Não coheci o Onaga, mas é sempre chato saber da "ida" de um colega. Mas destaco o belo texto do Wladir, que também não conheço, no "Observatório da Imprensa". Uma aula de Jornalismo.
HIDEO ONAGA (1921-2007)
Um chefe rigoroso, explosivo e carinhoso
Wladir Dupont
Difícil, quase impossível, fugir aos temidos clichês e os manjados truques do ofício para falar da morte de um grande amigo e mestre inesquecível, mas o desaparecimento, no sábado (25/7), do jornalista Hideo Onaga representa para a imprensa brasileira, a paulista sobretudo, uma perda enorme.
Embora afastado do dia-a-dia das redações há muito tempo – primeiro dedicado a assessoria pessoal do ex-ministro Shigeaki Ueki, depois, nos últimos três anos, derrubado por um derrame devastador – Onaga-san, como era conhecido por seus amigos, modesto, não se gabava de seu extenso e magnífico currículo, mas bem poderia fazê-lo.
De fato, para começar, com pouco mais de vinte anos, ele foi um dos grandes repórteres dos anos 1940, no grupo Folhas, de onde saiu em 1954 para ser chefe de redação de uma nova revista lançada dois anos antes, a então quinzenal Visão. Ao lado do carioca Jorge Leão Teixeira e de outro bom repórter e redator, seu cunhado José Yamashiro, e mais tarde um jovem brilhante, Washington Novaes, Hideo deu um perfil altamente profissional, sério e sóbrio à revista, depois mensal, que até a chegada de Veja, em 1968, foi a leitura semanal de gente bem informada na política, nos negócios e na economia.
Só escreve bem quem pensa bem
Em Visão, na condição de chefe, ele não mais fazia reportagens: lia e editava os textos escritos pela equipe, da qual fiz parte como um foca ansioso, na pequena redação da rua Sete de Abril, no centro paulistano. Lápis na mão, rigoroso, ele corrigia as matérias, mas não lhes agregava tempero especial, limitando-se a checar as informações e conferir a seqüência informativa, a estrutura das frases. Exigia, sempre, precisão e correção. Com a ponta do lápis, ele dava uma batidinha em cada palavra, correndo assim o texto rapidamente. E coitado de quem errasse uma cifra ou um nome. Levava uma tremenda bronca, não poucas vezes na base do berro amedrontador. (Ele era explosivo, com facilidade partia para o grito, mas também um chefe carinhoso, que logo depois se aproximava do ofendido como se nada tivesse acontecido.)
Tempero e firulas de estilo ficavam por conta de Leão Teixeira, que, formado na grande escola do Correio da Manhã, canetinha bic em punho, editava, consertava, ajeitava, com um toque leve e bem-humorado, qualquer texto, até de colaboradores com bons assuntos, mas ruins de escrita. No final do processo, tanto Hideo como Leão Teixeira sabiam que contavam com a espantosa meticulosidade de Ruy Onaga, um dos maiores revisores da imprensa brasileira. Por Ruy, irmão de Hideo, não passava nada: nem erros de informação e, muito menos, de português.
Depois de Visão, onde ficou cerca de dez anos, Hideo andou por outros órgãos de imprensa, reformando publicações, formando novas gerações com seus amplos conhecimentos jornalísticos, que ele exercia na plenitude, fosse escrevendo ou editando.
Daqueles meus tempos formativos da rua Sete de Abril, depois na Bráulio Gomes, guardo uma das muitas lições de Onaga-san, que muito me serviria ao longo da carreira, no momento, sempre angustiante, de começar a escrever uma matéria: "Olha aqui, garoto, só escreve bem quem pensa bem".
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