domingo, 3 de agosto de 2008

O Jovem e a Mídia - Ombudsman da Folha: "Múltiplas tarefas afetam o cérebro"

Mais uma boa reflexão do ombudsman Carlos Eduardo. Vale a pena ler.

Múltiplas tarefas afetam o cérebro
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA

Como a relação entre o jovem e a mídia vai evoluir e com que efeitos, o futuro dirá; o fundamental agora é ficar atento à questão

O SUPLEMENTO Jovem Século 21 do domingo passado é um exemplo do tipo de informação útil para o público que, entre os meios de comunicação, só uma grande empresa jornalística pode oferecer.

Sem estrutura, dinheiro, equipe de profissionais satisfatoriamente remunerados, não se fazem pesquisa, edição, textos, ilustrações, fotos, gráficos de alta qualidade como aqueles. E nenhum outro veículo consegue dispô-los melhor para o consumo do que o jornal impresso.

Os resultados do estudo, objeto de ardorosos elogios de dezenas de leitores dirigidos ao ombudsman, são, como era fácil supor, controvertidos.

O perfil basicamente conservador da juventude brasileira atual deixou muitos alegres e tantos outros desanimados. Diferentemente dos contemporâneos nos EUA, onde pesquisas similares indicam avanço na defesa de princípios "progressistas", as teses "de esquerda" parecem em baixa para os brasileiros jovens.

Mas a questão ideológica será mais bem discutida pelos cientistas políticos. Este é um espaço para meditar sobre a relação entre o jovem e a mídia. A pesquisa Datafolha mostra que a TV ainda é o veículo predileto da juventude, mas a internet avança e já lidera em certos segmentos.

Entre garotos de 16 a 17 anos e de 18 a 21 anos e entre meninos e meninas de classes A e B, a internet é o meio predileto da maior parte. No grupo mais rico, com vantagem de 43% a 26% sobre a TV.

O que isso significa para a inteligência e a cultura dessa geração? Muita gente se preocupa bastante com a possibilidade de que passar horas a fio diante da tela do computador possa emburrecer os jovens como no passado se temia o mesmo quanto à TV, o cinema, o rádio, até os livros.

A pesquisa científica disponível é incipiente e inconclusiva. Nota-se crescente declínio da qualidade e quantidade de informações sobre história, geografia e política entre os que se informam prioritariamente pela internet em países como EUA e França.

Mas isso não quer necessariamente dizer, como supõem alguns, que essas pessoas estejam ficando mais estúpidas que as de gerações anteriores. Elas podem não saber as informações, mas saber como obtê-las, assim como as pessoas deixaram de decorar a tabuada quando as máquinas de calcular lhes permitiram fazer contas sem recorrer à memória.

Há algumas conclusões que, no entanto, já parecem consensuais. Uma é a de que o fato de ocupar o cérebro com múltiplas tarefas, típico da liturgia da internet, altera a maneira de pensar e a incorporação de conhecimento de modo negativo para o indivíduo.
As múltiplas tarefas (estar ao mesmo tempo no Google, no Facebook, no YouTube, no Skype, no Outlook, com a TV ligada e ouvindo música, por exemplo) forçam o cérebro a dividir seus recursos de processamento, mesmo quando as atividades não são realizadas numa só região cerebral.

Há estudos que demonstram que isso prejudica o aprendizado e a memorização. Outros sugerem que acelera o envelhecimento do cérebro.

A influência dessa característica da internet se espalha para outros veículos de comunicação. A TV insere uma infinidade de informações simultâneas na tela junto com o programa principal. O projeto gráfico adotado por esta Folha a partir de 2006 tenta mimetizar a diversidade de informações conjuntas, com o objetivo de atrair a atenção do jovem ligado na internet, sem ainda se saber se com sucesso.

O Datafolha mostra que 26% dos jovens preferem a internet, 33% a TV, e 19% os jornais impressos. Como essas tendências vão evoluir e com que efeitos, o futuro dirá. O fundamental agora é ficar atento para a questão.

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