quarta-feira, 16 de julho de 2008

Sobre efemérides

Belo artigo,. como sempre, do Ruy Castro na Folha de hoje. Me amarro em efemérides. Eita língua!

Efemérides
Ruy Castro

Estou bem de efemérides neste ano. Fui contemporâneo de tudo que está completando 50 ou 40 anos em 2008. Contemporâneo consciente, quero dizer -sabendo do que se tratava quando estava acontecendo pela primeira vez. O que não era nenhuma vantagem, porque eu já tinha 10 e 20 anos, respectivamente, e, com essa idade, supõe-se que o sujeito saiba o que vai pelo mundo -por acaso, título de um cine-jornal da época, filmado pelas Actualités Françaises.
Lamento ter chegado tarde para o nascimento do padre Antonio Vieira há 400 anos e, muito mais, para o desembarque da Corte portuguesa na praça 15, há 200, com o fuzuê subseqüente: criação da imprensa nacional, do Jardim Botânico, do Banco do Brasil -imagino o Rio fervendo por aqueles dias. Da mesma forma, ainda não estava no pedaço quando Machado de Assis e Arthur Azevedo morreram em 1908, mesmo ano em que nasceram Guimarães Rosa e Mario Filho. Desses centenários, o de Mario Filho passou em branco e ainda não se ouvem os foguetes pelo de Arthur Azevedo em outubro.
Em compensação, acompanhei a Copa de 1958 como acompanho o atual campeonato brasileiro, ouvi bossa nova quase desde o dia em que João Gilberto gravou "Chega de Saudade" e não demorei a saber que na França surgira um negócio chamado Nouvelle Vague, cujos filmes eu ainda não teria idade para assistir. Todos esses highlights da história estão fazendo 50 anos.
E, em 1968, ninguém me segurava em casa. Ainda mais porque, no Rio, 1968 já tinha começado em 1967, com passeatas, bombas e correrias estudantis pela avenida Rio Branco. Como éramos todos incuravelmente jovens, ninguém pensava que, um dia, iríamos celebrar os 40 anos daquele tempo entre um exame de próstata e um comprimido para o colesterol.

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