domingo, 13 de janeiro de 2008

Mais uma aula do ombudsman da Folha sobre viagens de jornalistas

Folha omite convite e fere ética
Mário Magalhães
A norma sobre viagens de jornalistas da Folha que não são pagas pelo jornal já constava do "Manual Geral da Redação" de 1987: "A Folha informa com clareza, no pé do texto, que o jornalista teve suas despesas pagas pelo patrocinador".
Quatro meses atrás, atualizou-se o verbete "Ética" do "Manual", reafirmando: "No caso de viagens, quando o convite é aceito e resulta em texto publicado, o jornal informa com clareza que o jornalista teve suas despesas pagas pelo patrocinador".
Nem duas décadas asseguraram a aplicação dessa cláusula de transparência, introduzida pela Folha no jornalismo brasileiro.

Domingo e segunda, Esporte anunciou o lançamento do carro de Fórmula 1 da Ferrari. Uma enviada a Maranello, Itália, assinou as reportagens. Sem avisos sobre "patrocínio", considerei que o jornal financiava a cobertura. Na crítica diária (acesso livre em www.folha.com.br/ombudsman), observei: "Como ficou claro nas duas últimas edições, a Folha não enviou repórter "a convite". Ou seja, bancou a viagem do seu profissional".

Condenei a prioridade: na Itália, havia assuntos mais importantes a apurar, o processo sobre a disputa de empresas de telefonia em terras brasileiras e a ação judicial concernente à Operação Condor. Na terça, saiu mais um relato sobre a Ferrari, ofuscando a notícia sobre o novo carro da McLaren, que deveria ser o destaque. Silêncio sobre convite.

O alerta de que a jornalista "viaja a convite da Ferrari" só apareceu na quinta, com texto simpático à escuderia produzido em Madonna di Campiglio, estação de esqui onde os pilotos ferraristas promovem a firma. A overdose extemporânea de Ferrari seguiu na sexta e ontem. Indaguei a Redação sobre a omissão nas edições iniciais. Esporte respondeu que em Maranello não havia convite, exclusivo para a ida à estação de esqui. Insisti: quem pagou a passagem aérea para a Itália? Enfim, a verdade: a Ferrari.

Por três dias, o jornal sonegou a informação aos leitores. E fez de bobo o ombudsman, que acreditou -e escreveu- não haver convite e se dedicou a discutir "prioridades".

Agora, a Secretaria de Redação afirma "que foi um erro não ter dito que a repórter viajou a convite em todas as matérias".

2 comentários:

Gilberto Gonçalves, mtb 11576 disse...

Sou RADICALMENTE contra jornalista viajar a convite de quem quer que seja tendo suas despesas pagas por quem convida. Não tem essa de colocar explicação de quem pagou. Quer matéria paga, cerca com fio e coloca lá INFORME PUBLICITÁRIO.

PC Guimarães disse...

Obrigado pela visita, Gilberto. E você está certo. Tenho uma historinha pessoal: há alguns anos, repórter de O Globo, cobrindo o Palácio Guanabara, fui convidado, junto com outros repórteres para acompanhar a comitiva do então governador Leonel Brizola, que fretou um avião para acompanhar o velório de Tancredo Neves. Liguei para o jornal e perguntei se deveria ir. O jornal autorizou. Ao voltar, na redação, soube que o Ricardo Boechat, então colunista do jornal, ia publicar uma nota criticando o governador. Disse ao Ricardo que O Globo tinha mandado um repórter naquele vôo. E contei quem era. Não lembro se o Ricardo deu ou não deu a nota. Esse negócio é muito complicado mesmo.
grande abraço
Desculpe a pressa. Estou fora de casa, numa lanhouse, de férias. Por isso tenho postado pouco.