quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Bill, o Motorista-repórter-fotógrafo




Deu hoje na coluna do Gilberto Dimenstein, na Folha. Já tinha lido sobre o Bill e publicado post aqui no blog. Vale a pena clicar no site e ver as fotos.

Por trás das lentes tem outra lente
Gilberto Dimenstein

O foco de Bill, motorista-repórter-fotográfico, não são os protagonistas da notícia, mas apenas os que a fazem.

O motorista Francisco Moreira da Silva, 51, depende de um livro para buscar um novo ângulo em sua vida. Se der certo, ele muda de profissão e pretende se dedicar em tempo integral a tirar fotos. Não seria uma mudança tão grande assim, afinal, Bill, como é conhecido, já pratica, há 12 anos, a inusitada atividade de motorista-repórter-fotográfico.

Ele sobrevive como motorista, mas seu prazer está em fotografar quase diariamente o trabalho de jornalistas durante as coberturas.

“A tensão de uma cobertura, aquele momento em que o repórter não pode perder o instante é o que me provoca.”

Motorista de carros de reportagem, Bill começou em “O Estado de S. Paulo” e agora está no “Diário de S. Paulo”. Um dia teve vontade de mostrar à família como era seu trabalho. De posse de uma precária máquina, fotografou um repórter fazendo uma matéria. “Nunca mais parei.” Ainda mais porque os jornalistas o presentearam com um equipamento profissional e, aos poucos, com a ajuda dos colegas, ia recebendo dicas.

Seu foco não são os protagonistas da notícia, mas apenas os que fazem a notícia. Surgia seu projeto de ser repórter-fotográfico. Mas não tem condição de deixar de ser motorista.
Migrante, filho de um faxineiro analfabeto, Bill não conseguiu terminar o ensino fundamental. Mora na periferia e, além de ajudar os filhos, cria um dos netos -outro neto nasceu nesta semana.

Pelo inusitado de sua cobertura diária, Bill foi convidado a expor suas fotos em faculdades e até em Redações de jornais -está prevista uma exposição na praça Victor Civita, dirigida pela Editora Abril.
À medida que crescia seu arquivo, ele era estimulado a publicar seu livro, intitulado “Por Trás das Lentes”, em que ele registra a tensão de um jornalista nas coberturas -num jogo de futebol, na entrevista com um presidente da República, na cobertura de uma tragédia ou no tumulto de uma coletiva. Naquele burburinho, lá está Bill, apenas um espectador, em que o protagonista é o jornalista -e não o presidente ou o jogador de futebol. “Aprendi que ser jornalista é sempre estar aberto às surpresas da rua, nunca perder a curiosidade. Tudo pode acontecer.”

Talvez essa visão da rua como fonte inesgotável de surpresa o ajude a imaginar que, depois do livro, estará preparado para ser fotógrafo profissional e, então, mudaria de posição e não seria mais um espectador, mas alguém metido no meio da cena.

PS: Enquanto o livro não vem, você pode apreciar algumas imagens de Bill. Coloquei também no meu site (www.dimenstein.com.br) a experiência de jovens com deficiência visual que recebem aulas de fotografia e vão, nesta semana, expor suas fotos.

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