quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A Imprensa e os blogueiros

Belo texto publicado no site "Nós da Comunicação". Para jornalistas, estudantes, professores (que ainda querem aprender) e, claro, blogueiros.

Blogueiros da imprensa
Isabela de Assis

Cada vez mais, jornalistas utilizam blogs como veículos de comunicação. E, para o bem deles, os internautas também. Uma pesquisa realizada pela Textual Serviços de Comunicação, em parceria com a Interface Comunicação Empresarial, de Minas Gerais, e a Influence Imprensa e Relações Públicas, do Rio Grande do Sul, revelou o impacto das mídias sociais, como blogs e redes sociais, na cobertura da imprensa brasileira. Para 82% dos profissionais, o conteúdo veiculado nas mídias sociais influencia as pautas das mídias brasileiras, e 33% buscam nos blogs informações que ainda não chegaram à grande imprensa. Quanto à regularidade de acessos, cerca de 56% dos jornalistas afirmaram visitar até cinco blogs regularmente.

Quando o assunto é blog noticioso, o jornalista Ricardo Noblat é referência. Seu diário, com informações privilegiadas sobre os bastidores da política nacional, estreou em 2004 no IG, diferenciando-se dos demais, na época, por ser atualizado várias vezes ao dia. Antes de começar a desbravar o território digital, Noblat não sabia sequer criar uma mensagem de e-mail. “Minha secretária sempre fez isso por mim”, revela. Pouco a pouco, ele foi se familiarizando com a informática, mas no dia-a-dia recorre à ajuda de um técnico para postar vídeos, fotos e músicas. Afinal, seu blog não vive só de política. “Aos poucos, fui criando seções e reunindo articulistas. Hoje, já não sei mais se tenho o blog dentro de um site ou um site dentro do blog”, constata.

Para dar conta da trabalhosa rotina diária do blog, Noblat conta com o apoio do filho, Gustavo Noblat, e da jornalista Carol Pires. Mesmo assim, seu dia-a-dia profissional no diário – que inclui muitos telefonemas e alguns jantares com políticos – se estende das 11 horas às 4 horas. “Criei um clipping de notícias de jornais que faço de madrugada. Até me arrependi de ter inventado isso, mas não dá para voltar atrás, porque sei que é muito lido pelos repórteres”, diz ele.

O blog do Noblat passou pelo ‘Estadão’ e, atualmente, está hospedado no portal do jornal ‘O Globo’, com uma média de 35 mil acessos por dia. Dentre os visitantes freqüentes, estão os ‘coleguinhas’ da mídia, ávidos por notícias e furos, como o do ‘caso Isabella’, no qual Noblat revelou que o promotor Francisco José Cembranelli teria dito que o pai da menina era seu assassino. Às vezes, o uso de informações do blog pela imprensa ultrapassa os limites do bom senso e até da ética. “Certa vez, descobri que um jornal no Amazonas reproduzia os comentários que eu postava e que inventou uma coluna assinada por mim”, lembra o jornalista, que resolveu a situação enviando um e-mail para o jornal.

'BLOGAR' AINDA ESTÁ EM SEGUNDO PLANO

Se, para Ricardo Noblat, o blog é seu ganha-pão – como ele mesmo define – e um veículo ao qual se dedica com exclusividade, para a grande maioria dos profissionais de comunicação, ‘blogar’ ainda é atividade secundária. É o caso do jornalista Ancelmo Gois: “Eu faço o blog porque existe uma revolução no mundo e não quero ficar longe dessa ‘festa’. Além disso, sou metido a fazer um monte de coisas. Mas gasto 90% do meu tempo com o papel”, diz Ancelmo, referindo-se à coluna diária no jornal ‘O Globo’. A ‘turma da coluna’, como ele mesmo apelidou sua equipe, é quem alimenta o diário de notícias, que recebe, em média, 20 mil visitas por dia e está no ar desde o início de 2007. “Nossa proposta é criar uma trincheira de defesa para o Rio”, explica o editor do blog, Aydano Motta.

Jornalista com 22 anos de experiência e passagens pelo ‘Jornal do Brasil’, pela ‘IstoÉ’ e pela ‘Veja’, Aydano acredita que os profissionais de comunicação deveriam estar antenados no jornalismo digital. “Esse vai ser o futuro. Não vejo o fim dos impressos, mas terão de se adaptar às novas linguagens que surgem e a um novo ritmo de produção. No blog, as grandes vantagens são o espaço ilimitado, o contato direto com o leitor e a liberdade de expor mais as opiniões”, enfatiza.

Apesar das inúmeras possibilidades de ter novo campo de comunicação surgindo na internet, há desafios a serem superados. “Um problema, no mundo inteiro, é como esse mercado será sustentado financeiramente”, destaca Aydano. Essa questão também intriga Noblat. “Para a maioria esmagadora dos jornalistas, o blog ainda não virou fonte de renda que permita ampla dedicação. E sem essa dedicação, fica complicado realizar várias atualizações diárias com qualidade”, observa.

BLOGS DE REVISTAS GANHAM NOTORIEDADE

Os diários digitais conquistam espaço também nos portais de revistas, como a ‘Veja’ e a ‘Época’. Este ano, os sites foram incluídos, pela primeira vez, como categoria do 32º Prêmio Abril de Jornalismo. A publicação vencedora foi a ‘Exame’, que possui oito blogs sobre assuntos diversos, como leis, investimentos, negócios, políticas e vinhos. A editora-executiva da ‘Exame’, Cristiane Correa, tem há quase dois anos um blog que traz informações sobre empresas. “Eu procuro colocar uma visão pessoal do mundo dos negócios, com observações curiosas que ouço dos executivos”, diz ela.

Por causa da sobrecarga de trabalho na revista, Cristiane só consegue atualizar seu blog três vezes por semana. Mas ela adora escrever no diário, especialmente pela agilidade de comunicação que permite. “Como editora, demoro 15 dias para ver o fruto do meu trabalho. No blog, tenho a oportunidade de voltar do almoço com um executivo e postar alguma informação interessante imediatamente”, diz ela.

Cristiane destaca, ainda, a interação com o leitor no mundo digital. “É uma relação bem mais próxima do que na revista, nem dá para comparar”, analisa. A editora também já observou que as corporações estão atentas ao que é publicado: “Em certa ocasião, postei uma nota sobre determinada empresa e cinco minutos depois ela se manifestou.”

Blogueiros da imprensa, Ricardo Noblat, Ancelmo Gois, Adayno Motta e Cristiane Correa são exemplos de jornalistas antenados com as mídias digitais. Mas é da escola de jornalismo das grandes redações que eles tiraram a mais importante de todas as lições: apesar de toda a liberdade editorial e do dinamismo dos blogs, o cuidado com as informações divulgadas deve estar sempre em primeiro lugar.

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