terça-feira, 6 de março de 2007

Jornais populares - Reflexão

A LÓGICA DOS JORNAIS POPULARES PREVALECE!
01. Os jornais populares certamente não são novidade no Brasil. Especialmente no
Rio, ex-capital do Brasil. Em 1937 o jornal A NOTÍCIA já começava a fazer
sucesso com os escândalos e violência na capa. Tanto sucesso que Ademar de
Barros o comprou nos anos 40. Em 1955 Ademar ganhou a eleição para presidente no
Rio-DF. Tenório Cavalcanti, com seu jornal Luta Democrática, acentuando as
marcas de sangue na capa, passou a ser o deputado mais votado do antigo Estado
do Rio e quando se candidatou em 1960 a governador da Guanabara obteve
espantosos 20% dos votos, ganhando de Lacerda - UDN - e Sergio Magalhães - PTB - nas
favelas e áreas mais pobres. Chagas Freitas "herdou" o sistema de Ademar quando
este foi para a Bolívia em função de um mandado de prisão. Mudou o título
principal e fundou uma máquina eleitoral poderosa no Rio.

02. Passou ao folclore do jornalismo a escolha das manchetes daqueles jornais de
forma a marcar o sensacionalismo e a dupla interpretação. Mas os jornais
populares anteciparam a TV no sentido de que se vendem na banca e tem que
renovar a audiência todos os dias. Por isso a importância da capa, das fotos e
das manchetes.

03. Mas não é só isso. Antecipou as notas curtas e matérias comprimidas. Chagas
Freitas ao receber um estagiário, filho de um deputado, pediu que ficasse de pé
e lesse o jornal. O estagiário abriu o jornal e iniciou o leitura. Chagas pediu
que colocasse um dos braços para o alto como se estivesse segurando-se num trem
e continuasse a ler. O estagiário dobrou o jornal. Em seguida Chagas pediu que
ele se balançasse como se estivesse num trem. A resultante foi dobrar o jornal
numa oitava, de forma a segurá-lo na mão e ler. Chagas concluiu:
"Se o que você escrever passar disso, ninguém vai ler."

04. A TV só veio a reforçar a importância da imagem, dos textos curtos e do
sensacionalismo. E mais ainda: trouxe a violência para o horário nobre. Nos anos
50 os jornais de leitura da classe média jogavam para páginas bem interiores o
noticiário policial e só traziam para a primeira página os fatos de grande
repercussão, quase como novela e sempre que envolvesse a alta classe média.

05. O fato é que a TV - com sua linguagem de imagens e seus textos mínimos e
fatiados- impôs a lógica da imprensa popular a todos. Surgem as colunas
-pequenas notas para serem lidas como se fossem matérias. As fotos passam a ser
mais importantes que as matérias. As manchetes devem ser "seriamente
escandalosas". O esporte ganhou status e dispensou os jornais especializados.
Anos atrás um senador sênior respondia a um diretor de jornal:
"Podem escrever o que quiserem de mim. Mas por favor, ponham uma foto boa!"

06. O crescimento avassalador dos jornais gratuitos, especialmente vendidos em
metrô e trem, dizem tudo quanto ao método. Vinte Minutos é um sucesso na França.
É o tempo médio de deslocamento e deve ser preparado - formato e forma das
matérias - para uma leitura rápida. O USA TODAY fez escola anos atrás e construiu
a ponte entre os jornais populares tradicionais e a adaptação dos jornais de
classe média.

07. Hoje os jornais populares no Brasil caminham a passos largos para serem
grátis ou quase grátis ou percebidos como tais. Super Notícias em Minas Gerais,
disparado o de maior circulação lá, tem preço de capa de 25 centavos.

08. Curiosamente no Rio os jornais tipicamente populares tem uma circulação de
mais de duas vezes a dos de S. Paulo, apesar da população metropolitana ser
muito menor do que de SP. E esse mercado abalou os jornais tradicionais de
classe média, que hoje são desenhados e editados com a mesma lógica dos jornais
populares - todos - com caráter cada vez mais local, com exponenciação de imagens
do cotidiano, com qualquer violência na capa... Claro, tudo "seriamente
escandaloso".

09. Em Minas esse processo é explícito. Os tablóides do Sul chegaram ao mesmo
porto. No nordeste este Ex-Blog sem leitura diária, não deve opinar... ainda. Em
SP os dois grandes jornais resistem à lógica dos populares. Ainda. O Estadão
mais que a Folha. A baixa venda em bancas e a quase totalidade por assinaturas
ajuda. A pressão - digamos de mercado - é grande.

10. Com um baixo índice de leitores de jornais, a lógica dos jornais populares é
irresistível. Mesmo no caso dos jornais de assinantes, pois seus leitores
demandam na lógica da TV e querem respostas - e formas - semelhantes para
renovarem a assinatura. Não cabe valorar esse processo. Seria como pensar a TV
de outra maneira, o que é impossível hoje. O esperado é que em breve -com
maquiagem ou vestuário distintos - todos os jornais no Brasil sejam "populares".
Em outros países, com base de leitores mais ampla, sobra espaço para os jornais
de classe média, de opinião e informação priorizada.

11. Por sorte há uma diferença em relação ao passado: - os jornais populares
- talvez pela presença da mesma linguagem na TV - não são mais máquinas
eleitorais.

Fonte: Ex-Blog do César Maia (Sem conotação política e sem preconceito)

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