Saiu hoje na Folha, em matéria assinada pelo Matinas Suzuki Jr. Imperdível.
"Esquire" surpreendeu anos 60 com capas ousadasPublicitário George Lois criou capas históricas, que estão em mostra no MoMAMATINAS SUZUKI JR.
ESPECIAL PARA A FOLHAPara cerca de 1 milhão de americanos -e milhares de fanáticos pelo mundo-, uma das boas coisas da década de 1960 era o frisson causado por como seria a próxima capa da revista "Esquire". Entre 1962 e 1972, as capas da "Esquire" foram surpreendentes, provocativas, pertubadoras. Muitas delas não tinham título e nem se referiam ao principal assunto da edição.
Eram mais do que capas de revista: uma espécie de editorial em forma gráfica, uma tomada de posição firme sobre os fatos de uma época em chamas.
As capas da "Esquire" dos anos 60 estão sendo exibidas no Museu de Arte Moderna (MoMA), de Nova York, em uma mostra que vai até 2009.
Estas capas eram boladas a 12 quarteirões da Redação da "Esquire", na agência de George Lois, um dos revolucionários da publicidade americana. Ele era, no nosso jargão de hoje, um criativo, sem nenhuma familiaridade com o ramo de revistas.
A idéia de contratar o publicitário Lois para fazer as capas foi de um homem ousado, Harold Hayes, o editor que ajudou a criar o "new journalism" ao publicar as reportagens de Gay Talese, Tom Wolfe, Norman Mailer e Michael Herr.
Inicialmente, ao lado de Clay Felter (que sairia da "Esquire" para fundar a "New York"), e depois como único editor, ele conseguiu que a "Esquire" se tornasse não apenas uma coqueluche de momento, mas também uma das revistas que melhor captou o comportamento de uma geração.
Harold Hayes contava que não sabia como fazer as capas da "Esquire" e por isso convidou Lois. No acerto entre os dois, Hayes jamais poderia interferir nas criações de Lois, algo incomum no mundo das grandes revistas. Hayes honrou o acordo até o fim.
A capa com um Papai Noel negro (o lutador de boxe Sonny Liston), publicada no Natal de 63, levou ao cancelamento de anúncios por clientes indignados; o departamento comercial estimou perder US$ 750 mil. Um outro lutador estaria na capa mais famosa que Lois criou para a revista, em 1967: Muhammad Ali, que aparece flechado como o mártir São Sebastião. Ali havia se convertido ao islamismo e seria preso por recusar a convocação do Exército para ir ao Vietnã. Ele, inicialmente, resistiu a posar para a foto como um ícone cristão, mas, no final, seu líder Elijah Muhammad deu permissão.
Lois fez capas com Andy Warhol afundando-se na sua própria criação, alguém pingando lágrimas sobre uma foto de John Kennedy, Sletvana com o bigodão do papai Stálin, a atriz Virna Lisi fazendo a barba (a "Esquire", que comemora 75 anos agora em 2008, faz uma releitura daquela capa na edição que está nas bancas), Nixon sendo maquilado, Woody Allen por cima da sexy Ann-Margrett. Uma capa sobre o Vietnã, sem imagens, trazia a frase em branco sobre o fundo negro: "Meu Deus, nós acertamos uma garotinha!".
Poucas vezes o jornalismo foi tão provocador, irreverente e imaginativo quanto na "Esquire". Hayes, Lois e a "gang que não sabia escrever certinho" acenderam o pavio curto de uma dinamite no jornalismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário