terça-feira, 13 de novembro de 2007

Dica de livro: "Suplemento Literário - Que falta ele faz!"


Minha ex-aluna Lívia Diniz, hoje brilhando no site "Bolsa de mulher", pega o "espírito da coisa" e manda a dica. É certo que vou encomendar e ler. O Suplemento Literário do Estadão fez história.

A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo lança nesta quarta-feira, dia 14, no Memorial da América Latina, em São Paulo, "Suplemento Literário – Que falta ele faz!", estudo de Elizabeth Lorenzotti sobre o caderno cultural mais influente da imprensa brasileira, idealizado por Antônio Cândido e dirigido por Décio de Almeida Prado.

Concebido pelo crítico Antonio Candido, dirigido por Décio de Almeida Prado (1956-1966) e Nilo Scalzo (1967-1974), o Suplemento Literário de O Estado de S.Paulo foi a mais importante referência da imprensa cultural brasileira de sua época. Publicado semanalmente, o Suplemento não tinha linha editorial rígida – abria espaço para as várias correntes de pensamento que se digladiavam no período, a partir de um sábio equilíbrio entre tradição e inovação e linguagem de jornal e revista.

Cinco décadas depois da criação da publicação, Suplemento Literário – Que falta ele faz!, de Elizabeth Lorenzotti, lançamento da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, recupera a história deste marco do jornalismo cultural. O lançamento será dia 14 de novembro (quarta-feira), a partir das 17h30 no Memorial da América Latina, Auditório Simon Bolívar, à Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda, telefone 3823-4600.

Em suas páginas se debateu a cultura dos anos 50 a 70, momento extremamente fecundo na produção artística brasileira e mundial. Rigoroso, mas sem cair em excessos acadêmicos, atento aos movimentos culturais de importância – da bossa nova ao cinema novo, passando pelo concretismo –, o Suplemento manteve um compromisso com a qualidade e a construção de uma tradição crítica.

Autônomo em relação à redação do jornal e independente de publicidade, o Suplemento não se dedicava à cobertura da atualidade artística, mas à reflexão crítica dos fenômenos culturais, abordados em artigos de fôlego, sempre assinados, o que não era norma na imprensa daquela época. O pluralismo e a excelência de seus articulistas o tornaram único.

Um dos pontos de partida do projeto editorial de Antonio Candido foi a experiência que teve na revista Clima, publicada entre 1941 e 1944 por um grupo de jovens intelectuais paulistas então recém-formados pela USP que se tornaram colaboradores regulares do Suplemento, como, Paulo Emílio Salles Gomes, Lourival Gomes Machado e Décio de Almeida Prado.

O corpo de colaboradores do Suplemento também contava com escritores consagrados como Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, João Cabral de Mello Netto e Carlos Drummond de Andrade, além de novos autores como João Antônio, Geir Campos e Carlos Nejar. Entre os críticos, lançou Anatol Rosenfeld e Leyla Perrone-Moisés, decisivos na difusão da literatura estrangeira, e Roberto Schwartz, entre outros. Intelectuais consagrados como Florestan Fernandes, Sergio Buarque de Holanda e Mario Pedrosa também marcavam presença.

Sóbrio – para não destoar da diagramação do Estadão – e ao mesmo tempo inovador, o projeto gráfico foi realizado por Italo Bianchi, artista plástico e gráfico italiano radicado no Brasil. Uma das principais características visuais do Suplemento era a reprodução de desenhos ou gravuras, tornando as páginas mais “arejadas” e divulgando o trabalho de artistas plásticos como Candido Portinari, Marcelo Grassmann, Di Cavalcanti, Renina Katz, Flávio Shiró, Lívio Abramo, Aldemir Martins e muitos outros.

Como escreve Antonio Candido no prefácio, “Elizabeth Lorenzotti sentiu bem o significado do Suplemento no complexo cultural paulistano, do qual ele foi um episódio relevante entre a Semana de Arte Moderna de 1922 e a transformação vertiginosa que nos anos 1960 e 70 faz da cidade uma metrópole, liquidando suas últimas tinturas provincianas”.

O livro é uma versão bastante modificada da dissertação de mestrado em Ciência da Comunicação defendida por Elizabeth Lorenzotti em 2002, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

“Este trabalho me deu muitas alegrias. A maior delas foi conhecer o mestre Antonio Candido e privar do seu convívio muitas vezes, nas tardes de sábado, em sua casa. Graças a ele pudemos resgatar o ideário de uma publicação ímpar como aquela. Espero que o relato desta experiência não seja encarado como algo nostálgico, referência de bons tempos que já se foram, e sim um subsídio para o resgate de boas idéias que deram certo e podem ser transformadas e atualizadas para ampliar horizontes e mentalidades”.

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