Vale a pena ler uma das críticas do ombudsman da Folha de S. Paulo em sua coluna de hoje.
Contrapropaganda
Páginas do primeiro caderno da Folha esta semana foram atacadas por estranha praga verde. Bolas dessa cor invadiram o espaço das notícias, especialmente as internacionais, e prejudicaram sem a menor sombra de dúvida sua inteligibilidade e o conforto do leitor.
Tratava-se de campanha publicitária típica da obsessão de alguns "criativos" de ocupar a área do jornal que pertence à informação jornalística, na esperança de atrair a atenção do consumidor. Conseguem, mas o preço que pagam é alto: a aversão do público.
Muitos leitores se queixaram ao ombudsman. João Nicolau Carvalho escreveu: "Qual a sua função [das bolinhas]? Hipnotizar o leitor? Não funciona... As bolinhas prejudicam nossa reflexão. Geram distonia entre a forma e o conteúdo".
Alison Sales reclamou "porque as bolinhas causaram tamanho incômodo que simplesmente não consegui ler". Talita Vasques pediu: "Não deixem que a "criatividade" das agências de publicidade denigra a imagem do maior jornal do país".
A Redação disse ao ombudsman que a ela "cabe apenas vetar extremos que desfigurem a imagem editorial do jornal". Eu acho que este foi um caso extremo e que a campanha deveria ter sido vetada.
Tenho recebido inúmeras críticas de leitores inconformados com o excesso de anúncios nos últimos meses. Respondo que, embora a maioria de leitores e jornalistas talvez prefira jornal sem publicidade, é ela que garante as condições para o veículo ser independente e de boa qualidade.
Uma coisa é o incômodo de virar páginas inteiras ou separar cadernos sobre produtos que podem não interessar a muitos. Outra é desrespeitar claramente o direito essencial do leitor, que é ler o produto que comprou.
Sem contar que, muito provavelmente, a campanha é um tiro no pé do anunciante. Mas esse é um problema dele, que preferiu esse caminho.
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