Conheci o jornal argentino Página 12 há alguns anos, numa palestra sobre Jornalismo Internacional, quando trabalhava na Souza Cruz. Assisti a uma palestra do Jorge Lanata em São Paulo. Há poucos anos, um de meus alunos, o Thiago Dias, aceitou um desafio que fiz e publicou uma matéria no Jornal Laboratório da FACHA sobre o jornal. Hoje, a Folha traz uma matéria sobre o Jorge Lanata.
Criador do irreverente "Página 12" funda novo jornal diário
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Para Jorge Lanata, 47, um dos mais importantes jornalistas veteranos da Argentina, a televisão de seu país vive hoje "a mesma pobreza criativa geral que afeta o jornalismo".
Fundador do irreverente e provocador "Página 12" -lançado em 1987 e dirigido por ele até 1994-, Lanata considera que, desde a crise de 2001, "a agenda das televisões refugiou-se no noticiário policial e nos programas de ficção", disse à Folha, por e-mail.
Isso porque as denúncias políticas e o jornalismo investigativo teriam se tornado cada vez mais raros. "O governo Kirchner cooptou os meios de comunicação, multiplicando a publicidade oficial e gerando um ambiente de autocensura."
Lanata não vê no badalado "Caiga Quien Caiga" um programa jornalístico, e sim cômico. "Uma pergunta insólita em uma entrevista feita no susto não significa jornalismo. Além disso, o "Caiga" é um dos poucos programas com os quais o ex-presidente Kirchner falava. Isso porque sabia que não significava nenhum risco. São uns meninos engraçados, só isso."
Novo jornal
Gorducho, histriônico e exibicionista -suspensórios são sua marca registrada-, Lanata lança no dia 2 de março um novo diário: "Crítica de la Argentina" (www.criticadigital.com) sai com uma tiragem inicial de 60 mil exemplares.
No ambiente midiático, há certa inquietação. Haveria público para um novo jornal diário na Argentina? Há ainda os que questionam de onde estaria vindo o dinheiro para esse tão ambicioso novo projeto.
Lanata diz que reeditar o "Página 12" dos velhos tempos hoje seria impossível. "Fundei-o quando tinha 26 anos. Achava que era adulto, e isso me permitiu chutar as portas em vez de bater e pedir para entrar. Hoje, sinto mais pressão. Todos exigem que eu volte a "renovar o jornalismo", como se alguma vez eu me houvesse proposto a isso. Essas coisas acontecem, não se propõem", afirmou.
O "Página 12" caracterizava-se pelo projeto gráfico ousado, uso de grandes fotos, títulos sensacionalistas -assemelhados ao tom da chamada "imprensa marrom"-, o bom humor e a crítica ao governo.
"Mostramos que a variedade na forma de se mostrar uma notícia é infinita e não altera o seu conteúdo. Na época, podíamos comunicar a queda de um ministro só com uma fotomontagem, por exemplo."
Lanata dirigiu o "Página 12" por quase oito anos, até que este foi vendido ao concorrente "Clarín". O jornal deixou de ser combativo politicamente e entrou em decadência.
Depois dessa experiência, Lanata teve programas televisivos, lançou um documentário sobre dívida e corrupção ("Deuda") e o best-seller "Argentinos", em dois volumes.
No ano passado, voltou aos holofotes quando, em sua coluna no semanário "Perfil", revelou o que ficou conhecido como "banheirogate" -a história da mala com US$ 60 mil em espécie escondidos no banheiro da ministra da Economia, Felisa Miceli. O escândalo causou a demissão da ministra, mas não teve impacto na corrida eleitoral que levaria Cristina Kirchner ao cargo do marido.
"A denúncia teve importância na opinião pública, mas não na população em geral. Comprovou-se que a situação econômica segue sendo o único elemento que os argentinos valorizam hoje na hora de votar."
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