Começou bem o novo ombudsman da Folha, Carlos Eduardo Lins da Silva. Texto pra ler e refletir.
O que fazer no caso Isabella
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Espera-se que a Folha não caia na vala comum de outros meios, que parecem só se guiar pela satisfação imediata dos desejos da audiência--------------------------------------------------------------------------------
A FOLHA se equiparou aos veículos eletrônicos que alguns de seus colunistas tanto condenam na cobertura do caso Isabella ao publicar no pedaço mais nobre de sua primeira página de 19 de abril foto do bando de pessoas que se aglomeraram em frente à delegacia onde o crime é investigado para "celebrar" o aniversário da menina e insultar e tentar agredir os suspeitos.
Episódios como o assassinato dessa garota costumam despertar em muitos seres humanos seus piores instintos. Os meios de comunicação de massa, quando abrem espaço para mostrar sua imagem, acabam por premiar o comportamento dessas criaturas, que parecem buscar seus 15 minutos de fama ou descarregar, catarticamente ou não, sua fúria represada.
É óbvio que a mídia precisa cobrir o caso Isabella. Nenhum outro assunto desperta tanto interesse, discussões, comentários do público. Ignorá-lo seria contrariar os princípios essenciais do jornalismo e não ajudar a ninguém.
Mas o que se espera da Folha em situações como esta é que ela não caia na vala comum de outros meios, que parecem só se guiar pela satisfação imediata dos desejos aparentes da audiência. Mesmo que a maioria esmagadora dos leitores exigisse detalhes mórbidos, descrições escabrosas, cenas fellinianas, o jornal deveria recusar-se a fornecê-los.
A comunicação social é um negócio, claro, e deve se orientar pelo objetivo de fazer lucro para as empresas que o exercem. Mas não é só isso. Ela também impõe deveres sociais e, em minha opinião, os jornais impressos têm a obrigação de levar mais a sério do que qualquer concorrente a missão de dialogar com a sociedade para melhorar a cidadania.
Felizmente, o que os leitores da Folha majoritariamente têm pedido neste caso não é sensacionalismo. Eu li 67 mensagens enviadas ao jornal sobre o assunto. Algumas demonstravam que seus autores haviam entrado no clima orwelliano que os programas de TV do gênero "reality show" parecem ter conseguido instaurar como imperativo social em muitos países, Brasil inclusive.
Mas quase a metade expressava inconformismo com o que um leitor chamou do "circo" em que se transformou a tragédia. Muitos exigiam menos: menos destaque, menos fotos, menos máquinas fotográficas no rosto dos personagens da notícia.
Cerca de um quarto das manifestações pedia que o jornal fosse mais crítico em relação ao trabalho da polícia, que aceitasse com menos credulidade todas as explicações que vêm sendo dadas, que não se transformasse numa linha de transmissão das hipóteses oficiais.
Vários leitores lembraram-se do tristemente célebre exemplo do caso Escola Base, de 1994, quando a mídia ajudou a destruir a vida de seis pessoas, inocentes das acusações que lhes faziam, por embarcar sem restrições nas conjeturas dos policiais que investigavam a história e pré-julgar os réus com base em supostas evidências.
Uma análise isenta comprovará que, em geral, os veículos de comunicação, os impressos especialmente e a Folha em particular, aprenderam com o passado. A cobertura deste jornal do caso Isabella é muito mais cuidadosa do que havia sido a da Escola Base.
Mas têm ocorrido vários escorregões, como a foto da capa do dia 19, a falta de espírito crítico, o excesso de minúcias desagradáveis, insinuações sem fundamento, ilações gratuitas.
O que se espera da Folha é que ela jogue luzes para que a sociedade toda possa compreender melhor por que desgraças como essas acontecem e por que as pessoas reagem a elas como reagem.
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Há 13 anos
2 comentários:
Começou bem mesmo!
Valeu, mocinha! Um aluno elogiou o seu blog. O Rodrigo.
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