quarta-feira, 18 de abril de 2007

Direto do Front do "Repórter de Crime"

O blog "Repórter de Crime", do meu amigo Jorge Antonio Barros, no site do globo online, está cada dia melhor.
http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/reporterdecrime/#50622
Jorginho tem dado verdadeiras aulas de Jornalismo na Internet.
Pesquei mais uma pérola hoje:

Conselhos de uma repórter experiente no conflito armado do Rio

Pedi a repórter Cristiane de Cássia, do GLOBO, que me desse a visão de um correspondente da guerra do Rio, que é mais ou menos como a vejo, diariamente. Tenho pouco contato com a Cristiane porque eu chego bem mais tarde do que ela. Mas tenho uma sincera admiração por sua coragem e pela experiência que ela tem acumulado na cobertura do conflito armado do Rio. Nesse post, ela dá dicas preciosas não apenas para repórteres que cobrem tiroteios, cada vez mais comuns numa cidade refém das balas, como o Rio, mas também para os cidadãos que se descobrem no meio do fogo cruzado. Prepare-se para uma aula de jornalismo de guerra.

- Sou repórter há 12 anos e a maior parte desse tempo fazendo cobertura da violência na Cidade do Rio. Já perdi, há muito tempo, a conta dos tiroteios pelos quais passei. Os últimos foram hoje (ontem), dia 17, aniversário de minha mãe, no Catumbi, e no dia 6 de março, meu aniversário _ o segundo seguido num tiroteio, no Alemão- afirma Cristiane que tem usado até o colete a prova de balas, oferecido pelo jornal.

Cristiane ressalta que é preciso manter a calma, qualquer que seja a situação:

- É muito complicado trabalhar num confronto. Além de captar as informações, seja ouvindo as pessoas, seja simplesmente vendo os fatos que acontecem na sua frente, seja ligando para um policial. Você tem que se preocupar com sua segurança e com as dos outros à sua volta. Muita gente neste momento está mais nervoso do que você, principalmente pessoas idosas, crianças e até colegas jornalistas que nunca cobriram uma situação dessas. E você precisa acalmá-las. Pessoas nervosas em situações como essas prejudicam a segurança de todos - observa.

"Medo todo mundo, mas não pode ser desculpa para não relatar os fatos"

- Tem muita gente que me pergunta se eu não tenho medo de fazer esse tipo de matéria. Medo todo mundo tem, claro. Depois que me tornei mãe de uma menina linda, então, tenho ainda mais medo. Afinal, ela precisa que eu volte para casa. Por vezes, quando chego em casa após esse tipo de situação, a abraço e choro muito - revela a repórter.

Mas o medo não pode nos impedir de contar às pessoas o que acontece na nossa cidade. A missão do jornalista é essa: cobrir os fatos e relatá-los. As pessoas honestas que vivem nas comunidades carentes do Rio já sofrem demais e vêem na imprensa seu único apoio em momentos graves como os confrontos.

"As redações precisam cuidar mais da segurança dos repórteres"

Por isso, acho que não só eu, mas outros colegas, precisam ter um treinamento básico de como agir nessas situações. Afinal, hoje qualquer ponto do Rio é área de risco. Seja para quem faz matérias de polícia, seja para quem faz matéria de cidade, Segundo Caderno, economia. E as redações precisam prestar atenção na segurança de seus funcionários, dar mais apoio, ouvir um pouco quem se envolve nisso e costuma ser tão desvalorizado.

Já fiz dois cursos de conscientização de riscos para jornalistas. O primeiro foi em 2005, quando fiz parte de um grupo de 20 jornalistas brasileiros convidados para um curso da Sociedade Interamericana de Imprensa, num quartel na Argentina. Foi muito interessante. Aprendi sobre primeiros socorros, sobre sons de tiros, como agir em caso de seqüestro, como andar num rapel, como descer de um pára-quedas. Enfim, recebi várias informações interessantes e de forma muito prática. Mas o treinamento é voltado para quem atua em áreas de conflito planas, como Haiti e Chipre. O Rio tem uma geografia e outras condições bem particulares. Tanto que os militares

Em novembro do ano passado, participei com 50 jornalistas do Rio de um curso promovido pelas empresas de jornalismo na Vila Militar, em Deodoro. O curso foi ministrado pelo International News Safety Institute (Insi). Foram dois dias muito interessantes também.

Eis alguns pontos discutidos:

1. A importância do motorista experiente, que pode salvar a vida de sua equipe.

2. A necessidade de se ter um kit de primeiros socorros no carro e do treinamento para atender pessoas feridas na rua.

3. Em manifestações, é importante manter um tom de voz firme, mas não agressivo, e estudar rotas de fuga ou a melhor posição para se ficar cobrindo a manifestação sem ser ferido.

4. Tiros de fuzil podem atingir até 2 Km de distância. Portanto, é preciso pensar no local onde se proteger durante um tiroteio. Num carro, o único lugar seguro é do lado de fora, junto ao bloco do motor. Paredes de tijolos não protegem nada. Muro de concreto também só serve de proteção em caso de tiros de pistola. Para tiros de fuzil, é preciso duas paredes de distância. Encostas de morro são uma boa solução para se proteger.

5. Eles sugerem que a gente não fique exatamente atrás do policial. Mas no dia-a-dia vemos que é preciso seguirmos as ordens deles, que geralmente conhecem os locais onde estão atuando.

6. O colete à prova de balas e o carro blindado que usamos só protegem contra tiros de pistolas e estilhaços de fuzil e granada. Em momentos de tiroteio, não é bom ficar no blindado porque você não ouve o que acontece do lado de fora. Os nossos coletes têm um problema: são pretos e têm o nome imprensa escrito em letras douradas na costa, igualzinho o da polícia, o que nos confude com eles. Além disso, a comunidade nos vê de forma ruim quando usamos esses coletes. O ideal são aqueles que não se parecem coletes à prova de balas, mas sim coletes iguais aos dos fotógrafos.

Para finalizar, concordo com o que diz a instrutora Heather Allen, coordenadora desse último curso, ex-oficial do Exército inglês. Ela considera que os jornalistas brasileiros, principalmente os cariocas, trabalham de forma muito unida, mas é preciso usarmos isso melhor a nosso favor. Ela adverte que no mundo inteiro os jornalistas não deixaram de cobrir os conflitos, as guerras, os problemas das populações mais miseráveis. Eles só passaram a cobrir de maneira mais segura, mais planejada, devemos fazer o mesmo.

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