quarta-feira, 14 de março de 2007

Bom de faro!


Meu companheiro no "Jornal de Debates", Ricardo Paoletti, deu hoje um belo exemplo de como deve agir um repórter - SEMPRE. Existe na publicidade uma expressão chamada "Anúncio de oportunidade"; Ricardo criou a "análise de oportunidade". Admirável! Pegou uma notícia publicada no site IG e "enquadrou" no debate "Paraíso tropical: como enfrentar o turismo sexual?", um dos temas em debate.
Confesso que li a notícia e nem me passou pela cabeça fazer o mesmo. Isso é o que se chama "faro pra notícia". Uma aula de Jornalismo.

Eis o texto:
Juiz espanhol vê turismo sexual em anúncio da Armani
Meninas de sorriso exótico em cena de ambiente turístico: liquidação de roupas ou sugestão de turismo sexual? A resposta pode estar na mente de cada um.

Olhe bem a ilustração acima, é um anúncio de roupa para crianças. Roupa de grife, mas um anúncio simples, foto em branco e preto, nada de frase chamativa, só as meninas e a marca. Meninas de olhar exótico, sim, em ambiente ensolarado, aberto - repousante e convidativo, talvez?

Um juiz espanhol viu malícia na publicidade e pediu ao fabricante para cancelar a campanha: O juiz da vara infantil da Comunidade de Madri, Arturo Canalda, afirmou na sexta-feira passada que considerava o anúncio "no limite" da legalidade e pediu que a campanha fosse cancelada porque parecia "incitar o turismo sexual". -- e fecha aspas da matéria no IG, aqui. Chamou a atenção do juiz o batom no lábio de meninas de sete, oito anos. No meu tempo, não podia. Mas não é só isso.

Fiquei observando o anúncio, a foto, tentando entender o que nele poderia incomodar a moral alheia. Lembrei que, em publicidade, o objetivo da peça mais persuasiva não é tanto mostrar a mercadoria à venda mas fazer o leitor, o comprador, identificar-se com o produto, ver-se nele, criar empatia com a situação apresentada e querer comprar a roupa, a loção, a cerveja, para desfrutar da boa impressão causada pela imagem.

Esse é o problema do visual armanístico: crianças de oito anos não compram sua própria roupa. Os pais a compram. Buscando empatia, a publicidade poderia apresentar pais felizes com o bom gosto do guarda-roupa infantil de seus pequenos. Não o fez.

O publicitário cometeu o ato falho de selecionar a foto com a cintura atraente, o olhar sensual, convidativo. Pele à mostra, apelativo. Duvido que estivesse interessado em promover turismo sexual, por mais exótica que fosse a expressão ou a locação das pequenas modelos. Mas o juiz viu um assemelhação com outras fotos e publicidades e sites que, sim, vendem pacotes de turismo sexual - e se a intenção de um e outro é diversa, a apresentação visual é semelhante demais.

Severo, o juiz espanhol talvez consiga moderar o visual da campanha do modista -- mas dificilmente conseguirá reverter a perda da inocência desta era de turismo fácil, comunicação facílima e libido à solta.

Quem quiser ver o texto no Jornal de Debates, é só clicar no:http://www.jornaldedebates.ig.com.br/index.aspx?cnt_id=15&art_id=6945

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