segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Os jornais podem desaparecer?


Já mostrei a capa e já encomendei. Quem tiver interesse, não deve deixar de ler o texto abaixo, publicado sábado na Folha paulista.

Notícias do futuro
O professor da Universidade da Carolina do Norte (EUA) Philip Meyer analisa em livro a imprensa americana e diz que o desafio dos jornais diante das novas formas de comunicação é investir na qualidade
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Das análises já publicadas sobre o destino dos jornais diários impressos diante do assédio que sofrem das novas formas de comunicação, nenhuma é mais relevante do que a de Philip Meyer, professor da Universidade da Carolina do Norte, no livro "Os Jornais Podem Desaparecer?", agora lançado no Brasil.
Meyer é uma pessoa que fez tudo no jornalismo: foi entregador de jornal, repórter, editor, dirigente corporativo da Knight Ridder, uma das maiores empresas de comunicação dos EUA, pesquisador e agora é professor.
Quase tudo que ele escreve é comprovado estatisticamente. O impressionismo é reduzido ao mínimo indispensável. Meyer é duro com seus colegas.
Uma de suas teses mais importantes é a de que o jornal não vende informação, mas influência. Se o seu poder de influenciar cresce, aumenta também o seu valor de mercado.

Qualidade da informação
O modelo de negócios que pode, segundo ele, garantir a sobrevivência dos jornais diários é fazer com que a qualidade da informação que eles publicam seja reconhecida pela opinião pública, a começar pelas elites da sociedade. "Um jornal influente terá leitores que confiam nele e, em conseqüência, ele valerá mais para os anunciantes".
Meyer demonstra que há uma correlação positiva historicamente comprovada entre qualidade e sucesso comercial, embora ressalte não ser possível estabelecer com a mesma certeza o que causa o que (se a qualidade resulta no sucesso ou provém dele).
Sua análise acusa os administradores da maioria dos jornais americanos de terem respondido mal à crise provocada pelo avanço da internet no mercado de classificados e publicidade geral: em vez de investir mais na qualidade, comprometeram-na com cortes de custos e de pessoal nas redações.
Com isso, cresceram os erros, caiu a confiança dos líderes de opinião (a começar pelas fontes dos próprios jornalistas, a quem Meyer confere um papel muito especial na avaliação social dos meios de comunicação), a credibilidade ficou em xeque.
Meyer faz uma análise detalhada dos erros de 5.100 textos jornalísticos e de como eles foram encarados pelos leitores.
Os erros que mais abalam a imagem do jornal não são aqueles que mais aparecem nas correções públicas que os jornais admitem (ou seja, os erros objetivos). São os erros subjetivos (decorrentes de má avaliação, contextualização equivocada, interpretação incorreta dos fatos, sensacionalismo, exagero, enviesamento) que minam a credibilidade.
É muito pouco provável que os jornais diários impressos venham de fato a desaparecer, ao menos no futuro previsível. A história dos meios de comunicação de massa mostra que um veículo nunca some do mercado. O rádio sobreviveu à televisão, o teatro ao cinema.
A questão é como os jornais querem subsistir, o quão socialmente relevantes eles querem ser para as próximas gerações.
É nesse sentido que Meyer alerta ao final: "Para ter sucesso, é preciso encontrar um modo de conquistar, empacotar e vender a confiança que as antigas mídias estão abandonando voluntariamente por meio de sua estratégia de colheita". Se quiserem influir de fato na sociedade, os jornais terão de apostar na qualidade.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA, livre-docente e doutor em jornalismo pela USP e mestre em comunicação pela Michigan State University, é diretor de relações institucionais da Patri Políticas Públicas

OS JORNAIS PODEM DESAPARECER?
Autor: Philip Meyer
Tradução: Patricia De Cia
Editora: Contexto
Quanto: R$ 43 (272 págs.)
Avaliação: ótimo

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