sábado, 23 de fevereiro de 2008

Que belos textos! Cláudia Matarazzo e Ruy Castro

Como meus milhares de alunos e meus milhões de leitores do blog sabem, sou leitor assíduo (sic) de seções de Cartas dos jornais. A carta publicada ontem pela jornalista Cláudia Matarazzo na Folha de S. Paulo comentando um texto publicado recentemente no mesmo jornal pelo Ruy Castro é imperdível. Abaixo, a carta da Cláudia e o texto do Ruy Castro.

Homem
"Ruy Castro está preocupado com a utilidade dos homens desde que leu que a ciência já produz espermatozóides a partir das células-tronco femininas ("Fim do homem-objeto", Opinião, 13/2). Calma, Ruy! Que mulher descartaria um espécime capaz de originar tão variados prazeres? Cafuné, por exemplo. Há homens mestres nisso.
E os que beijam então? Quando um homem que beija beija uma mulher que gosta de beijo, uau!
Há homens que sabem falar e pensam também. E o que dizer dos que fazem uma mulher rir?
Nem falei daqueles que nos proporcionam prazeres sexuais inenarráveis. Não pela qualidade da transa em si, mas pela habilidade de, logo depois, tratarem-nos como verdadeiras rainhas.
Caro Ruy, não há o que temer: mulheres com juízo sempre encontrarão homens com talento.
Precisam -como já dizia Edith Piaf, em Paris, ou Marina Lima, no Rio- estar dispostas a renunciar a algumas coisas pelo prazer de ter um "homem pra chamar de seu".
Mon homme."
CLAUDIA MATARAZZO, jornalista (São Paulo, SP)

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Fim do homem-objeto
RUY CASTRO
RIO DE JANEIRO - Era difícil ser homem em certa época do século 20 -anos 70 e 80, por aí. As feministas viviam nos culpando por todos os crimes cometidos contra as mulheres por nossos avós ou bisavós. Uma sexóloga americana, Shere Hite, escreveu um livro provando que, por ter clitóris, a mulher podia perfeitamente dispensar o homem para sentir prazer.
Só nos restava, portanto, ser conservados para a reprodução. E mesmo assim em termos: algumas belas feministas (sim, havia) do meu círculo no Posto 9, em Ipanema, quase me convenceram de que o homem não passava de uma invenção da mulher para a produção de mais mulheres. Não que isso fosse necessariamente ruim, eu argumentava. Sempre que as mulheres precisassem, nós nos sacrificaríamos com prazer, sem trocadilho, em função desse objetivo.
Claro que, relegados a simples fornecedores de espermatozóides, estaríamos sendo reduzidos à odiosa condição de homens-objeto. Daí propus a Eduardo Mascarenhas, psicanalista então em voga, a criação de um slogan para nos defendermos: "No peito do homem-objeto também bate um coração". Mascarenhas aprovou-o e até o repassou a seu mestre, Helio Pellegrino.
Bem, agora, no século 21, as queridas feministas estão por baixo, mas a ciência acaba de descobrir um novo jeito de produzir espermatozóides, a partir de células-tronco da medula óssea feminina. Ou seja, uma mulher poderá fertilizar outra mulher sem a necessidade de participação do homem.
Se isso vingar, pensei comigo, o que será de nós? Mais uma vez, seremos atirados na lata de lixo da história. À falta de melhor vamos ter de nos conformar em jogar pelada, tênis, sinuca, buraco ou qualquer coisa com os amigos nos demais dias da semana, não apenas às terças ou quintas.

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