segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Ruy Castro e as cartas de leitores

No semestre passado meus alunos produziram um blog sobre Seção de Cartas. Ruy Castro publicou artigo na Folha de hoje sobre cartas de leitores.
Rugidos virtuais
RUY CASTRO
Um leitor de jornal que discorde da orientação de uma reportagem ou da opinião de um articulista, e mande uma carta expressando seu ponto de vista, terá sorte se vir essa carta publicada. Os jornais recebem milhares por dia e o espaço para elas é limitado. Além disso, há certas regras para que uma carta saia no jornal.
Primeiro, o missivista precisa identificar-se com nome, endereço, telefone e/ou e-mail. Segundo, a carta tem de ser relevante. Terceiro, deve ser escrita com alguma correção e não pode limitar-se a chulices, como mandar o repórter àquela parte ou o articulista tomar banho, por mais que eles mereçam. É um espaço onde reina a civilidade.
Já os veículos on-line fazem diferente. Como não têm problema de espaço, estimulam seus usuários a enviar mensagens comentando as notícias. Isso gera uma saudável reação em cadeia, em que os usuários comentam também as mensagens uns dos outros. Ao pé de cada uma, a advertência: "Esse comentário é insultuoso ou inadequado? Denuncie".
Seguem-se, então, furibundas trocas de insultos, ainda mais quando o assunto é futebol. Os torcedores se xingam com uma virulência que não se vê nem nos estádios. Todos os qualificativos são usados como ofensa: negros, mulambentos, "bambis", porcos, bacalhau, o que você quiser. Nenhum clube se salva. Protegidas pelo anonimato (as mensagens podem ser assinadas com pseudônimo), cometem-se as piores incorreções políticas envolvendo cor da pele, condição social e característica sexual.
Confesso que adoro esses bate-bocas. É a arquibancada rugindo virtualmente. O que me ofende são as torturantes agressões à língua portuguesa, presentes em 90% dessas mensagens -como se seus autores quisessem estrangular a pobre da gramática, digo cartilha.

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