domingo, 8 de abril de 2007

A transformação dos Jornais 3 (Folha de S. Paulo) Para ler primeiro lá embaixo


Novidades já integram dia-a-dia das Redações
Em setembro, o "New York Times" anunciou em suas páginas a contratação de um executivo. Nenhuma novidade, é prática do jornal mais influente do mundo publicar textos sobre a movimentação interna da empresa que o edita. Não fosse o cargo do recém-contratado: "futurólogo-residente".
O ocupante é Michael Rogers, ex-diretor de novas mídias da empresa que edita o "Washington Post" e ex-gerente-geral do site da revista semanal "Newsweek". Mas foi a empresa Practical Futurist (futurólogo prático), criada por ele em 2004, e a coluna semanal homônima que assina no site MSNBC que chamaram a atenção de Arthur Sulzberger Jr., o editor do "NYT".
A função de Rogers é desenvolver novas estratégias para o site do jornal e pensar em inovações para outros produtos da empresa -o jornal à frente, é claro. É um dos exemplos nítidos do que o relatório "O Estado da Mídia" fala quando se refere a busca por inovações.
No "Los Angeles Times", foi criada uma editoria de jornalistas investigativos para investigar o futuro do jornalismo, comandada pelo "Innovation Editor" (editor de inovação).
A primeira conclusão e recomendação do time -fruto de estudo batizado de "Spring Street Project" e apelidado pelos detratores de "Manhattan Project", alusão aos cientistas reunidos pelos EUA que desenvolveriam a bomba atômica- é que o jornal devia unificar urgentemente as Redações da versão em papel e on-line.
O "L.A. Times" pretende fazer até o final do ano a integração total, uma Redação que funcione 24 horas com lema "Dê o furo na internet, faça a análise no papel" ("Break it on the web, expand it on the print"). Outra recomendação é um uso maior dos recursos multimídia, como os blogs e a produção de vídeos.
O último é a menina-dos-olhos de Sulzberger, do "New York Times". A seu pedido, repórteres levam câmeras de vídeo digitais ou pequenas equipes que as operam em pautas especiais, com objetivo de fazer a reportagem impressa ser acompanhada de um vídeo na versão on-line da mesma.
Hoje, o site põe no ar 25 vídeos desse tipo por semana, mas a produção cresce. Há um curso de treinamento para uso da câmera, que todos os jornalistas da Redação farão até 2008; novos usos são testados, como vídeos-declarações que acompanham as tradicionais foto-reportagens de casamento no caderno "Sunday Styles".
A idéia vem pegando também nas revistas. Nos últimos dias, a Time Inc., que edita 130 títulos, anunciou inauguração de um estúdio para que seus jornalistas produzam conteúdo para os sites de suas publicações, revistas como "Time", "Fortune", "Sports Illustrated" e "Entertainment Weekly".
Outra novidade envolve o chamado "jornalismo-cidadão": a participação de leitores na produção de notícias ou de imagens noticiosas. Em San Francisco, na Califórnia, o site de notícias Topix anunciou na segunda que será editado por leitores-voluntários.
Iniciativa semelhante vem do Assignment Zero, colaboração entre a revista "Wired" e um site experimental de jornalismo dirigido por um professor da Universidade de NY. Além disso, o conglomerado Gannett, que edita 90 jornais, como o "USA Today", quer transformar Redações em "centros de informação" 24 h, receptores de todos os leitores.
Se o entusiasmo pelo leitor participativo é grande, as críticas também o são. No mesmo "Los Angeles Times", uma ação do tipo na editoria de opinião foi abortada após semanas pela falta de qualidade em geral dos textos e pelo predomínio de artigos insultosos.
Andrew Keen, um dos mais ferrenhos críticos da internet, escreve no inédito "The Cult of the Amateur - How Today's Internet is Killing our Culture" ("Culto ao Amador -Como a Internet de Hoje Está Matando nossa Cultura", a sair em junho), que "jornalismo-cidadão" e ações parecidas estimulam a "ditadura dos idiotas".
Em entrevista ao site I Want Media, Michael Rogers, do "NYT", revelou: "Parece banal, mas o básico ainda vale. Tudo começa com repórteres, redatores e editores que sabem reconhecer e contar uma boa história. Sem eles, não faz diferença quão incríveis são as novidades tecnológicas".

Na foto, a fachada do novo prédio do The New York Times, em Nova Iorque.

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