A Folha de S. Paulo de hoje publica matéria no caderno "Cotidiano" sobre essa "onda" de faculdades em shoppings. Sou contra. Tem cheiro de picaretagem, de oportunismo.
Novas faculdades se instalam em shoppings
Só na região metropolitana do Rio, há pelo menos 9 instituições do tipo; em SP, movimento começou no ano passado
Para estudantes, segurança aparece em 1º lugar entre conveniências, além da infra-estrutura, que possivelmente não teriam em um campus
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Daqui a duas semanas, o shopping Light, no centro de São Paulo, deixará de ser apenas um espaço de compras e de alimentação. No dia 15, no quarto andar, será inaugurada a mais nova unidade da Universidade Guarulhos. Os alunos serão acomodados em cinco salas de aula, ao lado de lojas de roupas e tênis e bem embaixo da praça de alimentação.
Aos poucos, faculdades e universidades instaladas em shoppings deixam de ser novidade no Brasil. Só na região metropolitana do Rio, há pelo menos nove instituições assim.
Na cidade de São Paulo, o movimento começou no ano passado. No segundo semestre, a UniSant'Anna abriu um campus no terreno do shopping Aricanduva, na zona leste. Meses antes, a Unicapital havia dado início às suas atividades no quinto andar do shopping Capital, no bairro da Mooca, também na zona leste.
Para os alunos, estudar dentro de um centro de compras traz uma série de conveniências. A segurança aparece em primeiro lugar. Podem estacionar os carros dentro dos shoppings, sem precisar sair à rua. Os corredores são vigiados por fortes esquemas de segurança.
"O aluno fica menos exposto à violência da cidade. Isso pesa muito", diz Marcelo Campos, um dos diretores da Estácio Participações, que controla a Universidade Estácio de Sá.
Outra vantagem é a infra-estrutura que os alunos possivelmente não teriam num campus tradicional. No salão de beleza do shopping Capital, os estudantes da Unicapital têm 10% de desconto no corte de cabelo.
Nesse mesmo shopping, na noite da quarta passada, a estudante de estatística Bruna Takata, 24, tomava café no primeiro piso enquanto esperava a hora de subir para a próxima aula. "Às vezes faço compras antes da aula. Já mandei fazer óculos aqui", ela diz.
Emanuela Santana, 21, que cursa gestão em recursos humanos na UniSant'Anna do Aricanduva, é vista com freqüência nos corredores do shopping. "Se chego mais cedo, aproveito para pagar as contas no caixa eletrônico e dar uma olhada nas livrarias", diz ela.
Shoppings atraem naturalmente linhas de ônibus e metrô. Ainda no quesito transporte, os alunos podem usar o estacionamento sem pagar nada.
Em novembro, a Faculdade Interamericana de Porto Velho começará a funcionar num shopping da capital de Rondônia. Aguardam-se inaugurações em Maceió e Belo Horizonte. No Rio Grande do Sul, a Ufpel (Universidade Federal de Pelotas) terminará um novo campus até meados do ano. Ao lado, meses depois, será aberto o shopping Anglo. Um dos acionistas do shopping é a fundação de apoio da universidade, que se comprometeu a investir o lucro do empreendimento nas atividades da Ufpel.
BOX 1
No Rio, alunos têm aula até em estação de metrô
Em busca de novos alunos, as universidades particulares criaram salas de aula em locais incomuns. A UniverCidade, no Rio, por exemplo, inaugurou há três anos uma unidade dentro da estação Carioca do metrô.
A unidade tem 18 salas de aula, seis laboratórios de informática e uma biblioteca. Os 1.500 alunos podem chegar via metrô ou pela rua. Neste último caso, não é preciso comprar passagem do metrô para entrar.
Em outro caso inusitado, a Universidade Estácio de Sá, também no Rio, tem uma unidade no 15º andar do edifício-garagem mais conhecido da cidade, no centro.
As duas instituições têm como objetivo atrair os estudantes que trabalham em escritórios e em lojas do centro. No caso da unidade localizada na estação do metrô, a idéia é também facilitar a chegada de quem mora em outras regiões da cidade, principalmente na zona norte.
A adoção de espaços alternativos é sinal do crescimento do ensino superior privado no Brasil. Entre 2001 e 2006, segundo o Ministério da Educação, o número de instituições pulou de 1.208 para 2.022. E a quantidade de alunos, de 2,1 milhões para 3,5 milhões. (RW)
BOX 2
Entorno de lojas dificulta formação, diz professor
Para especialista da PUC, aluno que sai para ver loja perde ambiente de debate
Professora da UnB aponta um "efeito simbólico" das faculdades de shopping, em que conhecimento parece mercadoria a ser comprada
O aluno que faz um curso dentro de um shopping center pode ter a mesma formação acadêmica do estudante de um campus tradicional, mas corre o risco de sair perdendo na formação pessoal, avalia o professor Fábio Gallo, que coordena o MBA em gestão universitária da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Gallo diz que o ambiente universitário é um "espaço natural de debate político", importante para a formação do pensamento crítico. "Querendo ou não, o aluno está envolvido. Basta freqüentar a biblioteca, a lanchonete, os corredores da universidade. Mas, num shopping, quando sai para ver a vitrine da loja, ele perde essa oportunidade de amadurecimento."
Para a professora de sociologia da UnB (Universidade de Brasília) Fernanda Sobral, a faculdade de shopping tem um forte "efeito simbólico". "Num curso assim, parece que você está numa loja, comprando conhecimento, como se fosse uma mercadoria. Na educação, porém, você também tem de produzir conhecimento", diz ela, que faz parte, na UnB, do Núcleo de Estudos sobre o Ensino Superior.
Segundo a professora, a universidade e o shopping são mundos diferentes. "Shopping é um lugar onde se faz compra. Não é um lugar adequado para a reflexão."
Os dirigentes dessas instituições não vêem problema na localização das salas de aula. "O universitário não é mais criança, sabe quando tem de ir para a aula. De qualquer forma, quando ele quer sair da universidade para fazer alguma outra coisa, não precisa estar dentro de um shopping. Ele faz isso onde estiver", afirma Marcelo Campos, um dos diretores da Estácio Participações, que controla a Universidade Estácio de Sá.
"Tanto no caso do aluno que estuda no shopping quanto no caso do aluno do nosso campus central, a freqüência é a mesma. Ele não deixa de assistir às aulas para ir ao cinema", diz Leonardo Placucci, reitor da UniSant'Anna. (RICARDO WESTIN)
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Há 13 anos
2 comentários:
Eu acho que é uma "m" ter faculdades em shoppings.
Sou da teoria e prática que faculdade é para se estudar e nâo para tudo ser levado "na flauta".
Bjos,
Isabela.
Concordo com Isabela e com Gallo. Shopping é lugar para entretenimento. Universidade é assunto sério, de formação profissional e de caráter do aluno. Quando se misturam, corre-se o risco de também se mesclarem os objetivos, passando a faculdade a ser vista como entretenimento e sem receber a devida importância no aspecto formativo. O resultado prático disso só será conhecido dentro de alguns anos, quando os alunos estiverem (ou não) atuantes no mercado de trabalho.
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