Jornalista experimenta sensação de insegurança em BogotáO despacho abaixo foi enviado pela jornalista Angelina Nunes, editora-assistente do GLOBO, na mesma editoria onde trabalho, e que esteve na Colômbia, participando de um congresso sobre jornalismo investigativo:
"O dia em que fui escoltada pelo Exército Colombiano
De fuzil em punho, com roupa e combate e capacete, o jovem soldado colombiano me escoltou por três quadras no centro de Bogotá. A minha missão era muito simples: eu queria ver a Plaza Bolívar. Saí do aeroporto ao meio-dia, peguei um ônibus e, seguindo orientações de uma universitária que sentou ao meu lado, desci na esquina da Carretera 10 com a 6.
- Cuidado. Só peça informações a policiais, não abra a bolsa na rua, não ande em ruas que estejam quase desertas. Há muito ladrões.
Confesso que achei as recomendações da universitária muito exageradas. Afinal, nasci no centro do Rio e fui criada na Baixada. Imagina se eu ia vacilar desse jeito. Atravessei a rua e encontrei três soldados do Exército Colombiano. Bastou eu perguntar pelo caminho desejado, para os três trocarem olhares preocupados.
- A senhora está sozinha? - perguntou um deles.
Ao saber que eu estava apenas andando pela cidade, para não ter que ficar nove horas no aeroporto esperando a conexão, ele voltou com a mesma cantilena da universitária. Fez todas as recomendações. E mais: destacou um dos soldados para me acompanhar até o fim da rua, onde encontraria outros policiais que estavam de guarda, próximo ao Palácio da Justiça. O rapaz que me escoltou, com idade para ser meu filho, recusou educadamente a me dizer o nome e proibiu qualquer foto. Explicou que era feriado religioso (dia de São José/19 de março), a cidade estava com um movimento mais tranquilo, mas os marginais procuravam atacar pessoas desacompanhadas. Antes de se despedir, me deu o mesmo aviso: evite andar em ruas com poucas pessoas.
Mal ele deu as costas, outro soldado me abordou e, ao ver a câmera na minha mão, pediu que eu a ligasse. Apenas um controle para ver se realmente era uma câmera fotográfica, já que eu estava ao lado do Palácio da Justiça. Depois de tudo isso, consegui chegar à praça e pude fotografar turistas, monumentos e pombos.
Na volta, percorri algumas ruas. Nas pequenas transversais, não vi policiamento. Mas vi, na porta das lojas, homens da segurança privada que trabalham em parceria com a polícia. Fiz questão de fazer uma pergunta sobre uma lojinha do outro lado da rua, que eu já sabia onde ficava, para ver a sua reação. O rapaz, muito educado, me ensinou o caminho e também se ofereceu para me levar ao local. Mas aí, era demais. Uma escolta por dia já basta."
Legenda da foto: O vigilante particular inspeciona um carro com o cão Atlas, farejador de bombas, na entrada do jornal "El Tiempo", em Bogotá.
Fonte: Blog Repórter de Crime (Jorge Antonio Barros, O Globo)
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