segunda-feira, 21 de abril de 2008

A notícia é um espetáculo?

Não deixem de ler o belo texto de Fernando de Barros e Silva publicado hoje na Folha de S. Paulo. Tudo a ver com as aulas. Principalmente daquele certo professor (rs)

Teatro dos vampiros
FERNANDO DE BARROS E SILVA

Perto do fim de "Budapeste", José Costa (ou Zosze Kósta), o narrador do romance de Chico Buarque, descreve a sensação de estar dentro de uma ficção em seus passeios pela orla do Rio:
"As pessoas que eu topava (...) não me pareciam afeitas ao ambiente. Às vezes eu as via como figurantes de um filme que caminhassem para lá e para cá, ou pedalassem na ciclovia a mando do diretor. E as patinadoras seriam profissionais, ganhariam cachês os moleques de rua, ao volante dos carros estariam dublês, fazendo barbaridades na avenida."
Embora distante, essa passagem de mestre veio com força à memória na última sexta, diante da imagem da multidão aglomerada e disposta a linchar o casal suspeito pelo assassinato de Isabella.
Aqueles tipos pareciam figurantes, coadjuvantes, dublês involuntários num filme B de horror. Um "popular" se exibe fantasiado de Bin Laden; outro vem de Cuiabá, 12 horas na estrada; um terceiro surge com um bolo de aniversário, devorado em segundos pelos "curiosos".
A novidade, porém, não está na atuação desses zumbis sociais; o que agora espanta não é apenas a fúria carnavalesca deste lúmpen da sociedade do espetáculo.
Quando o programa da Record coloca, no meio da tarde, uma cama no palco para reproduzir, no estúdio, o quartinho da menina, a apelação abjeta desse teatro parajornalístico é muito evidente.
E quando a Rede Globo decide transmitir ao vivo, durante três horas, sem intervalos, as imagens do casal acossado no dia dos depoimentos -o que devemos pensar?
Não excluo, evidentemente, a mídia impressa -nem a Folha- dos comentários. Mas é a TV, como se sabe, quem chega às massas, ainda mais neste país. A morte de Isabella já se tornou um capítulo de uma guerra desembestada por audiência. E o jornalismo dito "sério" está a reboque dessa escalada bárbara.
Ou, quem sabe, William Bonner seja apenas um ator da novela das oito representando um locutor que nos narra uma tragédia grega...

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom texto PC. Coloquei no meu blogue. Gostei também da entrevista com o novo ombudsman da Folha.

Abç.

PC Guimarães disse...

Pois é. E tem gente que não gosta de ler! Os jornais ainda publicam coisas interessantes. Isso sem falar em livros. Tem gente que não sabe o que está perdendo. E olha que ainda me sobra tempo para falar de futebol e pra navegar na Internet!
A nova revisora do JL adorou o seu texto. Não mudou uma vírgula. Não conte pra ninguém.

Anônimo disse...

Pode deixar, não conto rs Li o e-mail sobre a coluna também. Entrei durante o dia no Correio do Brasil e percebi que tinha adiado. Agora vou recortar jornal pra guardar rs

Abç.