sexta-feira, 18 de abril de 2008

O professor

Que belo texto da Eliane Cantanhêde publicado na Folha de hoje. Tudo a ver.

O professor
ELIANE CANTANHÊDE

Pego carona na mensagem que recebi ontem do leitor e educador paraense Kleber Duarte, em que ele reclama dos salários de fome dos professores, para fazer algumas comparações. Um professor não tem cartão corporativo nem para comprar tapioca de R$ 8,00, quanto mais para se hospedar em hotéis cinco estrelas no Rio de Janeiro, freqüentar restaurantes caros e alugar carros com ar condicionado para passear por aí nos fins de semana, alegando "compromissos funcionais".

Um professor não tem cartão - aliás, nem cheque - para pagar R$ 1.000 em abridores de garrafa, R$ 2.738 em três lixeiras, R$ 36.603 em TV e som e R$ 21.600 em "telas artísticas", como fez o reitor da UnB - e com dinheiro público.

Um professor não viaja para EUA, Alemanha, Portugal, Espanha e China fazendo comprinhas de R$ 2.217,27 na loja Nike, de material esportivo, ou de R$ 2.988,21 na Best Buy, de eletrônicos, e trazendo a conta depois para a universidade. Como o reitor da Unifesp (federal de São Paulo), dizendo agora que "botava no bolso sem explicar".

Um professor não ganha DAS (aquela remuneração especial da nata do funcionalismo), muito menos para fazer dossiê com arquivo morto para usar contra antecessor e adversário político do chefe. Um professor também não ganha aumento acima da inflação, como acabam de ter os funcionários não-concursados da Câmara, que já estão entre mais bem remunerados do serviço público.

E um professor está a anos-luz de ter o salário de R$ 13 mil a R$ 18 mil dos auditores fiscais, que conseguem mobilizar uma greve tão bem-sucedida a ponto de paralisar a entrada de caminhões nas fronteiras com a Argentina e o Uruguai e afetar o comércio do Mercosul.

Pensando bem, há algo errado com o professor. É tonto? É incompetente? Será burro? Quem paga esse pato é a criança brasileira. Ou seja, o futuro do Brasil.

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