sábado, 26 de janeiro de 2008

Ruy Castro e o bambolê

Sou fã do texto do Ruy Castro. Hoje, na Folha de S. Paulo, ele "pega" um bambolê e faz um texto delicioso sobre o assunto. Ah se eu fosse bom assim!

A bordo do bambolê
RUY CASTRO
Outro dia, ao pensar em algumas contribuições dos americanos ao espírito humano, lembrei-me do bambolê. Era aquele aro de plástico -matéria plástica, dizia-se- que as mulheres equilibravam na cintura, rebolando os quadris para não deixá-lo ir ao chão. E por que me lembrei? Porque, a exemplo de outros "high- lights" do século, como a bossa nova, a Copa da Suécia e o vestido-saco, o bambolê está fazendo 50 anos.
Em 1958, quando surgiu nos EUA (e logo chegou ao Brasil), ele foi uma febre. Mulheres de 5 a 50 anos passaram a rebolar dia e noite. Em casa, na calçada, nas ruas, em todo lugar elas saracoteavam a bordo de bambolês. A média era de um para cada mulher, donde uma família podia dispor de até cinco bambolês.
Seu criador, um americano de 33 anos chamado Richard Kneer (pronuncia-se nêr), na verdade não o inventou. Apenas adaptou-o de um aro de madeira que vira sendo usado por um anônimo ginasta na Austrália. Daí, fabricou-o em plástico e vendeu-o para o mundo inteiro -60 milhões de unidades de saída, 70 milhões em 1959, 100 milhões em 1960. Ninguém parecia segurar o bambolê.
De repente, sem explicação, assim como estourara, o bambolê ficou fora de moda ("xangai", segundo Ibrahim Sued) e foi abandonado. Knerr se viu com 1 bilhão de bambolês encalhados no depósito. Ao fim e ao cabo, seu lucro com o brinquedo reduziu-se a US$ 10 mil.
Knerr -que morreu no dia 14 último, na Califórnia, aos 82 anos- ficou rico mesmo foi com o frisbee, um disco de plástico que se joga na praia e que nunca pegou por aqui porque já tínhamos coisa muito melhor, o frescobol. E foi também o criador daquele abominável spray de espuma que, este ano, finalmente, o Carnaval carioca proibiu. Ou seja, viveu da medíocre matéria plástica.

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