domingo, 21 de outubro de 2007

Ombudsman da Folha e o marketing de Nelson Jobim



Mais uma aula de Jornalismo do Mário Magalhães.

De Collor a Jobim, o marketing triunfa

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O problema não é o ministro, o problema é o jornalismo; houve uma sucessão de factóides cuja encenação não recomendava realce --------------------------------------------------------------------------------

O MINISTRO da Defesa, Nelson Jobim, desembarcou na Amazônia sexta-feira retrasada vestido de civil. No sábado, envergou uniforme militar camuflado e não o tirou mais.
Nos dias seguintes, posou ou deixou-se fotografar com uma sucuri de nome Metralha, um macaco-barrigudo e uma onça com pinta de raros amigos. Bateu bola e passeou por uma casamata.
Deu declarações de impacto pífio, e sua visita de sete dias a postos de fronteira não gerou notícias de relevo.
Ainda assim, a viagem mereceu espaço generoso no jornalismo impresso. Não faltavam repórteres e fotógrafos no local: o Ministério da Defesa levou-os, a convite, em avião da FAB -uma dupla da Folha entre eles.
O jornal "O Estado de S. Paulo" publicou o título ""Amazônia tem dono", diz Jobim". "O Globo" saiu com "Na fronteira amazônica, Jobim critica Funasa". A Folha sobrepujou os concorrentes em camaradagem com o ministro ao exibi-lo com o macaquinho no alto da primeira página da terça-feira.
A informação sobre a véspera era tão desimportante que a legenda da foto remeteu não para reportagem, mas só para outra imagem com o bicho, em Cotidiano.
Com exceção da gurizada, nós já vimos esse filme. E lembrá-lo não implica equiparar Jobim, em caráter e praxe, ao ex-presidente Fernando Collor (1990-92).
O problema não é o ministro, que tem ambições respeitáveis como outros pretendentes, assumidos ou enrustidos, ao Planalto.
O problema é o jornalismo. Houve uma sucessão de factóides cuja encenação não recomendava realce, a não ser com abordagem crítica.
Os jornais se subordinaram à agenda alheia -como a maioria deles ao cobrir o candidato Collor em 1989 e as primeiras estações do seu governo. Com a submissão, deu-se bem a marquetagem. Quando a propaganda triunfa, o jornalismo se dana.
Como diz o colunista Janio de Freitas, "os jornalistas, aceitando esse tipo de truque promocional de políticos, deixam de fazer jornalismo e agem como operadores de marketing".
Com o oba-oba inicial, a viagem fraca em notícia ganhou repercussão, até em charges bem boladas. O jornal "O Dia" foi pioneiro ao ironizá-la. Em seguida, "O Globo" a questionou.
No domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -civil, como seu subordinado Jobim- contou em entrevista à Folha que aceitou convite da Aeronáutica para voar em um caça.
Será que vem por aí mais uma overdose de fotografias promocionais rotuladas de jornalismo?

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