Meus amigos: pesquei este texto lá no grupo de debates da FNPJ (Fedreação Nacional dos Professores de Jornalismo), indicado pelo professor Gerson Luiz Martins. Saiu no blog "Liberdade Liberdade" (http://linhaslivres.wordpress.com/)
Com (sem) o diploma nas mãos
Raphaela Potter
É absurdo ver o que hoje é discutido nos tribunais. Em vez de cuidar do que é da conta da população, eles cuidam o que é da conta deles. Não entendeu? Eu explico. No último dia 17 de junho de 2009, as autoridades decidiram, após muito adiar, julgar a validade do diploma de Jornalismo. Há tantas coisas que realmente precisam ser julgadas e apuradas e não são porque, juízes com a Sra. Carla Rister, criam projetos de lei sem nenhuma validade para “emperrar” ainda mais o processo de julgamento daquilo que é de vital importância.
A Sra. Carla acredita que os jornalistas não precisam de diploma para exercer a profissão e, um de seus argumentos, é que os profissionais dessa área não precisam de nada há mais do que “saber ler e escrever”. Outro argumento é que o Jornalismo não oferece risco nenhum à população e não se compara com profissões como a Medicina e a Engenharia cujos erros podem ser fatais. Bom, nessa comparação esqueceram de colocar o Direito, pois os cidadãos precisam de proteção contra os erros absurdos que saem dos tribunais. Talvez, em meios a esses tantos projetos de lei propostos, alguém crie um que tenha por objetivo rever o que é ensinado nas faculdades de Direito do país. Seria uma grande ironia!
Pois bem, meu objetivo não é atacar ninguém e sim, expressar a minha opinião sobre o resultado do julgamento. Sim, hoje decidiram pela não obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão. Rebatendo um dos argumentos mais “chulos” que somos obrigados a ouvir, o de que os jornalistas não precisam de muito para exercer a profissão, apenas “saber ler e escrever”, gostaria de informar que somos muito mais do que palavras; somos formadores da opinião pública. O que sai na imprensa tem um grande poder sobre a população e existem muitos estudos sobre isso na área da Psicologia Social. Para conhecer esses estudos, faça o curso de Jornalismo! Isso o seu editor não vai te explicar, é só na faculdade que você vai descobrir (se quiser, é claro). Mas tudo bem, quem se importa com o que escrevemos, derrubaram o diploma então como acadêmica eu posso falar o que eu bem entender e fazer um trabalho precário por aí… Apenas tenho a impressão que isso não vai agradar muito algumas pessoas, inclusive aquelas que derrubaram o canudo que há muito tempo eu sonho em ter nas mãos.
Quanto a nossa profissão não oferecer risco algum a população gostaria de lembrar para quem parece ter se esquecido, um dos inúmeros casos em que o Jornalismo foi um completo desastre na vida das pessoas: no Brasil, a imprensa colocou os donos da escola BASE frente à sociedade e os malharam como bonecos em praça pública, após uma denúncia de abuso sexual contra as crianças que estudavam em sua escola. A imprensa decretou a culpa dessas pessoas antes mesmo da própria Justiça, e a sociedade acreditou e os julgou; quebraram a escola, acabaram com qualquer vestígio de dignidade que podia lhes restar. Tudo por quê? Porque a imprensa divulgou sem nenhuma prova e responsabilidade que eles eram culpados. Isso só comprova que, quando o Jornalismo é mal feito, quando se esquecem que a mídia deve sim denunciar, mas o que foi devidamente apurado, pessoas inocentes podem passar pelo inferno que é o julgamento do público sem nem ao menos poder mostrar o seu lado e provar que, todo esse espetáculo não passa de um terrível engano. Um só jornal não fez a denúncia contra o casal dono da escola Base, pois, antes de tudo, eles prezaram por aquilo que é mais importante do que a concorrência ou o furo de reportagem: a verdade dos fatos. E a verdade é que não havia prova nenhuma contra o casal, então, não há como acusá-los. Mas a mídia os acusou, os julgou e no final, após ter colocado toda a sociedade contra eles, descobriram que não havia abuso sexual nenhum. Um pedido de desculpas apaga as consequências?
E ainda assim o Ministro Gilmar Mendes vai continuar dizendo que a profissão de Jornalista não oferece riscos a sociedade? Não é digna de um diploma como todas as ouras? Seria melhor que eles nos contassem realmente qual é o verdadeiro motivo para derrubarem o diploma, pois, o que temos ouvido até agora não convence.Se, com o diploma existem profissionais que exercem um trabalho esdrúxulo por aí (e não é só no Jornalismo, não!), imagine sem a exigência dele! Eu só não vou me conformar com essa decisão. Posso estar romantizando demais o Jornalismo quando sabemos que há muitos outros problemas para enfrentar além da não obrigatoriedade do diploma. Mas ao menos uma coisa eles não poderão tirar de mim: o amor que eu tenho pela profissão que eu escolhi e que me move para o impossível: tentar ser ouvida quando, na verdade, os outros é que deveriam escutar.
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