A matéria está no caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo de hoje. O jornalista Matinas Suzuki Jr. acaba de lançar mais um livro da coleção "Jornalismo Literário". Li quase todos. Vou comprar esse. O livro fala sobre os necrológios famosos do The New York Times. E me lembra uma história que presenciei no Globo. Vou contar amanhã.
Coletânea traz melhores obituários do "NY Times"Textos de "O Livro das Vidas", organizado por Matinas Suzuki Jr., são quase literários Edição com necrológios famosos do jornal chega às livrarias na terça; história que narra o "Calvin Klein do espaço" é um dos destaques
WILLIAN VIEIRADA REPORTAGEM LOCAL
Reza a máxima do ex-editor de cidades do "New York Times", A. M. Rosenthal, que "se você tiver que morrer, é melhor morrer no "Times'". Mas o tom é menos tétrico do que parece.
No maior jornal dos EUA escreveram os melhores obituaristas da história -artistas da morte como Alden Whitman, o "Sr. Má Notícia", ou Robert McG.
Thomas Jr., pai das "biografias de gente desconhecida".
Alguns dos textos já fazem parte de duas antologias em inglês, que foram utilizadas pela Companhia das Letras para compilar uma seleção que chega traduzida ao Brasil no dia 29, como "O Livro das Vidas".
"O obituário talvez seja o único lugar da imprensa diária que chegou perto do jornalismo literário sistematicamente", diz Matinas Suzuki Jr., coordenador da coleção "Jornalismo Literário". No livro estão 57 obituários de pessoas anônimas, mas importantes pelo que fizeram, como o "Calvin Klein do espaço" que abre o livro.
Um dia, na escola de uma cidadezinha de Massachusetts, o garoto Russell Colley disse a um escandalizado professor que queria ser estilista de roupas femininas. Acabou estudando desenho mecânico, coisa de homem. E não tardou até que se destacasse no âmbito da engenharia espacial nos anos 1930 -mas por projetar trajes pressurizados, que os pilotos americanos usaram para quebrar recordes de altitude. Mais tarde, ele comentaria o pânico dos astronautas por não terem "certas facilidades" para as "necessidades" no espaço.
Detalhes pinçados com maestria, e que, enleados à "causa mortis", número de herdeiros e datas de um obituário qualquer, e narrados como uma "pequena biografia", instantânea e colorida, fizeram de Robert McG. uma lenda no "Times". E, por isso, o autor mais freqüente dos textos da coletânea brasileira. "McG. deu importância jornalística ao obituário, não só de precisão, mas de estilo", avalia Suzuki Jr.
No posfácio, o organizador delineia a história recente do gênero, quando o até então copidesque do "Times" Alden Whitman foi chamado para "dar vida à página de obituários" -e que virou logo "o pai do obituário moderno", pela simples idéia de entrevistar os perfilados em vida sobre sua morte. Deu tão certo que a prática é ainda hoje mantida pelo "Times" -que já teve mais de 2.000 obituários prontos "na gaveta", à espera da morte.
Há sabor ainda na evolução dos eufemismos, no melhor estilo "partiu dessa para melhor", trazidos à tona no filme "Closer" (2004); e na história do escritor Ernest Hemingway, que, tido como morto, acabou lendo o próprio obituário -o que continuaria fazendo ao longo da vida, todas as manhãs, com uma taça de champanhe.
TradiçãoNos Estados Unidos e no Reino Unido, a maioria dos jornais tem uma seção fixa de obituários, o que não acontece no Brasil. "Eles são mais valorizados na cultura anglo-saxã, que celebra o morto", diz Suzuki Jr. "É diferente da cultura ibero-católica, marcada pelo estigma da dor e do silêncio."
A idéia é mudar essa visão mórbida do obituário. "Uma boa história humana, próxima e bem narrada, é tudo o que o leitor quer no café da manhã."
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