quinta-feira, 24 de julho de 2008

Aula de Jornalismo: Luiz Weis no Observatório

Gosto dos textos do Luiz Weis publicados no Observatório da Imprensa. Boas reflexões sobre a profissão. Eis o mais recente:

Um breve contra o lero-lero

O New York Times recusou-se a publicar, como veio, um artigo do candidato republicano John McCain falando de seus planos para o fim da ocupação americana do Iraque.

O jornal pediu a McCain que reescrevesse passagens do texto para dizer em termos concretos o que entende por “vitória no Iraque” e se irá anunciar um cronograma para a retirada.

O pedido foi rejeitado, e a equipe do candidato se queixou de discriminação.


Na fase das primárias, o NYT anunciou seu apoio a Hillary Clinton entre os democratas e a McCain entre os republicanos.

Recentemente, o Times publicou um artigo do afinal vitorioso Barack Obama sobre o Iraque. Não se sabe se saiu como recebido, ou se precisou ser canetado pelo autor, por exigência do jornal.


Todos os artigos da sua página de Opinião são editados e checados. Não só por razões de clareza e espaço, mas para eliminar erros factuais. Se algum deles serve de base para um juízo de valor, o autor que desate o nó, do contrário nada feito.

Nem todos apoiam essa política. O argumento contrário é o de que o jornal não tem de interferir em artigos assinados – o leitor que julgue os seus autores. É, por exemplo, a rotina na imprensa brasileira.

Mas o Times está certo. Nem sempre o leitor sabe distinguir informação falsa da verdadeira, e o jornal não deve mesmo se prestar ao papel de transmissor de enganos alheios, propositais ou não, em nome do respeito à integridade das idéias dos articulistas.

No caso McCain, o NYT foi mais longe. Pelo visto, não quis ser mula do eventual lero-lero de um candidato diante de uma das duas questões que deverão decidir a eleição de novembro. (A outra é a economia.) Se ele fala em “vitória no Iraque”, tem de explicar o que quer dizer com isso.

Se os jornais brasileiros tratassem com a mesma severidade os artigos com as promessas dos nossos candidatos, nenhum deles iria gostar – mas o leitor encontraria menos abobrinhas nas páginas opinativas.

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