domingo, 23 de novembro de 2008

O futuro dos jornais. Ombudsman da Folha

"Vão pintar o cabelo de azul"
Carlos Eduardo Lins da Silva

Não há dúvida de que o futuro do jornal passa pela realidade da internet; como anda a Folha neste capítulo? Muito mal, segundo leitores

UM DOS MELHORES jornais americanos, "The Christian Science Monitor", anunciou há três semanas que vai deixar de publicar a partir de abril de 2009 sua edição diária impressa, que completa cem anos este mês.

Em vez dela, o "Monitor" enviará aos assinantes todos os dias pela internet uma versão em PDF e manterá na web um site com desenho arrojado, novos conteúdos e atualização permanente.

Para os saudosistas do papel, terá uma revista impressa semanal, distribuída aos domingos, com reportagens interpretativas, análises, opiniões, boas fotos, tudo que ele oferece atualmente.

A notícia foi uma das que causaram mais impacto entre os aficionados do jornalismo impresso diário em todo o mundo. O "Monitor" é sinônimo de qualidade há muito tempo. Sua circulação caiu do auge de 220 mil exemplares nos anos 1970 para os atuais 50 mil, e a tendência era continuar a baixar.

Embora seus diretores tenham dito que eles estavam antecipando o que todos os diários terão de fazer nos próximos cinco anos, a situação do "Monitor" era muito peculiar, e não necessariamente indica uma tendência.

Ao contrário dos grandes diários, sua receita deriva quase toda da venda de assinaturas, não da publicidade. Deixar o papel diminui muito seus custos e praticamente não afeta a receita.

Veículos de maior circulação, como "The New York Times" e "The Wall Street Journal" dependem dos anúncios, e estes ainda são vendidos em muito mais escala no papel do que na internet.

Aliás, embora em todo o mundo aumente a audiência dos jornais na tela, seu faturamento publicitário tem crescido muito aquém da expectativa, e eles estão longe de ser o sucesso econômico que se previa há apenas alguns anos.

De qualquer maneira, não há dúvida de que o futuro da atividade passa pela realidade da internet. Pesquisa divulgada em maio pelo instituto Zogby e feita entre 704 executivos de primeiro escalão da indústria no mundo revela que 86% deles acreditam que a Redação dos veículos impressos tem que se integrar mais com a sua versão eletrônica e dois terços acham que em dez anos a maneira mais comum de consumir jornalismo será via on-line.

"Os editores sabem a solução: inovar, integrar. Ou perecer", resumiu o diretor do instituto, John Zogby.

Diante disso, como anda a Folha neste capítulo? Muito mal, segundo leitores que têm escrito periodicamente ao ombudsman. Jaime C. Silveira disse que cancelou sua assinatura do UOL, que mantinha só para ler a Folha, cansado de esperar por uma edição confortável de ler na tela, como a de diversos diários no Brasil e em outros países.

Gustavo Camargo, após conhecer edições eletrônicas de concorrentes deste jornal, pediu: "Avisa o pessoal que estão ficando velhos, fora de moda. Daqui a pouco terão de pintar o cabelo de azul".

Ana Busch, responsável pela edição eletrônica da Folha e pelo jornal em tempo real Folha Online, diz que a primeira deve ser reformulada: "Temos um projeto para implantar uma versão com reprodução fiel das páginas do jornal, que seja prática, de fácil navegação e principalmente leve, ou seja, que possa ser consultada a partir de qualquer navegador ou tipo e velocidade de conexão. Esse é um grande desafio, mas estamos trabalhando para vencê-lo em breve". Não disse quando. O jeito é esperar.

Um comentário:

Gabriel Bernardo disse...

muitas pessoas não têm tempo de ler jornais diante da tela. muitos lêem nas ruas, nos cafés, viagens de onibus etc.

sem contar que os leitores do papel e da web possuem caracteristica bem diferentes.