domingo, 8 de abril de 2007

A transformação dos Jornais 2 (Folha de S. Paulo)

"Leitores terão conexão direta", afirma autora
A imprensa poderia usar uma personalidade revolucionária, como foi Ted Turner ao criar a CNN nos anos 80, para encontrar seu novo modelo, e um dos pré-requisitos é que tal pessoa tenha formação no jornalismo clássico, mais que na internet.
Nesse novo modelo, os leitores terão conexão mais direta com o conteúdo, uma habilidade maior de julgar o valor dele e de expressar esse julgamento. Serão também um dos fornecedores desse conteúdo. É o que disse à Folha Amy Mitchell, vice-diretora do Project for Excellence in Journalism.
Inicialmente ligado à faculdade de jornalismo da Universidade Columbia, em NY, o PEJ ganhou vida própria e assumiu a responsabilidade da quarta versão anual do relatório "O Estado da Mídia". Agora associado ao Pew Research Center, de Washington, o PEJ colocou no ar suas conclusões. São 160 mil palavras, em www.stateofthemedia.com. Mitchell supervisionou o trabalho e é co-autora do estudo. Leia entrevista.

FOLHA - A revista "The Economist" se pergunta quem matou o jornal. Conforme seu relatório, ninguém -ainda. Quem está com razão?
AMY MITCHELL - Os jornais não estão mortos ainda. Estão batalhando para descobrir como podem prosperar nos próximos anos e qual será a forma que a notícia vai tomar. Mesmo agora, agregadores como o Google e o Yahoo! dependem primeiro do conteúdo de jornais para exibir seus resultados.
FOLHA - O "Estado da Mídia" declara que o negócio da comunicação entra numa nova fase. Mas diz que a indústria tem poucas respostas sobre como mudar o modelo. Não é contraditório?
MITCHELL - Não, o negócio está entrando numa nova fase. Os velhos modelos estão desmoronando. Mas os novos modelos e sua eficácia ainda não são claros. Temos visto todo tipo de experiência, mas neste momento não há um modelo claro que possa substituir o velho.

FOLHA - Um dos pontos destacados é a parceria entre jornais impressos e sites de classificados online. É um dos caminhos?
MITCHELL - Talvez. É muito cedo para qualificar o resultado das novas parcerias. Mas abre possibilidades.

FOLHA - "A transformação pela qual o jornalismo passa é histórica, tão importante quanto a invenção da televisão ou do telégrafo", segundo o relatório. Onde isso vai dar?
MITCHELL - Uma de nossas certezas é que os cidadãos estarão muito mais envolvidos. Os leitores terão conexão mais direta com o conteúdo, habilidade maior de julgar o valor dele e de expressar esse julgamento. Eles serão também em alguma medida fornecedores desse conteúdo.

FOLHA - O estudo duvida que as empresas de capital aberto sejam o modelo mais apropriado para o jornal na fase de transição. Mas afirma que as empresas fechadas ainda não provaram ser a melhor saída. Qual é a solução?
MITCHELL - O que estamos tentando dizer é que a tendência atual é favorável ao modelo da empresa privada. Há uma vantagem: muitos jornais que teriam fechado de outra maneira estão ganhando nova chance [com novos compradores]. O que não está claro é o tipo de investimento que os novos proprietários farão. Investirão no conteúdo só pelo valor do jornalismo ou será investimento movido a lucros e faturamento?

FOLHA - Segundo o relatório, a indústria devia achar um líder visionário, com o papel que Ted Turner e sua CNN nos anos 80. De onde é mais provável que saia esse "novo líder", do Vale do Silício ou de Manhattan? Uma pessoa com formação pontocom ou vinda da mídia tradicional?
MITCHELL - Isso é difícil de responder! Um dos pré-requisitos necessários é que seja alguém com algum conhecimento de jornalismo.

FOLHA - O estudo prevê que os órgãos de mídia tentarão atingir mais efetivamente seu público se voltando mais para região geográfica [hiper-localismo] ou valorizando as próprias personalidades ["grifes" jornalísticas]. O segundo caso não levará a um noticiário mais opinativo?
MITCHELL - Pode levar. Depende do público-alvo. Um nicho geográfico provavelmente pedirá cobertura mais neutra, enquanto uma baseada em colunistas pode ser mais tendenciosa.

FOLHA - Como avalia a pesquisa que aponta otimismo em 85% dos entrevistados quanto ao futuro do jornalismo?
MITCHELL - O resultado mostra que eles vêem um lugar para eles nos novos modelos, e acho que eles estão certos.

Nenhum comentário: