemas levantados pelo excelente caderno "DNA paulistano", o ponto alto do jornal.
Checagem de fatos incorretos divulgados pelos candidatos em debates ou propaganda foi outra contribuição positiva dessa cobertura.
Clichês, como as insuportáveis fotos de candidatos em refeições, também não faltaram, mas houve ótimos momentos fotográficos, como na capa de quarta-feira, em que as expressões faciais dos três principais candidatos sintetizavam com perfeição o seu momento nas pesquisas.
O jornal deu pouco espaço à eleição para a Câmara Municipal e o desperdiçou às vezes com bobagens como sobre em que candidato a vereador celebridades do vulto do ator Dan Stulbach iriam votar, como se isso pudesse orientar a decisão do leitor.
Felizmente, a Folha Online supriu um pouco essa deficiência com a colocação no seu site do perfil de todos os aspirantes à Câmara.
A cobertura da campanha nos outros Estados foi pequena e fraca. Só nesta sexta, um material mais amplo e analítico apareceu. É uma pena, mas não se pode deixar de reconhecer que a Folha não é um jornal nacional; é um diário paulistano de repercussão em todo o país.
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