sábado, 4 de julho de 2009

É nisso que dá contratar jornalista sem diploma

Fim do diploma: uma história edificante

Ivson Alves

A amiga era chefe de reportagem da Folha em São Paulo, no fim dos anos 80, mesmo sendo carioca do Méier e tendo começado sua carreira no jornal na sucursal carioca. Era um desafio e tanto estar ali, naquele posto, naquele jornal, com menos de 30 anos. Por esse contexto, o problema que se apresentava era ainda maior – o jornal dera o furo de que São Paulo estaria sofrendo um surto de meningite e o secretário de Saúde do Estado, José Aristodemo Pinotti, chamara uma coletiva, certamente para desmentir a reportagem. Tudo normal, não fosse o fato de que a repórter que dera o furo, e iria cobrir a coletiva, ter acabado de ligar e avisado que estava levando o filho para o hospital, não podendo, portanto, ir trabalhar. Pior. Não havia um repórter à vista, naquela manhã.

Quer dizer, tinha um sim. Ele começara no dia anterior e, para falar a verdade, só agora ela reparara nele. “Sujeito discreto”, pensou, enquanto se aproximava do jovem, que, sentado, folheava a edição daquele dia

- Olá. Eu sou a Fulana. Qual o seu nome?
- Oi. Sou o Sérgio.
- Prazer, Sérgio. Você já deve ter lido – disse ela, indicando o jornal à frente do rapaz – que demos um furo hoje. Esse caso da meningite…
- É, acabei de ler – confirmou Sérgio.
- Bom, a Sicrana está com o filho doente e não vem. Por isso, você vai na coletiva com o Pinotti, ok?
- Desculpe, mas eu não vou.

Fulana era (é) uma lady. Delicada de corpo e espírito. Por isso, o máximo de surpresa a que se permitiu foi arregalar os olhos castanho-esverdeados e exclamar um “como?” baixinho.

- Eu não vou – repetiu Sérgio, ainda tranqüilamente sentado.
- Não vai? – perguntou, incrédula, Fulana.
- Não. Não fui contratado para cobrir saúde – eclareceu Sérgio.
- Sérgio, veja…Você é jornalista e jornalista cobre qualquer coisa – tentou explicar Fulana
- Não sou jornalista. Sou arquiteto e fui contratado para fazer matérias sobre Urbanismo.

Sérgio realmente não saiu da redação e a Folha foi o único veículo de comunicação importante de São Paulo que não compareceu à coletiva em Pinotti desmentiu o furo do jornal, tendo que recuperar a matéria.

Quem mandou o "textaço" acima foi meu camarada João Batista de Abreu, jornalist, professor e, principalmente, botafoguense. Saiu no "Coleguinha, uni-vos", do sempre atuante Ivson Alves.



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